Categoria: Palavra do Arcebispo

29 Dez 2024

“Que o Ano Santo seja vivido em família!” – Homilia do Arcebispo de Évora na Abertura do Ano Jubilar 2025, proferida na Sé de Évora a 29 de dezembro de 2024

ANO JUBILAR 2025

HOMILIA

Que o Ano Santo seja vivido em família!

1. Concretizando o estabelecido na Bula de Proclamação do Jubileu do Ano de 2025, intitulada  “A Esperança não engana” (Rm 5,5),  o Papa Francisco abriu a Porta Santa da Basílica de São Pedro no passado dia 24 de dezembro. Hoje, Festa da Sagrada Família, unidos a todas as Dioceses do Mundo, damos início ao ano Santo na nossa Arquidiocese.

Se o Primeiro Ano Santo foi proclamado por insistentes pedidos da Piedade Popular, através do Papa Bonifácio VIII em 1300, a prática da abertura da Porta Santa, iniciou-se há cerca de 600 anos, em 1423, por iniciativa do Papa Martinho V. Eis-nos na peugada da História da Igreja: também hoje necessitamos de ouvir e experimentar a certeza de que a Esperança não engana.

Conforme a Bula de Proclamação deste Jubileu, «A Esperança é também a mensagem central» deste Ano Santo, «que segundo uma antiga tradição, o Papa proclama de vinte e cinco em vinte e cinco anos».

O Papa Francisco pensa em todos os Peregrinos de Esperança, que chegarão a Roma para viver o Ano Santo, e em quantos, não podendo ir à cidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, vão celebrá-lo nas Igrejas Particulares. O Papa reza para que «possa ser para todos, um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus», «porta» de salvação, como proclama o Evangelista (Jo 10, 7.9). É a Ele, Jesus Cristo, e com Ele,  que a Igreja tem por missão anunciar sempre, em toda a parte e a todos, como único Senhor e  «nossa Esperança» (1 Tim 1,1).

2. Numa entrevista a uma emissora da Arquidiocese de Buenos Aires (TV canal Orbe 21), o Papa Francisco expressou que o «Jubileu é um Tempo de Renovação Total, de perdão. Às vezes tenho medo de que o Jubileu se assemelhe a um turismo religioso. O Jubileu, para vivê-lo bem e, de alguma forma consertar um pouco as histórias pessoais neste aspeto, é um momento de perdão, um momento de alegria, um momento de recomposição de tantas coisas, pessoais e sociais».

       É genuinamente compreensível a preocupação do coração do Papa em que o Jubileu não se reduza apenas à incentivação do Turismo Religioso, que motivado “pela Fé e pela devoção, envolve a participação em eventos religiosos ou a visita a locais sagrados, onde o participante busca uma “conexão” com o religioso e com o sagrado, como agregação cultural, de lazer, entretenimento, curiosidade, atividades externas. Sendo legítimo e saudável este tipo de Turismo Religioso, o Ano Santo, pede-nos, porém,  a valorização exclusiva da Peregrinação Religiosa, que visa atingir o objetivo do Jubileu de Esperança que é a interioridade da indulgência jubilar.

Segundo o texto da Penitenciaria Apostólica que estabelece as prescrições para que os fiéis possam usufruir das “disposições necessárias para obter e tornar efetiva a prática da Indulgência Plenária”, pede-se «a dedicação de um tempo adequado à adoração eucarística e à meditação, à oração meditada do Pai Nosso, à recitação  consciente da Profissão de Fé ou Credo e à invocação  da intercessão da Virgem Maria». Além destas práticas piedosas, o primeiro ponto do referido texto, cita como convenientes, a participação na Santa Missa, ou na Celebração da Palavra de Deus, na Liturgia das Horas, na Via Sacra, no Rosário Mariano, no Hino Akathistos (cantado de pé),  ou ainda numa celebração Penitencial.

O Ano Santo é um Tempo de Indulgência, que significa a remoção da pena temporal pelos pecados perdoados na confissão, bem como Kairós, ou seja, Tempo da Graça de Deus, envolvente em Clemência, Misericórdia, Compaixão, Compreensão, Bondade, Benevolência, Benignidade, Doçura e Piedade.  O Ano Santo é para nós escola, lareira, candelabro de reconciliação pessoal, interpessoal, social, nacional e internacional.

O optimismo humano, enquanto atitude de alma e disposição psicológica, é algo que se pode cair no equívoco ou engano e gorar-se sem concretização, levando muitas vezes à frustração, à desistência e desencanto. A Esperança, enquanto Virtude Teologal, assenta na Fé, na Palavra de Deus Fiel, que garante “Ainda que meu pai e minha mãe me abandonassem, o Senhor cuidará de mim” (Sal 27, 10), “Estarei convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28,20). Por isso, Paulo nos garante que a Esperança não engana.

3. «Além de beber a Esperança na Graça de Deus, somos também chamados a descobri-la nos Sinais dos Tempos, como nos recorda o Concílio Vaticano II (GS 4; AG 10). Com o Papa Francisco rezamos e comprometemo-nos:

«Que o primeiro sinal de esperança, se traduza em Paz para o mundo, mais uma vez imerso na tragédia da guerra».

– Olhar para o futuro com esperança equivale a ter também uma visão da vida carregada de entusiasmo, para a transmitir».

Devido a esta falta de entusiasmo, assiste-se em vários países a uma queda de Natalidade e ao dramático envelhecimento populacional.

– Que a Esperança para os presidiários pede condições de educação, recuperação e reinserção. Que os Estabelecimentos prisionais, não sejam espaços de trocas de experiências e processos de sucesso no crime, tempo perdido, frustrante e revoltante, mas hipóteses de recuperação de dignidade e humanização. O Papa Francisco propõe mesmo a possibilidade de Amnistia em casos credíveis de recuperação cívica e social.

– Que Sinais de Esperança cheguem aos doentes e profissionais de saúde, na promoção das qualidades exigidas aos espaços e serviços hospitalares. Igual esperança deve ser dada aos cidadãos com deficiências e debilidades. Também os idosos, devem contar com sinais de Esperança e valorização até ao fim natural das suas vidas.

– Que a Esperança seja devolvida às gerações de adolescentes e jovens, de namorados e principiantes profissionais. Que nunca sintam a desvalorização, nem a necessidade de deixar a sua terra  para se poderem realizar,  mas experimentem o apreço de toda a sociedade e da Igreja.

– Sentimos necessidade de levar a Esperança  aos mais Pobres do Planeta, unindo-nos  ao Papa, quando refere: «Renovo o apelo para que com o dinheiro usado em armas e outras despesas militares, constituamos um fundo global para acabar de vez com a fome e para o desenvolvimento dos países mais pobres, a fim de que os seus habitantes não recorram a situações violentas ou enganadoras, nem precisem de abandonar os seus países à procura de uma vida mais digna…

Outro convite premente que desejo fazer, tendo em vista o Ano Jubilar, destina-se às nações mais ricas, para que reconheçam a gravidade de muitas decisões tomadas e estabeleçam o perdão das dívidas dos países que nunca poderão pagá-las» (N 16)

– O Sucessor de Pedro, lembra-nos ainda que “A Esperança encontra na Mãe de Deus a sua testemunha mais elevada. Neste Ano Jubilar, que os Santuários sejam lugares sagrados de acolhimento e espaços privilegiados de esperança” ( N 24).

4. Assim, concretizamos na nossa Arquidiocese, como lugares de Esperança os principais Santuários Marianos, com alguma envolvência Regional ou Nacional:

  • Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa
  • Nossa Senhora de Aires, em Viana do Alentejo
  • Nossa Senhora da Boa Nova, em Terena – Alandroal
  • Nossa Senhora do Castelo, em Coruche
  • Nossa Senhora da Visitação, em Montemor-o-Novo
  • Nossa Senhora das Brotas, em Brotas – Mora
  • Nossa Senhora das Candeias em Mourão

A estes Santuários Marianos juntamos os Santuários Cristológicos:

  • Senhor Jesus dos Mártires, em Alcácer do Sal
  • Senhor Jesus da Piedade, em Elvas
  • Senhor Jesus dos Aflitos em, Borba.5. Iniciamos o Ano Santo nesta Arquidiocese, no Dia da Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José. Momentos muito difíceis para a Sagrada Família que foi a perca de Jesus no Templo.

Que à maneira desta Santa Família, peregrinemos neste Jubileu até ao Templo de Deus!

Que com Jesus,  nos encontremos com o Pai e refaçamos a nossa identidade de filhos sempre no Seu coração: “Porque me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na Casa de Meu Pai?”.

Que perante o espanto e a incompreensão de tantas coisas da vida, guardemos tudo como Maria, na Paz do coração, pois sabemos que só Deus é Luz definitiva.

Que como os Doutores da Lei, continuemos a interrogar-nos sobre o Mistério da Vida: “mas de onde lhe vem toda esta sabedoria?”. Só quem questiona pode crescer. Nunca nos fixemos na rotina, na tibieza e no comodismo da Fé!

“Regressado a casa era-lhes submisso e crescia em graça, estatura e santidade”.  Crescer na maturidade e na segurança da Fé, é o desafio que nos assegura a Esperança que não engana.

Que este Jubileu seja vivido com Jesus, Maria e José, e com Eles seja  um passo de crescimento na nossa relação com Deus, com os nossos semelhantes, pessoalmente e em família, porque o Ano Santo desafia-nos a ser vivido em Família.       

+ Francisco José Senra Coelho

Arcebispo de Évora

24 Dez 2024

Mensagem de Natal 2024 do Arcebispo de Évora (com vídeo)


 

MENSAGEM DO ARCEBISPO DE ÉVORA PARA O NATAL 2024


“A Esperança não engana”

 

Dirijo-me a todos os Cristãos e Cristãs da Arquidiocese de Évora, bem como a todas as Pessoas de Boa Vontade para as saudar, cumprimentar e desejar Boas Festas neste Tempo Natalício, tão marcante na nossa História, na nossa cultura, nas tradições e no imaginário da criatividade e das adaptações aos novos tempos. A todos desejo um fecundo Ano Santo 2025. Que a bênção da Paz inunde este novo ano, também celebrativo do Jubileu do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 

1 – Ao interrogar os tempos e ao escutar muitos corações, registo algumas interrogações que parecem assumir transversalmente as preocupações de muitos. Refiro-me, por exemplo, à fragilidade da Paz e ao alastramento ameaçador da guerra, com dimensão global e com frequentes alusões ao recurso nuclear ou atómico; às grandes mutações populacionais, com os seus consequentes movimentos migratórios; à ecologia global e às, ainda por alguns discutidas, alterações climáticas; aos novos equilíbrios geo-estratégicos e hegemónicos, que já se desenham e perspectivam; aos diversos e antagónicos radicalismos, que eivados de excessos já dolorosamente comprovados pela História, desafiam ou põem mesmo em causa as culturas politicamente  dominantes, chamadas “Democracias”.

 

2 – Entre nós, no espaço territorial da Arquidiocese de 13 547 Km2, espalhada por quatro distritos, vinte e quatro concelhos, nove cidades, dezenas de vilas e cento e cinquenta e oito paróquias e com mais de 255 mil habitantes, acrescentam-se as apreensões com o constante envelhecimento populacional e com o crescente despovoamento, também fruto da migração das novas gerações originárias desta região alentejana e ribatejana e dos injustos desequilíbrios provindos de uma ineficaz política do ordenamento do território, desmotivadora do investimento e empreendedorismo, em alguns casos, capaz de provocar mesmo o desalento e a desistência.

Ficam-nos ainda interrogações sobre temas, tais como a integração dos imigrantes, que constantemente chegam até nós e de quem necessitamos; e como evoluirá o actual sucesso do “Turismo”, tão importante para a actual sustentabilidade da Região.

 

3 – Sobre todas estas questões e muitas outras, tais como assuntos de carácter antropológico, existencial, social, político, cultural, económico e financeiro, se reflectiu em várias instâncias consultivas e executivas de uma Arquidiocese que conta com um Instituto Superior Universitário, dirige ou colabora com várias Fundações, opera na governança de dezenas de IPSS, colabora com mais de três dezenas de Santas Casas da Misericórdia e diversas Associações com várias finalidades, Colégios, Serviços e Movimentos Assistenciais como a Caritas e a Sociedade de S. Vicente de Paulo.

Da normalidade dos nossos encontros quotidianos com as famílias, os jovens, e lembro a forte experiência que nos permitiu a JMJ, os universitários,  com as crianças, os avós; com docentes, autarcas, empresários, agricultores, profissionais de diversos tipos, incluindo jornalistas, agentes da comunicação social e fazedores de opinião pública, não esquecendo sequer as forças militares e de segurança; de todos os quadrantes e sectores percebeu-se a necessidade de um valor acrescido, a Esperança!

 

4 – É Tempo de Natal! O Natal de Cristo garante-nos que “A esperança não engana porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5, 1-2). Que a semente do Natal faça frutificar a Esperança do Amor de Deus que não ilude, nem nos abandona; no coração e na mente de todos nós, sobretudo nos que, porventura, mais sofrem: os sós, os presidiários, os desprotegidos, os discriminados, os frágeis, os doentes, os dependentes e acima de tudo os desistentes e derrubados da vida.

 

 

5 – Obrigado a todos os que guiados pelo sussurro da Esperança, consolidam ou acendem a esperança apagada nos seus irmãos!

Muito obrigado, aos que iluminados pela Luz da Luz, refletem no testemunho coerente, fraterno e solidário essa Luz, através do seu voluntário e dedicado esforço pela verdade, transparência e justiça.

 

6 – Todos merecemos e precisamos que haja Natal de verdade, porém demos prioridade às crianças e adolescentes. Não lhes leguemos a caricatura pobre e deformada de um Natal meramente consumista e mercantilista. Abramos as portas do verdadeiro Natal às nossas crianças: Jesus Cristo, nos seus valores e propostas, é a Esperança de um mundo novo, pleno de humanização! Jesus Cristo, nascido em Belém, terra do Pão, eis o motivo do Natal! Não fechemos as portas da beleza do Natal aos que, mais do que ninguém, merecem viver em Esperança.

Atrevo-me a sugerir a todos os pais e encarregados de educação que não privem as crianças e adolescentes das belezas que os pastores da campinas de Belém puderam saborear junto ao Presépio: uma criança envolta em panos e deitada na manjedoura, ladeada pela simplicidade de Maria e José. Talvez, uma das oportunidades para que cada criança e adolescente possa sentir o bater do coração do Natal, seja ir com os pastorinhos de Belém até ao Presépio e com eles acenderem a fogueira fraterna da amizade, capaz de aquecer o frio e iluminar a noite numa inesquecível catequese de vida e para a vida.

Às portas do Ano Santo 2025, unido ao querido Papa Francisco, desejo e rezo para todos um fecundo Natal e Santo Ano Novo!

 

+ Francisco José Senra Coelho

Arcebispo de Évora

 

 

23 Dez 2024

Mensagem do Arcebispo de Évora para o Natal 2024 e para a abertura do Ano Santo na Catedral e Basílica Metropolitana

MENSAGEM DO ARCEBISPO DE ÉVORA PARA O NATAL 2024

E PARA A ABERTURA DO ANO SANTO NA CATEDRAL E BASÍLICA METROPOLITANA

 

Dirijo-me a todos os Cristãos e Cristãs da Arquidiocese de Évora, bem como a todas as Pessoas de Boa Vontade para as saudar, cumprimentar e desejar Boas Festas neste Tempo Natalício, tão marcante na nossa História, na nossa cultura, nas tradições e no imaginário da criatividade e das adaptações aos novos tempos. A todos desejo um fecundo Ano Santo 2025. Que a bênção da Paz inunde este novo ano, também celebrativo do Jubileu do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

1 – Ao interrogar os tempos e ao escutar muitos corações, registo algumas interrogações que parecem assumir transversalmente as preocupações de muitos. Refiro-me, por exemplo, à fragilidade da Paz e ao alastramento ameaçador da guerra, com dimensão global e com frequentes alusões ao recurso nuclear ou atómico; às grandes mutações populacionais, com os seus consequentes movimentos migratórios; à ecologia global e às, ainda por alguns discutidas, alterações climáticas; aos novos equilíbrios geo-estratégicos e hegemónicos, que já se desenham e perspectivam; aos diversos e antagónicos radicalismos, que eivados de excessos já dolorosamente comprovados pela História, desafiam ou põem mesmo em causa as culturas politicamente  dominantes, chamadas “Democracias”.

2 – Entre nós, no espaço territorial da Arquidiocese de 13 547 Km2, espalhada por quatro distritos, vinte e quatro concelhos, nove cidades, dezenas de vilas e cento e cinquenta e oito paróquias e com mais de 255 mil habitantes, acrescentam-se as apreensões com o constante envelhecimento populacional e com o crescente despovoamento, também fruto da migração das novas gerações originárias desta região alentejana e ribatejana e dos injustos desequilíbrios provindos de uma ineficaz política do ordenamento do território, desmotivadora do investimento e empreendedorismo, em alguns casos, capaz de provocar mesmo o desalento e a desistência.

Ficam-nos ainda interrogações sobre temas, tais como a integração dos imigrantes, que constantemente chegam até nós e de quem necessitamos; e como evoluirá o actual sucesso do “Turismo”, tão importante para a actual sustentabilidade da Região.

3 – Sobre todas estas questões e muitas outras, tais como assuntos de carácter antropológico, existencial, social, político, cultural, económico e financeiro, se reflectiu em várias instâncias consultivas e executivas de uma Arquidiocese que conta com um Instituto Superior Universitário, dirige ou colabora com várias Fundações, opera na governança de dezenas de IPSS, colabora com mais de três dezenas de Santas Casas da Misericórdia e diversas Associações com várias finalidades, Colégios, Serviços e Movimentos Assistenciais como a Caritas e a Sociedade de S. Vicente de Paulo.

De toda a nossa reflexão brotou uma constatação, para que resplandeça uma Primavera nos corações e mentes humanas, necessitamos de procurar motivos de Esperança. A Esperança é a âncora que nós seguramos em horas de incerteza e de busca de novos rumos na bússola do discernimento. Como ensina o Papa Francisco “o optimismo desengana, a esperança não” (audiência geral, 7 de dezembro de 2016). De facto, o optimismo situa-se no âmbito das capacidades e possibilidades humanas, enquanto a esperança, virtude teologal, nos vem da certeza de que Deus jamais nos abandona. Importa recordar o pensamento do grande biblista e teólogo C. M. Martini “esperar equivale a viver: o homem de facto, vive enquanto espera e a definição do seu existir está ligada à definição do âmbito da sua esperança” (2012).

Da normalidade dos nossos encontros quotidianos com as famílias, os jovens, e lembro a forte experiência que nos permitiu a JMJ, os universitários,  com as crianças, os avós; com docentes, autarcas, empresários, agricultores, profissionais de diversos tipos, incluindo jornalistas, agentes da comunicação social e fazedores de opinião pública, não esquecendo sequer as forças militares e de segurança; de todos os quadrantes e sectores percebeu-se a necessidade de um valor acrescido, a Esperança!

4 – A Arquidiocese de Évora propõe a todos o desafio da Esperança: “Peregrinos de Esperança”. É assim, que apresenta ao interior da Igreja e a toda a Sociedade o seu contributo para este Ano Pastoral, 2024-2025. Atrevo-me a perguntar: Quem quer vir connosco procurar as raízes da Esperança e fazê-las florir neste tempo bastante baço, se não mesmo opaco? Afinal, onde mora ou quem pode ser Esperança? Dito de outro modo, o que vale definitivamente, e pelo qual vale a pena, dar a vida?

Conforme refere o nosso citado Plano Pastoral, “No dia 9 de Maio, o Papa Francisco publicou a Bula de proclamação do Jubileu 2025, “Spes non confundit…”. Neste documento, são traçadas as grandes ideias que deverão marcar a nossa caminhada jubilar, bem como o itinerário a que a Igreja é chamada a percorrer. Como Igreja diocesana, não queremos ficar alheios aos desafios que nos são lançados pelo Papa Francisco.” (…) De facto, “a esperança não pode ser uma palavra vaga e sem conteúdo. Evocar a esperança é ter a ousadia de olhar para os lugares onde essa mesma esperança é uma urgência para muitos e um compromisso para todos. Dos lugares da esperança ergue-se um coro de vozes aflitas que fazem a experiência dos mais atrozes cativeiros que não nos podem deixar indiferentes”, por isso para a nossa Arquidiocese o objetivo para este tempo é “celebrar o Ano Santo em comunhão com a Igreja, para a renovação de cada uma das comunidades cristãs”.

Em plena comunhão com o Bispo de Roma e Sucessor de Pedro, em cumprimento das determinações do Santo Padre, o Papa Francisco, e em consonância com o nosso Plano Pastoral, convoco toda a Igreja Diocesana de Évora, o Povo Santo de Deus que peregrina nestas terras eborenses, para no próximo dia 29 de Dezembro, pelas 16 horas, nos congregarmos na Igreja de Santo Antão, em Évora, para aí, darmos início à Santa Missa Estacional que de seguida peregrinará processionalmente até à nossa Catedral e Basílica Metropolitana, a fim de iniciarmos o jubileu do Ano Santo na nossa Igreja Mãe, celebrando a Eucaristia e todos os Ritos próprios e indicados pelo competente Dicastério da Santa Sé.

O Rev. Presbitério, com o seu Cabido Catedralício; os Rev. Diáconos, os Religiosos e Religiosas, os Consagrados, os Seminaristas e todo o Laicado são convidados a participar jubilosamente neste momento eclesial de elevada catolicidade, expressão da nossa comunhão com o Papa e com toda a Igreja Universal espalhada sobre a face da terra.

Que na cidade de Évora e nesta tarde, nenhuma celebração eucarística seja realizada a par deste solene acto de Unidade. Que em toda a Arquidiocese, sejam previamente previstas as alterações de horários de Missas Dominicais, para que seja possível a participação de todos os clérigos de algum modo, vinculados a esta Arquidiocese. Espera-se o empenho e a colaboração de todos os Católicos.

5 – É Tempo de Natal! O Natal de Cristo garante-nos que “A esperança não engana porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5, 1-2). Que a semente do Natal faça frutificar a Esperança do Amor de Deus que não ilude, nem nos abandona; no coração e na mente de todos nós, sobretudo nos que, porventura, mais sofrem: os sós, os presidiários, os desprotegidos, os discriminados, os frágeis, os doentes, os dependentes e acima de tudo os desistentes e derrubados da vida.

6 – Obrigado a todos os que guiados pelo sussurro da Esperança, consolidam ou acendem a esperança apagada nos seus irmãos!

Muito obrigado, aos que iluminados pela Luz da Luz, refletem no testemunho coerente, fraterno e solidário essa Luz, através do seu voluntário e dedicado esforço pela verdade, transparência e justiça.

7 – Todos merecemos e precisamos que haja Natal de verdade, porém demos prioridade às crianças e adolescentes. Não lhes leguemos a caricatura pobre e deformada de um Natal meramente consumista e mercantilista. Abramos as portas do verdadeiro Natal às nossas crianças: Jesus Cristo, nos seus valores e propostas, é a Esperança de um mundo novo, pleno de humanização! Jesus Cristo, nascido em Belém, terra do Pão, eis o motivo do Natal! Não fechemos as portas da beleza do Natal aos que, mais do que ninguém, merecem viver em Esperança.

Atrevo-me a sugerir a todos os pais e encarregados de educação que não privem as crianças e adolescentes das belezas que os pastores da campinas de Belém puderam saborear junto ao Presépio: uma criança envolta em panos e deitada na manjedoura, ladeada pela simplicidade de Maria e José. Talvez, uma das oportunidades para que cada criança e adolescente possa sentir o bater do coração do Natal, seja ir com os pastorinhos de Belém até ao Presépio e com eles acenderem a fogueira fraterna da amizade, capaz de aquecer o frio e iluminar a noite numa inesquecível catequese de vida e para a vida.

Às portas do Ano Santo 2025, unido ao querido Papa Francisco, desejo e rezo para todos um fecundo Natal e Santo Ano Novo!

+ Francisco José Senra Coelho
Arcebispo de Évora

06 Set 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – IV: As Migrações e a Cultura (texto)

AS MIGRAÇÕES

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia está a apresentar uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por vário episódios em formato vídeo, disponíveis nos canais digitais diocesanos. 

Em Portugal e na Europa a questão migratória está na ordem do dia. Neste contexto, em conversa com o Arcebispo de Évora quisemos ouvir o que tem a dizer o Prelado sobre este assunto, tendo em conta que recentemente se inaugurou em Vendas Novas um Centro de Acolhimento para Refugiados e Migrantes.

“Para abordar esta questão, começo por apresentar o livro do sociólogo e especialista em migrações Hein de Haas, intitulado ‘Como Funciona Realmente a Migração – Um guia factual sobre a questão que mais divide a política’”. Com base neste estudo concluímos que em Portugal os imigrantes não são os responsáveis pela maior parte dos crimes. Estamos perante uma realidade que se comprova a nível numérico e estatístico. Portanto, não podemos ligar os crimes cometidos em Portugal à imigração”, afirma o Prelado.

“Se observarmos o mesmo fenómeno na Europa e no mundo, diz este autor, que as estatísticas mantêm a mesma expressão”, aponta, acrescentando que, “uma pessoa que parte para a emigração não é desprovida de meios, de senso e de preparação. Aqueles que conseguem partir têm mais audácia, criatividade, coragem, engenho e sentido de empreendimento. Quem chega, normalmente não vem para praticar crimes, mas para trabalhar, ganhar algum dinheiro e singrar na vida”.

“Para além desta constatação, verifica-se que os imigrantes ilegais normalmente experimentam redobradas preocupações de não cometer qualquer tipo de infração que os possa denunciar. Se, porventura, cometerem uma fraude ou uma infração, podem ser descobertos e postos fora do país de acolhimento. Os diversos crimes de violência atribuídos aos imigrantes prendem-se com a inserção dos mesmos. Acerca deste processo o Papa alerta para quatro verbos importantes: ‘acolher, cuidar, promover e inserir’”, recorda o Prelado, explicando, no entanto, que “quando chegamos à segunda geração de imigrantes, já não é assim tão claro o resultado estatístico referido”.

“Qualquer inserção é problemática, se acontecer em declive social; se as pessoas que chegam forem colocadas em comunidades problemáticas, marcadas pela violência ou pela criminalidade, claro que nesse contexto, a segunda geração vai ser igual à geração que os acolheu. De facto, as novas gerações de imigrantes, nascidas ou crescidas já em Portugal, revelam as mesmas características das novas gerações da comunidade onde foram acolhidos”, explica.

“Devemos tirar consequências desta verificação: os imigrantes não podem ser recebidos de qualquer maneira. Importa acolher, cuidar, promover e inserir quem vem de fora”, apela.

“O acolhimento feito pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados tem sido capaz de exercer estas funções com vasto reconhecimento”, sublinha.

“Neste momento, com grande alegria, com muito esforço e dedicação, o serviço internacional dos jesuítas está implantado na Arquidiocese de Évora”, afirma, afiançando que “estou convencido que vai ser uma riqueza para Vendas Novas. É uma plataforma de chegada, de entrada, de adaptação e dali as famílias partem para os locais onde serão inseridas”.

“Desejo que Vendas Novas saiba viver e conviver com esta riqueza cultural, sempre em ambiente de paz, porque é assim que se constrói uma cidade aberta às grandes dinâmicas da globalização”, afiança o Arcebispo de Évora, concluindo que “numa sociedade marcada pela mobilidade o contributo cristão passa por empreendimentos como este”.

A IGREJA E A CULTURA

No horizonte da realização de Évora, Capital Europeia da Cultura em 2027, o Prelado eborense foi ainda questionado sobre o papel da Igreja neste evento de âmbito cultural.

O Arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho substantivou a sua reflexão do seguinte modo: “desafio, preocupação e confiança”.

“Desafio: acredito que o projecto Évora, Capital Europeia da Cultura 2027, tem um potencial capaz de projectar Évora muito para além de Portugal e da Europa, levando a nossa cidade museu ao mundo. Estou certo que a Capital Europeia da Cultura é uma marca repleta de potencialidades que temos que saber gerir e aproveitar”, aponta.

“A diversidade patrimonial de Évora, as suas especificidades únicas e a riqueza da sua população proporcionam uma excelente oferta com impacto incalculável. Évora precisa e merece que este desafio seja ganho, pois não se trata de um evento, mas de uma marca que leva Évora e traz a Évora. A grandeza desta cidade, Património Mundial, ao ser apresentada e experimentada a nível mundial, com toda a certeza, abrirá portas ao desenvolvimento integral da nossa cidade”, afiança.

“Se, de facto, a Capital Europeia da Cultura 2027 é Évora, a sua vivência não pode contar apenas com a participação de valores eborenses, mas deve assumir-se esta oportunidade com compromisso nacional. Importa que todo o país concentre o melhor de si nesta cidade e que Évora se torne uma proposta de todo o Portugal”, apela, acrescentando que “espero que Évora 2027 seja uma tenda alargada com portas amplas e abertas para que tudo o que há de melhor no nosso país, arte, cultura, ciência, espiritualidade, desporto dê o seu contributo. Não podemos esquecer a cidade congénere na Letónia para que a grande proposta ‘Vagar’ coopere na humanização do nosso país, da europa e do mundo. Se as duas cidades se encontrarem e colaborarem, com mais sucesso potenciarão a mensagem desta iniciativa Capital Europeia da Cultura, construtora da convivência pacífica dos povos”.

“Preocupação: observo que o tempo corre veloz e Évora não está ainda a viver o dinamismo que seria expetável já neste momento”, refere, acrescentando que “talvez devido a inesperadas dificuldades ao nível das coordenações nacionais, regionais e locais, se verifique este significativo atraso que refiro na mobilização interactiva das populações, na preparação de infraestruturas necessárias para um evento de proporção europeia e mundial e na ausência do conhecimento e divulgação de programas que já deviam aglutinar atenções e provocar o agendamento de deslocações a Évora”.

“Evidentemente que abraço este projecto com confiança. Acredito nas instituições e nas pessoas que estão a conduzir este processo. Apelo à união de todos por um projecto que é nosso”, sublinha.

“Que motivações políticas, ideológicas e económicas, estranhas a este projecto comum, não se coloquem à frente do bem da nossa cidade e do nosso país. Para além do nome e da imagem da nossa cidade, estão em causa muitos valores, capacidades e ofertas, que é necessário honrar, defender e promover. Confio que Évora 27 será uma vitória em grau de excelência”, afiança.

“Ressalta ao olhar de todos a importância do património religioso de Évora. Neste sector, grandes obras têm sido desafios vencidos. Recordo as mais recentes, as igrejas do Espírito Santo e de São Francisco, a partir de candidaturas a fundos europeus”, sublinha, salientando que “aproveito o momento para lembrar que a Catedral de Évora precisa urgentemente de uma visita não apenas de admiração, mas de compromisso com a sua preservação e segurança.

Há diversas urgências que exigem rápidas consolidações para que a sua robustez granítica seja efectiva em muitos pormenores fragilizados”. “Há muitos anos que a Sé de Évora não tem tido acompanhamento consequente e satisfatório naquilo que são as exigências da sua conservação. Chamo a atenção para o zimbório; trata-se de um modelo raro na Península Ibérica e na Europa. Já há vários anos que esta preciosidade da história da arte ibérica e mundial não pode ser contemplada pelos visitantes. Será incompreensível que esta tão importante atração patrimonial permaneça neste estado de abandono durante o ano 2027”, refere.

“Lembro que a Catedral de Évora, já há muito tempo estaria encerrada, se não fosse a iniciativa do seu Cabido. De facto, os funcionários que ali prestam os seus serviços são custeados exclusivamente pela entidade multissecular capitular”, esclarece, apelando que pede “aos cristãos eborenses e a todos os visitantes que vêm de fora que compreendam, com perspectiva cultual e cultural, que são chamados a ser missionários da Catedral de Évora através da oferta que dedicam ao adquirir o bilhete de entrada. Não vislumbro a possibilidade de poder cuidar devidamente da Catedral e mantê-la aberta sem o contributo de todos. Certamente não seria nada agradável, numa visita a Évora, depararmo-nos com a Catedral fechada, como infelizmente acontece com tantas igrejas. Sendo monumento nacional, não conta com nenhum funcionário custeado por qualquer entidade pública”.

“Através do Departamento da Pastoral da Cultura e do Património, que é presidido pelo sr. Cónego Mário Tavares da Oliveira já está em constituição uma equipa de trabalho para a valorização do património sacro no contexto Évora 27. Já contamos com apoios de personalidades experimentadas na organização de eventos de alta responsabilidade, bem como oriundas do mundo académico e artístico. Já estamos a trabalhar há vários meses sobre o modo como vamos valorizar o itinerário pelas nossas igrejas. Tenho uma esperança no que digo, que Évora 27 não vai deixar de ser excelente por parte da Igreja”, afiança.

“Que Évora Capital Europeia da Cultura 2027 seja uma sucessão de acontecimentos excelentes para os eborenses, que envolva todos os habitantes da cidade, e por consequência também a Igreja eborense. Que a beleza de Évora chegue ao mundo porque dela tem direito”, aponta.

“O primeiro bispo de Évora data do ano 300, Quinciano é o seu nome. Esta história não pode ser contornada. Faz parte da linfa, da seiva, daquilo que é o alimento desta árvore multissecular que se chama Évora. A sua raiz bebe e suga deste húmus onde também está a fé cristã”, conclui D. Francisco José Senra Coelho.

Texto de Pedro Miguel Conceição
30 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 4: As Migrações (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 31 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda o tema das Migrações.

26 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – V: A Pastoral Vocacional na Arquidiocese (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

A Pastoral Vocacional foi outro dos assuntos abordados na conversa de balanço do Ano Pastoral com o Prelado eborense.

D. Francisco Senra Coelho começa por enquadrar historicamente esta questão: “A nossa Arquidiocese, depois de 1870 para cá, não tem tido vocações em número suficiente para sustentar as 156  paróquias que a compõem. Sabemos que as causas se enraízam no encerramento da Faculdade de Teologia da Universidade de Évora (1759), expulsão das Ordens religiosas masculinas com a confiscação dos seus bens; o encerramento dos noviciados das Ordens religiosas femininas com igual confiscação dos seus bens após a morte da última Irmã; a perseguição religiosa da primeira república, sobretudo de 1910 a 1920 com a confiscação de todos os bens móveis e imóveis da Igreja; mais recentemente a ampla difusão do marxismo comunista através de células clandestinamente implantadas a partir de 1933 no Alentejo latifundiário.”

“Lembro que por volta de 1870 veio de Bragança o primeiro seminarista do norte de Portugal para o nosso seminário. Como disse, até 1870 a Arquidiocese auto sustentava-se com as suas vocações. Os alfobres vocacionais da Arquidiocese encontravam-se concretamente em Campo Maior, em Elvas, em Estremoz, em Vila Viçosa, em Redondo e em Borba, juntamente com Samora Correia, Benavente e Coruche. Se o Seminário de Nossa Senhora da Purificação podia contar com vocações de toda a Arquidiocese, nomeadamente também da cidade de Évora, destas localidades procedia a maior parte dos seminaristas de Évora”, explica.

“Com a chegada de Dom Manuel Mendes da Conceição Santos estas vocações do Norte foram incrementadas, em primeiro lugar, a partir do Distrito de Aveiro. De lá, o bondoso Arcebispo trouxe um fiel colaborador, Mons. Fidalgo, que o acompanhou e o ajudou. Posteriormente, substituído por Mons. Pantaleão Costeira que, com um trabalho incansável, trouxe dezenas de jovens oriundos de Estarreja, de Ílhavo, da Murtosa e de Avanca. Os apelos do Arcebispo de Évora acabaram por chegar também às dioceses de Lamego, Guarda e à Beira Baixa”, recorda.

“Essa fonte terminou, ou é escassa, porque as dioceses do norte também têm muitas dificuldades vocacionais. Em suma, é algo que acontece em toda a Europa”, afiança.

“Embora ultimamente, graças a Deus e ao trabalho que se tem feito nas paróquias, com a ajuda da pastoral vocacional, apareçam em número significativo vocações alentejanas e ribatejanas, continuamos a precisar de vocações que venham para além do Ribatejo e do Alentejo, ou seja, fora da Arquidiocese”, afiança o Arcebispo de Évora.

“Assim, temos um conjunto de sacerdotes que vêm, nomeadamente, de Angola e de Moçambique, continuar os seus estudos no ensino superior português, muito concretamente na Universidade de Évora, no Politécnico de Portalegre e na Universidade Católica de Lisboa. Estes sacerdotes chegam com muito boa vontade, trazem consigo a esperança de servirem a Arquidiocese irmã de Évora e entregam-se geralmente de alma e coração ao estudo, tendo na maior parte dos casos, um assinalável desempenho académico. Com alegria, ajudámos vários sacerdotes a concluírem licenciaturas, mestrados e, em alguns casos, permanecem em fase de doutoramento em diversas ciências humanas.
Agradecemos a estes padres toda a colaboração prestada à Arquidiocese, assumindo Paróquias e construindo importantes partilhas de experiências eclesiais entre as suas Igrejas africanas e a Igreja alentejana e ribatejana de Évora. É muito gratificante para a nossa Igreja particular usufruir deste enriquecimento e contribuir para a valorização destes estimados padres que se vieram formar para regressar às suas dioceses, a fim de enriquecerem os seus presbitérios e melhor servirem os povos de que procedem”, aponta.

“Também há sacerdotes vindos de outros países que não vieram para estudar, mas para se dedicar plenamente à pastoral, recordo o caso o Padre Lelo já incardinado na nossa Arquidiocese, do Padre Rogério e do Padre Caetano Salvador Dallá, os dois últimos cedidos temporariamente pelos seus bispos”, acrescenta.

“Percorremos uma nova experiência ao recebermos de várias dioceses lusófonas seminaristas que nos são enviados para se prepararem para o ministério presbiteral”, explica, adiantando que “para o próximo ano teremos seminaristas da Diocese de Díli; pela primeira vez, seminaristas vindos da Diocese de Tete, em Moçambique; continuaremos a receber jovens vindos de Angola, dioceses de Ondjiva e Menong; da Diocese de Mindelo – Cabo Verde; e no caso especial de um país não lusófono, receberemos dois alunos originais de Cuba”.

“Estes jovens, se assim Deus permitir, e se for o discernimento da Igreja, serão ordenados presbíteros e ficarão ao serviço da Arquidiocese durante cinco anos ou mais”, revela o Prelado, explicando que “o contrato que estas dioceses têm com a Arquidiocese de Évora é que nos cabe proporcionar a formação no Seminário e no Instituto Superior de Teologia de Évora, permanecendo eles, posteriormente, 5 anos na nossa Arquidiocese, exceptuando a diocese de Menong cujos futuros sacerdotes poderão permanecer na nossa Arquidiocese apenas por 3 anos”.

“Acreditamos que ao fim de sete ou oito anos de permanência no nosso Seminário e no ISTE, estes jovens estarão já com uma experiência assinalável de enculturação ao contexto cultural e sócio-religioso da Arquidiocese. Acredito que será uma forma nova da Igreja de Évora caminhar com o apoio de vocações vindas de fora agora do próprio continente europeu e que sem substituir, completarão a insubstituível necessidade da Pastoral Vocacional nas Paróquias, Movimentos e Comunidades da Arquidiocese”, sublinha, acrescentando o Prelado que “não se pode substituir, mas temos que trabalhar todos. Acredito que as vocações na nossa Arquidiocese também vão  continuar a brotar como fruto da beleza destes jovens que com tanta generosidade vêm até nós, a partir de terras missionárias que os nossos antepassados ajudaram a evangelizar”.

“Também se abre a possibilidade de alguns Institutos religiosos e novas Comunidades de Vida matricularem os seus alunos no Instituto Superior de Teologia de Évora. Contactaram-se para o efeito a Província Portuguesa dos Salesianos e a Comunidade de Vida Canção Nova”, aponta o Prelado.

“O trabalho que desde há muito acontece no Instituto Superior de Teologia de Évora exige de toda a Arquidiocese um voto de louvor e ação de graças. Ao falarmos da Pastoral vocacional com vista aos ministérios ordenados do diaconado e do presbiterado e da valorização do nosso laicado com vista a futuros ministérios instituídos e serviços eclesiais, é obrigatório reconhecer o papel indelével e decisivo que o ISTE exerce ao nível das qualificações e da excelência académica”, sublinha o Arcebispo de Évora.

“Na visita ad limina, responsáveis do Vaticano* apelavam para que fossemos buscar missionários onde há vocações. Diziam: ‘Vós sois um povo com experiência missionária que há-de saber receber nestes nossos tempos missionários vindos das novas Igrejas. Não envergueis pela desistência do anúncio da Fé cristã no velho continente europeu. Não fecheis igrejas, como em outros países, não vendais igrejas! Não encerreis capelanias e serviços de presença humanizadora. Procurai vocações sacerdotais e sacerdotes nas Igrejas onde os podeis encontrar’. Como sempre a odisseia missionária exige paciência, espera e tempo. Mas, quando acontece, redige e escreve nas mais belas páginas da História da Igreja. Enviar missionários é tão exigente como acolher missionários. Trabalhemos juntos!”, apela o Prelado. (*in Dicastério para a Evangelização – Seção para a primeira evangelização e as novas Igrejas particulares, Dom Fortunatus Nwachukwu, Secretário)

“Ressalvando as grandes diferenças culturais e continentais ainda que na pátria comum da mesma língua (Fernando Pessoa), parece-me poder dizer que aquilo que está a acontecer no nosso Seminário Maior de Évora e na nossa Arquidiocese surge no seguimento da sua história vocacional, agora os jovens seminaristas não vêm da Guarda nem de Aveiro, não têm origem em Braga, como eu, mas de mais longe. Claro que para além desta diferença nós viemos para ficar e eles virão para partir, porém o seu tempo de permanência entre nós estou certo que será um dom enquadrado nas grandes mudanças que se perspetivam numa sociedade em mobilidade e em crescente transformação pela globalização”, aponta.

“Desejo pôr-me nas mãos de Deus, que Ele ilumine o necessário discernimento, pensando que toda a Arquidiocese me acompanha e que aquilo que está a acontecer é um sinal dos tempos discernido, e que nunca seja, de modo algum, consequência da escolha pelos mais fácil e imediato, pela omissão e facilitismo”, aponta.

Referindo-se ao triénio vocacional vivido pela Província Eclesiástica de Évora (Évora, Beja e Algarve), o nosso Prelado referiu: “na minha modesta opinião o momento mais alto foi a Jornada de Formação Permanente para o Clero do Ano Pastoral 2022/2023 a que se juntaram também padres vindos da diocese irmã de Setúbal. A temática que preencheu as jornadas foi a Pastoral Vocacional. Sendo a mudança de mentalidades o desafio mais difícil para a pastoral, estas Jornadas permanecem como um marco indelével na pastoral vocacional das nossas Dioceses do Sul”, recorda.

“Agradeço a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Bom Pastor, o dom do Seminário Redemptoris Mater que fruto da experiência do Caminho Neocatecumenal permanece na nossa cidade e na nossa Arquidiocese como mais uma resposta da fidelidade de Deus: ‘Dar-vos-ei pastores!’ (Jeremias 3, 15). No contexto pós conciliar, a Igreja ajudou-nos a perceber que não podemos falar de iniciação cristã sem falar de vocação. Encontrar-se face a face com Cristo nas nossas estradas de Damasco, significa descobrir a beleza da Sua misericórdia, a qual não cabe dentro de nós e, por isso, proclamamos a libertação experimentada e no nosso louvor orante entoamos: ‘Não há amor como o Teu’. Porque a alegria do encontro com Cristo Ressuscitado não cabe em nós, levamo-la aos nossos Irmãos, testemunhando jubilosamente o querigma, a boa notícia do nosso encontro com Cristo e com aqueles que decidem perguntar ‘Mestre, onde moras?’ (Jo 1,35-42), iniciamos tempos de catequese em caminhadas catecumenais. É desta experiência que até nós chegou o Seminário Redemptoris Mater, Nossa Senhora de Fátima, de Évora. Dou graças a Deus, mais uma vez, pelo discernimento que o meu venerando antecessor, Dom José Alves, fez à luz do Espírito Santo e pretendo colocar os meus pés nas suas peugadas e continuar a perceber, cada vez mais melhor, a novidade e as exigências deste carisma. A sua peculiaridade consiste em ser um Seminário Arquidiocesano missionário ad gentes. A história da Igreja ensina que os novos carismas fazem caminho, caminhando. Com fidelidade ao Espírito Santo, expresso pela Sua Igreja, desejo uma sinodalidade de fazer caminho, caminhando com o nosso Seminário Redemptoris Mater. Convido toda a Arquidiocese a unirem-se ao Bispo, sucessor dos Apóstolos, nesta confiança do dom de Deus e a caminharmos juntos. Louvo o Senhor pelos três presbíteros ordenados a partir deste Seminário e que já há vários anos servem as Comunidades de Borba e Campo Maior”, sublinha o Arcebispo de Évora.

Interrogado ainda sobre a urgente necessidade da pastoral vocacional feminina, referiu o Prelado que “a valorização da mulher na Igreja também passa pela sua presença maternal na vida religiosa. Porque a Igreja é mãe e se revê em Maria, a vida religiosa feminina é um dom de enorme apreço na vida da nossa Arquidiocese. Rezo e convido a Arquidiocese a rezar para que entre nós surja uma primavera vocacional feminina: a maternidade espiritual e a fraternidade própria da vida consagrada. Sem esquecer que a vida contemplativa religiosa é a alma da Igreja, recordo que a dimensão missionária da vida religiosa é tão necessária nesta Arquidiocese e que ambos os carismas se fundem no grande sinal da presença de Deus no meio de nós. Nunca poderá haver pastoral vocacional sem integrar a vida religiosa e muito concretamente a vida religiosa feminina. Em nome da Arquidiocese um obrigado profundo às consagradas que são para nós sinal do Amor de Deus e da vida eterna”, agradece D. Francisco Senra Coelho.

Texto de Pedro Miguel Conceição
24 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 3: As Vocações (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 24 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda o tema das Vocações na Arquidiocese.

23 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – IV: A revitalização das Congregações Religiosas na Arquidiocese (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

Uma das questões abordadas nesta conversa de final do Ano Pastoral com o Prelado eborense foi sobre as Congregações religiosas e a sua revitalização nos últimos anos.

Há seis anos, quando chegou à Arquidiocese, D. Francisco José Senra Coelho teve como desafio tentar revitalizar a vida religiosa, pois algumas Congregações tinham, entretanto, saído do território diocesano.

“Este trabalho é fruto de todos. A oração e o trabalho apostólico de cada Paróquia e de cada Comunidade religiosa”, disse, sublinhando “a importância das Comunidades Contemplativas neste labor bem como o empenho de todos os Movimentos Eclesiais constitui o apelo para que o Senhor da vinha envie abundantes carismas à sua vinha”. Acrescentou ainda que “a oração dos doentes, dos idosos e dos sós são apelo ao coração de Deus para que envie trabalhadores para a sua vinha”.

“Encontro nas visitas pastorais pessoas que rezam imenso”, sublinha o Prelado, acrescentando que “muitas vezes percebemos que são pessoas que não vão à Igreja, ou porque já não podem ir pela idade ou pela doença, ou porque nunca se habituaram a ir. Porém, quando chego às suas casas, descubro o terço, livros de orações, pagelas, imagens. Perante esta realidade, percebo que as pessoas vivem intensamente a sua religiosidade popular, que não vão à comunidade, mas que fazem comunidade com a vizinhança, em alguns casos com belos testemunhos de entreajuda, solidariedade e apoio nas dificuldades”.

“Encontro-me com o Alentejo que não descobrimos, de facto, o que é quando olhamos para as estatísticas e o vemos apenas de longe. Para conhecer a alma alentejana importa permanecer, comprometer-se, servir, respeitar e saber escutar. Aprendi em 44 anos de permanência nesta Arquidiocese que a cultura alentejana tem as suas profundas raízes implantadas num húmus fortemente cristão e que na ótica da religiosidade natural é um dos povos mais expressivos no contexto nacional. Diria que o povo alentejano e o povo açoriano se encontram em várias expressões da mesma religiosidade natural, posteriormente, em alguns casos, cristianizada ao ponto das suas riquezas culturais e patrimoniais, tais como as expressões etnográficas, musicais, etc, exprimirem a espiritualidade cristã. É belo verificar o significativo número de patrimónios materiais e imateriais da Humanidade existentes no Alentejo, bem como candidaturas em desenvolvimento. Em todos estes valores estão presentes sinais de fé cristã”, explica.

“No ano que aqui cheguei, em setembro de 2018, quatro congregações estavam para partir. Os Cartuxos, as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias ao serviço da Casa Arquiepiscopal, as Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, em Portel, e as Beneditinas do Torrão”, refere, recordando “era uma situação muito dolorosa”.

“Os carismas são um sinal profundo da presença de Deus entre nós – ‘Estarei convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28,20). A Igreja ao longo do seu magistério e muito concretamente no último Concílio apresenta a riqueza dos carismas que o Espírito Santo suscita”, afiança o Prelado.

“Vejo toda esta riqueza e beleza em todas as comunidades que encontrei e que graças a Deus permanecem na Arquidiocese, tantas vezes com grande sentido de abnegação e mesmo heroicidade. Dou graças a Deus pelos dons que o Senhor nos concedeu nos últimos tempos, como a vinda até nós dos padres teatinos, ordem fundado por São Caetano em 1524, que estão em Vendas Novas e que vão agora estender o seu serviço pastoral também às Paróquias de Lavre, Cortiçadas de Lavre, Foros de Vale de Figueira e Santana do Mato; a comunidade Hesed, que está no Torrão; a comunidade Sementes do Verbo, que está em Vila Viçosa e se dedica ao nosso Seminário de S. José, acompanhando os sacerdotes mais idosos ou doentes e proporcionando naquele amplo espaço uma casa de acolhimento e oração; as Monjas de Belém que estão no Couço e que vieram no pontificado do meu antecessor, o Senhor D. José Alves; as Irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, que estão na Cartuxa de Évora; a Comunidade Canção Nova, cuja presença na Arquidiocese será agora ampliada e elevada a ‘Frente de Missão’, assumindo algumas Paróquias nos arredores de Évora, Boa-Fé, São Sebastião da Giesteira, Nossa Senhora da Tourega (Valverde e São Brás do Regedouro), Nossa Senhora de Guadalupe e Santa Sofia. Para além deste trabalho paroquial, exercerão o seu carisma de comunicação e trabalharão no Serviço Arquidiocesano de Évora da Pastoral das Migrações”, refere o Prelado.

“Continuamos a rezar e a trabalhar para que venha para Évora mais grupo da Comunidade nova de vida Sementes do Verbo”, adiantou D. Francisco Senra Coelho.

“Estamos também com muita esperança de ter uma comunidade das Irmãs do Coração Imaculado de Maria, oriundas de Cabo Verde, fundadas nos meados do século XIX, no Senegal. São cerca de 300 Irmãs constituídas em três províncias: Senegal, Cabo Verde e França. Estas Irmãs vão estender-se, com muita esperança o afirmamos, à Unidade Pastoral de Portel”, revela.

“Por fim, já reunimos várias vezes com as Irmãs da Fraternidade Missionária Pobres de Jesus Cristo, que têm o carisma específico da caridade. São franciscanas, bebem do carisma de Madre Teresa de Calcutá e têm a dimensão peculiar de se dedicar à missão, sobretudo com crianças, adolescentes, e idosos. Acreditamos, as Irmãs e eu, que durante o próximo Ano Pastoral virão apoiar as Comunidades de Avis, Benavila, Galveias, Aldeia Velha, Valongo e Santo António de Alcórrego. É uma área geográfica muito ampla que espera mais evangelizadores”, sublinha.

“Obrigado a todos os que rezam pelas vocações, a todos os que rezam pela Igreja, porque são Igreja e não vão apenas à Igreja. Misturam com a oração, a sua cruz, por vez mais caldeada pelo sofrimento moral do que pelo sofrimento físico, nomeadamente pela solidão, pelo esquecimento e pela ingratidão. Neste Alentejo longo, plano, livre, mas também, ao mesmo tempo, proporcionante da palavra só, apelo às comunidades cristãs que procurem estes e estas que muitas vezes juntam ao seu estado natural de idosos a experiência da solidão. Como não agradecer à Guarda Nacional Republicana e aos Bombeiros Voluntários pelo cuidado que têm com estes homens e mulheres! Uma possível missão para as Paróquias e todas as Comunidades cristãs, afinal um modo muito concreto e atual de responder ao desafio do Papa Francisco, Igreja em saída”, apela o Prelado eborense.

Texto de Pedro Miguel Conceição
21 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – III: A Renúncia Quaresmal 2024 recolheu até ao momento 20.700 euros para as Igrejas do Médio Oriente

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

Na sua Mensagem Quaresmal 2024, o Arcebispo de Évora apelava a todos os Arquidiocesanos para que a Renúncia Quaresmal deste ano se destinasse “às Igrejas do Médio-Oriente, vítimas de guerra”, fazendo “chegar a essas Comunidades a nossa partilha através da Santa Sé, ao serviço da Caridade do Papa Francisco”.

Questionado sobre o valor já recolhido, D. Francisco Senra Coelho revela que “até este momento, temos a alegria de contar com 20.700 euros. Podemos dizer que é uma quantia modesta, pequenina, perante as necessidades. Não chega a ser, de facto, uma gota de água doce para aquele mar salgado. Porém, acreditamos que ainda vão chegar mais donativos e deixo aqui este apelo: se há comunidades ou se há pessoas, se há empresas que queiram juntar-se à Arquidiocese de Évora, para ajudar aquelas comunidades neste momento tão doloroso”, recordando que “em anos anteriores já ajudámos a Igreja da Ucrânia, para quem enviámos 25 mil euros, bem como as sofridas comunidades eclesiais vítimas do terrível terramoto da Síria e da Turquia”.

“Sentimos neste momento a necessidade de olhar para as comunidades cristãs do Médio Oriente”, aponta, revelando que “há um pormenor que eu gostava de referir e que pode passar despercebido. A pequenina comunidade paroquial de Gaza tem a sua subsistência espiritual e o seu acompanhamento garantido por um Pároco da mesma Família espiritual das Irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, congregação que está presente na Arquidiocese, nomeadamente na Cartuxa de Évora através de uma comunidade contemplativa. Em Gaza é uma comunidade de vida ativa destas mesmas Irmãs que está presente. Elas são valentes, estão em partes muito difíceis do mundo, como a Sibéria ou a Síria”.

“Portanto, a presença destas Irmãs é, de facto, para nós um estímulo a contribuirmos também, porque sabemos para quem contribuímos. Nós não falamos em questões étnicas, mas em pessoas, famílias, idosos e crianças, preocupamo-nos com as pequenas comunidades e iniciativas sócio-caritativas da Igreja na terra de Jesus, na Terra Santa”, refere, sublinhando que “vamos entregar a renúncia quaresmal ao Papa. O Santo Padre saberá o que fazer, pois sabemos que Francisco é muito rigoroso com os bens e tem um profundo sentido de equidade na distribuição das suas ajudas”.

“Todos nós desejamos enviar mais ajuda, porque nestes gestos de solidariedade, transpiram gotas de esperança e sinais de abraço a estas sofridas comunidades cristãs. Sabemos que há dificuldades em Portugal, somos uma Arquidiocese que conta com muitas pessoas idosas, que vivem de pequenas e magras reformas, que dão o seu contributo muito sentido e, por isso, este quantitativo pode não ser muito elevado em quantidade, mas em qualidade tem o sabor do óbolo da viúva. Se alguém se quiser juntar, nós abraçamos o abraço que nos queiram dar porque chegará com toda a certeza à Terra Santa, à Terra de Jesus, aos lugares que o Papa Francisco entender enviar”, apela o Prelado.