Categoria: Sínodo

28 Out 2024

Sínodo 2024: Documento final devolve às comunidades locais desafio de implementar dinâmicas de «consulta e discernimento»

O documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo, aprovado hoje no Vaticano, devolve às comunidades locais a responsabilidade de implementar mudanças, alargando formas de “participação” de todos os seus membros.

“Pedimos a todas as Igrejas locais que continuem o seu caminho quotidiano com uma metodologia sinodal de consulta e discernimento, identificando caminhos concretos e percursos de formação para realizar uma conversão sinodal palpável nas várias realidades eclesiais”, referem os participantes dos cinco continentes, após duas sessões sinodais, em 2023 e neste ano, sob a presidência do Papa.

O texto, aprovado na totalidade dos seus 155 pontos, defende que seja prevista “uma avaliação dos progressos realizados em termos de sinodalidade e de participação de todos os batizados na vida da Igreja”.

Os participantes sugerem ainda que os vários organismos episcopais “dediquem pessoas e recursos para acompanhar o caminho de crescimento como Igreja sinodal em missão e para manter o contacto com a Secretaria-Geral do Sínodo”.

O documento identifica os “organismos de participação” como “uma das áreas mais promissoras de atuação para uma rápida implementação das orientações sinodais, conduzindo rapidamente a mudanças percetíveis”.

Cabe às Igrejas locais, e sobretudo aos seus agrupamentos, construir, de forma sinodal, formas e procedimentos eficazes de prestação de contas e de avaliação, adequados à variedade dos contextos”.

A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorre desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

“O processo sinodal não termina com o fim da atual Assembleia do Sínodo dos Bispos, mas inclui a fase de implementação”, pode ler-se no documento conclusivo.

Os participantes ligam este processo sinodal ao Concílio Vaticano II (1962-1965), como “um verdadeiro ato de receção”, que volta a apresentar “a sua força profética para o mundo de hoje”.

O texto final refere que é possível ver “os primeiros frutos” do caminho iniciado em 2021, particularmente no “desejo de uma Igreja mais próxima das pessoas e mais relacional, que seja casa e família de Deus”.

“A sinodalidade é um caminho de renovação espiritual e de reforma estrutural para tornar a Igreja mais participativa e missionária, ou seja, para a tornar mais capaz de caminhar com cada homem e mulher irradiando a luz de Cristo”, precisam os participantes.

Francisco promulgou o documento final e envia-o agora às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018).

O texto é composto por cinco partes: “O coração da sinodalidade”, “Juntos, na barca”, “Lançar a rede”, “Uma pesca abundante” e “Também eu vos envio”.

“Com este documento, a Assembleia reconhece e testemunha que a sinodalidade, uma dimensão constitutiva da Igreja, já faz parte da experiência de muitas das nossas comunidades. Ao mesmo tempo, sugere caminhos a seguir, práticas a implementar, horizontes a explorar”, explicam os participantes.

Uma das mudanças apontadas relaciona-se com o “conceito de lugar”, que remete para “a pertença a uma rede de relações e a uma cultura cujas raízes territoriais são mais dinâmicas e flexíveis do que nunca”.

“Para responder às novas exigências da missão, cada paróquia é chamada a abrir-se a formas inéditas de ação pastoral que tenham em conta a mobilidade das pessoas e o território existencial em que se desenvolve a sua vida”, indica o texto.

Os participantes aludem ainda aos desafios das novas tecnologias e das redes sociais, pedindo “recursos para que o ambiente digital seja um lugar profético para a missão”.

“As comunidades e grupos digitais cristãos, especialmente de jovens, são também chamados a refletir sobre a forma como criam laços de pertença, promovem o encontro e o diálogo, oferecem formação entre pares e desenvolvem uma forma sinodal de ser Igreja”, acrescentam.

Ainda sobre os jovens, o documento reconhece que “por vezes, a sua atitude em relação à Igreja aparece como uma crítica, mas assume frequentemente a forma positiva de um compromisso pessoal com uma comunidade acolhedora, empenhada na luta contra a injustiça social e no cuidado da casa comum”.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

Octávio Carmo – Agência ECCLESIA

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo. 

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, participou na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participou na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, estiveram também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos assistentes e colaboradores.

28 Out 2024

Uma Igreja sem “muros” e aberta a “todos, todos, todos” foi o apelo do Papa no encerramento da XVI Assembleia do Sínodo

O Papa encerrou hoje os trabalhos da XVI Assembleia do Sínodo, após a aprovação do documento final, reforçando os seus apelos a uma Igreja sem “muros” e aberta a “todos, todos, todos”.

“Quanto mal causam os homens e mulheres da Igreja quando erguem muros! Não nos devemos comportar como ‘dispensadores da Graça’ que se apropriam do tesouro, amarrando as mãos do Deus misericordioso”, referiu Francisco, perante centenas de participantes dos cinco continentes.

A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorre desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

“O Espírito continua a difundir a harmonia na Igreja de Deus, nas relações entre as Igrejas, apesar de todos os cansaços, tensões e divisões que marcam o seu caminho rumo à plena manifestação do Reino de Deus, que a visão do Profeta Isaías nos convida a imaginar como um banquete preparado por Deus para todos os povos. Todos, na esperança de que não falte ninguém. Todos, todos, todos! Que ninguém fique de fora, todos”, indicou o Papa.

Francisco promulgou documento final e envia-o agora às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal – algo que acontece pela primeira vez, mas que corresponde à possibilidade prevista na  constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018), do atual Papa, sobre o Sínodo dos Bispos.

“Se expressamente aprovado pelo romano pontífice, o documento final faz parte do magistério ordinário do sucessor de Pedro”, precisa a exortação.

“Não tenho intenção de publicar uma exortação apostólica. É suficiente aquilo que aprovámos. No Documento há já indicações muito concretas que podem servir de guia para a missão das igrejas, nos diversos continentes, nos diversos contextos: por isso, coloco-o imediatamente à disposição de todos”, anunciou Francisco aos participantes, que responderam com uma salva de palmas.

Por isto, disse que seja publicado. Quero, deste modo, reconhecer o valor do caminho sinodal realizado, que através deste Documento entrego ao santo povo fiel de Deus”.

 

Fora do documento final ficam os temas confiados aos dez grupos de estudo criados pelo Papa em fevereiro deste ano, após a primeira sessão sinodal,  que envolvem os dicastérios da Cúria Romana, sob a coordenação da Secretaria-Geral do Sínodo.

Estes grupos vão funcionar até junho de 2025, debatendo um conjunto de questões doutrinárias, pastorais e éticas “controversas”, referidas no Relatório de Síntese da primeira sessão sinodal – desenvolvendo questões ligadas à pobreza, missão no ambiente digital, ministérios (incluindo a participação das mulheres na Igreja e a pesquisa sobre o acesso das mulheres ao diaconato), relações com as Igrejas Orientais, Vida Consagrada e movimentos eclesiais, formação dos sacerdotes, ministério dos bispos, papel dos núncios, ecumenismo e questões doutrinais, pastorais e éticas “controversas”.

“Não se trata de adiar indefinidamente as decisões. É o que corresponde ao estilo sinodal com que deve ser exercido também o ministério petrino: escutar, convocar, discernir, decidir e avaliar”, precisou Francisco, esta tarde.

O Papa sublinhou que, “nestes passos, são necessárias as pausas, os silêncios e a oração”.

“É um estilo que estamos a aprender juntos, um pouco de cada vez. O Espírito Santo chama-nos e sustenta-nos nesta aprendizagem, que devemos compreender como um processo de conversão”, insistiu.

Francisco deixou a sugestão de um poema de Madeleine Delbrêl (França, 1904-1964), “a mística das periferias”, que exortava: “Acima de tudo, não sejas rígido”.

“Esses versos podem tornar-se a música de fundo com a qual podemos acolher o documento final. E agora, à luz do que emergiu a partir do caminho sinodal, há e haverá decisões a serem tomadas”, declarou.

No final do seu discurso, o Papa agradeceu a todos os participantes e aos responsáveis pela organização da Assembleia Sinodal, assumindo que “também o bispo de Roma precisa de praticar a escuta, ou melhor, quer praticar a escuta”.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

Octávio Carmo – Agência ECCLESIA

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo. 

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, participou na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participou na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, estiveram também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos assistentes e colaboradores.

27 Out 2024

Sínodo 2024: Papa desafia Igreja a ouvir «grito da humanidade» e a superar fatalismo

O Papa disse hoje, dia 27 de outubro, no Vaticano, que o mundo precisa de uma Igreja que “acolhe o grito da humanidade”, superando atitudes de fatalismo e pessimismo.

“Não precisamos duma Igreja sentada e desistente, mas duma Igreja que acolhe o grito do mundo e – quero dizê-lo, talvez alguém se escandalize – uma Igreja que suja as mãos para servir o Senhor”, referiu na homilia da Missa de conclusão da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, iniciada a 2 de outubro, sobre o tema ‘Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’.

“Deus escuta sempre o grito dos pobres e nenhum grito de dor passa despercebido diante dele”, acrescentou.

Perante milhares de pessoas reunidas na Basílica de São Pedro, Francisco sustentou que esta nova etapa se constrói “acolhendo o grito de todos os homens e mulheres da terra”.

“O grito dos que querem descobrir a alegria do Evangelho e dos que, pelo contrário, se afastaram; o grito silencioso dos indiferentes; o grito dos que sofrem, dos pobres e dos marginalizados; das crianças, escravizadas pelo trabalho, em tantas partes do mundo; a voz partida dos que já nem sequer têm força para gritar a Deus, porque não têm voz ou porque se resignaram”, precisou.

A intervenção apontou ao futuro, pedindo “não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé”, uma “Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo”.

“Lembremo-nos sempre disto: não caminhar por conta própria ou segundo os critérios do mundo, mas caminhar juntos atrás dele e com Ele”, recomendou.

O Papa evocou a cura de um cego, Bartimeu, num comentário à passagem do Evangelho segundo São Marcos, que é lida este domingo nas igrejas de todo o mundo.

“Se permanecemos sentados na nossa cegueira, continuaremos a não ver as nossas urgências pastorais e os muitos problemas do mundo em que vivemos”, indicou, perante os participantes na Assembleia Sinodal.

Francisco questionou uma “Igreja sentada”, que se “confina a si mesma à margem da realidade”.

Perante as interrogações dos homens e mulheres de hoje, os desafios do nosso tempo, as urgências da evangelização e as muitas feridas que afligem a humanidade, não podemos ficar sentados”.

A celebração contou com a exposição da antiga Cátedra de São Pedro, após uma intervenção de restauro.

Segundo nota enviada aos jornalistas, pelo Vaticano, “é muito provável que a Cátedra tenha sido doada por Carlos, o Calvo, ao Papa João VIII (872-885)

“Contemplando-a com a admiração da fé, recordemos que esta é a Cátedra do amor, da unidade e da misericórdia, segundo o preceito que Jesus deu ao Apóstolo Pedro de não exercer domínio sobre os outros, mas de os servir na caridade”, declarou Francisco.

O Papa promulgou este sábado o documento final da Assembleia, enviando-o às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal – algo que acontece pela primeira vez, mas que corresponde à possibilidade prevista na  constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018), assinada por Francisco, sobre o Sínodo dos Bispos.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

A segunda sessão desta Assembleia Sinodal teve 368 membros com direito a voto, dos quais 272 bispos; à imagem do que aconteceu 2023, houve mais de 50 votantes mulheres, entre religiosas e leigas de vários países. 

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, participou na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participou na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, estiveram também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos assistentes e colaboradores.

19 Out 2024

Arcebispo de Évora convida a Arquidiocese a acompanhar na oração e na comunhão o Papa Francisco e o Sínodo reunido em Roma

O Arcebispo de Évora convida a Arquidiocese a acompanhar na oração e na comunhão o Papa Francisco e o Sínodo reunido em Roma, que decorre de 2 a 27 de outubro.

O Prelado eborense pede aos Reverendos Párocos e a todos os Sacerdotes e Diáconos, bem como às Comunidades Religiosas:
– que incluam na Oração Universal e nas Preces da Liturgia das Horas orações por esta intenção;
– que em dia oportuno celebrem a Eucaristia pela Unidade da Igreja;
– que promovam momentos de oração pelo discernimento fecundo do Sínodo;
– e que valorizem a intenção do Sínodo na devoção popular em Outubro, Mês do Rosário, e nas peregrinações a Fátima, por ocasião dos dias 12 e 13 de outubro, 107º Peregrinação aniversária da última aparição e do milagre do sol.

06 Set 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – IV: As Migrações e a Cultura (texto)

AS MIGRAÇÕES

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia está a apresentar uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por vário episódios em formato vídeo, disponíveis nos canais digitais diocesanos. 

Em Portugal e na Europa a questão migratória está na ordem do dia. Neste contexto, em conversa com o Arcebispo de Évora quisemos ouvir o que tem a dizer o Prelado sobre este assunto, tendo em conta que recentemente se inaugurou em Vendas Novas um Centro de Acolhimento para Refugiados e Migrantes.

“Para abordar esta questão, começo por apresentar o livro do sociólogo e especialista em migrações Hein de Haas, intitulado ‘Como Funciona Realmente a Migração – Um guia factual sobre a questão que mais divide a política’”. Com base neste estudo concluímos que em Portugal os imigrantes não são os responsáveis pela maior parte dos crimes. Estamos perante uma realidade que se comprova a nível numérico e estatístico. Portanto, não podemos ligar os crimes cometidos em Portugal à imigração”, afirma o Prelado.

“Se observarmos o mesmo fenómeno na Europa e no mundo, diz este autor, que as estatísticas mantêm a mesma expressão”, aponta, acrescentando que, “uma pessoa que parte para a emigração não é desprovida de meios, de senso e de preparação. Aqueles que conseguem partir têm mais audácia, criatividade, coragem, engenho e sentido de empreendimento. Quem chega, normalmente não vem para praticar crimes, mas para trabalhar, ganhar algum dinheiro e singrar na vida”.

“Para além desta constatação, verifica-se que os imigrantes ilegais normalmente experimentam redobradas preocupações de não cometer qualquer tipo de infração que os possa denunciar. Se, porventura, cometerem uma fraude ou uma infração, podem ser descobertos e postos fora do país de acolhimento. Os diversos crimes de violência atribuídos aos imigrantes prendem-se com a inserção dos mesmos. Acerca deste processo o Papa alerta para quatro verbos importantes: ‘acolher, cuidar, promover e inserir’”, recorda o Prelado, explicando, no entanto, que “quando chegamos à segunda geração de imigrantes, já não é assim tão claro o resultado estatístico referido”.

“Qualquer inserção é problemática, se acontecer em declive social; se as pessoas que chegam forem colocadas em comunidades problemáticas, marcadas pela violência ou pela criminalidade, claro que nesse contexto, a segunda geração vai ser igual à geração que os acolheu. De facto, as novas gerações de imigrantes, nascidas ou crescidas já em Portugal, revelam as mesmas características das novas gerações da comunidade onde foram acolhidos”, explica.

“Devemos tirar consequências desta verificação: os imigrantes não podem ser recebidos de qualquer maneira. Importa acolher, cuidar, promover e inserir quem vem de fora”, apela.

“O acolhimento feito pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados tem sido capaz de exercer estas funções com vasto reconhecimento”, sublinha.

“Neste momento, com grande alegria, com muito esforço e dedicação, o serviço internacional dos jesuítas está implantado na Arquidiocese de Évora”, afirma, afiançando que “estou convencido que vai ser uma riqueza para Vendas Novas. É uma plataforma de chegada, de entrada, de adaptação e dali as famílias partem para os locais onde serão inseridas”.

“Desejo que Vendas Novas saiba viver e conviver com esta riqueza cultural, sempre em ambiente de paz, porque é assim que se constrói uma cidade aberta às grandes dinâmicas da globalização”, afiança o Arcebispo de Évora, concluindo que “numa sociedade marcada pela mobilidade o contributo cristão passa por empreendimentos como este”.

A IGREJA E A CULTURA

No horizonte da realização de Évora, Capital Europeia da Cultura em 2027, o Prelado eborense foi ainda questionado sobre o papel da Igreja neste evento de âmbito cultural.

O Arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho substantivou a sua reflexão do seguinte modo: “desafio, preocupação e confiança”.

“Desafio: acredito que o projecto Évora, Capital Europeia da Cultura 2027, tem um potencial capaz de projectar Évora muito para além de Portugal e da Europa, levando a nossa cidade museu ao mundo. Estou certo que a Capital Europeia da Cultura é uma marca repleta de potencialidades que temos que saber gerir e aproveitar”, aponta.

“A diversidade patrimonial de Évora, as suas especificidades únicas e a riqueza da sua população proporcionam uma excelente oferta com impacto incalculável. Évora precisa e merece que este desafio seja ganho, pois não se trata de um evento, mas de uma marca que leva Évora e traz a Évora. A grandeza desta cidade, Património Mundial, ao ser apresentada e experimentada a nível mundial, com toda a certeza, abrirá portas ao desenvolvimento integral da nossa cidade”, afiança.

“Se, de facto, a Capital Europeia da Cultura 2027 é Évora, a sua vivência não pode contar apenas com a participação de valores eborenses, mas deve assumir-se esta oportunidade com compromisso nacional. Importa que todo o país concentre o melhor de si nesta cidade e que Évora se torne uma proposta de todo o Portugal”, apela, acrescentando que “espero que Évora 2027 seja uma tenda alargada com portas amplas e abertas para que tudo o que há de melhor no nosso país, arte, cultura, ciência, espiritualidade, desporto dê o seu contributo. Não podemos esquecer a cidade congénere na Letónia para que a grande proposta ‘Vagar’ coopere na humanização do nosso país, da europa e do mundo. Se as duas cidades se encontrarem e colaborarem, com mais sucesso potenciarão a mensagem desta iniciativa Capital Europeia da Cultura, construtora da convivência pacífica dos povos”.

“Preocupação: observo que o tempo corre veloz e Évora não está ainda a viver o dinamismo que seria expetável já neste momento”, refere, acrescentando que “talvez devido a inesperadas dificuldades ao nível das coordenações nacionais, regionais e locais, se verifique este significativo atraso que refiro na mobilização interactiva das populações, na preparação de infraestruturas necessárias para um evento de proporção europeia e mundial e na ausência do conhecimento e divulgação de programas que já deviam aglutinar atenções e provocar o agendamento de deslocações a Évora”.

“Evidentemente que abraço este projecto com confiança. Acredito nas instituições e nas pessoas que estão a conduzir este processo. Apelo à união de todos por um projecto que é nosso”, sublinha.

“Que motivações políticas, ideológicas e económicas, estranhas a este projecto comum, não se coloquem à frente do bem da nossa cidade e do nosso país. Para além do nome e da imagem da nossa cidade, estão em causa muitos valores, capacidades e ofertas, que é necessário honrar, defender e promover. Confio que Évora 27 será uma vitória em grau de excelência”, afiança.

“Ressalta ao olhar de todos a importância do património religioso de Évora. Neste sector, grandes obras têm sido desafios vencidos. Recordo as mais recentes, as igrejas do Espírito Santo e de São Francisco, a partir de candidaturas a fundos europeus”, sublinha, salientando que “aproveito o momento para lembrar que a Catedral de Évora precisa urgentemente de uma visita não apenas de admiração, mas de compromisso com a sua preservação e segurança.

Há diversas urgências que exigem rápidas consolidações para que a sua robustez granítica seja efectiva em muitos pormenores fragilizados”. “Há muitos anos que a Sé de Évora não tem tido acompanhamento consequente e satisfatório naquilo que são as exigências da sua conservação. Chamo a atenção para o zimbório; trata-se de um modelo raro na Península Ibérica e na Europa. Já há vários anos que esta preciosidade da história da arte ibérica e mundial não pode ser contemplada pelos visitantes. Será incompreensível que esta tão importante atração patrimonial permaneça neste estado de abandono durante o ano 2027”, refere.

“Lembro que a Catedral de Évora, já há muito tempo estaria encerrada, se não fosse a iniciativa do seu Cabido. De facto, os funcionários que ali prestam os seus serviços são custeados exclusivamente pela entidade multissecular capitular”, esclarece, apelando que pede “aos cristãos eborenses e a todos os visitantes que vêm de fora que compreendam, com perspectiva cultual e cultural, que são chamados a ser missionários da Catedral de Évora através da oferta que dedicam ao adquirir o bilhete de entrada. Não vislumbro a possibilidade de poder cuidar devidamente da Catedral e mantê-la aberta sem o contributo de todos. Certamente não seria nada agradável, numa visita a Évora, depararmo-nos com a Catedral fechada, como infelizmente acontece com tantas igrejas. Sendo monumento nacional, não conta com nenhum funcionário custeado por qualquer entidade pública”.

“Através do Departamento da Pastoral da Cultura e do Património, que é presidido pelo sr. Cónego Mário Tavares da Oliveira já está em constituição uma equipa de trabalho para a valorização do património sacro no contexto Évora 27. Já contamos com apoios de personalidades experimentadas na organização de eventos de alta responsabilidade, bem como oriundas do mundo académico e artístico. Já estamos a trabalhar há vários meses sobre o modo como vamos valorizar o itinerário pelas nossas igrejas. Tenho uma esperança no que digo, que Évora 27 não vai deixar de ser excelente por parte da Igreja”, afiança.

“Que Évora Capital Europeia da Cultura 2027 seja uma sucessão de acontecimentos excelentes para os eborenses, que envolva todos os habitantes da cidade, e por consequência também a Igreja eborense. Que a beleza de Évora chegue ao mundo porque dela tem direito”, aponta.

“O primeiro bispo de Évora data do ano 300, Quinciano é o seu nome. Esta história não pode ser contornada. Faz parte da linfa, da seiva, daquilo que é o alimento desta árvore multissecular que se chama Évora. A sua raiz bebe e suga deste húmus onde também está a fé cristã”, conclui D. Francisco José Senra Coelho.

Texto de Pedro Miguel Conceição
30 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 4: As Migrações (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 31 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda o tema das Migrações.

26 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – V: A Pastoral Vocacional na Arquidiocese (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

A Pastoral Vocacional foi outro dos assuntos abordados na conversa de balanço do Ano Pastoral com o Prelado eborense.

D. Francisco Senra Coelho começa por enquadrar historicamente esta questão: “A nossa Arquidiocese, depois de 1870 para cá, não tem tido vocações em número suficiente para sustentar as 156  paróquias que a compõem. Sabemos que as causas se enraízam no encerramento da Faculdade de Teologia da Universidade de Évora (1759), expulsão das Ordens religiosas masculinas com a confiscação dos seus bens; o encerramento dos noviciados das Ordens religiosas femininas com igual confiscação dos seus bens após a morte da última Irmã; a perseguição religiosa da primeira república, sobretudo de 1910 a 1920 com a confiscação de todos os bens móveis e imóveis da Igreja; mais recentemente a ampla difusão do marxismo comunista através de células clandestinamente implantadas a partir de 1933 no Alentejo latifundiário.”

“Lembro que por volta de 1870 veio de Bragança o primeiro seminarista do norte de Portugal para o nosso seminário. Como disse, até 1870 a Arquidiocese auto sustentava-se com as suas vocações. Os alfobres vocacionais da Arquidiocese encontravam-se concretamente em Campo Maior, em Elvas, em Estremoz, em Vila Viçosa, em Redondo e em Borba, juntamente com Samora Correia, Benavente e Coruche. Se o Seminário de Nossa Senhora da Purificação podia contar com vocações de toda a Arquidiocese, nomeadamente também da cidade de Évora, destas localidades procedia a maior parte dos seminaristas de Évora”, explica.

“Com a chegada de Dom Manuel Mendes da Conceição Santos estas vocações do Norte foram incrementadas, em primeiro lugar, a partir do Distrito de Aveiro. De lá, o bondoso Arcebispo trouxe um fiel colaborador, Mons. Fidalgo, que o acompanhou e o ajudou. Posteriormente, substituído por Mons. Pantaleão Costeira que, com um trabalho incansável, trouxe dezenas de jovens oriundos de Estarreja, de Ílhavo, da Murtosa e de Avanca. Os apelos do Arcebispo de Évora acabaram por chegar também às dioceses de Lamego, Guarda e à Beira Baixa”, recorda.

“Essa fonte terminou, ou é escassa, porque as dioceses do norte também têm muitas dificuldades vocacionais. Em suma, é algo que acontece em toda a Europa”, afiança.

“Embora ultimamente, graças a Deus e ao trabalho que se tem feito nas paróquias, com a ajuda da pastoral vocacional, apareçam em número significativo vocações alentejanas e ribatejanas, continuamos a precisar de vocações que venham para além do Ribatejo e do Alentejo, ou seja, fora da Arquidiocese”, afiança o Arcebispo de Évora.

“Assim, temos um conjunto de sacerdotes que vêm, nomeadamente, de Angola e de Moçambique, continuar os seus estudos no ensino superior português, muito concretamente na Universidade de Évora, no Politécnico de Portalegre e na Universidade Católica de Lisboa. Estes sacerdotes chegam com muito boa vontade, trazem consigo a esperança de servirem a Arquidiocese irmã de Évora e entregam-se geralmente de alma e coração ao estudo, tendo na maior parte dos casos, um assinalável desempenho académico. Com alegria, ajudámos vários sacerdotes a concluírem licenciaturas, mestrados e, em alguns casos, permanecem em fase de doutoramento em diversas ciências humanas.
Agradecemos a estes padres toda a colaboração prestada à Arquidiocese, assumindo Paróquias e construindo importantes partilhas de experiências eclesiais entre as suas Igrejas africanas e a Igreja alentejana e ribatejana de Évora. É muito gratificante para a nossa Igreja particular usufruir deste enriquecimento e contribuir para a valorização destes estimados padres que se vieram formar para regressar às suas dioceses, a fim de enriquecerem os seus presbitérios e melhor servirem os povos de que procedem”, aponta.

“Também há sacerdotes vindos de outros países que não vieram para estudar, mas para se dedicar plenamente à pastoral, recordo o caso o Padre Lelo já incardinado na nossa Arquidiocese, do Padre Rogério e do Padre Caetano Salvador Dallá, os dois últimos cedidos temporariamente pelos seus bispos”, acrescenta.

“Percorremos uma nova experiência ao recebermos de várias dioceses lusófonas seminaristas que nos são enviados para se prepararem para o ministério presbiteral”, explica, adiantando que “para o próximo ano teremos seminaristas da Diocese de Díli; pela primeira vez, seminaristas vindos da Diocese de Tete, em Moçambique; continuaremos a receber jovens vindos de Angola, dioceses de Ondjiva e Menong; da Diocese de Mindelo – Cabo Verde; e no caso especial de um país não lusófono, receberemos dois alunos originais de Cuba”.

“Estes jovens, se assim Deus permitir, e se for o discernimento da Igreja, serão ordenados presbíteros e ficarão ao serviço da Arquidiocese durante cinco anos ou mais”, revela o Prelado, explicando que “o contrato que estas dioceses têm com a Arquidiocese de Évora é que nos cabe proporcionar a formação no Seminário e no Instituto Superior de Teologia de Évora, permanecendo eles, posteriormente, 5 anos na nossa Arquidiocese, exceptuando a diocese de Menong cujos futuros sacerdotes poderão permanecer na nossa Arquidiocese apenas por 3 anos”.

“Acreditamos que ao fim de sete ou oito anos de permanência no nosso Seminário e no ISTE, estes jovens estarão já com uma experiência assinalável de enculturação ao contexto cultural e sócio-religioso da Arquidiocese. Acredito que será uma forma nova da Igreja de Évora caminhar com o apoio de vocações vindas de fora agora do próprio continente europeu e que sem substituir, completarão a insubstituível necessidade da Pastoral Vocacional nas Paróquias, Movimentos e Comunidades da Arquidiocese”, sublinha, acrescentando o Prelado que “não se pode substituir, mas temos que trabalhar todos. Acredito que as vocações na nossa Arquidiocese também vão  continuar a brotar como fruto da beleza destes jovens que com tanta generosidade vêm até nós, a partir de terras missionárias que os nossos antepassados ajudaram a evangelizar”.

“Também se abre a possibilidade de alguns Institutos religiosos e novas Comunidades de Vida matricularem os seus alunos no Instituto Superior de Teologia de Évora. Contactaram-se para o efeito a Província Portuguesa dos Salesianos e a Comunidade de Vida Canção Nova”, aponta o Prelado.

“O trabalho que desde há muito acontece no Instituto Superior de Teologia de Évora exige de toda a Arquidiocese um voto de louvor e ação de graças. Ao falarmos da Pastoral vocacional com vista aos ministérios ordenados do diaconado e do presbiterado e da valorização do nosso laicado com vista a futuros ministérios instituídos e serviços eclesiais, é obrigatório reconhecer o papel indelével e decisivo que o ISTE exerce ao nível das qualificações e da excelência académica”, sublinha o Arcebispo de Évora.

“Na visita ad limina, responsáveis do Vaticano* apelavam para que fossemos buscar missionários onde há vocações. Diziam: ‘Vós sois um povo com experiência missionária que há-de saber receber nestes nossos tempos missionários vindos das novas Igrejas. Não envergueis pela desistência do anúncio da Fé cristã no velho continente europeu. Não fecheis igrejas, como em outros países, não vendais igrejas! Não encerreis capelanias e serviços de presença humanizadora. Procurai vocações sacerdotais e sacerdotes nas Igrejas onde os podeis encontrar’. Como sempre a odisseia missionária exige paciência, espera e tempo. Mas, quando acontece, redige e escreve nas mais belas páginas da História da Igreja. Enviar missionários é tão exigente como acolher missionários. Trabalhemos juntos!”, apela o Prelado. (*in Dicastério para a Evangelização – Seção para a primeira evangelização e as novas Igrejas particulares, Dom Fortunatus Nwachukwu, Secretário)

“Ressalvando as grandes diferenças culturais e continentais ainda que na pátria comum da mesma língua (Fernando Pessoa), parece-me poder dizer que aquilo que está a acontecer no nosso Seminário Maior de Évora e na nossa Arquidiocese surge no seguimento da sua história vocacional, agora os jovens seminaristas não vêm da Guarda nem de Aveiro, não têm origem em Braga, como eu, mas de mais longe. Claro que para além desta diferença nós viemos para ficar e eles virão para partir, porém o seu tempo de permanência entre nós estou certo que será um dom enquadrado nas grandes mudanças que se perspetivam numa sociedade em mobilidade e em crescente transformação pela globalização”, aponta.

“Desejo pôr-me nas mãos de Deus, que Ele ilumine o necessário discernimento, pensando que toda a Arquidiocese me acompanha e que aquilo que está a acontecer é um sinal dos tempos discernido, e que nunca seja, de modo algum, consequência da escolha pelos mais fácil e imediato, pela omissão e facilitismo”, aponta.

Referindo-se ao triénio vocacional vivido pela Província Eclesiástica de Évora (Évora, Beja e Algarve), o nosso Prelado referiu: “na minha modesta opinião o momento mais alto foi a Jornada de Formação Permanente para o Clero do Ano Pastoral 2022/2023 a que se juntaram também padres vindos da diocese irmã de Setúbal. A temática que preencheu as jornadas foi a Pastoral Vocacional. Sendo a mudança de mentalidades o desafio mais difícil para a pastoral, estas Jornadas permanecem como um marco indelével na pastoral vocacional das nossas Dioceses do Sul”, recorda.

“Agradeço a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Bom Pastor, o dom do Seminário Redemptoris Mater que fruto da experiência do Caminho Neocatecumenal permanece na nossa cidade e na nossa Arquidiocese como mais uma resposta da fidelidade de Deus: ‘Dar-vos-ei pastores!’ (Jeremias 3, 15). No contexto pós conciliar, a Igreja ajudou-nos a perceber que não podemos falar de iniciação cristã sem falar de vocação. Encontrar-se face a face com Cristo nas nossas estradas de Damasco, significa descobrir a beleza da Sua misericórdia, a qual não cabe dentro de nós e, por isso, proclamamos a libertação experimentada e no nosso louvor orante entoamos: ‘Não há amor como o Teu’. Porque a alegria do encontro com Cristo Ressuscitado não cabe em nós, levamo-la aos nossos Irmãos, testemunhando jubilosamente o querigma, a boa notícia do nosso encontro com Cristo e com aqueles que decidem perguntar ‘Mestre, onde moras?’ (Jo 1,35-42), iniciamos tempos de catequese em caminhadas catecumenais. É desta experiência que até nós chegou o Seminário Redemptoris Mater, Nossa Senhora de Fátima, de Évora. Dou graças a Deus, mais uma vez, pelo discernimento que o meu venerando antecessor, Dom José Alves, fez à luz do Espírito Santo e pretendo colocar os meus pés nas suas peugadas e continuar a perceber, cada vez mais melhor, a novidade e as exigências deste carisma. A sua peculiaridade consiste em ser um Seminário Arquidiocesano missionário ad gentes. A história da Igreja ensina que os novos carismas fazem caminho, caminhando. Com fidelidade ao Espírito Santo, expresso pela Sua Igreja, desejo uma sinodalidade de fazer caminho, caminhando com o nosso Seminário Redemptoris Mater. Convido toda a Arquidiocese a unirem-se ao Bispo, sucessor dos Apóstolos, nesta confiança do dom de Deus e a caminharmos juntos. Louvo o Senhor pelos três presbíteros ordenados a partir deste Seminário e que já há vários anos servem as Comunidades de Borba e Campo Maior”, sublinha o Arcebispo de Évora.

Interrogado ainda sobre a urgente necessidade da pastoral vocacional feminina, referiu o Prelado que “a valorização da mulher na Igreja também passa pela sua presença maternal na vida religiosa. Porque a Igreja é mãe e se revê em Maria, a vida religiosa feminina é um dom de enorme apreço na vida da nossa Arquidiocese. Rezo e convido a Arquidiocese a rezar para que entre nós surja uma primavera vocacional feminina: a maternidade espiritual e a fraternidade própria da vida consagrada. Sem esquecer que a vida contemplativa religiosa é a alma da Igreja, recordo que a dimensão missionária da vida religiosa é tão necessária nesta Arquidiocese e que ambos os carismas se fundem no grande sinal da presença de Deus no meio de nós. Nunca poderá haver pastoral vocacional sem integrar a vida religiosa e muito concretamente a vida religiosa feminina. Em nome da Arquidiocese um obrigado profundo às consagradas que são para nós sinal do Amor de Deus e da vida eterna”, agradece D. Francisco Senra Coelho.

Texto de Pedro Miguel Conceição
24 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 3: As Vocações (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 24 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda o tema das Vocações na Arquidiocese.

23 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – IV: A revitalização das Congregações Religiosas na Arquidiocese (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

Uma das questões abordadas nesta conversa de final do Ano Pastoral com o Prelado eborense foi sobre as Congregações religiosas e a sua revitalização nos últimos anos.

Há seis anos, quando chegou à Arquidiocese, D. Francisco José Senra Coelho teve como desafio tentar revitalizar a vida religiosa, pois algumas Congregações tinham, entretanto, saído do território diocesano.

“Este trabalho é fruto de todos. A oração e o trabalho apostólico de cada Paróquia e de cada Comunidade religiosa”, disse, sublinhando “a importância das Comunidades Contemplativas neste labor bem como o empenho de todos os Movimentos Eclesiais constitui o apelo para que o Senhor da vinha envie abundantes carismas à sua vinha”. Acrescentou ainda que “a oração dos doentes, dos idosos e dos sós são apelo ao coração de Deus para que envie trabalhadores para a sua vinha”.

“Encontro nas visitas pastorais pessoas que rezam imenso”, sublinha o Prelado, acrescentando que “muitas vezes percebemos que são pessoas que não vão à Igreja, ou porque já não podem ir pela idade ou pela doença, ou porque nunca se habituaram a ir. Porém, quando chego às suas casas, descubro o terço, livros de orações, pagelas, imagens. Perante esta realidade, percebo que as pessoas vivem intensamente a sua religiosidade popular, que não vão à comunidade, mas que fazem comunidade com a vizinhança, em alguns casos com belos testemunhos de entreajuda, solidariedade e apoio nas dificuldades”.

“Encontro-me com o Alentejo que não descobrimos, de facto, o que é quando olhamos para as estatísticas e o vemos apenas de longe. Para conhecer a alma alentejana importa permanecer, comprometer-se, servir, respeitar e saber escutar. Aprendi em 44 anos de permanência nesta Arquidiocese que a cultura alentejana tem as suas profundas raízes implantadas num húmus fortemente cristão e que na ótica da religiosidade natural é um dos povos mais expressivos no contexto nacional. Diria que o povo alentejano e o povo açoriano se encontram em várias expressões da mesma religiosidade natural, posteriormente, em alguns casos, cristianizada ao ponto das suas riquezas culturais e patrimoniais, tais como as expressões etnográficas, musicais, etc, exprimirem a espiritualidade cristã. É belo verificar o significativo número de patrimónios materiais e imateriais da Humanidade existentes no Alentejo, bem como candidaturas em desenvolvimento. Em todos estes valores estão presentes sinais de fé cristã”, explica.

“No ano que aqui cheguei, em setembro de 2018, quatro congregações estavam para partir. Os Cartuxos, as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias ao serviço da Casa Arquiepiscopal, as Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, em Portel, e as Beneditinas do Torrão”, refere, recordando “era uma situação muito dolorosa”.

“Os carismas são um sinal profundo da presença de Deus entre nós – ‘Estarei convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28,20). A Igreja ao longo do seu magistério e muito concretamente no último Concílio apresenta a riqueza dos carismas que o Espírito Santo suscita”, afiança o Prelado.

“Vejo toda esta riqueza e beleza em todas as comunidades que encontrei e que graças a Deus permanecem na Arquidiocese, tantas vezes com grande sentido de abnegação e mesmo heroicidade. Dou graças a Deus pelos dons que o Senhor nos concedeu nos últimos tempos, como a vinda até nós dos padres teatinos, ordem fundado por São Caetano em 1524, que estão em Vendas Novas e que vão agora estender o seu serviço pastoral também às Paróquias de Lavre, Cortiçadas de Lavre, Foros de Vale de Figueira e Santana do Mato; a comunidade Hesed, que está no Torrão; a comunidade Sementes do Verbo, que está em Vila Viçosa e se dedica ao nosso Seminário de S. José, acompanhando os sacerdotes mais idosos ou doentes e proporcionando naquele amplo espaço uma casa de acolhimento e oração; as Monjas de Belém que estão no Couço e que vieram no pontificado do meu antecessor, o Senhor D. José Alves; as Irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, que estão na Cartuxa de Évora; a Comunidade Canção Nova, cuja presença na Arquidiocese será agora ampliada e elevada a ‘Frente de Missão’, assumindo algumas Paróquias nos arredores de Évora, Boa-Fé, São Sebastião da Giesteira, Nossa Senhora da Tourega (Valverde e São Brás do Regedouro), Nossa Senhora de Guadalupe e Santa Sofia. Para além deste trabalho paroquial, exercerão o seu carisma de comunicação e trabalharão no Serviço Arquidiocesano de Évora da Pastoral das Migrações”, refere o Prelado.

“Continuamos a rezar e a trabalhar para que venha para Évora mais grupo da Comunidade nova de vida Sementes do Verbo”, adiantou D. Francisco Senra Coelho.

“Estamos também com muita esperança de ter uma comunidade das Irmãs do Coração Imaculado de Maria, oriundas de Cabo Verde, fundadas nos meados do século XIX, no Senegal. São cerca de 300 Irmãs constituídas em três províncias: Senegal, Cabo Verde e França. Estas Irmãs vão estender-se, com muita esperança o afirmamos, à Unidade Pastoral de Portel”, revela.

“Por fim, já reunimos várias vezes com as Irmãs da Fraternidade Missionária Pobres de Jesus Cristo, que têm o carisma específico da caridade. São franciscanas, bebem do carisma de Madre Teresa de Calcutá e têm a dimensão peculiar de se dedicar à missão, sobretudo com crianças, adolescentes, e idosos. Acreditamos, as Irmãs e eu, que durante o próximo Ano Pastoral virão apoiar as Comunidades de Avis, Benavila, Galveias, Aldeia Velha, Valongo e Santo António de Alcórrego. É uma área geográfica muito ampla que espera mais evangelizadores”, sublinha.

“Obrigado a todos os que rezam pelas vocações, a todos os que rezam pela Igreja, porque são Igreja e não vão apenas à Igreja. Misturam com a oração, a sua cruz, por vez mais caldeada pelo sofrimento moral do que pelo sofrimento físico, nomeadamente pela solidão, pelo esquecimento e pela ingratidão. Neste Alentejo longo, plano, livre, mas também, ao mesmo tempo, proporcionante da palavra só, apelo às comunidades cristãs que procurem estes e estas que muitas vezes juntam ao seu estado natural de idosos a experiência da solidão. Como não agradecer à Guarda Nacional Republicana e aos Bombeiros Voluntários pelo cuidado que têm com estes homens e mulheres! Uma possível missão para as Paróquias e todas as Comunidades cristãs, afinal um modo muito concreto e atual de responder ao desafio do Papa Francisco, Igreja em saída”, apela o Prelado eborense.

Texto de Pedro Miguel Conceição