Categoria: Sínodo

02 Fev 2024

Podcast Ser Igreja/2 de fevereiro’24: Conversa com Octávio Carmo sobre o Sínodo 2021-2024 (com vídeo)

No dia 2 de Fevereiro de 2024 celebrou-se em Évora o Dia do Consagrado e a Festa da Padroeira do Seminário Maior, Nossa Senhora da Purificação. Além de um momento de oração e da celebração da Eucaristia, a celebração das efemérides contou com uma conferência proferida pelo jornalista Octávio Carmo, intitulada: “Sínodo 2021-2024, o desafio da Igreja como comunidade despojada”.

Em entrevista ao Ser Igreja Évora, o jornalista vaticanista fez uma síntese das ideias que partilhou com o clero, os consagrados, os seminaristas e os leigos da Arquidiocese de Évora.

04 Out 2023

Vaticano: Papa rejeita «estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas» no Sínodo

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 04 out 2023 (Ecclesia) – O Papa inaugurou hoje, no Vaticano, a XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, pedindo aos participantes que rejeitem as “batalhas ideológicas” ou a ideia de um parlamento.

“Estamos na abertura da Assembleia Sinodal. E não nos ajuda um olhar imanente, feito de estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas: se o Sínodo vai dar esta autorização, aquela outra, se vai abrir esta porta ou outra… isso não é útil”, referiu, na Missa a que presidiu na Praça de São Pedro.

A celebração contou com a participação de centenas de cardeais e bispos de todo o mundo, incluindo os novos cardeais, criados no consistório do último sábado, entre eles D. Américo Aguiar, bispo eleito de Setúbal.

“Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar nem um plano de reformas. O Sínodo, irmãos e irmãs, não é um Parlamento. O protagonista é o Espírito Santo. Não estamos para um Parlamento, estamos aqui para caminhar juntos com o olhar de Jesus, que bendiz o Pai e acolhe a quantos estão cansados e oprimidos”, apontou Francisco.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada no Sínodo pelo seu presidente e vice-presidente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, respetivamente.

A homilia alertou para “tentações perigosas” que podem marcar este encontro mundial, como o de ser uma Igreja “rígida”, uma Igreja tépida,” que se rende às modas do mundo” ou uma Igreja “cansada, fechada em si mesma”.

“Este é o dever primário do Sínodo: centrar de novo o nosso olhar em Deus, para sermos uma Igreja que olha, com misericórdia, para a humanidade”, prosseguiu.

Se o Povo santo de Deus com os seus pastores, de todas as partes do mundo, nutre anseios, esperanças e até qualquer receio sobre o Sínodo que iniciamos, recordemos mais uma vez que não se trata duma reunião política, não é um Parlamento, é uma convocação no Espírito; não se trata dum parlamento polarizado, mas dum lugar de graça e comunhão”.

Foto: Ricardo Perna

A homilia partiu de um “momento difícil” da missão de Jesus, marcado pelas dúvidas e a rejeição do seu ensinamento, sublinhando que Cristo mostrou “um olhar capaz de ver mais além”.

“Sejamos uma Igreja que, de ânimo feliz, contempla a ação de Deus e discerne o presente; uma Igreja que, no meio das ondas por vezes agitadas do nosso tempo, não desanima, não procura escapatórias ideológicas, não se barrica atrás de convicções adquiridas, não cede a soluções fáceis, nem deixa que seja o mundo a ditar a sua agenda”, apelou o pontífice.

Francisco advertiu contra as divisões e os conflitos, desejando que o Sínodo mostre uma Igreja “unida e fraterna, que escuta e dialoga”, uma Igreja “hospitaleira” e que “arrisca”, com um “olhar acolhedor para com os mais frágeis, os atribulados, os descartados”.

“Uma Igreja que tem Deus no centro e, consequentemente, não se divide internamente e nunca é dura externamente”, acrescentou, repetindo o apelo a ter as “portas abertas a todos, todos, todos”, que deixou em Lisboa, durante a JMJ 2023.

A Missa foi celebrada no dia da festa litúrgica de São Francisco de Assis, “o santo da pobreza e da paz”, que se despojou de tudo.

“É difícil, este despojamento interior e também exterior de todos nós, também da instituição”, apontou o Papa.

O cardeal Giovanni Battista Re, decano do Colégio Cardinalício, celebrou no altar, como tem acontecido em várias celebrações dos últimos meses, devido às limitações físicas do atual pontífice.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer até 29 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

O encontro tem 365 votantes, entre eles 54 mulheres, a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

Parceria Consistório e Sínodo/OC

03 Out 2023

Vaticano: Tudo a postos para receber participantes, em Sínodo sem papel e com espaço inédito

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 28 set 2023 (Ecclesia) – O Vaticano apresentou hoje aos jornalistas os espaços preparados para a XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que se vai iniciar a 4 de outubro, no Auditório Paulo VI.

Para evitar o desperdício de papel, os participantes vão contar, neste novo espaço, com tablets para votar, descarregar e ler documentos, ativados por umQR Code.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

Os trabalhos desta sessão decorrem até 29 de outubro e as reflexões são desenvolvidas em 35 grupos de trabalho linguístico (círculos menores), constituídos por 11 pessoas e um “facilitador”, incluindo um grupo de língua portuguesa.

Aos 365 votantes, entre eles 54 mulheres, somam-se, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

Os trabalhos vão desenvolver-se em volta de cinco pontos, sobre as quatro partes do ‘Instumentum Laboris’ (IL), e o debate conclusivo.

Este IL foi elaborado com base no material recolhido durante a consulta global às comunidades católicas, em particular os documentos finais das sete assembleias continentais, que decorreram entre fevereiro e março deste ano: África e Madagáscar (SECAM), América Latina e Caraíbas (CELAM), América do Norte (EUA/Canadá), Ásia (FABC), Europa (CCEE), Médio Oriente (com a contribuição das Igrejas Católicas orientais) e Oceânia (FCBCO).

O documento apela a uma reflexão sobre a questão da autoridade, na Igreja Católica, que aborde “o seu significado e o estilo de seu exercício”.

“A autoridade é um serviço à singularidade de cada pessoa, apoiando a criatividade em vez de ser uma forma de controlo que a bloqueia, e um serviço à criação da liberdade pessoal e não uma amarra que a restringe”, indica o IL.

Os contributos recolhidos, desde 2021, apelam à criação de comunidades inclusivas, onde “todos se sintam bem-vindos”.

“O chamamento radical é para construirmos juntos, sinodalmente, uma Igreja atraente e concreta: uma Igreja em saída, na qual todos se sintam bem-vindos”, indica o documento orientado, que encerrou a primeira fase do processo sinodal, lançado pelo Papa há dois anos.

O IL apela ao reforço da presença das mulheres na “tomada de decisões”, dentro das comunidades católicas, convidando a repensar ministérios, “a todos os níveis da Igreja”. 

“Todas as Assembleias continentais apelam a que se aborde a questão da participação das mulheres na governança, na tomada de decisões, na missão e nos ministérios a todos os níveis da Igreja, com o apoio de estruturas apropriadas para que isto não permaneça apenas uma aspiração geral”, pode ler-se.

O documento destaca que as prioridades para a Assembleia Sinodal incluem “as alegrias e tensões, bem como as oportunidades de conversão e renovação” nas relações entre homens e mulheres, na Igreja.

“Que novos ministérios poderiam ser criados para proporcionar meios e oportunidades para a participação efetiva das mulheres nos órgãos de discernimento e de decisão?”, é uma das questões propostas aos participantes.

O texto refere que os documentos finais das assembleias continentais mencionam “frequentemente aqueles que não se sentem aceites na Igreja”, como os divorciados e recasados ou “as pessoas LGBTQ+”.

“Como podemos criar espaços em que aqueles que se sentem magoados pela Igreja e não bem-vindos pela comunidade possam sentir-se reconhecidos, acolhidos, não julgados e livres para fazer perguntas?” é uma das mais de 250 perguntas dirigidas aos participantes na Assembleia Sinodal de 2023.

O documento alerta para uma “série de barreiras”, desde as de ordem prática até aos preconceitos culturais, que “geram formas de exclusão das pessoas com deficiência e têm de ser ultrapassadas”.

O objetivo, realça o IL, é que as pessoas com deficiência “possam sentir-se membros de pleno direito da comunidade”.

O texto valoriza a experiência de encontro com milhares de pessoas, neste processo sinodal, que levou ao “reconhecimento de seu valor humano único”.

A primeira secção do documento de trabalho, intitulada ‘Para uma Igreja sinodal’, aponta a uma comunidade católica que deve ser “aberta, acolhedora e abraça a todos”.

Numa Igreja sinodal, acrescenta o documento, “os pobres, no sentido original de pessoas que vivem na pobreza e na exclusão social, ocupam um lugar central”.

“Todos os pontos de vista têm algo a contribuir para esse discernimento, a começar pelo dos pobres e excluídos: caminhar junto com eles não significa apenas responder e assumir suas necessidades e sofrimentos, mas também aprender com eles”, precisa o texto orientador.

O IL traça uma série de “características fundamentais ou marcas distintivas” de uma Igreja sinodal, apresentada como “uma Igreja de irmãs e irmãos em Cristo que se escutam mutuamente e que, ao fazê-lo, são gradualmente transformados pelo Espírito”.

Este percurso, indica o Vaticano, manifestou o “profundo desejo de aprofundar o caminho ecuménico”, na relação com outras Igrejas Cristãs, e do diálogo entre religiões, dando como exemplo de colaboração concreta a causa da proteção do ambiente.

O novo documento alude, por outro lado, a “sinais de graves crises de confiança e de credibilidade”, com particular referência à crise causada por várias formas de abusos – sexuais, de poder e de consciência, económicos e institucionais.

Ao pedido de perdão dirigido às vítimas pelos sofrimentos causados, a Igreja deve unir um compromisso crescente de conversão e de reforma, a fim de evitar que situações semelhantes voltem a acontecer no futuro”.

As sínteses das Conferências Episcopais e das assembleias continentais apelam a uma “opção preferencial” pelos jovens e pelas famílias, convidando a “renovar a linguagem usada pela Igreja”, que para as novas gerações é, muitas vezes, “incompreensível”.

Sobre o mundo digital, o IL admite que falta “consciência plena” das potencialidades para a evangelização e pede “uma reflexão sobre os desafios que coloca, sobretudo em termos antropológicos”.

O texto propõe, como metodologia de reflexão, o “diálogo no Espírito”, descrito como “uma oração partilhada em vista do discernimento comunitário, para o qual os participantes se preparam por meio de reflexão e meditação pessoal”.

Parceria Consistório e Sínodo/OC

03 Out 2023

Sínodo: Portugueses que integram Comissão da Comunicação sublinham percurso de escuta que precedeu encontro mundial

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 03 out 2023 (Ecclesia) – O padre Paulo Terroso, sacerdote da Arquidiocese de Braga que integra a Comissão de Comunicação do Sínodo 2021-2024, afirmou que a próxima assembleia sinodal vai “concretizar” o percurso de escuta promovido pela Igreja, nos últimos anos.

“Temos razões para estarmos felizes. Se o Sínodo não tivesse provocado esta escuta, de tantas vezes, de forma real, estando a acontecer, não teria provocado tensões. Elas são uma confirmação de que as pessoas foram escutadas”, disse à Agência ECCLESIA.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos tem como tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda sessão, em 2024.

Para o entrevistado, é compreensível que se fale em “dois blocos”, relativamente ao processo sinodal, mas sublinha que “a Igreja é muito mais plural do que isso”.

“O objetivo não é ver quem ganha, quem tem os melhores argumentos, as melhores ideias, é perceber o que é possível fazer em conjunto”, sustenta.

“Há na Igreja quem se sente confortável, do modo que está, e há outros que procuram a sua casa, o seu espaço dentro da própria Igreja”, acrescenta.

O sacerdote português fala da importância de “fazer caminho” e considera que a Igreja é hoje “mais sinodal” do que em 2021.

“A Jornada Mundial da Juventude foi um grande laboratório de sinodalidade”, observa, recordando o encontro de Lisboa, no qual se mostrou a importância da escuta recíproca.

O padre Paulo Terroso alerta para a tentação de “cristalizar” uma forma de Igreja, defendendo que “quem está dentro da tradição percebe que ela é dinâmica, é viva, que o Evangelho significa, ele próprio, mudança.

“Vi o imenso amor que as pessoas têm à Igreja”, sublinha, a respeito do trabalho desenvolvido nos últimos anos.

Leopoldina Reis Simões, profissional de assessoria de imprensa e membro da Comissão de Comunicação do Sínodo 2021-2024, recorda as dificuldades sentidas, desde o impacto da pandemia a questões técnicas, além do medo que levou a que “muitas pessoas não tivessem querido participar”.

A responsável portuguesa elogia o impacto do “Sínodo digital”, que teve “uma adesão muito grande, permitindo chegar a uma audiência inusitada”.

Ao longo destes anos, precisa a entrevistada, promoveram-se encontros no mundo inteiro e “houve grupos inesperados que participaram”.

Leopoldina Reis Simões admite que, nos trabalhos com início marcado para quarta-feira, vai haver “tensões do ponto de vista teológico, eclesiológico”, mas mostra-se confiante na capacidade de chegar a consensos, por parte dos participantes.

“Vemos que o ‘aggiornamento’ do Vaticano II pode, agora, acontecer de maneira efetiva. E depois vemos o Sínodo a acontecer, com 54 mulheres a votar”, exemplifica.

A entrevista conclui com a convicção de que se está a viver um “momento histórico”, para a Igreja.

O programa de três semanas da assembleia sinodal começa com a Missa presidida pelo Papa, a 4 de outubro, e inclui uma peregrinação (12 de outubro), uma oração pelos migrantes e refugiados (19 de outubro) e a recitação do Rosário nos jardins do Vaticano (25 de outubro).

Os trabalhos vão decorrer em volta de cinco pontos, sobre as quatro partes do instrumento de trabalho e o debate conclusivo.

As reflexões são desenvolvidas em 35 grupos de trabalho linguístico (círculos menores), constituídos por 11 pessoas e um “facilitador”, incluindo um grupo de língua portuguesa.

Aos 365 votantes somam-se, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

Parceria Consistório e Sínodo/OC

02 Out 2023

Vaticano/Sínodo: Papa responde a questões de cinco cardeais sobre sinodalidade, ordenação sacerdotal de mulheres e uniões homossexuais

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 02 out 2023 (Ecclesia) – O Papa divulgou hoje, dia 2 de outubro, antevéspera do início da próxima assembleia sinodal, as suas respostas a questões (dubia) de cinco cardeais sobre temas como a sinodalidade, ordenação sacerdotal de mulheres ou uniões homossexuais.

“Não podemos transformar-nos em juízes que apenas nega, recusam, excluem”, refere Francisco, num texto em espanhol, publicado pelo site do Dicastério para a Doutrina da Fé.

O Papa justifica a publicação das respostas com a “proximidade do Sínodo”, dado que a primeira sessão da sua XVI Assembleia Geral Ordinária se inicia esta quarta-feira.

O conjunto de questões foi levantado pelos cardeais rancesco Walter Brandmüller e Raymond Leo Burke, com o apoio dos cardeais Juan Sandoval Íñiguez, Robert Sarah e Joseph Zen Ze-kiun.

Os responsáveis colocam, formalmente, as suas ‘dubia’ (forma plural da palavra latina ‘dubium’, que significa uma questão ou uma dúvida) sobre a afirmação de que a sinodalidade seria uma “dimensão constitutiva da Igreja”, como se lê na constituição apostólica ‘Episcopalis Communio’, assinada por Francisco em 2018.

O Papa realça que a apresentação destas perguntas mostra “a necessidade de participar, de dar opinião, livremente, e de colaborar”, pelo que os cardeais signatários estariam a “reclamar alguma forma de sinodalidade” no exercício do ministério pontifício.

“A comunhão não é só afetiva ou etérea, mas implica, necessariamente, participação real: que não apenas a hierarquia, mas todo o Povo de Deus, de várias formas e em diversos níveis, possa fazer ouvir a sua voz e sentir-se parte do caminho da Igreja”, precisa.

Francisco reforça o ensinamento de que a sinodalidade, “como estilo e dinamismo, é uma dimensão essencial da vida da Igreja”, o que não significa “impor uma determinada metodologia sinodal”.

Outro tema abordado é a da possibilidade de ordenação sacerdotal de mulheres, questionando se o ensinamento de São João Paulo II sobre este tema deve ser entendido “de modo definitivo”.

O atual Papa começa por precisar que o ensinamento do santo polaco “de modo algum menosprezava as mulheres, outorgando um poder supremo aos homens”.

“Sem entender isto e retirar as consequências práticas destas distinções, será difícil aceitar que o sacerdócio está reservado apenas aos homens e não poderemos reconhecer os direitos das mulheres ou a necessidade de que participem, de várias formas, na condução da Igreja”, escreve.

Francisco considera que “ainda não se desenvolveu exaustivamente uma doutrina clara” sobre a natureza exata de uma “declaração definitiva”, por parte de um Papa, precisando que “não é uma definição dogmática, mas deve ser acatada por todos”.

Os cardeais que se dirigiram ao pontífice descartam “qualquer mudança na verdade”, por considerarem que a “Revelação Divina é vinculante para sempre”.

Francisco admite que é possível “interpretar melhor” essa Revelação, pedindo que a Igreja seja “humilde”.

“Tanto os textos das Escrituras como os testemunhos da Tradição precisam de distinguir a sua substância perene dos condicionamentos culturais”, sustenta.

A resposta papal dá como exemplos textos do Novo Testamento sobre as mulheres (1 Cor 11, 3-10; 1 Tim 2, 11-14) que “hoje não podem ser repetidos materialmente”.

“A Igreja deve discernir constantemente entre o que é essencial para a salvação e aquilo que é secundário ou está menos diretamente ligado a esse objetivo”, acrescenta.

Francisco responde ainda uma pergunta sobre a “prática generalizada de abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo”, precisando que a conceção da Igreja sobre o matrimónio é “muito clara”, ou seja, “uma união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta a gerar filhos”.

A resposta sublinha que se deve evitar “qualquer tipo de rito ou sacramental” que possa contradizer esta convicção, acrescentando que, na relação com as pessoas, há uma “caridade pastoral”, que deve atravessar “decisões e atitudes”.

“A defesa da verdade objetiva não é a única expressão dessa caridade, que também é feita de amabilidade, de paciência, de compreensão, de ternura, de alento”, precisa.

O Papa apela a uma “prudência pastoral” para discernir se existem formas de bênção, solicitadas por uma ou várias pessoas, que não transmitam uma “conceção errada do matrimónio”, por considerar que se está perante “um pedido de ajuda de Deus, uma oração para poder viver melhor”.

Estas decisões, porém, não devem necessariamente tornar-se uma norma”, ou seja, detalha Francisco, “não convém que uma Diocese, uma Conferência Episcopal ou qualquer outra estrutura eclesial viabilize constante e oficialmente procedimentos ou ritos”.

A resposta rebate ainda uma crítica sobre os apelos a “absolver todos e sempre”, considerando que o mesmo coloca em causa o dever de “arrependimento”, por parte de quem se confessa.

O Papa destaca que esse arrependimento é “necessário para a validade da absolvição sacramental e implica o propósito de não pecar”, mas rejeita uma visão “matemática” ou do confessionário como “uma alfândega”.

“Frequentemente, em pessoas com a autoestima muito ferida, declarar culpa é uma tortura cruel, mas o simples facto de se aproximarem da confissão é uma expressão simbólica de arrependimento e de busca da ajuda divina”, sustenta.

O texto da resposta conclui-se com o alerta que de as condições habituais para a confissão “geralmente não são aplicáveis quando a pessoa se encontra em situação de agonia, ou com capacidades mentais e psíquicas muito limitadas”.

OC

01 Out 2023

Sínodo: 365 membros vão ter direito a voto, incluindo 54 mulheres

Cidade do Vaticano, 21 set 2023 (Ecclesia) – O Vaticano divulgou  a lista final de participantes na primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos (4 a 29 de outubro), elencando 365 membros com direito a voto.

Em 2021, o Papa tinha nomeado a religiosa francesa Nathalie Becquart como subsecretária do Sínodo dos Bispos, que se tornou a primeira mulher com direito de voto na assembleia sinodal; em outubro, esse número chegará a 54 mulheres, entre leigas e religiosas.

A lista inclui dois bispos chineses, D. António Yao Shun, da Diocese de Jining/Wumeng, e D. José Yang Yongqiang, bispo de Zhoucun, com o acordo das autoridades de Pequim; o grupo conta ainda com o bispo de Hong Kong, D. Stephen Chow, que vai ser criado cardeal a 30 de setembro.

Além do elenco de participantes, a Santa Sé divulgou os principais momentos dos trabalhos, com vários encontros de oração.

Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, disse aos jornalistas que “o Sínodo é oração, um momento de discernimento comunitário, distinto do somatório das intervenções individuais”.

A sessão sinodal é precedida por uma vigília ecuménica, a 30 de setembro, na Praça de São Pedro, intitulada ‘Together’ (Juntos); o programa de três semanas da assembleia começa com a Missa presidida pelo Papa, a 4 de outubro, e inclui uma peregrinação (12 de outubro), uma oração pelos migrantes e refugiados (19 de outubro) e a recitação do Rosário nos jardins do Vaticano (25 de outubro).

Os trabalhos vão decorrer em volta de cinco pontos, sobre as quatro partes do instrumento de trabalho e o debate conclusivo.

As reflexões são desenvolvidas em 35 grupos de trabalho linguístico (círculos menores), constituídos por 11 pessoas e um “facilitador”, incluindo um grupo de língua portuguesa.

Aos 365 votantes somam-se, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

Para evitar o desperdício de papel, os participantes vão contar, no Auditório Paulo VI, com tablets para votar, descarregar e ler documentos.

Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC