Categoria: Arquidiocese

18 Abr 2025

Procissão do Enterro do Senhor encheu as ruas do Centro Histórico de Évora (com fotos)

Na noite desta sexta-feira santa, a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Évora realizou a Procissão do Enterro do Senhor, que saiu da Igreja do Calvário e percorreu as principais artérias do Centro Histórico de Évora, até à Igreja da Misericórdia onde decorreu o comovente momento da tumulação do Senhor, sob a presidência do Arcebispo de Évora.

A Procissão congregou centenas de Eborenses e forasteiros.

Fotos: Comunidade Sementes do Verbo

18 Abr 2025

Sexta-feira Santa I Celebração da Paixão do Senhor: “As palavras de Jesus na cruz, convidam-nos à confiança e ao amor, enquanto Filhos de Deus repletos do Espírito Santo”, disse o Arcebispo de Évora (com vídeo e com homilia)

A Semana Santa 2025 está a ser vivida em pleno na Catedral de Évora, assim como por toda a Arquidiocese.

Nesta Sexta-feira Santa, dia 18 de abril, pelas 15h00, na Catedral, o Prelado Eborense presidiu à celebração da Paixão do Senhor.

A celebração, animada liturgicamente pelo coro Stella Matutina e transmitida em direto pelos canais digitais da Arquidiocese de Évora, numa produção do Departamento de Comunicação com o apoio da Comunidade Canção Nova de Évora, contou com a presença de muitos fiéis que encheram a Catedral eborense.

À homilia (ler abaixo na íntegra), o Prelado eborense começou por dizer que “as palavras de Jesus na cruz, convidam-nos à confiança e ao amor, enquanto Filhos de Deus repletos do Espírito Santo. Os evangelistas mencionam sete palavras de Cristo na cruz. Nelas descobrimos o quanto Deus Pai nos amou até entregar o seu Filho à morte para nos fazer filhos n’Ele”.

“As primeiras e últimas das sete palavras dirigem-se ao Pai, bem como a quarta palavra, colocada no centro da equação setenária, como grito de abandono e de confiança. Contemplar estas palavras derradeiras juntamente com Maria, Mãe e filha da Igreja é viver o mistério da Cruz com Aquela que é Mãe e Discípula do Seu próprio Filho”, sublinhou o Arcebispo de Évora.

“Este Ano Santo diz-nos insistentemente que precisamos de olhar para o futuro com esperança, num compromisso com uma promoção integral da Pessoa Humana, a qual forma para a justiça e para a paz. É necessário ajudar as crianças, os adolescentes e os jovens a desenvolverem uma personalidade de paz, no respeito pela sacralidade da outra pessoa, a cultivarem a força interior para construir o bem comum, mesmo quando isso custa sacrifício e diálogo e exige a reconciliação e o perdão. O Bem Maior da Paz e da harmonia merecem esse sacrifício”, apelou D. Francisco Senra Coelho.

“Morreu como homem, voluntariamente, da mesma forma que alguém sofre uma pena para a afastar de outra pessoa. Uma morte que o amor vencerá. A Liturgia da Igreja ensina-nos a velá-lo com dor e esperança. (…) Nele permaneçamos, como Peregrinos da Esperança”, concluiu o Prelado eborense.

A Celebração da Paixão do Senhor contou ainda com a Adoração da Cruz e a Comunhão. O Ofertório foi para os lugares santos da Palestina.

 

Fotos: Graziella Camara/Comunidade Canção Nova – Évora

Sexta-feira Santa: Homilia da celebração da Paixão do Senhor proferida pelo Arcebispo de Évora (com documento)

18 Abr 2025

Sexta-feira Santa: Homilia da celebração da Paixão do Senhor proferida pelo Arcebispo de Évora (com documento)

05HOMILIA DE SEXTA-FEIRA SANTA

Dia 18/IV/2025   

     Introdução:

As palavras de Jesus na cruz, convidam-nos à confiança e ao amor, enquanto Filhos de Deus repletos do Espírito Santo. Os evangelistas mencionam sete palavras de Cristo na cruz. Nelas descobrimos o quanto Deus Pai nos amou até entregar o seu Filho à morte para nos fazer filhos n’Ele.

As primeiras e últimas das sete palavras dirigem-se ao Pai, bem como a quarta palavra, colocada no centro da equação setenária, como grito de abandono e de confiança. Contemplar estas palavras derradeiras juntamente com Maria, Mãe e filha da Igreja é viver o mistério da Cruz com Aquela que é Mãe e Discípula do Seu próprio Filho.

 

  1. A Palavra: «Perdoa-lhes Pai, porque eles não sabem o que fazem!» (Lc 23,34).

Lucas é o evangelista da misericórdia e do perdão. Aqui narra-se a oração de Jesus ao Pai na hora da crucificação.

O perdão é para o futuro, não só para o que passou. O perdão não é um mero sentimento, mas uma decisão e, sobretudo, uma atitude. O perdão constitui um bem mais forte do que um mal.

A sua atitude fundamental deve ser entendida como: “eu quero a paz”; “eu quero perdoar”.

Como reza a Liturgia, na verdade, «O perdão dá a vida aos mortos e restitui a beleza de tudo o que conspurcou. O perdão significa que a cruz é a nossa árvore da vida». Recomeçar sempre é o caminho feliz da vida, porque a própria vida é feita de recomeços constantes.

Este Ano Santo diz-nos insistentemente que precisamos de olhar para o futuro com esperança, num compromisso com uma promoção integral da Pessoa Humana, a qual forma para a justiça e para a paz. É necessário ajudar as crianças, os adolescentes e os jovens a desenvolverem uma personalidade de paz, no respeito pela sacralidade da outra pessoa, a cultivarem a força interior para construir o bem comum, mesmo quando isso custa sacrifício e diálogo e exige a reconciliação e o perdão. O Bem Maior da Paz e da harmonia merecem esse sacrifício.

Não basta constatar, é necessário e urgente agir, construir, semear diariamente o futuro!  Basta de notícias e comentários de actos de violências, sem reflexão séria sobre o que fazer e como promover a educação para o respeito mútuo, a tolerância e o acolhimento das diferenças bem como os gestos geradores de paz.

As novas gerações não podem ficar na varanda, à janela ou nas esplanadas a olhar para a vida que passa na rua ou a viver sentados num sofá ou nas bancadas, lembra-nos o Papa, mas podem e devem ser protagonistas da construção da humanização e da civilização de Paz.

Por experiência histórica, sabemos que a educação e a cultura para a paz exigem o perdão, como sintetizou lapidarmente o bispo anglicano Desmond Tutu: «não há paz sem perdão». Por isso, rezamos na Oração Eucarística de Reconciliação II: «No meio da humanidade dilacerada por divisões e discórdias, reconhecemos os sinais da vossa misericórdia, quando dobrais a dureza dos homens e os preparais para a reconciliação. Com a força do Espírito Santo moveis os corações, para que os inimigos procurem entender-se, os adversários se deem as mãos e os povos se encontrem na paz e concórdia.  Pelo poder da vossa graça, o desejo da paz põe fim à guerra, o amor vence o ódio e a vingança dá lugar ao perdão».

 

  1. A Palavra: «Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23,43).

O bom ladrão arrepende-se e ouve uma promessa de salvação. A palavra “paraíso”, de origem persa, evoca um jardim de felicidade, como foi o primeiro jardim na Criação. Jesus mostra que a felicidade é estar com Ele. Ele é “Caminho, Verdade e Vida”. Já te deixastes conquistar por Ele, pelo Seu Amor, capaz de te perdoar sempre, ou seja, 70×7, e amar-te mais quando estás desfigurado pelos teus falhanços?

 

  1. A Palavra de Jesus: «ao ver sua mãe e o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, eis o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe”» (Jo 19,26-27).

A Virgem Maria consente e une-se ao amor na imolação da vítima que dela nascera. O Seu único filho é Jesus. Ao aceitar a sua morte na cruz, recebe-nos a todos como filhas e filhos seus: Ela é Mãe da Igreja, Mãe de toda a Humanidade.

 

  1. A Palavra: «Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito: “Eli, Eli, lamá sabactâni?” Que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (Mt 27,46).

São palavras atribuídas ao Salmo 22, 28 e exprimem a confiança do Servo Sofredor na bondade de Deus Pai. O sofrimento de Cristo na Cruz coexistia com a certeza do não abandono de Deus. Além disso, como diz Santo Agostinho, na cruz estávamos também nós, porque somos o seu corpo, que é a Igreja: Cristo falava por cada um de nós. Em nome dos crucificados de todos os tempos. Também deste nosso século XXI.

 

5 . A Palavra: «Tenho sede!» (Jo 19,28).

Esse grito manifesta a humanidade do Senhor no meio de terríveis sofrimentos, pois asfixiava-se na cruz.

Também tem sede do nosso amor. A Sua glória, a irradiação do seu amor é a nossa adesão na Vida Nova que nos oferece, através do sim da nossa Fé. “Mais do que a fadiga do corpo, consome-o a sede dos nossos vazios e escuridões interiores. Da Cruz, olha para cada um, para cada uma, no amor eterno do Pai. Tem sede da nossa sede”. Tem uma grande sede de nos enviar o Espírito Santo, para que O levemos como “Água-Viva” aos Samaritanos e Samaritanas de todos os tempos.

 

  1. A Palavra: «Tudo está consumado» (Jo 19,30).

É o cumprimento da Sua Hora, como anunciou o Evangelista João. Jesus amou obedecendo até ao extremo, até ao fim! (cf. Jo 3,34; 13,1). Com a plenitude do Espírito, a sua oferta ao Pai não tem medida. Cumpriu a vontade do Pai. Além disso, está consumido, extenuado, esgotado. Contemplamos mais um mistério de Amor do que de dor. Na Cruz está sobretudo o amor de Jesus ao Pai e ao mundo. Manifesta até às últimas consequências o que significa ser plenamente Filho de Deus, por isso, Irmão de todos.

 

7 . A Palavra: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito» (Lc 23,46).

Morreu como homem, voluntariamente, da mesma forma que alguém sofre uma pena para a afastar de outra pessoa. Uma morte que o amor vencerá. A Liturgia da Igreja ensina-nos a velá-lo com dor e esperança. Assim comentou o saudoso Papa S. João Paulo II: «Os acontecimentos da Sexta-Feira Santa e, ainda antes, a oração no Getsemani, introduzem uma mudança fundamental em todo o processo de revelação do amor e da misericórdia na missão messiânica de Cristo. Aquele que «passou fazendo o bem e curando todos» (At 10,38), e «curando todas as doenças e enfermidades» (Mt 9,35) mostra-Se agora, Ele próprio, digno da maior misericórdia, e parece apelar para a misericórdia quando é preso, ultrajado, condenado, flagelado, coroado de espinhos, pregado na cruz e expira no meio de tormentos atrozes. É então que Se apresenta particularmente merecedor da misericórdia dos homens, a quem fez o bem; mas não a recebe. Nem aqueles que mais de perto contactaram com Ele têm a coragem de O proteger e O arrancar à mão dos seus opressores. Na fase final do desempenho da função messiânica, cumprem-se em Cristo as palavras dos profetas, sobretudo as de Isaías, proferidas a respeito do Servo de Javé: «Pelas suas chagas fomos curados» (Is 53,5). […]». Nele permaneçamos, como Peregrinos da Esperança.

 

+ Francisco José Senra Coelho

     Arcebispo de Évora

18 Abr 2025

13 a 20 de abril: Arquidiocese celebra a Semana Santa (PROGRAMAS DAS PARÓQUIAS)

A Arquidiocese de Évora vai iniciar no domingo, dia 13 de abril, com a celebração dos Ramos, a Semana Santa, momentos centrais do ano litúrgico que, nas igrejas e nas ruas, recordam os momentos da Paixão de Jesus.

Nesta página, partilharemos os cartazes das Paróquias da Arquidiocese, que tivemos conhecimento, com a programação da Semana Santa:

 

18 Abr 2025

Sexta-feira Santa, na Sé de Évora, Oração de Laudes: “Jesus está aí nos excluídos, nos rejeitados, nas novas escravaturas do mundo moderno. Ele desceu ao mais fundo, ao mais baixo para abraçar cada homem e cada mulher e elevá-lo na sua ressurreição à dignidade de filhos de Deus”, disse o Arcebispo de Évora (com fotos e vídeo)

A Semana Santa 2025 está a ser vivida em pleno na Catedral de Évora, assim como por toda a Arquidiocese.

Nesta Sexta-feira Santa, dia 18 de abril, pelas 10h, decorreu a celebração de Laudes, na Catedral eborense, presidida pelo Arcebispo de Évora.

O Coro Stella Matutina entoou os Salmos e Cânticos próprios das Laudes de Sexta-feira Santa.

Depois foi lida a Leitura – Is 52, 13-15: “Vede como vai prosperar o meu servo: subirá, elevar-se-á, será exaltado. Assim como, à sua vista, muitos se encheram de espanto – tão desfigurado estava o seu rosto que tinha perdido toda a aparência de ser humano – assim se hão-de encher de assombro muitas nações e diante dele os reis ficarão calados, porque hão-de ver o que nunca lhes tinham contado e observar o que nunca tinham ouvido”.

Após a leitura, numa breve reflexão, o Arcebispo de Évora disse que percebemos como  Senhor se manifestou na sua grandeza imensa, em todo o seu poder, através deste gesto de suprema humilhação”.

“Jesus coincidiu a sua liberdade com a liberdade que o Pai lhe propunha”, acrescentou.

“Jesus identifica-se com ser humano mais pequeno, mais rejeitado e excluído. Neste movimento descendente acontece o encontro de Deus com a Humanidade. Percebemos que ninguém fica de fora, que ninguém é excluído do Amor de Deus. Todos recebem o dom do Amor, da Compaixão. Encontramo-nos com o Senhor em Compaixão”, desenvolveu.

“Nesta manhã em que Jesus percorria o caminho do seu julgamento, em que é apresentado “Eis o Homem”, ridicularizando a sua condição humana, é neste momento até à hora sexta que acompanhamos o Senhor nesta passagem através dos gritos constantes crucifica-o, crucifica-o”, recordou o Prelado, acrescentando que “depois de ter sido recebido em domingo de triunfo, na entrada de Jerusalém, é este reverso da medalha, este reverso da humanidade que o condena à morte”.

“Neste reverso da humanidade, percebemos que o Senhor se identifica com todos os traídos, com as vítimas da cobardia, e desce às profundezas do nada”, referiu.

“Podíamo-nos encontrar esta manhã com o Senhor em tantos estabelecimentos prisionais, como Santo Padre fez há poucos dias”, recordou.

“Hoje podíamos encontrar com Jesus crucificado em tantos campos de refugiados, onde crianças e adultos desafiam a água pisada pelos animais para saciar a sua sede”, disse, acrescentando “podíamos encontrar Jesus em tantas multidões que fogem à morte”.

“Jesus está aí nos excluídos, nos rejeitados, nas novas escravaturas do mundo moderno. Ele desceu ao mais fundo, ao mais baixo para abraçar cada homem e cada mulher e elevá-lo na sua ressurreição à dignidade de filhos de Deus”, afiançou.

“Este Jesus que vem para descer aos invernos do mundo para percorrer os caminhos da humanização, da dignificação”, apontou.

“Sexta-feira santa lembra-nos a cruz e põe-nos em atitude de silencio. Mas sexta-feira santa é um apelo, um grito de com  Jesus irmos aos infernos do mundo, aos campos de concentração de cada tempo e fazermos surgir algo de muito importante que é a esperança através do nosso compromisso e da nossa presença”, apelou o Arcebispo de Évora. “Sexta-feira santa não é passiva, é profundamente interpelativa”.

17 Abr 2025

Quinta-feira Santa: “Nesta celebração sentimo-nos em intensa proximidade com todos os que na Sociedade e na Igreja se dedicam a lavar os pés aos mais débeis, frágeis, dependentes e necessitados”, disse o Arcebispo de Évora na Missa Vespertina da Ceia do Senhor (com fotos e vídeo)

A Semana Santa 2025 está a ser vivida em pleno na Catedral de Évora, assim como por toda a Arquidiocese.

No final de tarde desta Quinta-feira Santa, dia 17 de abril,  na Catedral, o Prelado Eborense presidiu à Eucaristia Vespertina da Ceia do Senhor.

A Eucaristia, animada liturgicamente pelo coro Stella Matutina e transmitida em direto pelos canais digitais da Arquidiocese de Évora, numa produção do Departamento de Comunicação com o apoio da Comunidade Canção Nova de Évora, contou com a presença de muitos fiéis que encheram a Catedral eborense.

À homilia (ler na íntegra no anexo), o Prelado eborense começou por dizer que “nesta celebração sentimo-nos em intensa proximidade com todos os que na Sociedade e na Igreja se dedicam a lavar os pés aos mais débeis, frágeis, dependentes e necessitados. Uno-me de alma e coração a todos os servidores, cuidadores e curadores do Ser Humano, aos promotores da humanização e da promoção integral de cada ser humano. Todos os que numa dedicada ecologia integral cuidam e defendem a Casa Comum e nela apelam à integração de todos os seres humanos. Preito de Gratidão, Homenagem e Louvores dos “pés que anunciam a paz” e promovem a justiça.”

“Deixar Cristo lavar os nossos pés implica reconhecer que não somos nós que nos tornamos puros, limpos ou santos”, explicou D. Francisco Senra Coelho.

“Caros Irmãos e Irmãs, este é o paradoxo cristão: é Deus quem vai à frente, que nos ama primeiro; é Ele quem toma a iniciativa. Por isso é tão importante, antes de empreender qualquer tarefa, aprender a receber o que Deus nos quer dar, aprender a deixarmo-nos amar e limpar repetidamente por Ele”, prosseguiu o Arcebispo de Évora.

“Por muito que aprofundemos tudo o que Deus Pai nos dá, nunca chegaremos a compreender a profundidade do seu Dom. É remédio de imortalidade, antídoto contra a morte eterna, vida nova em Jesus Cristo para sempre.”, sublinhou o Prelado.

“Cada um de nós quer ter a mesma atitude de Cristo nesta tarde santa. Vamos tentar amar cada pessoa com o Amor com que Ele ama e como Ele as ama: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei», (Jo 13,34). Por Cristo, com Ele e n’Ele, somos capazes de amar até o fim. Como Jesus, ajoelhamo-nos diante do ser humano para lavar os seus pés, assumindo nas nossas vidas a missão de servir e não ser servido.  Com Jesus, Samaritano e com o Cireneu lavamos os pés, servindo em solidária caridade as grandes causas da humanidade”, apelou D. Francisco Senra Coelho, acrescentando que “”.

“Perante as cruzes da nossa vida o Magnificat de Maria pode-nos inspirar a sermos Peregrinos de Esperança e como Ela a permanecermos de pé na caridade e na compaixão, unindo a sua oração: «Eis a humilde serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua Palavra» (Lc 1, 38), com a oração de Cristo: «Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu Espírito» (Lc 23, 46)”, concluiu o Arcebispo de Évora.

A Missa da Ceia do Senhor contou com Rito do Lava-pés e terminou com a Adoração do Santíssimo Sacramento, que ficou exposto para a adoração dos fiéis.

Quinta-feira Santa: Homilia da Missa Vespertina da Ceia do Senhor proferida pelo Arcebispo de Évora (com documento)

 

17 Abr 2025

Quinta-feira Santa: Homilia da Missa Vespertina da Ceia do Senhor proferida pelo Arcebispo de Évora (com documento)

HOMILIA MISSA VESPERTINA DA CEIA DO SENHOR, COM LAVA-PÉS

Dia 17-III-2025

       Caros Senhores Cónegos e demais Sacerdotes, estimados Diáconos, queridos Consagrados e Consagradas, esperançosos Seminaristas, zelosas Irmandades e Confrarias, amadas famílias cristãs, caríssimos jovens, meus Irmãos e minhas Irmãs, nesta celebração sentimo-nos em intensa proximidade com todos os que na Sociedade e na Igreja se dedicam a lavar os pés aos mais débeis, frágeis, dependentes e necessitados. Uno-me de alma e coração a todos os servidores, cuidadores e curadores do Ser Humano, aos promotores da humanização e da promoção integral de cada ser humano. Todos os que numa dedicada ecologia integral cuidam e defendem a Casa Comum e nela apelam à integração de todos os seres humanos. Preito de Gratidão, Homenagem e Louvores dos “pés que anunciam a paz” e promovem a justiça.

  1. Na Última Ceia, na iminência da Paixão, a atmosfera era de amor, de intimidade, de recolhimento. “Jesus, sabendo que o Pai tinha colocado tudo em Suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, pegou uma toalha, cingiu-a à cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido” (Jo 12,3-5). Para os apóstolos deve ter sido muito impressionante ver Jesus realizar este gesto, o qual estava reservado para o servo da casa ou escravo. Certamente eles devem ter entendido este sinal, somente com o passar do tempo. Ainda hoje, podemos achar surpreendente imaginar Deus nessa posição, limpando com as suas mãos o pó do caminho, fixados nos nossos pés pelo suor das caminhadas…

Deixar Cristo lavar os nossos pés implica reconhecer que não somos nós que nos tornamos puros, limpos ou santos. O Papa Francisco lembra que «isto é difícil de compreender: se não deixamos que o Senhor se torne nosso servo, que o Senhor nos lave, nos faça crescer, nos perdoe, não entraremos no Reino dos Céus. Deus salvou-nos, servindo-nos. Geralmente pensamos que somos nós que servimos a Deus. Mas não; foi Ele que nos serviu gratuitamente, porque nos amou primeiro. É difícil amar, sem ser amado; e é ainda mais difícil servir, se não nos deixamos servir por Deus». Caros Irmãos e Irmãs, este é o paradoxo cristão: é Deus quem vai à frente, que nos ama primeiro; é Ele quem toma a iniciativa. Por isso é tão importante, antes de empreender qualquer tarefa, aprender a receber o que Deus nos quer dar, aprender a deixarmo-nos amar e limpar repetidamente por Ele.

  1. Nunca nos deixaremos de maravilhar com o gesto do “Lava-Pés”, mas o Seu amor e humildade atingem a plenitude, quando, durante a ceia, “tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim». Do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha». (1 Cor 11,23-25) De facto, o gesto do “Lava-pés” é a chave interpretativa da Eucaristia: a suprema entrega do Senhor aos irmãos de quem se faz servo.

O Senhor instituiu este sacramento como “memorial perene da sua Paixão, o cumprimento perfeito das figuras da Antiga Aliança e o grande sinal da sua perene permanência connosco. Na Eucaristia Ele doa-se a Si mesmo: tornando-se alimento, pão e vinho para nós, é ao mesmo tempo uma manifestação de superabundância de amor e a expressão plena de humildade. O sacramento eucarístico permite-nos a plena identificação com Deus, fundirmo-nos e compenetrarmo-nos com Deus.

Por muito que aprofundemos tudo o que Deus Pai nos dá, nunca chegaremos a compreender a profundidade do seu Dom. É remédio de imortalidade, antídoto contra a morte eterna, vida nova em Jesus Cristo para sempre.

Nesta contemplação orante, podemos concluir com o Papa que «o cristianismo é antes de tudo dom: Deus doa-se-nos, não dá algo, mas doa-se a si mesmo (…). Por isso, o principal Sinal ou Sacramento do ser cristão é a Eucaristia: a gratidão por termos sido gratificados, a alegria pela vida nova que d’Ele recebemos».

  1. Nas palavras do sacerdote, proferidas antes da consagração – “deu graças, partiu-o e deu-o aos seus discípulos…” – percebemos a disposição agradecida do coração de Jesus diante de Deus Pai.

Cada um de nós quer ter a mesma atitude de Cristo nesta tarde santa. Vamos tentar amar cada pessoa com o Amor com que Ele ama e como Ele as ama: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei», (Jo 13,34). Por Cristo, com Ele e n’Ele, somos capazes de amar até o fim. Como Jesus, ajoelhamo-nos diante do ser humano para lavar os seus pés, assumindo nas nossas vidas a missão de servir e não ser servido.  Com Jesus, Samaritano e com o Cireneu lavamos os pés, servindo em solidária caridade as grandes causas da humanidade.

  1. Permiti que vos sugira alguns compromissos nesta Quinta-feira Santa. A santíssima Eucaristia contém todo o bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa e pão vivo que dá a vida aos homens mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo. Daí tiramos força e vida para levá-la até o último canto da terra, até ao coração de cada pessoa ao nosso redor. A Eucaristia é a fonte, alimento e sustento da fraterna caridade que havemos por coerência promover e viver. Eis o nosso compromisso feito coerência e dinamismo de vida.

Podemos aproveitar o dia de hoje, em que Deus deu à sua Igreja este sacramento para rezar também pela santidade dos sacerdotes, para servirem a Igreja todos os dias com o mesmo amor do Senhor. Com a nossa oração, podemos ajudá-los a tornar realidade a vocação que impulsiona a sua atividade sacerdotal. Eis o compromisso para quem neste Ano Santo 2025: Peregrinos da Esperança que com os sacerdotes Ministeriais rasguem estradas novas neste mundo velho e acendam estrelas apagadas em tantos homens, mulheres e jovens alheados, indiferentes, incrédulos, sem Esperança, companheiros de Emaús, com Cristo no meio, em cada Sacerdote que Cristo nos ofertou.

Entre tantos dons que hoje recordamos, sabemos que Jesus também nos deu a sua Mãe. A Ela, a principal testemunha do sacrifício de Cristo, podemos dirigir-nos para, com a sua ajuda, ter uma vida de louvor por tantos dons recebidos. Perante as cruzes da nossa vida o Magnificat de Maria pode-nos inspirar a sermos Peregrinos de Esperança e como Ela a permanecermos de pé na caridade e na compaixão, unindo a sua oração: «Eis a humilde serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua Palavra» (Lc 1, 38), com a oração de Cristo: «Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu Espírito» (Lc 23, 46).

 

+ Francisco José Senra Coelho

Arcebispo de Évora

17 Abr 2025

“Irmãos, construir a harmonia entre nós é algo que brota da Esperança de que não vamos sós, mas acompanhados pelo Espírito Santo, Deus Amor”, disse o Arcebispo de Évora na celebração da Missa Crismal na manhã de Quinta-feira Santa (com homilia, com fotos e com vídeo)

A Semana Santa 2025 está a ser vivida em pleno na Catedral de Évora, assim como por toda a Arquidiocese.

Na manhã desta Quinta-feira Santa, o Arcebispo de Évora, D. Francisco José Senra Coelho, presidiu à Missa Crismal, na Catedral eborense, que congregou todo o presbitério à volta do Pastor.

A Missa Crismal, animada liturgicamente pelo coro Stella Matutina e transmitida em direto pelos canais digitais da Arquidiocese de Évora, numa produção do Departamento de Comunicação com o apoio da Comunidade Canção Nova de Évora, foi concelebrada pelo Arcebispo de Évora emérito, D. José Alves, pelos cónegos do Cabido da Catedral, por largas dezenas de presbíteros, servida por vários diáconos e contou com a presença de muitos consagrados e consagradas da Arquidiocese, com os seminaristas e com muito povo de Deus.

À homilia, o Arcebispo de Évora começou por dizer: “«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu»,( Lc 4, 18). É assim que nós Hoje, convocados pelo Espírito, reunidos em Presbitério, recebemos de Jesus Cristo as mesmas palavras que Ele próprio recebeu do Profeta Isaías e a que deu sentido pleno. «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu» constitui, de facto, a maneira mais bela e profunda do presbitério arquidiocesano poder afirmar em uníssono a sua identidade diaconal, porque servir é a nossa vocação. É mesmo a única maneira de nós podermos dizer quem verdadeiramente somos, e assim centrados em Nosso Senhor Jesus Cristo, renovarmo-nos na nossa Identidade.”

“O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova» (Is 61, 1; cf. Lc 4, 18-19) e levar – lê-se no prosseguimento da profecia – libertação, cura e graça; numa palavra, para levar harmonia onde não há. Pois, como diz São Basílio Magno, «o Espírito de esperança e harmonia». Tudo o que o Espírito Santo deseja é criar harmonia, principalmente através daqueles sobre quem derramou a sua unção”, sublinhou.

“Em Ano Santo, com a chave de Peregrinos de Esperança, dirigindo-me a cada Sacerdote Ministerial, concluo com as Palavras do Santo Padre «Obrigado! Obrigado pelo vosso testemunho, obrigado pelo vosso serviço; obrigado por tanto bem escondido que fazeis, obrigado pelo perdão e a consolação que ofereceis em nome de Deus: perdoai sempre, por favor, nunca negueis o perdão; obrigado pelo vosso ministério, que muitas vezes se desenrola no meio de tantas fadigas, incompreensões e pouco reconhecimento. Irmãos, o Espírito de Deus, que não desilude quem coloca n’Ele a própria confiança, vos encha de paz e leve a bom termo aquilo que em vós começou, para serdes profetas da sua unção e apóstolos de harmonia». Que pela abertura do coração ao Espírito Santo, a harmonia se reforce e renove sempre no Presbitério Eborense. Que a nossa Celestial Padroeira Nossa Senhora da Conceição interceda por nós!”, concluiu o Prelado eborense.

Após a homilia aconteceu a Renovação das Promessas Sacerdotais e a Bênção dos Santos óleos: Enfermos, Catecúmenos e Crisma.

 

Quinta-feira Santa: Homilia da Missa Crismal proferida pelo Arcebispo de Évora (com documento)

 

 

17 Abr 2025

Quinta-feira Santa: Homilia da Missa Crismal proferida pelo Arcebispo de Évora (com documento)

HOMILIA MISSA CRISMAL

Dia 17-III-2025

«O Espírito do Senhor está sobre mim,

porque me ungiu»

 

  1. «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu», repete Jesus na sinagoga de Nazaré (Lucas 4,18), assumindo sobre si a unção e a missão de Isaías. Jesus levantou-se para fazer a leitura e de seguida sentou-se para fazer o comentário à leitura. E «todos tinham os olhos fixos nele!», num misto de espanto, de encanto e de esperança (Lucas 4,20), informa o narrador. Foi breve e intensa a homilia de Jesus, somente disse: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir»  (Lucas 4,21).

Neste «Hoje» pronunciado por Jesus o tempo deixa de ser o fio tecido e a tecer de chrónos, o fio dos dias e dos anos, para se concentrar neste único Hoje, termo técnico, clássico, nas homilias dos Padres Gregos, em que cai sobre nós a Palavra  de Deus, propondo-nos tudo, hoje e aqui, afinal o Tempo da Graça, do encontro com a iniciativa do Amor Primeiro de Deus. A este Tempo de Deus chamamos Kairos. Tempo da graça!

    «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu»,( Lc 4, 18). É assim que nós Hoje, convocados pelo Espírito, reunidos em Presbitério, recebemos de Jesus Cristo as mesmas palavras que Ele próprio recebeu do Profeta Isaías e a que deu sentido pleno. «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu» constitui, de facto, a maneira mais bela e profunda do presbitério arquidiocesano poder afirmar em uníssono a sua identidade diaconal, porque servir é a nossa vocação. É mesmo a única maneira de nós podermos dizer quem verdadeiramente somos, e assim centrados em Nosso Senhor Jesus Cristo, renovarmo-nos na nossa Identidade.

Diz-nos o Livro do Apocalipse: «Graça e paz […] da parte de Jesus Cristo, Aquele que nos ama, que nos libertou dos nossos pecados com o seu sangue, e fez de nós um Reino de Sacerdotes» (Apocalipse 1,4-6), respondendo e cumprindo a lição do Livro do Êxodo 19,6, em que Deus prometia: «Farei de vós um Reino de Sacerdotes». Guardemos connosco, Hoje, amados irmãos, esta unção, sejamos este reino de sacerdotes, pois  somos um presbitério de Ungidos.

Ungido diz-se em hebraico Mashîah, e em grego Christós, termos que, em português, soam Messias e Cristo. O Ungido por excelência é, então, Cristo, Jesus Cristo, Jesus Ungido. Se o Ungido é Cristo, então nós somos outros Cristos, porque somos igualmente Ungidos. E se somos outros Cristos, então a referência da nossa maneira de viver terá de ser Cristo. Temos, então, de nos revestir de Cristo (Romanos 13,14; Gálatas 3,27; Colossenses 3,12-14), de fazer nosso o estilo de vida de Cristo, manso e humilde, orante, feliz, evangelizador, apaixonado, pobre, despojado, ousado, próximo e dedicado. N’Ele temos de nos centrar e sempre recentrar. Só assim, configurados com Cristo, cristificados, podemos viver e agir in persona Christi Capitis ou in persona Christi Servitoris, na pessoa de Cristo Cabeça do seu Corpo, que é a Igreja, ou na pessoa de Cristo Servo do seu Corpo, que é a Igreja. É assim que renovamos  hoje, nesta Quinta-Feira Santa, a nossa identidade Sacerdotal e Diaconal.

  1. Sigamos o pensamento do Papa Francisco, pronunciado na Missa Crismal, na Basílica de São Pedro a 6 de abril de 2023, que cito: «Depois da primeira «unção» que aconteceu no ventre de Maria, o Espírito desceu sobre Jesus no Jordão. Em seguida, como explica São Basílio, «cada ação [de Cristo] gozava da presença do Espírito Santo». [3] Pois, com o poder daquela unção, Ele pregava e realizava sinais, em virtude daquela unção «emanava d’Ele uma força que a todos curava» ( Lc 6, 19). Jesus e o Espírito atuam sempre juntos, como se fossem as duas mãos do Pai – assim o diz Santo Ireneu  – que, estendidas para nós, nos abraçam e levantam. E, por elas, foram marcadas as nossas mãos, ungidas pelo Espírito de Cristo. Sim, irmãos, o Senhor não Se limitou a escolher-nos e chamar-nos,  mas infundiu em nós a unção do seu Espírito, o mesmo que desceu sobre os Apóstolos.

       Fixemos então o nosso olhar nos Apóstolos. Jesus escolheu-os e, à sua chamada, deixaram os barcos, as redes, a casa, afinal tudo o que possuíam. A unção da Palavra mudou-lhes a vida. Com entusiasmo, seguiram o Mestre e começaram a pregar, convencidos que, depois, realizariam coisas ainda maiores; até que chegou a Páscoa. Parece que então tudo ficou suspenso: chegaram a negar e abandonar o Mestre, a começar por Pedro e os Apóstolos.

Puderam dar-se conta do grande desajustamento entre o projeto deles e o de Jesus, e perceberam que não O tinham compreendido: a frase «não conheço esse homem» (Mc 14, 71), que Pedro alegou no pátio do sumo sacerdote depois da Última Ceia, para vários Padres da Igreja,  não é mera defesa impulsiva, mas uma admissão de ignorância espiritual: ele e os outros talvez estivessem à espera duma vida de sucessos atrás dum Messias que arrastava multidões e fazia prodígios,  não reconheciam o escândalo da cruz, que esfarelou as suas certezas. Jesus sabia que eles, sozinhos, não conseguiriam e, por isso, prometeu-lhes o Paráclito. E foi precisamente aquela «segunda unção», no Pentecostes, que transformou os discípulos, levando-os a apascentar o rebanho de Deus, e já não a si mesmos.

       Irmãos, um itinerário semelhante abraça a nossa vida sacerdotal e apostólica. Também para nós houve uma primeira unção, com início numa chamada cheia de amor que nos arrebatou o coração. Por ela, soltamos as amarras e, sobre um genuíno entusiasmo, desceu a força do Espírito que nos consagrou. Depois, segundo os tempos de Deus, havia de chegar para cada um a etapa pascal, que marca a hora da verdade. Trata-se dum momento de crise, que possui várias formas. A todos nos  sucede, mais cedo ou mais tarde, experimentar desilusões, cansaços e fraquezas, com o ideal que parece diluir-se perante as exigências da realidade, substituído por uma certa rotina; e algumas provações – difíceis de imaginar antes – fazem aparecer a fidelidade mais incómoda do que outrora. Esta etapa – a da tentação, da prova que todos nós tivemos, temos e teremos – esta etapa representa, para quem recebeu a unção, um cume decisivo. Dele, pode-se sair mal, deixando-se planar rumo a uma certa mediocridade, arrastando-se cansado numa «normalidade» cinzenta onde se insinuam três perigosas tentações: a da acomodação, em que a pessoa se contenta com o que pode fazer; a da substituição, em que se tenta «recarregar» o espírito com algo diferente da nossa unção; a do desânimo – a mais comum –, em que, insatisfeitos, se avança por inércia. E aqui está o grande risco: permanecem intactas as aparências – sou sacerdote, sou padre –, enquanto a pessoa se fecha em si mesma e conduz a vida na apatia; a fragrância da unção deixou de perfumar a vida, e o coração, em vez de se dilatar, restringe-se envolvido pelo desencanto.

       Mas toda a  crise pode tornar-se também e, dom de conversão,  um ponto de viragem no sacerdócio, a «etapa decisiva da vida espiritual, em que se deve efetuar a última escolha entre Jesus e o mundo, entre a heroicidade da caridade e a mediocridade, entre a cruz e um certo bem-estar, entre a santidade e uma honesta fidelidade ao compromisso religioso, sobretudo para os Presbíteros que vivem o seu ministério num carisma fundacional a vida Religiosa.

       Como lembra o Papa, com a ajuda do Espírito Santo: é o tempo para nós, como o foi para os Apóstolos, duma “segunda unção”, tempo duma segunda chamada que devemos escutar para receber a segunda unção, em que se acolhe o Espírito não sobre o entusiasmo dos nossos sonhos, mas na fragilidade da nossa realidade. É uma unção que mostra a verdade no mais fundo de nós mesmos e que permite ao Espírito ungir as nossas fragilidades, os nossos cansaços, a nossa pobreza interior».

  1. O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu: enviou-me para levar a boa-nova» (Is 61, 1; cf. Lc 4, 18-19) e levar – lê-se no prosseguimento da profecia – libertação, cura e graça; numa palavra, para levar harmonia onde não há. Pois, como diz São Basílio Magno, «o Espírito de esperança e harmonia». Tudo o que o Espírito Santo deseja é criar harmonia, principalmente através daqueles sobre quem derramou a sua unção.

Irmãos, construir a harmonia entre nós não é tanto um método bom, para que a comunidade eclesial caminhe melhor, nem é questão de estratégia ou de cortesia, mas é sobretudo uma exigência interna na vida do Espírito, é algo que brota da Esperança de que não vamos sós, mas acompanhados pelo Espírito Santo, Deus Amor, sempre gerados da plena harmonia trinitária.

A harmonia não é apenas uma virtude entre outras. São Gregório Magno escreve: «Quanto valha a virtude da concórdia demonstra-o o facto de que, sem ela, todas as outras virtudes não valem absolutamente nada».  Ajudemo-nos, irmãos, a conservar a harmonia, conservar a harmonia no Presbitério e na Igreja – este seria o meu contínuo dever de casa, para cada um de nós. O mundo vive terríveis feridas de desencontros violentos, cruéis e mortais. De novo, somos convidados a mostrar a beleza que salva, a harmonia que brota da presença do Espírito de Deus em nós.

Mas também vós, Fiéis Leigos, batizados e crismados, sois outros Cristos, porque fostes também Ungidos com o óleo do Crisma, que recebe o seu nome de Cristo como referimos. Cristo significa Ungido e Crisma significa Unção. Também vós, amados Fiéis Leigos, fostes Ungidos na fronte, no Batismo e na Confirmação, com o óleo do Crisma. Além de Ungidos na fronte, no Batismo e na Confirmação, os Sacerdotes foram ainda Ungidos nas mãos com o mesmo óleo do Crisma, e o Bispo foi-o ainda na cabeça. Também as igrejas e os altares são ungidos com o óleo do Crisma no dia da sua Dedicação.

  1. É este óleo do Crisma, com que todos somos ungidos no coração, identificando-nos assim com Cristo, que vai ser, nesta Missa Crismal, confecionado e consagrado pelo Bispo, com o testemunho e cooperação dos Sacerdotes. Vão igualmente ser benzidos o óleo dos enfermos, destinado a servir de remédio e de alívio aos doentes, e o óleo dos catecúmenos, destinado a preparar e dispor os catecúmenos para o Batismo.

O óleo do Crisma que vamos consagrar, e os óleos dos enfermos e dos catecúmenos que vamos benzer, constituem, no meio de nós, um autêntico manancial ou programa de vida. Igual ao de Cristo. Outros Cristos, Ungidos no coração, para levar o anúncio do Evangelho a todos os nossos irmãos. Se somos outros Cristos, Ele está connosco, em nós, no meio de nós. A messe e a plantação são d’Ele. A Ele a honra, a glória e o louvor para sempre. Ámen.

  1. Em Ano Santo, com a chave de Peregrinos de Esperança, dirigindo-me a cada Sacerdote Ministerial, concluo com as Palavras do Santo Padre «Obrigado! Obrigado pelo vosso testemunho, obrigado pelo vosso serviço; obrigado por tanto bem escondido que fazeis, obrigado pelo perdão e a consolação que ofereceis em nome de Deus: perdoai sempre, por favor, nunca negueis o perdão; obrigado pelo vosso ministério, que muitas vezes se desenrola no meio de tantas fadigas, incompreensões e pouco reconhecimento. Irmãos, o Espírito de Deus, que não desilude quem coloca n’Ele a própria confiança, vos encha de paz e leve a bom termo aquilo que em vós começou, para serdes profetas da sua unção e apóstolos de harmonia».

Que pela abertura do coração ao Espírito Santo, a harmonia se reforce e renove sempre no Presbitério Eborense. Que a nossa Celestial Padroeira Nossa Senhora da Conceição interceda por nós!

 

+ Francisco José Senra Coelho

Arcebispo de Évora