Categoria: Sínodo

30 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 4: As Migrações (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 31 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda o tema das Migrações.

26 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – V: A Pastoral Vocacional na Arquidiocese (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

A Pastoral Vocacional foi outro dos assuntos abordados na conversa de balanço do Ano Pastoral com o Prelado eborense.

D. Francisco Senra Coelho começa por enquadrar historicamente esta questão: “A nossa Arquidiocese, depois de 1870 para cá, não tem tido vocações em número suficiente para sustentar as 156  paróquias que a compõem. Sabemos que as causas se enraízam no encerramento da Faculdade de Teologia da Universidade de Évora (1759), expulsão das Ordens religiosas masculinas com a confiscação dos seus bens; o encerramento dos noviciados das Ordens religiosas femininas com igual confiscação dos seus bens após a morte da última Irmã; a perseguição religiosa da primeira república, sobretudo de 1910 a 1920 com a confiscação de todos os bens móveis e imóveis da Igreja; mais recentemente a ampla difusão do marxismo comunista através de células clandestinamente implantadas a partir de 1933 no Alentejo latifundiário.”

“Lembro que por volta de 1870 veio de Bragança o primeiro seminarista do norte de Portugal para o nosso seminário. Como disse, até 1870 a Arquidiocese auto sustentava-se com as suas vocações. Os alfobres vocacionais da Arquidiocese encontravam-se concretamente em Campo Maior, em Elvas, em Estremoz, em Vila Viçosa, em Redondo e em Borba, juntamente com Samora Correia, Benavente e Coruche. Se o Seminário de Nossa Senhora da Purificação podia contar com vocações de toda a Arquidiocese, nomeadamente também da cidade de Évora, destas localidades procedia a maior parte dos seminaristas de Évora”, explica.

“Com a chegada de Dom Manuel Mendes da Conceição Santos estas vocações do Norte foram incrementadas, em primeiro lugar, a partir do Distrito de Aveiro. De lá, o bondoso Arcebispo trouxe um fiel colaborador, Mons. Fidalgo, que o acompanhou e o ajudou. Posteriormente, substituído por Mons. Pantaleão Costeira que, com um trabalho incansável, trouxe dezenas de jovens oriundos de Estarreja, de Ílhavo, da Murtosa e de Avanca. Os apelos do Arcebispo de Évora acabaram por chegar também às dioceses de Lamego, Guarda e à Beira Baixa”, recorda.

“Essa fonte terminou, ou é escassa, porque as dioceses do norte também têm muitas dificuldades vocacionais. Em suma, é algo que acontece em toda a Europa”, afiança.

“Embora ultimamente, graças a Deus e ao trabalho que se tem feito nas paróquias, com a ajuda da pastoral vocacional, apareçam em número significativo vocações alentejanas e ribatejanas, continuamos a precisar de vocações que venham para além do Ribatejo e do Alentejo, ou seja, fora da Arquidiocese”, afiança o Arcebispo de Évora.

“Assim, temos um conjunto de sacerdotes que vêm, nomeadamente, de Angola e de Moçambique, continuar os seus estudos no ensino superior português, muito concretamente na Universidade de Évora, no Politécnico de Portalegre e na Universidade Católica de Lisboa. Estes sacerdotes chegam com muito boa vontade, trazem consigo a esperança de servirem a Arquidiocese irmã de Évora e entregam-se geralmente de alma e coração ao estudo, tendo na maior parte dos casos, um assinalável desempenho académico. Com alegria, ajudámos vários sacerdotes a concluírem licenciaturas, mestrados e, em alguns casos, permanecem em fase de doutoramento em diversas ciências humanas.
Agradecemos a estes padres toda a colaboração prestada à Arquidiocese, assumindo Paróquias e construindo importantes partilhas de experiências eclesiais entre as suas Igrejas africanas e a Igreja alentejana e ribatejana de Évora. É muito gratificante para a nossa Igreja particular usufruir deste enriquecimento e contribuir para a valorização destes estimados padres que se vieram formar para regressar às suas dioceses, a fim de enriquecerem os seus presbitérios e melhor servirem os povos de que procedem”, aponta.

“Também há sacerdotes vindos de outros países que não vieram para estudar, mas para se dedicar plenamente à pastoral, recordo o caso o Padre Lelo já incardinado na nossa Arquidiocese, do Padre Rogério e do Padre Caetano Salvador Dallá, os dois últimos cedidos temporariamente pelos seus bispos”, acrescenta.

“Percorremos uma nova experiência ao recebermos de várias dioceses lusófonas seminaristas que nos são enviados para se prepararem para o ministério presbiteral”, explica, adiantando que “para o próximo ano teremos seminaristas da Diocese de Díli; pela primeira vez, seminaristas vindos da Diocese de Tete, em Moçambique; continuaremos a receber jovens vindos de Angola, dioceses de Ondjiva e Menong; da Diocese de Mindelo – Cabo Verde; e no caso especial de um país não lusófono, receberemos dois alunos originais de Cuba”.

“Estes jovens, se assim Deus permitir, e se for o discernimento da Igreja, serão ordenados presbíteros e ficarão ao serviço da Arquidiocese durante cinco anos ou mais”, revela o Prelado, explicando que “o contrato que estas dioceses têm com a Arquidiocese de Évora é que nos cabe proporcionar a formação no Seminário e no Instituto Superior de Teologia de Évora, permanecendo eles, posteriormente, 5 anos na nossa Arquidiocese, exceptuando a diocese de Menong cujos futuros sacerdotes poderão permanecer na nossa Arquidiocese apenas por 3 anos”.

“Acreditamos que ao fim de sete ou oito anos de permanência no nosso Seminário e no ISTE, estes jovens estarão já com uma experiência assinalável de enculturação ao contexto cultural e sócio-religioso da Arquidiocese. Acredito que será uma forma nova da Igreja de Évora caminhar com o apoio de vocações vindas de fora agora do próprio continente europeu e que sem substituir, completarão a insubstituível necessidade da Pastoral Vocacional nas Paróquias, Movimentos e Comunidades da Arquidiocese”, sublinha, acrescentando o Prelado que “não se pode substituir, mas temos que trabalhar todos. Acredito que as vocações na nossa Arquidiocese também vão  continuar a brotar como fruto da beleza destes jovens que com tanta generosidade vêm até nós, a partir de terras missionárias que os nossos antepassados ajudaram a evangelizar”.

“Também se abre a possibilidade de alguns Institutos religiosos e novas Comunidades de Vida matricularem os seus alunos no Instituto Superior de Teologia de Évora. Contactaram-se para o efeito a Província Portuguesa dos Salesianos e a Comunidade de Vida Canção Nova”, aponta o Prelado.

“O trabalho que desde há muito acontece no Instituto Superior de Teologia de Évora exige de toda a Arquidiocese um voto de louvor e ação de graças. Ao falarmos da Pastoral vocacional com vista aos ministérios ordenados do diaconado e do presbiterado e da valorização do nosso laicado com vista a futuros ministérios instituídos e serviços eclesiais, é obrigatório reconhecer o papel indelével e decisivo que o ISTE exerce ao nível das qualificações e da excelência académica”, sublinha o Arcebispo de Évora.

“Na visita ad limina, responsáveis do Vaticano* apelavam para que fossemos buscar missionários onde há vocações. Diziam: ‘Vós sois um povo com experiência missionária que há-de saber receber nestes nossos tempos missionários vindos das novas Igrejas. Não envergueis pela desistência do anúncio da Fé cristã no velho continente europeu. Não fecheis igrejas, como em outros países, não vendais igrejas! Não encerreis capelanias e serviços de presença humanizadora. Procurai vocações sacerdotais e sacerdotes nas Igrejas onde os podeis encontrar’. Como sempre a odisseia missionária exige paciência, espera e tempo. Mas, quando acontece, redige e escreve nas mais belas páginas da História da Igreja. Enviar missionários é tão exigente como acolher missionários. Trabalhemos juntos!”, apela o Prelado. (*in Dicastério para a Evangelização – Seção para a primeira evangelização e as novas Igrejas particulares, Dom Fortunatus Nwachukwu, Secretário)

“Ressalvando as grandes diferenças culturais e continentais ainda que na pátria comum da mesma língua (Fernando Pessoa), parece-me poder dizer que aquilo que está a acontecer no nosso Seminário Maior de Évora e na nossa Arquidiocese surge no seguimento da sua história vocacional, agora os jovens seminaristas não vêm da Guarda nem de Aveiro, não têm origem em Braga, como eu, mas de mais longe. Claro que para além desta diferença nós viemos para ficar e eles virão para partir, porém o seu tempo de permanência entre nós estou certo que será um dom enquadrado nas grandes mudanças que se perspetivam numa sociedade em mobilidade e em crescente transformação pela globalização”, aponta.

“Desejo pôr-me nas mãos de Deus, que Ele ilumine o necessário discernimento, pensando que toda a Arquidiocese me acompanha e que aquilo que está a acontecer é um sinal dos tempos discernido, e que nunca seja, de modo algum, consequência da escolha pelos mais fácil e imediato, pela omissão e facilitismo”, aponta.

Referindo-se ao triénio vocacional vivido pela Província Eclesiástica de Évora (Évora, Beja e Algarve), o nosso Prelado referiu: “na minha modesta opinião o momento mais alto foi a Jornada de Formação Permanente para o Clero do Ano Pastoral 2022/2023 a que se juntaram também padres vindos da diocese irmã de Setúbal. A temática que preencheu as jornadas foi a Pastoral Vocacional. Sendo a mudança de mentalidades o desafio mais difícil para a pastoral, estas Jornadas permanecem como um marco indelével na pastoral vocacional das nossas Dioceses do Sul”, recorda.

“Agradeço a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Bom Pastor, o dom do Seminário Redemptoris Mater que fruto da experiência do Caminho Neocatecumenal permanece na nossa cidade e na nossa Arquidiocese como mais uma resposta da fidelidade de Deus: ‘Dar-vos-ei pastores!’ (Jeremias 3, 15). No contexto pós conciliar, a Igreja ajudou-nos a perceber que não podemos falar de iniciação cristã sem falar de vocação. Encontrar-se face a face com Cristo nas nossas estradas de Damasco, significa descobrir a beleza da Sua misericórdia, a qual não cabe dentro de nós e, por isso, proclamamos a libertação experimentada e no nosso louvor orante entoamos: ‘Não há amor como o Teu’. Porque a alegria do encontro com Cristo Ressuscitado não cabe em nós, levamo-la aos nossos Irmãos, testemunhando jubilosamente o querigma, a boa notícia do nosso encontro com Cristo e com aqueles que decidem perguntar ‘Mestre, onde moras?’ (Jo 1,35-42), iniciamos tempos de catequese em caminhadas catecumenais. É desta experiência que até nós chegou o Seminário Redemptoris Mater, Nossa Senhora de Fátima, de Évora. Dou graças a Deus, mais uma vez, pelo discernimento que o meu venerando antecessor, Dom José Alves, fez à luz do Espírito Santo e pretendo colocar os meus pés nas suas peugadas e continuar a perceber, cada vez mais melhor, a novidade e as exigências deste carisma. A sua peculiaridade consiste em ser um Seminário Arquidiocesano missionário ad gentes. A história da Igreja ensina que os novos carismas fazem caminho, caminhando. Com fidelidade ao Espírito Santo, expresso pela Sua Igreja, desejo uma sinodalidade de fazer caminho, caminhando com o nosso Seminário Redemptoris Mater. Convido toda a Arquidiocese a unirem-se ao Bispo, sucessor dos Apóstolos, nesta confiança do dom de Deus e a caminharmos juntos. Louvo o Senhor pelos três presbíteros ordenados a partir deste Seminário e que já há vários anos servem as Comunidades de Borba e Campo Maior”, sublinha o Arcebispo de Évora.

Interrogado ainda sobre a urgente necessidade da pastoral vocacional feminina, referiu o Prelado que “a valorização da mulher na Igreja também passa pela sua presença maternal na vida religiosa. Porque a Igreja é mãe e se revê em Maria, a vida religiosa feminina é um dom de enorme apreço na vida da nossa Arquidiocese. Rezo e convido a Arquidiocese a rezar para que entre nós surja uma primavera vocacional feminina: a maternidade espiritual e a fraternidade própria da vida consagrada. Sem esquecer que a vida contemplativa religiosa é a alma da Igreja, recordo que a dimensão missionária da vida religiosa é tão necessária nesta Arquidiocese e que ambos os carismas se fundem no grande sinal da presença de Deus no meio de nós. Nunca poderá haver pastoral vocacional sem integrar a vida religiosa e muito concretamente a vida religiosa feminina. Em nome da Arquidiocese um obrigado profundo às consagradas que são para nós sinal do Amor de Deus e da vida eterna”, agradece D. Francisco Senra Coelho.

Texto de Pedro Miguel Conceição
24 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 3: As Vocações (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 24 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda o tema das Vocações na Arquidiocese.

23 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – IV: A revitalização das Congregações Religiosas na Arquidiocese (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

Uma das questões abordadas nesta conversa de final do Ano Pastoral com o Prelado eborense foi sobre as Congregações religiosas e a sua revitalização nos últimos anos.

Há seis anos, quando chegou à Arquidiocese, D. Francisco José Senra Coelho teve como desafio tentar revitalizar a vida religiosa, pois algumas Congregações tinham, entretanto, saído do território diocesano.

“Este trabalho é fruto de todos. A oração e o trabalho apostólico de cada Paróquia e de cada Comunidade religiosa”, disse, sublinhando “a importância das Comunidades Contemplativas neste labor bem como o empenho de todos os Movimentos Eclesiais constitui o apelo para que o Senhor da vinha envie abundantes carismas à sua vinha”. Acrescentou ainda que “a oração dos doentes, dos idosos e dos sós são apelo ao coração de Deus para que envie trabalhadores para a sua vinha”.

“Encontro nas visitas pastorais pessoas que rezam imenso”, sublinha o Prelado, acrescentando que “muitas vezes percebemos que são pessoas que não vão à Igreja, ou porque já não podem ir pela idade ou pela doença, ou porque nunca se habituaram a ir. Porém, quando chego às suas casas, descubro o terço, livros de orações, pagelas, imagens. Perante esta realidade, percebo que as pessoas vivem intensamente a sua religiosidade popular, que não vão à comunidade, mas que fazem comunidade com a vizinhança, em alguns casos com belos testemunhos de entreajuda, solidariedade e apoio nas dificuldades”.

“Encontro-me com o Alentejo que não descobrimos, de facto, o que é quando olhamos para as estatísticas e o vemos apenas de longe. Para conhecer a alma alentejana importa permanecer, comprometer-se, servir, respeitar e saber escutar. Aprendi em 44 anos de permanência nesta Arquidiocese que a cultura alentejana tem as suas profundas raízes implantadas num húmus fortemente cristão e que na ótica da religiosidade natural é um dos povos mais expressivos no contexto nacional. Diria que o povo alentejano e o povo açoriano se encontram em várias expressões da mesma religiosidade natural, posteriormente, em alguns casos, cristianizada ao ponto das suas riquezas culturais e patrimoniais, tais como as expressões etnográficas, musicais, etc, exprimirem a espiritualidade cristã. É belo verificar o significativo número de patrimónios materiais e imateriais da Humanidade existentes no Alentejo, bem como candidaturas em desenvolvimento. Em todos estes valores estão presentes sinais de fé cristã”, explica.

“No ano que aqui cheguei, em setembro de 2018, quatro congregações estavam para partir. Os Cartuxos, as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias ao serviço da Casa Arquiepiscopal, as Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, em Portel, e as Beneditinas do Torrão”, refere, recordando “era uma situação muito dolorosa”.

“Os carismas são um sinal profundo da presença de Deus entre nós – ‘Estarei convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28,20). A Igreja ao longo do seu magistério e muito concretamente no último Concílio apresenta a riqueza dos carismas que o Espírito Santo suscita”, afiança o Prelado.

“Vejo toda esta riqueza e beleza em todas as comunidades que encontrei e que graças a Deus permanecem na Arquidiocese, tantas vezes com grande sentido de abnegação e mesmo heroicidade. Dou graças a Deus pelos dons que o Senhor nos concedeu nos últimos tempos, como a vinda até nós dos padres teatinos, ordem fundado por São Caetano em 1524, que estão em Vendas Novas e que vão agora estender o seu serviço pastoral também às Paróquias de Lavre, Cortiçadas de Lavre, Foros de Vale de Figueira e Santana do Mato; a comunidade Hesed, que está no Torrão; a comunidade Sementes do Verbo, que está em Vila Viçosa e se dedica ao nosso Seminário de S. José, acompanhando os sacerdotes mais idosos ou doentes e proporcionando naquele amplo espaço uma casa de acolhimento e oração; as Monjas de Belém que estão no Couço e que vieram no pontificado do meu antecessor, o Senhor D. José Alves; as Irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, que estão na Cartuxa de Évora; a Comunidade Canção Nova, cuja presença na Arquidiocese será agora ampliada e elevada a ‘Frente de Missão’, assumindo algumas Paróquias nos arredores de Évora, Boa-Fé, São Sebastião da Giesteira, Nossa Senhora da Tourega (Valverde e São Brás do Regedouro), Nossa Senhora de Guadalupe e Santa Sofia. Para além deste trabalho paroquial, exercerão o seu carisma de comunicação e trabalharão no Serviço Arquidiocesano de Évora da Pastoral das Migrações”, refere o Prelado.

“Continuamos a rezar e a trabalhar para que venha para Évora mais grupo da Comunidade nova de vida Sementes do Verbo”, adiantou D. Francisco Senra Coelho.

“Estamos também com muita esperança de ter uma comunidade das Irmãs do Coração Imaculado de Maria, oriundas de Cabo Verde, fundadas nos meados do século XIX, no Senegal. São cerca de 300 Irmãs constituídas em três províncias: Senegal, Cabo Verde e França. Estas Irmãs vão estender-se, com muita esperança o afirmamos, à Unidade Pastoral de Portel”, revela.

“Por fim, já reunimos várias vezes com as Irmãs da Fraternidade Missionária Pobres de Jesus Cristo, que têm o carisma específico da caridade. São franciscanas, bebem do carisma de Madre Teresa de Calcutá e têm a dimensão peculiar de se dedicar à missão, sobretudo com crianças, adolescentes, e idosos. Acreditamos, as Irmãs e eu, que durante o próximo Ano Pastoral virão apoiar as Comunidades de Avis, Benavila, Galveias, Aldeia Velha, Valongo e Santo António de Alcórrego. É uma área geográfica muito ampla que espera mais evangelizadores”, sublinha.

“Obrigado a todos os que rezam pelas vocações, a todos os que rezam pela Igreja, porque são Igreja e não vão apenas à Igreja. Misturam com a oração, a sua cruz, por vez mais caldeada pelo sofrimento moral do que pelo sofrimento físico, nomeadamente pela solidão, pelo esquecimento e pela ingratidão. Neste Alentejo longo, plano, livre, mas também, ao mesmo tempo, proporcionante da palavra só, apelo às comunidades cristãs que procurem estes e estas que muitas vezes juntam ao seu estado natural de idosos a experiência da solidão. Como não agradecer à Guarda Nacional Republicana e aos Bombeiros Voluntários pelo cuidado que têm com estes homens e mulheres! Uma possível missão para as Paróquias e todas as Comunidades cristãs, afinal um modo muito concreto e atual de responder ao desafio do Papa Francisco, Igreja em saída”, apela o Prelado eborense.

Texto de Pedro Miguel Conceição
21 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – III: A Renúncia Quaresmal 2024 recolheu até ao momento 20.700 euros para as Igrejas do Médio Oriente

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

Na sua Mensagem Quaresmal 2024, o Arcebispo de Évora apelava a todos os Arquidiocesanos para que a Renúncia Quaresmal deste ano se destinasse “às Igrejas do Médio-Oriente, vítimas de guerra”, fazendo “chegar a essas Comunidades a nossa partilha através da Santa Sé, ao serviço da Caridade do Papa Francisco”.

Questionado sobre o valor já recolhido, D. Francisco Senra Coelho revela que “até este momento, temos a alegria de contar com 20.700 euros. Podemos dizer que é uma quantia modesta, pequenina, perante as necessidades. Não chega a ser, de facto, uma gota de água doce para aquele mar salgado. Porém, acreditamos que ainda vão chegar mais donativos e deixo aqui este apelo: se há comunidades ou se há pessoas, se há empresas que queiram juntar-se à Arquidiocese de Évora, para ajudar aquelas comunidades neste momento tão doloroso”, recordando que “em anos anteriores já ajudámos a Igreja da Ucrânia, para quem enviámos 25 mil euros, bem como as sofridas comunidades eclesiais vítimas do terrível terramoto da Síria e da Turquia”.

“Sentimos neste momento a necessidade de olhar para as comunidades cristãs do Médio Oriente”, aponta, revelando que “há um pormenor que eu gostava de referir e que pode passar despercebido. A pequenina comunidade paroquial de Gaza tem a sua subsistência espiritual e o seu acompanhamento garantido por um Pároco da mesma Família espiritual das Irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, congregação que está presente na Arquidiocese, nomeadamente na Cartuxa de Évora através de uma comunidade contemplativa. Em Gaza é uma comunidade de vida ativa destas mesmas Irmãs que está presente. Elas são valentes, estão em partes muito difíceis do mundo, como a Sibéria ou a Síria”.

“Portanto, a presença destas Irmãs é, de facto, para nós um estímulo a contribuirmos também, porque sabemos para quem contribuímos. Nós não falamos em questões étnicas, mas em pessoas, famílias, idosos e crianças, preocupamo-nos com as pequenas comunidades e iniciativas sócio-caritativas da Igreja na terra de Jesus, na Terra Santa”, refere, sublinhando que “vamos entregar a renúncia quaresmal ao Papa. O Santo Padre saberá o que fazer, pois sabemos que Francisco é muito rigoroso com os bens e tem um profundo sentido de equidade na distribuição das suas ajudas”.

“Todos nós desejamos enviar mais ajuda, porque nestes gestos de solidariedade, transpiram gotas de esperança e sinais de abraço a estas sofridas comunidades cristãs. Sabemos que há dificuldades em Portugal, somos uma Arquidiocese que conta com muitas pessoas idosas, que vivem de pequenas e magras reformas, que dão o seu contributo muito sentido e, por isso, este quantitativo pode não ser muito elevado em quantidade, mas em qualidade tem o sabor do óbolo da viúva. Se alguém se quiser juntar, nós abraçamos o abraço que nos queiram dar porque chegará com toda a certeza à Terra Santa, à Terra de Jesus, aos lugares que o Papa Francisco entender enviar”, apela o Prelado.

19 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – II: “Na Visita Pastoral Missionária 2024 encontrei uma Diocese viva” (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos. No primeiro episódio, que estreou no sábado, dia 10 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense faz um balanço do Ano Pastoral 2023/2024.

“Na Visita Pastoral Missionária encontrei-me com dois concelhos, Sousel e Borba, repletos de uma grande vontade de solidificar a fé; de sentirem com aroma, sabor e odor a realidade da esperança feita festa, alegria, diálogo, visita, encontro com os doentes, com os sós e com as instituições… Em todas as comunidades houve simpáticos momentos de partilha e festa viva. Foi muito significativo”, sublinha o Arcebispo de Évora, que faz um balanço deveras positivo da Visita Pastoral Missionária 2024, acrescentando que “sou sempre enviado, em nome do Senhor, afim de confirmar os meus irmãos na fé, porém também recebo dos meus irmãos o abraço que confirma a minha fé e o meu ministério”.

“Uma das experiências riquíssimas foi a proximidade, o convívio e a partilha de experiência quotidiana com os Párocos. Vivemos cada dia sempre no acompanhamento mútuo, seguindo o mandato do Senhor ‘Ide dois a dois’ (Marcos 6,7), assim partilhámos encontros, reuniões, celebrações, refeições, enfim, a vida missionária de uma jornada à maneira dos discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Num caso concreto foi possível permanecer 12 dias a viver com o Pároco, o Diácono, e um professor de Religião e Moral na própria Casa Paroquial. A oração e o encontro com os doentes, os pobres e os sós foram sempre os momentos mais altos da nossa experiência, digo minha e dos Párocos que comigo partilharam”, explica.

À pergunta dirigida ao Arcebispo de Évora sobre o porquê da designação de Visita Pastoral Missionária, respondeu que as Visitas Pastorais da Arquidiocese têm uma especificidade missionária já com significativas raízes históricas. De facto, o Servo de Deus, D. Manuel Mendes da Conceição Santos, Arcebispo de Évora de 1920 a 1955, percorreu incansavelmente a Arquidiocese numa dinâmica missionária que aparece indelevelmente marcada nos genes da Igreja eborense dos séculos XX e XXI. D. Manuel Trindade Salgueiro, Arcebispo de 1955 a 1965, continuou este caminho com o apoio do seu bispo auxiliar, D. José Joaquim Ribeiro; D. David de Sousa (1965-1981), em contextos muito específicos da história do Alentejo, nunca deixou de percorrer toda a Arquidiocese, nomeadamente nos meses quentes de Verão para visitar, encorajar e agradecer o trabalho de cada Padre e de cada Comunidade religiosa; nos tempos novos, já após a Revolução dos Cravos, D. Maurílio de Gouveia (1981-2008), com o apoio do seu bispo auxiliar, D. Amândio Tomás (2001-2008), e D. José Alves (2008-2018) renovaram e aprofundaram as missões populares com a riqueza e os desafios do Concílio Vaticano II. Assim, a Missão enquadra a Visita Pastoral na opção preferencial pela evangelização, valorizando os encontro pessoais, as pequenas comunidades e o posterior acompanhamento.

Após um tempo de visita família a família, porta a porta, normalmente realizado por religiosas, religiosos e leigos, o que implica uma semana de missão, surge um segundo momento, no qual com a ajuda de um missionário, normalmente presbítero, se aprofundam estas visitas domiciliárias, dedicando maior atenção a casos específicos assinalados pela antecedente visita missionária, tais como a presença de doentes, pessoas com deficiência, cegos, casos dolorosos de luto, carências sociais, etc. O missionário dedica também tempo ao encontro com Instituições, nomeadamente de crianças e idosos, e procede ao anúncio querigmático através do aprofundamento com diálogo e trabalho de grupo de quatro temas – a paternidade de Deus; o encontro pessoal com Jesus, o Cristo; a descoberta da comunidade cristã no projecto de Deus; e o grande apelo à conversão. Este tempo missionário é acompanhado pela presença da Imagem Peregrina de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da Arquidiocese. E é neste contexto que decorre a visita do Arcebispo de Évora à Comunidade Paroquial, sempre em dinamismo missionário, inserida nas duas semanas anteriores de trabalho, e consumando na confirmação da fé da comunidade eclesial, frequentemente com a celebração do Sacramento da Confirmação.

O posterior acompanhamento destas Visitas Pastorais missionárias é feito pelo Departamento Arquidiocesano da Educação da Fé dos Adultos e do Apostolado dos Leigos, preparando e fornecendo 16 temas que ao longo do ano podem e devem ser aprofundados pelos chamados Grupos Paroquiais de Adultos.

“Não posso esquecer e agradecer a todos os que vieram ao encontro do Bispo e, sobretudo, levados pela mão de Nossa Senhora, a Padroeira da Arquidiocese, Senhora da Conceição, souberam ser Igreja, vir à comunidade, receber tão bem as Irmãs”, agradece, recordando que “foi maravilhoso ver grupos de crianças acompanhando as Irmãs pelas ruas. Houve momentos de ternura que diria mesmo comovente, a saudade que havia da parte do povo e sobretudo das crianças de encontrar as Irmãs que foram, de facto, um extraordinário bater à porta de muitos corações. O visitar os doentes e os pobres, o estar sentado numa grade de cerveja a falar com um pobre lá bem longe, descoberto e acolhido pelas Irmãs é para mim experiência inesquecível”.

17 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 2: A revitalização da vida religiosa (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 17 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda a revitalização da vida religiosa na Arquidiocese.

16 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – I: “O Ano Pastoral 2023/24 “foi extraordinariamente desafiante e belo” (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos. No primeiro episódio, que estreou no sábado, dia 10 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense faz um balanço do Ano Pastoral 2023/2024.

Num Ano Pastoral que foi vivido em pleno, já sem quaisquer constrangimentos, como foram os anteriores, marcados pela pandemia, muitas atividades foram desenvolvidas ao longo deste Ano pelos Departamentos da Pastoral, com a orientação da Coordenação Pastoral, assim como pelas Paróquias, pelos Institutos religiosos e pelos Movimentos.

Nos canais de comunicação da Arquidiocese demos conta das atividades desenvolvidas pela Pastoral Juvenil, com os seus encontros e iniciativas depois das Jornadas Mundiais da Juventude, pela Catequese com encontros e formações, pela Pastoral da Saúde, pela Pastoral Litúrgica, pela Pastoral Social, pela Pastoral das Pessoas com Deficiência, pela Pastoral dos Ciganos, assim como pela Pastoral Familiar que desenvolveu vários encontros e formações, com destaque para a Peregrinação Diocesana das Famílias a Vila Viçosa.

A Visita Pastoral Missionária e as ordenações diaconal de Carlos Corrales e presbiteral de Tomás Dias, foram outros dos pontos altos deste Ano Pastoral 2023/2024.

Como não nos determos na importância de momentos como as Jornadas de Atualização do Clero, decorridas este ano sobre o tema ‘Presbíteros, «à imagem e semelhança» do Bom Pastor’, nas iniciativas sobre a Segurança e Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis no contexto da Igreja, nas celebrações Jubilares das Bodas de Prata e de Ouro sacerdotais, ou na presença de D. Manuel Clemente na condução do retiro para o Clero da Arquidiocese. A oferta da Renúncia Quaresmal, num valor superior a 20 mil euros, às Igrejas do Médio Oriente, através das obras de caridade do Santo Padre, o forte empenho das Ordens e Congregações Religiosas masculinas e femininas e das novas Comunidades de Vida, bem como a vitalidade dos vários Movimentos e Comunidades Eclesiais são outros destaques deste Ano Pastoral. Sobressai ainda como sublinhado de esperança o eco das Jornadas Mundiais da Juventude, por todos nós sentido, nomeadamente a riqueza dos DnD – Dias na Diocese que nos continuaram a desafiar e a estimular ao longo deste Ano. Forte impulso nos vem da proclamação do Ano Santo por ocasião do Jubileu a viver já nos próximos Anos Pastorais 24/25 e 25/26, sem esquecer a celebração dos 1700 anos do Concílio de Niceia com a valorização do símbolo dos Apóstolos no Credo Niceno-Constantinopolitano.

“Na minha experiência ministerial do episcopado, este Ano Pastoral foi extraordinariamente desafiante e belo”, começa por afirmar D. Francisco Senra Coelho, sublinhando que “chegámos a um patamar em que já sentimos uma recuperação face à pandemia. Já no ano anterior, 2022/23, começou a restabelecer e agora, neste Ano Pastoral, já nos podemos dizer, em certa medida, restabelecidos”.

Porém, o Arcebispo de Évora sublinhou ter encontrado nas comunidades cristãs consequências dos tempos pandémicos, nomeadamente, na participação do Povo de Deus nas celebrações eucarísticas dominicais, nas reuniões de formação, nos convívios comunitários, em vários Movimentos Eclesiais e na Catequese da Infância e da Adolescência. “Percebe-se maior dificuldade em sair de casa com disponibilidade para participar em dinâmicas de encontro com os outros”, referiu o Prelado eborense, acrescentando que “ainda há caminho para andar na recuperação, na alegria e na participação”. “Em alguns casos”, referiu D. Francisco, “será necessário maior apoio psicológico e espiritual, esperando-se das entidades públicas maior atenção à saúde mental, pois não podemos esquecer o que continuam a significar lutos difíceis ou mesmo por fazer no momento devido, arrastando-se em traumas sempre limitativos”.

“O desafio de tentar acolher e acompanhar os cristãos, as pessoas de boa vontade, os jovens, afinal, “todos, todos, todos”, nos dinamismos de esperança que o pós-Jornada Mundial da Juventude nos pede, não permitindo que a labareda intensa e a festa imensa caíssem numa dimensão de redução ou de algum desalento ou apatia”, explica, destacando “o apelo dos jovens que nos quiseram propor uma Igreja diferente, uma Igreja que tenha uma dimensão de transparência, de família e de coerência, foi uma das prioridades que se impôs a todos os agentes da pastoral da Igreja Arquidiocesana, e que permanece sempre em aberto numa avaliação que nos interpela a prosseguir este caminho ainda com mais entusiasmo, criatividade e audácia”.

“Pedimos uma Igreja mãe, acolhedora, que seja família, transparente e coerente, disseram os jovens no recente Sínodo a eles dedicado. Talvez porque a nova geração sente necessidade deste espaço de acolhimento, quando em muitos casos lhe resta apenas o grupo de amigos da sua idade, porque talvez não tenham em casa esse ambiente”, refere, sublinhando “a solidão do jovem porque, muitas vezes devido às exigências laborais, a família não consegue ter tempo para escutar, para dialogar e para sentir o coração e o palpitar da vida dos seus jovens, os serviços diocesanos, as paróquias e todas as comunidades cristãs são interpeladas por este sinal dos tempos a tornarem-se casa para todos os jovens, proporcionando-lhes espaços e experiências que os façam perceber a beleza do amor libertador de Jesus Cristo e o encanto de com Ele construirmos comunidade”.

“Para além de muitas escolas que definharam até ao seu encerramento, encontramos outras que evoluíram, em vários casos, para mega agrupamentos, onde desde o mais pequenino, que entra no jardim de infância até ao secundário, se passa a ser um número no meio da multidão e não tanto uma pessoa”. Perante esta realidade interroga-se o Prelado: “Como concretizar na prática o tão desejado acompanhamento pessoal no contexto escolar? Como passar da informação à formação para os Valores, para a liberdade, para a tolerância, respeito e paz? Como não estar só no meio de tanta gente, quando a escola luta com tantas dificuldades na resposta docente e é tão ‘magra’ no acompanhamento psicológico de cada aluno por ventura dele necessitado?” Neste contexto, D. Francisco salientou a importância dos Professores de Educação Moral e Religiosa Católica, valorizando e agradecendo o contributo do seu trabalho que permite em muitos casos o acompanhamento personalizado de alunos que os interpelam e com as suas atitudes lhes solicitam escuta e apoio.

“Reconhecemos com realismo e com sentido de responsabilidade e de compromisso, que os jovens sentem também que a Igreja não tem tempo para eles. Que em muitos casos, não foram prioridade da sua ação pastoral e que com frequência não têm um lugar definido e protagonizado na vida comunitária. O desafio que nos fica é não só a nossa abertura a estes jovens mas a ‘Igreja em saída’ que os procura e abraça nas suas realidades”, disse.

“O Ano Pastoral 2023/24 colocou nas nossas mãos o desafio de prolongarmos o fogo das Jornadas Mundiais da Juventude, não só na pastoral juvenil, mas no compromisso que este grande encontro imprime em toda a Arquidiocese e em cada Paróquia”, sublinha, recordando os apelos do Papa, “uma Igreja em saída que parte ao encontro de todos, sobretudo daqueles que estão fora da Igreja”.

“Esta Igreja em Saída cruza-se com a dimensão do testemunho da comunhão profunda da Igreja Sinodal, revelando a toda a sociedade o seu rosto novo de comunidade que à maneira de Maria se apresenta como mãe de coração aberto, a todos acolhe, de todos cuida, integra e confia. Neste momento tão difícil da Humanidade e do país, quando se experimentam dolorosas divisões, violências, radicalizações extremistas e guerras, a Igreja sinodal ao testemunhar o valor da caminhada lado a lado, proclama o ideal icónico para a Igreja de sempre: ‘Vede como eles se amam'”, refere o Arcebispo de Évora.

“Foi este desafio que eu senti neste ano de retoma mais consistente e de solidificação pós-pandémica, sobretudo ao nível da Catequese das nossas crianças e dos nossos adolescentes, dos Movimentos desde o Escutismo, Convívios fraternos, Cursos de Cristandade, Casais de Santa Maria, Equipas de Nossa Senhora, Jovens das Equipas, Encontro Matrimonial, Legião de Maria, Apostolado da Oração, Fé e Luz, MTA, Caminho Neocatecumental, Pastoral Universitária, CVX, Movimentos Salesianos e outros, que retomámos de facto esta Igreja em Saída e simultaneamente interpelada a mostrar a esperança fundada na amizade que nasce de Cristo”, aponta.

09 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 1: O Ano Pastoral 2023/24 “foi extraordinariamente desafiante e belo” (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No primeiro episódio, que estreará neste sábado, dia 10 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense faz um balanço do Ano Pastoral 2023/2024.

Num Ano Pastoral que foi vivido em pleno, já sem quaisquer constrangimentos, como foram os anteriores, marcados pela pandemia, muitas atividades foram desenvolvidas ao longo deste Ano pelos Departamentos da Pastoral, com a orientação da Coordenação Pastoral, assim como pelas Paróquias, pelos Institutos religiosos e pelos Movimentos.

Nos canais de comunicação da Arquidiocese demos conta das atividades desenvolvidas pela Pastoral Juvenil, com os seus encontros e iniciativas depois das Jornadas Mundiais da Juventude, pela Catequese com encontros e formações, pela Pastoral da Saúde, pela Pastoral Litúrgica, pela Pastoral Social, pela Pastoral das Pessoas com Deficiência, pela Pastoral dos Ciganos, assim como pela Pastoral Familiar que desenvolveu vários encontros e formações, com destaque para a Peregrinação Diocesana das Famílias a Vila Viçosa.

A Visita Pastoral Missionária e as ordenações diaconal de Carlos Corrales, e presbiteral de Tomás Dias, foram outros dos pontos altos deste Ano Pastoral 2023/2024.

Como não nos determos na importância de momentos como as Jornadas de Atualização do Clero, decorridas este ano sobre o tema ‘Presbíteros, «à imagem e semelhança» do Bom Pastor’, nas iniciativas sobre a Segurança e Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis no contexto da Igreja, nas celebrações Jubilares das Bodas de Prata e de Ouro sacerdotais, ou na presença de D. Manuel Clemente na condução do retiro para o Clero da Arquidiocese. A oferta da Renúncia Quaresmal, num valor superior a 20 mil euros, às Igrejas do Médio Oriente, através das obras de caridade do Santo Padre, e a vitalidade de vários Movimentos e Comunidades Eclesiais são outros destaques deste Ano Pastoral. Sobressai ainda como sublinhado de esperança o eco das Jornadas Mundiais da Juventude por todos nós sentido, nomeadamente a riqueza dos DnD – Dias na Diocese que nos continuaram a desafiar e a estimular ao longo deste Ano.

Neste primeiro episódio, D. Francisco Senra Coelho começa por afirmar que, “na minha experiência ministerial do episcopado, este Ano Pastoral foi extraordinariamente desafiante e belo”.

 

06 Mai 2024

Sínodo 2021-2024: Relatório da Consulta Sinodal da CEP – Segunda fase

Sínodo 2021-2024: Relatório da Consulta Sinodal da CEP – Segunda fase

Documento elaborado pela Equipa Sinodal da CEP a partir dos contributos das Dioceses e de outros organismos eclesiais.

 

INTRODUÇÃO

A Igreja do terceiro milénio enfrenta o desafio audacioso e inspirador de ser sinodal em missão, um compromisso programático fortemente encorajado pelo Papa Francisco. A sinodalidade é uma dimensão constitutiva da Igreja, refletindo o desígnio de Deus para um caminhar conjunto em comunhão e participação. Este conceito ressoa com a etimologia de “sínodo”, que evoca a imagem de um percurso compartilhado, um eco da vocação fundamental da Igreja de seguir Jesus Cristo, “o caminho, a verdade e a vida”.

A riqueza do termo “sínodo” na tradição eclesial, significando tanto o encontro comunitário quanto a essência da Igreja como uma assembleia convocada, destaca a importância da caminhada conjunta e da escuta mútua. A transformação do termo em “sinodalidade” na era pós-Vaticano II aponta para um amadurecimento na compreensão da Igreja como uma realidade dinâmica e viva, implicando todos os membros na sua missão.

O desenvolvimento histórico e teológico da sinodalidade mostra como a Igreja tem evoluído na sua estrutura e prática, sublinhando a necessidade de uma constante renovação e adaptação aos tempos e contextos. Assim, a sinodalidade é entendida não apenas como um método de operação, mas como uma expressão fundamental da natureza da Igreja, encarnando os valores de comunhão, participação e missão.

Na eclesiologia do Vaticano II, a sinodalidade emerge como uma força vital para a renovação eclesial, abraçando a colegialidade dos bispos e a participação ativa de todos os fiéis. Este dinamismo sinodal reflete a intenção de uma Igreja profundamente enraizada na comunhão e na partilha dos dons espirituais, desafiando-a a ser mais representativa e ativa (Igreja em saída) perante as necessidades do mundo.

A missão da Igreja sinodal em contexto missionário é enriquecida pelo testemunho de uma comunhão profunda e autêntica, que respeita a diversidade e promove a unidade. Este caminho implica uma redescoberta e reavaliação das práticas eclesiais para encarnar mais plenamente a visão do Concílio Vaticano II, enfatizando o papel de cada batizado na vida e missão da Igreja.

Após esta breve introdução, iremos detalhar o processo pelo qual as informações deste relatório foram recolhidas e organizadas. Nesta sequência, daremos a conhecer as ideias-chave que surgiram como consensuais entre os diversos grupos de trabalho. Estas refletem questões cruciais como a sinodalidade e participação, evidenciando a importância de uma vivência sinodal dinâmica e inclusiva. Abordaremos também a unidade, inclusão e diversidade, enfatizando a necessidade imperiosa de integrar todas as diferenças na vida da comunidade eclesial. A formação e a educação serão destacadas pela sua importância na construção de uma base teológica e pastoral sólida. A renovação e a atualização serão discutidas à luz da necessidade da Igreja se manter atenta e alinhada com a Tradição, ao mesmo tempo que responde, sem preconceitos, aos desafios do mundo contemporâneo. Por fim, serão abordados os desafios específicos, como o clericalismo e a resistência às mudanças, os quais devem ser enfrentados para assegurar uma participação efetiva e plena de todos os membros da comunidade.

É relevante sublinhar que, em vários lugares e momentos, os encontros sinodais realizados no âmbito deste processo sinodal constituíram fecundos momentos de escuta, partilha, silêncio e oração. Na consciência de que a alegria deve ser uma marca da vida cristã, a experiência feita é motivo para dar graças a Deus pela pertença a uma Igreja que quer renovar-se, caminhando junta no diálogo e valorizando a participação de todos. Apesar de todos os limites, falhas e resistências, há a consciência de que a sinodalidade já vai estando de algum modo presente nas atitudes de pessoas, nas comunidades e nos movimentos.

DESCRIÇÃO DO PROCEDIMENTO DE RECOLHA E ANÁLISE DA INFORMAÇÃO

A recolha e análise da informação resultante dos trabalhos de grupo foi realizada por meio de um procedimento detalhado e sistemático que promoveu a participação coletiva e o diálogo construtivo entre os membros de diferentes comunidades. Este processo caracterizou-se por uma abordagem sinodal, que se traduziu em diferentes formas de envolvimento e escuta ativa dos elementos participantes.

Inicialmente foram organizadas reuniões e sessões de reflexão nas quais os participantes de diferentes sensibilidades e instâncias eclesiais – que incluíam membros de conselhos pastorais, equipas arciprestais, conselho diocesano e presbiteral e outros grupos de reflexão – puderam debater e analisar temas relevantes para a vida e missão da Igreja. Estas sessões foram essenciais para proporcionar um espaço de partilha de experiências, perceções e expectativas.

A metodologia adotada permitiu a formulação de questões específicas, cujas respostas foram fundamentais para compreender as visões e experiências dos membros das comunidades sobre a missão da Igreja e os desafios com que esta se confronta. Este método de consulta direta possibilitou a identificação de temas comuns às diferentes realidades pastorais, um feedback valioso que resultou na análise que aqui se dá a conhecer.

A análise da informação recolhida teve em consideração as diferentes perspetivas e experiências relatadas, refletindo o compromisso para com a verdade da mensagem encontrada nos relatórios das dioceses e movimentos/grupos que chegaram até esta comissão de trabalho.

1. SINODALIDADE E PARTICIPAÇÃO

Caminhar juntos como Povo de Deus exige o reconhecimento da necessidade de uma contínua conversão, individual e comunitária. Todos somos chamados a tomar parte nesta viagem e ninguém pode ser excluído. Uma igreja sinodal constrói-se na diversidade, através de uma escuta ativa e empática, sem posturas de superioridade intelectual, moral ou eclesial, em atitude de discernimento, diálogo e comunhão fraterna, em que cada um é convidado a “calçar os sapatos do outro”.

A sinodalidade significa, acima de tudo, uma mudança pastoral que permita criar comunidades em que todos se relacionam e tratam de forma saudável e fraterna, com autêntica amizade e comunhão, privilegiando o diálogo e a mútua compreensão, como uma comunidade que reza e celebra junta, que cuida da vida e do caminho espiritual de cada um dos seus membros.

1.1. Conversão

a) É urgente uma conversão à sinodalidade já que se nota, ainda, uma certa desconfiança no processo por parte de algum clero e de leigos que continuam a considerar o processo sinodal interessante, mas pouco efetivo do ponto de vista das mudanças, até de prática pastoral, inviabilizando este caminho conjunto.

b) É essencial reconhecer que, além das transformações estruturais e teóricas, a sinodalidade deve ser vivida como uma experiência concreta de fé nas comunidades, onde o mandamento do amor se manifesta em ações práticas e tangíveis. Importa não conceptualizar ou complexificar em excesso a ideia e os processos da sinodalidade.

c) Desta fase da consulta sinodal denota-se, também, que há quem considere que a abertura e o caminho conjunto, procurando agrupar diferentes sensibilidades para a criação de uma pastoral da inclusão, podem significar uma reforma que colide com a fidelidade à grande Tradição da Igreja.

d) O compromisso de acolhimento e de escuta deve traduzir-se em ações concretas que se dirijam a “todos, todos, todos” sem exceção, procurando, em primeiro lugar, habitar as periferias onde, infelizmente, se encontram cada vez mais irmãos a necessitar de ajuda, material e, sobretudo, espiritual.

1.2. Corresponsabilidade

a) A corresponsabilidade diferenciada na missão de todos os membros do Povo de Deus, de acordo com as vocações, carismas, serviços, e ministérios, deve ser o modelo normal da vida eclesial, organizando a Igreja como uma família e não como uma estrutura, criando meios para a valorização da relação fraternal e teologal nas comunidades, assim como a atenção particular a alguns setores: o mundo da saúde, do serviço aos mais pobres e o acolhimento aos de fora.

b) A Igreja é missionária e tem a responsabilidade de partilhar com os outros o que recebeu: a vida divina. Esta consciência traduz-se na necessidade de todos os batizados – leigos e clérigos – se saberem responsáveis pela missão da Igreja: não são meros cooperadores, mas verdadeiramente participantes corresponsáveis.

c) Exige-se um exercício sinodal da autoridade, que tenha como única finalidade servir o verdadeiro bem das pessoas e ser sinal do único bem supremo que é Deus. Só desse modo pode crescer a consciência de que a missão da Igreja deve ser assumida por todos, num espírito de autêntica corresponsabilidade. Em ordem a implementar um modelo pastoral corresponsável é feita a sugestão de se criar a figura de um “coordenador pastoral” como elo entre o pároco e a comunidade. É, ainda, sugerida, uma maior celeridade e participação laical nos processos de nomeação dos Bispos.

1.3. Ministérios

a) A corresponsabilidade pela missão pede que se desenvolva com maior criatividade os ministérios batismais/laicais, tendo por base as necessidades das Igrejas locais e envolvendo a comunidade no indispensável discernimento e na consciencialização da sua responsabilidade (por exemplo, também em termos litúrgicos).

b) Estes ministérios não devem limitar-se à vida interna eclesial, mas concretizar-se também noutras áreas da vida social que interpelam a responsabilidade cristã no mundo, designadamente nos domínios da saúde mental (adições, ansiedade, depressão, solidão…); dos doentes e familiares/cuidadores em processo de doença crónica, progressiva e incurável; no processo de luto; no apoio a pessoas com deficiência; a jovens namorados e a casais, especialmente os que estão em crise; a pessoas que recuperam de situações de aborto, desempregados, refugiados, imigrantes, etc. Em qualquer caso, a reflexão sobre os ministérios e a sua concretização têm de ir muito para além da questão da diminuição ou até falta de presbíteros.

c) Além da instituição dos ministérios de Leitor, Acólito e Catequista, propõe-se também a criação de ministérios especificamente voltados para a pastoral familiar, nomeadamente, os ministérios para a Caridade e para o serviço de escuta e acompanhamento, com enfoque particular no apoio às pessoas sós, aos idosos e às pessoas com deficiência, de forma a que estes grupos recebam a devida atenção dentro das comunidades eclesiais e contribuam plenamente para a vida da Igreja, incluindo a criação de estruturas apropriadas de atendimento e acompanhamento pastoral a nível diocesano.

1.4. Conselhos e órgãos colegiais

a) É urgente a implementação efetiva e a dinamização dos diversos Conselhos e órgãos colegiais, tanto a nível paroquial como diocesano (devem mesmo ser obrigatórios), procurando ao mesmo tempo que sejam verdadeiramente representativos, funcionem com verdade e qualidade e tenham um carácter mais vinculativo na tomada de decisões. Para garantir este dinamismo pastoral sugere-se que a renovação das lideranças seja uma preocupação assumida.

b) É premente também que todos os Conselhos, mas em particular os Conselhos Económicos, sejam transparentes no seu modo de agir e pratiquem uma cultura de prestação de contas.

 1.5. Juventude

a) Revela-se absolutamente fundamental uma atenção especial aos jovens, confiando-lhes missões concretas, não apenas no que respeita aos seus problemas, mas fazendo escolhas que privilegiem o discernimento e o diálogo inter-geracional, garantindo o entusiasmo e a criatividade próprios da juventude com a maturidade e a consistência doutrinal dos mais velhos. As comunidades são interpeladas a encontrar novos caminhos e métodos criativos que respondam melhor às aspirações e aos desafios que os jovens hoje enfrentam.

b) Conscientes de que não se pode desperdiçar o “património” construído a partir da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, e dando continuidade às experiências positivas que daí advieram, a comunidade jovem deve ser interpelada e ajudada a ser protagonista na vida comunitária, assumindo serviços e ministérios, organizando atividades pastorais e integrando-se nas equipas de animação pastoral. Cada paróquia deveria ter um espaço jovem (espaço físico de convivência, reflexão, organização de atividades várias).

c) A Jornada Mundial da Juventude e o envolvimento cultural devem ser destacados como manifestações significativas de sinodalidade, exemplificando o impacto da fé em contextos juvenis e culturais para fomentar a comunhão e o diálogo.

2. UNIDADE, INCLUSÃO E DIVERSIDADE

O reconhecimento da importância de construir a Igreja em torno da unidade, inclusão e diversidade, acolhendo todas as pessoas (pessoas com deficiência, jovens, idosos, pessoas em situação de pobreza, imigrantes e pessoas que se encontram nas mais variadas “fronteiras” da sociedade) é transversal à Igreja em Portugal.

A busca da unidade na diversidade numa Igreja sinodal pressupõe caminhos e comportamentos de escuta ativa e empática, sem posturas de superioridade intelectual, moral ou eclesial, em atitude de discernimento, diálogo e comunhão fraterna.

2.1. O papel da mulher na vida eclesial

a) É reconhecida a importância de valorizar o papel das mulheres na vida eclesial e assegurar que possam participar nos processos de decisão, assumindo papéis de liderança, especificamente nos conselhos pastorais e económicos. Deve-se procurar a meta da paridade, reconhecendo explicitamente o contributo crucial das mulheres, não apenas na pastoral e nos ministérios, mas também na missão da Igreja junto das comunidades. Existe uma clara perceção de que a Igreja tem muito a ganhar com uma intervenção mais relevante das mulheres, de um modo particular, no anúncio e na meditação da Palavra de Deus, para uma verdadeira vivência sinodal e reconhecimento pleno dos seus dons e capacidades.

b) Homens e mulheres são complementares e não precisam de ser iguais na sua participação na vida eclesial e ministerial. A mulher e o homem, pela sua natureza maternal e paternal, têm capacidade de amar o próximo como a um filho e, como tal, podem e devem ser modeladores da fé, desde a família até à comunidade e estas suas características devem ser potenciadas. A participação de ambos deve ser promovida nos diferentes serviços da Igreja: catequese, serviço de leitores, pastoral familiar, pastoral dos doentes, ministros extraordinários da comunhão, música e coros, etc.

2.2. Bispos, presbíteros, diáconos e demais consagrados

a) Acentuar a necessidade de participação e envolvimento dos leigos não significa que se descure a importância da vida consagrada nas comunidades paroquiais e outras. A participação laical não deve ser assumida como uma substituição do papel dos padres nas comunidades nem dos consagrados que são mencionados como indispensáveis na vida das comunidades paroquiais e outras. Estes consagrados, normalmente devido aos seus carismas próprios, e iluminados pelo Espírito Santo, são muito importantes como arautos da mudança. Revela-se como muito necessária, uma atenção específica à solidão e isolamento a que estão sujeitos os padres.

b) Os Bispos, presbíteros e diáconos são reconhecidos como fundamentais para a vida da Igreja. Sobre o Bispo reconhece-se que não sendo o “tudo da diocese” faz o “todo da diocese” sendo o líder da comunidade alargada. Em relação aos presbíteros, reconhece-se como estes exercem uma missão de pivot para que todos os batizados descubram o seu lugar e missão na Igreja. Em relação aos/a todos os ministros ordenados, importa criar e desenvolver uma cultura de formação permanente.

c) Sugere-se a valorização do ministério do diácono permanente, cuja função não deve ser a substituição das funções do sacerdote, convidando cristãos comprometidos para um processo de discernimento. Manifesta-se um consenso alargado no sentido de que a missão dos diáconos permanentes seja reorientada para o âmbito da caridade/diaconia, em particular para o serviço a pessoas em situação de vulnerabilidade e necessidade.

2.3. Integração da Pessoa com Deficiência

a) Muitas pessoas com deficiência vivem uma condição de solidão próxima ao abandono, chegando mesmo a sentirem-se invisíveis para a sociedade. A Igreja tem a missão de se aproximar, escutá-las, acolhê-las e acompanhá-las, combatendo a cultura do descarte de que são vítimas, fomentando a sua participação ativa para que se tornem sujeitos ativos e não apenas destinatários. É necessário remover barreiras físicas e atitudinais para uma plena participação de todos.

b) As comunidades cristãs devem integrar pessoas com deficiência nos seus Conselhos Pastorais como forma de reconhecer e valorizar as suas capacidades apostólicas. Deus deu a todos dons e talentos que podemos e devemos colocar ao seu serviço, e por isso é fundamental que a Igreja reconheça estes dons em cada um, independentemente da sua deficiência, assim como é fundamental para estas pessoas sentirem o reconhecimento destes dons por parte daqueles que são o rosto de Cristo na Terra.

2.4. Dar voz e visibilidade aos pobres

a) Apesar de se reconhecer o trabalho já desenvolvido pela Igreja junto dos pobres e imigrantes, a diaconia/caridade continua a ser o “parente pobre” na vida e estruturação das comunidades. Exige-se esforço no sentido de mais proatividade na consciência e prática da caridade, em ordem a acolher, integrar e, na medida do possível, ajudar face às dificuldades materiais, culturais, religiosas e sociais.

b) O envolvimento de paróquias e Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) na criação de espaços de acolhimento, a articulação com instituições do Estado e da sociedade civil no terreno, o desenvolvimento criativo de formas de integração dos pobres que vão para além do assistencialismo são algumas das pistas de reflexão e ação apontadas. A pergunta pela credibilidade do testemunho das instituições da Igreja e dos agentes envolvidos na Pastoral Social é crucial. Nesse sentido, é fundamental o conhecimento e o estudo aprofundado da Doutrina Social da Igreja.

3. FORMAÇÃO E EDUCAÇÃO

Para uma Igreja sinodal em missão urge reconhecer a necessidade de formação de todos os membros da Igreja. Caminhar juntos requer a capacidade de utilizar uma linguagem comum enriquecida pelos diferentes idiomas que decorrem da diversidade de dons, carismas, vocações e ministérios.

3.1. Pedagogia sinodal

a) A formação a desenvolver e a implementar deve abranger as diferentes dimensões da vida da Igreja (Evangelização, Liturgia e Caridade). Contudo, na vida das comunidades cristãs sobressai uma persistente lacuna na formação espiritual, levando-nos a concluir que, na base de qualquer plano formativo ou catequético, esta deve ser a preocupação essencial e primeira.

b) A celebração litúrgica é um ponto nuclear da vivência, aprendizagem e crescimento da sinodalidade. Para muitos cristãos continua a ser a experiência básica da sua pertença à Igreja e do seu caminho de formação. Por isso, é da máxima importância que a Eucaristia seja celebrada de forma mais cuidada, organizada e participada (possibilidade de criação de equipas de liturgia nas paróquias; leigos a assumir mais funções, nomeadamente na preparação da homilia; alargar os ministérios de acólito e leitor). Ao mesmo tempo, há que valorizar o acolhimento dos participantes, fomentar o convívio no seguimento da celebração, valorizar a celebração da Palavra, mobilizar as crianças e envolver os jovens na celebração litúrgica.

c) Importa ter em conta que a linguagem litúrgica parece revelar alguma ineficácia comunicacional e não gera atração, sobretudo entre os jovens e as crianças. É necessário renovar criativamente a linguagem da fé e a linguagem litúrgica, para que seja possível uma transmissão eficaz do Evangelho.

d) Deve ser incluída uma pedagogia sinodal nos planos formativos, de modo a evitar uma comunidade clericalizada. Neste ponto, é urgente uma atenção e cuidado pastorais para com os sacerdotes, que se encontram muitas vezes sobrecarregados com questões ao nível da gestão de instituições e recursos, que não são prioritárias na sua missão como pastores.

e) É apontada a necessidade de formação dos cristãos para a consciência missionária no mundo e a promoção de formação e aplicação da Doutrina Social da Igreja, pela qual os cristãos podem ser mais eficazmente uma voz profética no mundo.

f) Revela-se, ainda, como necessária uma formação basilar para a promoção da clareza e transparência na gestão dos fundos alocados à Igreja, tanto a nível paroquial como diocesano.

3.2. Candidatos ao sacerdócio

a) Uma particular atenção deve ser dada à formação dos ministros ordenados, incluindo nos planos formativos uma pedagogia sinodal de modo a fomentar capacidades de liderança e evitar mentalidades clericalizadas e clericalizantes. É urgente que a formação seja orientada para a corresponsabilidade.

b) A formação a desenvolver deve ser humana e cristãmente abrangente, com proximidade à vida real do povo de Deus, em vista do acompanhamento eficaz de pessoas e situações concretas, adequada à realidade do mundo e sintonizada com uma Igreja que procura receber e concretizar o Concílio, acompanhada pela presença feminina entre os formadores. Devem implementar-se formas de ajuda e encorajamento para a dinamização de um serviço eclesial mais fecundo, promovendo um acompanhamento humano e espiritual para valorização de cada pessoa e fortalecimento do seu ministério.

c) Sugere-se a valorização de diversos aspetos a ter em conta na formação: na área da psicologia e do trabalho em equipa, com “estágios” em comunidades mais desfavorecidas e periféricas (prisões, comunidades em que se cuide de doentes); com “estágios” em comunidades diversificadas (meio rural/citadino, interior/litoral, comunidades de migrantes, comunidades com minorias étnicas, comunidades nas quais a presença do presbítero não é tão frequente e outras realidades distantes do seminário).

d) Aponta-se, ainda, o acompanhamento do amadurecimento afetivo e sexual na formação dos ministros ordenados, inserindo-os em contextos reais de comunidade, e a inclusão de experiências missionárias ad gentes para sacerdotes recém ordenados, visando enriquecer a sua formação. De qualquer modo, urge melhorar as formas de acompanhamento dos jovens presbíteros.

3.3. Comunicação e meios digitais

a) A comunicação dentro da Igreja e para fora deve ser simplificada, mais clara, transparente e articulada, aperfeiçoando-se nos meios de que deve dispor. Nesse sentido, é cada vez mais importante desenvolver também os meios digitais de comunicação, com uma formação adequada para a sua utilização na vida das comunidades cristãs, pois o mundo digital, apesar das suas ambiguidades e riscos, constitui um espaço a valorizar na missão da Igreja.

b) Revela-se necessário, também, apurar e mobilizar os canais e as estruturas eclesiais intermédias de comunicação e comunhão (paróquia, arciprestado, etc.). Uma Igreja mais relacional – entre pessoas, movimentos, grupos aos mais diversos níveis – tem de promover os laços de encontro e comunicação entre paróquias, bem como entre movimentos e grupos dentro da própria paróquia. Nesse contexto relacional pode concretizar-se um proveitoso diálogo sobre critérios e opções pastorais.

c) É vital que os presbíteros cultivem relações marcadas pela amizade e proximidade com os fiéis, reforçando a comunicação como uma via de duas mãos que transcende as formalidades institucionais e promove um verdadeiro sentido comunitário.

4. RENOVAÇÃO E ATUALIZAÇÃO

Mantendo uma fidelidade à Tradição eclesial, reconhece-se a necessidade de uma renovação contínua da Igreja para atender às necessidades reais das pessoas e responder aos desafios contemporâneos.

4.1. Auscultação inclusiva

a) Importa saber auscultar as vozes dos que, de alguma forma, se sentem excluídos – tais como as famílias reconstruídas, as pessoas separadas, as pessoas com atração pelo mesmo sexo – com o objetivo de integrar na vida da Igreja o seu contributo.

b) É necessário encetar caminhos rumo à unidade junto das comunidades cristãs separadas da comunhão católica, bem como junto de membros de outras religiões, pois somos chamados à fraternidade da humanidade com todos.

4.2. Família no centro da vida eclesial

a) A família em si própria assume o centro na iniciação à fé, no desenvolvimento da pertença eclesial e da formação cristã, pelo que no núcleo destas consciência e responsabilidade missionárias precisa de estar a família. A renovação dos percursos de preparação para o matrimónio é essencial para os desafios que hoje se colocam às famílias, assim como o acompanhamento de jovens casais.

b) Propõe-se a criação de itinerários sérios para a iniciação à Fé e a receção dos Sacramentos, procurando que através dos momentos de preparação para o batismo e matrimónio se chame a atenção para o compromisso com a Igreja. Importa, ainda, criar uma maior interação entre o serviço de catequese e toda a comunidade, bem como implementar uma catequese mistagógica. A pastoral da iniciação cristã precisa de ser repensada quanto a métodos, itinerários, idades e condições para a receção dos sacramentos. O ministério instituído de catequista tem de ser concretizado de forma pastoralmente criativa e relevante em termos de renovação eclesial.

c) Sugere-se, também, que se molde e adeque a ação da Igreja ao quotidiano dos fiéis, de modo que a religião seja considerada como algo acessível, abordável e alcançável e não como algo longínquo, intocável e até mesmo retrógrado.

d) Poderia ser acrescentado o fortalecimento das estruturas familiares por meio de grupos de apoio e redes de partilha, onde as experiências e desafios da vida em família possam ser discutidos abertamente. Estes grupos, atuando como pequenas comunidades dentro da comunidade eclesial maior, ajudariam a promover a solidariedade, o acompanhamento mútuo e o crescimento espiritual, enfatizando a importância da vivência comunitária na fé e no apoio recíproco entre as famílias. Este aspeto contribuiria para uma maior integração e fortalecimento do papel da família no tecido da vida eclesial, fomentando uma experiência de Igreja como família de famílias.

4.3. Comunidade e trabalho em rede

a) Caminhar juntos em Igreja implica um olhar para o estilo de vida das nossas comunidades cristãs e encontrar estratégias para romper com as circunstâncias que dificultam o sentido e a prática comunitários. As assembleias paroquiais, arciprestais ou diocesanas devem privilegiar um clima de realização sinodal (mesas redondas, exercitando a escuta orante e partilhando tempos de silêncio e oração).

b) Sugere-se a reorganização do território pastoral, o que em muitas situações já está a acontecer e é um processo irreversível. Propõe-se a criação de conselhos inter-paroquiais ou mesmo vicariais, como forma de promover a comunhão e a otimização de recursos, que podem contribuir significativamente para a redução da sobrecarga dos párocos. Esses conselhos devem ser estruturados para fomentar um trabalho em rede eficiente, possibilitando a formação de equipas e conselhos pastorais e económicos que sejam acolhedores e criativos. As assembleias de escuta e discernimento, bem como a definição de objetivos e estratégias pastorais conjuntas, devem ser encorajadas, assegurando uma maior partilha de recursos e um fortalecimento do trabalho em equipa.

c) A vivência efetiva da sinodalidade passa também pela solidariedade e partilha de recursos entre dioceses e comunidades.

5. DESAFIOS ESPECÍFICOS

Neste processo de auscultação em ordem à preparação da segunda Assembleia do Sínodo sobre sinodalidade, em que se procura responder à questão de como ser Igreja sinodal em missão, há questões designadas de fraturantes que continuam a ser um desafio colocado por muitos féis portugueses.

5.1. Questões doutrinais/pastorais a aprofundar

a) É importante continuar a fazer um discernimento sobre algumas questões doutrinais/pastorais que ainda causam dúvida, controvérsia ou desacordo na vida da Igreja. Embora sejam questões de peso doutrinal/pastoral muito diverso, é necessário, por exemplo, fazer esse discernimento à luz da Palavra de Deus e através de um diálogo fraterno na escuta do Espírito Santo, sobre a moral sexual, o celibato dos padres, o envolvimento de ex-padres casados, a possibilidade de ordenação de mulheres.

b) A resistência a mudanças pede um aprofundamento das suas causas mais profundas em termos sociológicos, psicológicos e teológicos. É preciso, por isso, continuar a refletir sobre os fatores que motivam a indiferença de muitos, as resistências às mudanças e os caminhos para as ir ultrapassando.

5.2. Clericalismo

a) A Igreja continua muito centrada no clero e em alguns leigos “clericalizados”. Isso tem várias consequências, desde a indiferença e apatia de muitos ao pouco empenhamento de outros na vida da Igreja e na sua própria formação. O clericalismo, que, entre outros aspetos, se manifesta numa conceção de privilégio pessoal, num estilo de poder mundano e na recusa a prestar contas, é um obstáculo sério ao exercício de um ministério ordenado autêntico.

b) O clericalismo atinge também os leigos com responsabilidades na vida da Igreja local e das comunidades. Combater a clericalização do laicado passa muito pela rotatividade nas lideranças e pelo desenvolvimento de metodologias de participação comunitária.

5.3. Secularização

a) A secularização que persiste e até parece aumentar em certas facetas é atravessada, por outro lado, por manifestações várias de religiosidade difusa, aparentemente de novo cada vez mais amplas. Neste contexto situa-se também a religiosidade popular que, degenerando por vezes em folclore, constitui uma realidade desafiante para a evangelização. Há que ler a religiosidade popular também de forma sinodal, na escuta, no acompanhamento, na ajuda a um crescimento na maturidade da fé.

5.4. Novos horizontes de evangelização

a) Sugere-se a possibilidade de a formação poder ser mais alargada para além da realidade espacial de uma diocese. A troca de experiências teológicas e pastorais entre realidades vizinhas pode abrir espaço a uma comunhão facilitadora de novas experiências sociais que podem abrir horizontes à evangelização.

b) É identificada a necessidade de promover algumas ferramentas de networking entre as diferentes Igrejas locais, nacionais e internacionais, para que, num mundo globalizado, a comunicação entre clérigos e entre associações de fiéis seja facilitada e resulte em mais-valias para todos.

CONCLUSÃO

A sinodalidade, como compromisso de caminhar juntos sob a orientação do Espírito Santo, desafia a Igreja a renovar-se constantemente em fidelidade à sua vocação. Esta renovação é um chamamento à participação e colaboração de “todos, todos, todos” reconhecendo a diversidade de dons e a unidade fundamental na missão de evangelizar, num esforço de partilhar e testemunhar o Evangelho de Cristo ao mundo.

Por outro lado, também a escuta do “sentido da fé” dos crentes e a auscultação de outras pessoas fora do enquadramento eclesial tornou-se um processo irreversível numa Igreja que, na receção do Concílio Vaticano II, procura estar aberta à conversão e à reforma, na fidelidade ao Evangelho e à grande Tradição.

No processo sinodal de caminhar juntos, em missão, a alegria que nasce do encontro com Deus e da presença do Espírito Santo deve ser a marca do nosso testemunho cristão, anunciando de modo claro, atrativo e percetível Cristo Vivo como essência do que somos.

 

Lisboa, 2 de maio 2024