Categoria: Migrações

29 Set 2024

UM BEM PARA TODOS: Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre migrações

Num tempo em que se vão ouvindo com cada vez mais força, em Portugal e noutros países, vozes hostis aos imigrantes, a Comissão Nacional Justiça e Paz quer sublinhar, na linha do que tem feito o Papa Francisco em consonância com o que fizeram os seus antecessores, o bem que migrações legais, ordenadas e seguras podem trazer às sociedade de origem e destino dos imigrantes.

Vai-se evidenciando cada vez mais a imprescindibilidade de trabalhadores imigrantes em vários setores da atividade económica em Portugal. Além do mais, a crise demográfica na Europa torna necessário o recurso a esses trabalhadores (sendo certo que esse recurso não é a única forma de enfrentar essa crise). Também é sabido que os contributos financeiros dos imigrantes para o Estado português são maiores do que as prestações de que beneficiam (apesar de eles conhecerem até maior risco de pobreza e privação material severa do que os nacionais).

Ao contrário do que muitas vezes se propala, o incremento da imigração que Portugal conheceu nos últimos anos não se traduziu num incremento da criminalidade. De um modo geral, o imigrante típico caracteriza-se por uma especial capacidade de trabalho, poupança e dedicação à família, o que contrasta em absoluto com uma maior tendência para a delinquência. Tal não invalida a importância de, como vem salientado o Papa, acolher, proteger, promover e integrar os imigrantes. Essas são também as formas mais eficazes de prevenir a criminalidade.

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2018, o Papa afirmou que os imigrantes «não chegam de mãos vazias: trazem uma bagagem feita de coragem, capacidades, energias e aspirações, para além dos tesouros das suas culturas nativas, e deste modo enriquecem a vida das nações que os acolhem».

Há quem tema o choque que possa resultar do encontro com imigrantes de culturas diferentes da nossa. Sendo certo que a maior parte dos imigrantes que chegam até nós partilham a nossa língua e, nessa medida, nos são culturalmente próximos, também o Papa  tem sublinhado como o diálogo de culturas se traduz num enriquecimento recíproco (e a história do nosso país também o atesta). Na sua encíclica Fratelli tutti, ele afirma: «Toda a cultura saudável é por natureza aberta e acolhedora, não estática» (n. 146). E disse noutra ocasião (no discurso que deixou escrito quando visitou a Universidade Roma Tre, em 17 de fevereiro de 2017): «Uma cultura consolida-se através da abertura e do confronto com as outras culturas, desde que haja uma consciência clara e madura dos seus princípios e valores».

Mas não podemos limitar-nos, egoisticamente, a atender ao bem que os imigrantes podem trazer ao nosso país, esquecendo o bem que as migrações podem representar para eles próprios e para os seus países de origem.

Há que encarar as migrações na perspetiva da justiça social, à luz do princípio do destino universal dos bens. «Todos têm o mesmo direito de usufruir dos bens da terra, cujo destino é universal, como ensina a doutrina social da Igreja» – diz o Papa Francisco na referida mensagem de 2018, citando o Papa Bento XVI. As migrações podem contribuir para concretizar este direito.

Também isso se afirma na encíclica Fratelli tutti. Cada nação é co-responsável pelo desenvolvimento de todas as pessoas, o que pode traduzir-se de dois modos, que não se excluem mutuamente: no acolhimento de imigrantes e no contributo para o desenvolvimento dos países de origem destes (n. 125). É verdade que o ideal seria que a emigração não fosse necessária para superar a pobreza, mas enquanto não houver sérios progressos no sentido do desenvolvimento dos países pobres, há que reconhecer o direito de cada pessoa a encontrar um lugar onde não só possa satisfazer necessidades básicas, mas também realizar-se plenamente como pessoa (n. 129).

Porque, na verdade se trata da realização plena como pessoa (os imigrantes não podem ser encarados apenas como “mão de obra”), nunca é demais sublinhar a importância do seu direito ao reagrupamento familiar.

É bom que estas palavras tenham um particular eco em Portugal, um país marcado pela emigração desde há séculos. Vem a propósito recordar o Antigo Testamento: «O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos compatriotas e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque foste estrangeiro na terra do Egito» (Lv 19, 34). O desafio é, então, o de tratar os imigrantes que chegam até nós como gostaríamos que fossem tratados os nossos irmãos que emigraram, e emigram, para outros países.

Deverá continuar a ser sempre para nós motivo de orgulho patriótico e de alegria que os imigrantes queiram viver em Portugal por ser um país acolhedor onde se sentem em casa. Deverá ser motivo de vergonha e de tristeza que aqui se sintam hostilizados e vítimas de discriminação e injustiça.

Lisboa, 17 Setembro de 2024

A Comissão Nacional Justiça e Paz

25 Set 2024

29 de setembro de 2024: 110.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado

O Papa defende, na sua mensagem para o 110.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se vai celebrar no próximo dia 29 de setembro, que Deus se identifica com as pessoas que fogem da sua terra, convidando as comunidades católicas ao seu acolhimento, noticiou a Agência ECCLESIA.

“Deus caminha não só com o seu povo, mas também no seu povo, dado que se identifica com os homens e as mulheres que caminham na história – particularmente com os últimos, os pobres, os marginalizados –, prolongando de certo modo o mistério da Encarnação”, escreve Francisco.

A jornada de 2024 tem como tema “Deus caminha com o seu povo” e celebra-se a 29 de setembro, o domingo que precede o início da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos (02-27 de outubro de 2024).

“A ênfase posta na sua dimensão sinodal permite à Igreja descobrir a sua natureza itinerante de povo de Deus em caminho na história, peregrinante – poderíamos dizer ‘migrante’ – rumo ao Reino dos Céus”, assinala o Papa, ligando as duas celebrações.

A mensagem apresenta os migrantes da atualidade como “uma imagem viva do povo de Deus em caminho rumo à Pátria eterna”. “Como o povo de Israel no tempo de Moisés, frequentemente os migrantes fogem de situações de opressão e abuso, de insegurança e discriminação, de falta de perspetivas de progresso”, acrescenta.

“Os migrantes encontram muitos obstáculos no seu caminho: são provados pela sede e a fome; ficam exaustos pelo cansaço e as doenças; sentem-se tentados pelo desespero. Mas a realidade fundamental do êxodo, de qualquer êxodo, é que Deus precede e acompanha o caminho do seu povo, dos seus filhos de todo o tempo e lugar”, escreve o Santo Padre.

Francisco destaca a experiência de fé dos migrantes, a sua confiança em Deus e os “bons samaritanos” que encontram nos caminhos. “Quantas bíblias, evangelhos, livros de orações e terços acompanham os migrantes nas suas viagens através dos desertos, rios e mares e das fronteiras de cada continente”, aponta.

“Queridos irmãos e irmãs, neste Dia dedicado aos migrantes e refugiados, unamo-nos em oração por todos aqueles que tiveram de abandonar a sua terra à procura de condições de vida dignas. Sintamo-nos em caminho juntamente com eles, façamos ‘sínodo’ juntos”, conclui a mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2024, que se encerra com uma oração escrita por Francisco.

06 Set 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – IV: As Migrações e a Cultura (texto)

AS MIGRAÇÕES

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia está a apresentar uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por vário episódios em formato vídeo, disponíveis nos canais digitais diocesanos. 

Em Portugal e na Europa a questão migratória está na ordem do dia. Neste contexto, em conversa com o Arcebispo de Évora quisemos ouvir o que tem a dizer o Prelado sobre este assunto, tendo em conta que recentemente se inaugurou em Vendas Novas um Centro de Acolhimento para Refugiados e Migrantes.

“Para abordar esta questão, começo por apresentar o livro do sociólogo e especialista em migrações Hein de Haas, intitulado ‘Como Funciona Realmente a Migração – Um guia factual sobre a questão que mais divide a política’”. Com base neste estudo concluímos que em Portugal os imigrantes não são os responsáveis pela maior parte dos crimes. Estamos perante uma realidade que se comprova a nível numérico e estatístico. Portanto, não podemos ligar os crimes cometidos em Portugal à imigração”, afirma o Prelado.

“Se observarmos o mesmo fenómeno na Europa e no mundo, diz este autor, que as estatísticas mantêm a mesma expressão”, aponta, acrescentando que, “uma pessoa que parte para a emigração não é desprovida de meios, de senso e de preparação. Aqueles que conseguem partir têm mais audácia, criatividade, coragem, engenho e sentido de empreendimento. Quem chega, normalmente não vem para praticar crimes, mas para trabalhar, ganhar algum dinheiro e singrar na vida”.

“Para além desta constatação, verifica-se que os imigrantes ilegais normalmente experimentam redobradas preocupações de não cometer qualquer tipo de infração que os possa denunciar. Se, porventura, cometerem uma fraude ou uma infração, podem ser descobertos e postos fora do país de acolhimento. Os diversos crimes de violência atribuídos aos imigrantes prendem-se com a inserção dos mesmos. Acerca deste processo o Papa alerta para quatro verbos importantes: ‘acolher, cuidar, promover e inserir’”, recorda o Prelado, explicando, no entanto, que “quando chegamos à segunda geração de imigrantes, já não é assim tão claro o resultado estatístico referido”.

“Qualquer inserção é problemática, se acontecer em declive social; se as pessoas que chegam forem colocadas em comunidades problemáticas, marcadas pela violência ou pela criminalidade, claro que nesse contexto, a segunda geração vai ser igual à geração que os acolheu. De facto, as novas gerações de imigrantes, nascidas ou crescidas já em Portugal, revelam as mesmas características das novas gerações da comunidade onde foram acolhidos”, explica.

“Devemos tirar consequências desta verificação: os imigrantes não podem ser recebidos de qualquer maneira. Importa acolher, cuidar, promover e inserir quem vem de fora”, apela.

“O acolhimento feito pelo Serviço Jesuíta aos Refugiados tem sido capaz de exercer estas funções com vasto reconhecimento”, sublinha.

“Neste momento, com grande alegria, com muito esforço e dedicação, o serviço internacional dos jesuítas está implantado na Arquidiocese de Évora”, afirma, afiançando que “estou convencido que vai ser uma riqueza para Vendas Novas. É uma plataforma de chegada, de entrada, de adaptação e dali as famílias partem para os locais onde serão inseridas”.

“Desejo que Vendas Novas saiba viver e conviver com esta riqueza cultural, sempre em ambiente de paz, porque é assim que se constrói uma cidade aberta às grandes dinâmicas da globalização”, afiança o Arcebispo de Évora, concluindo que “numa sociedade marcada pela mobilidade o contributo cristão passa por empreendimentos como este”.

A IGREJA E A CULTURA

No horizonte da realização de Évora, Capital Europeia da Cultura em 2027, o Prelado eborense foi ainda questionado sobre o papel da Igreja neste evento de âmbito cultural.

O Arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho substantivou a sua reflexão do seguinte modo: “desafio, preocupação e confiança”.

“Desafio: acredito que o projecto Évora, Capital Europeia da Cultura 2027, tem um potencial capaz de projectar Évora muito para além de Portugal e da Europa, levando a nossa cidade museu ao mundo. Estou certo que a Capital Europeia da Cultura é uma marca repleta de potencialidades que temos que saber gerir e aproveitar”, aponta.

“A diversidade patrimonial de Évora, as suas especificidades únicas e a riqueza da sua população proporcionam uma excelente oferta com impacto incalculável. Évora precisa e merece que este desafio seja ganho, pois não se trata de um evento, mas de uma marca que leva Évora e traz a Évora. A grandeza desta cidade, Património Mundial, ao ser apresentada e experimentada a nível mundial, com toda a certeza, abrirá portas ao desenvolvimento integral da nossa cidade”, afiança.

“Se, de facto, a Capital Europeia da Cultura 2027 é Évora, a sua vivência não pode contar apenas com a participação de valores eborenses, mas deve assumir-se esta oportunidade com compromisso nacional. Importa que todo o país concentre o melhor de si nesta cidade e que Évora se torne uma proposta de todo o Portugal”, apela, acrescentando que “espero que Évora 2027 seja uma tenda alargada com portas amplas e abertas para que tudo o que há de melhor no nosso país, arte, cultura, ciência, espiritualidade, desporto dê o seu contributo. Não podemos esquecer a cidade congénere na Letónia para que a grande proposta ‘Vagar’ coopere na humanização do nosso país, da europa e do mundo. Se as duas cidades se encontrarem e colaborarem, com mais sucesso potenciarão a mensagem desta iniciativa Capital Europeia da Cultura, construtora da convivência pacífica dos povos”.

“Preocupação: observo que o tempo corre veloz e Évora não está ainda a viver o dinamismo que seria expetável já neste momento”, refere, acrescentando que “talvez devido a inesperadas dificuldades ao nível das coordenações nacionais, regionais e locais, se verifique este significativo atraso que refiro na mobilização interactiva das populações, na preparação de infraestruturas necessárias para um evento de proporção europeia e mundial e na ausência do conhecimento e divulgação de programas que já deviam aglutinar atenções e provocar o agendamento de deslocações a Évora”.

“Evidentemente que abraço este projecto com confiança. Acredito nas instituições e nas pessoas que estão a conduzir este processo. Apelo à união de todos por um projecto que é nosso”, sublinha.

“Que motivações políticas, ideológicas e económicas, estranhas a este projecto comum, não se coloquem à frente do bem da nossa cidade e do nosso país. Para além do nome e da imagem da nossa cidade, estão em causa muitos valores, capacidades e ofertas, que é necessário honrar, defender e promover. Confio que Évora 27 será uma vitória em grau de excelência”, afiança.

“Ressalta ao olhar de todos a importância do património religioso de Évora. Neste sector, grandes obras têm sido desafios vencidos. Recordo as mais recentes, as igrejas do Espírito Santo e de São Francisco, a partir de candidaturas a fundos europeus”, sublinha, salientando que “aproveito o momento para lembrar que a Catedral de Évora precisa urgentemente de uma visita não apenas de admiração, mas de compromisso com a sua preservação e segurança.

Há diversas urgências que exigem rápidas consolidações para que a sua robustez granítica seja efectiva em muitos pormenores fragilizados”. “Há muitos anos que a Sé de Évora não tem tido acompanhamento consequente e satisfatório naquilo que são as exigências da sua conservação. Chamo a atenção para o zimbório; trata-se de um modelo raro na Península Ibérica e na Europa. Já há vários anos que esta preciosidade da história da arte ibérica e mundial não pode ser contemplada pelos visitantes. Será incompreensível que esta tão importante atração patrimonial permaneça neste estado de abandono durante o ano 2027”, refere.

“Lembro que a Catedral de Évora, já há muito tempo estaria encerrada, se não fosse a iniciativa do seu Cabido. De facto, os funcionários que ali prestam os seus serviços são custeados exclusivamente pela entidade multissecular capitular”, esclarece, apelando que pede “aos cristãos eborenses e a todos os visitantes que vêm de fora que compreendam, com perspectiva cultual e cultural, que são chamados a ser missionários da Catedral de Évora através da oferta que dedicam ao adquirir o bilhete de entrada. Não vislumbro a possibilidade de poder cuidar devidamente da Catedral e mantê-la aberta sem o contributo de todos. Certamente não seria nada agradável, numa visita a Évora, depararmo-nos com a Catedral fechada, como infelizmente acontece com tantas igrejas. Sendo monumento nacional, não conta com nenhum funcionário custeado por qualquer entidade pública”.

“Através do Departamento da Pastoral da Cultura e do Património, que é presidido pelo sr. Cónego Mário Tavares da Oliveira já está em constituição uma equipa de trabalho para a valorização do património sacro no contexto Évora 27. Já contamos com apoios de personalidades experimentadas na organização de eventos de alta responsabilidade, bem como oriundas do mundo académico e artístico. Já estamos a trabalhar há vários meses sobre o modo como vamos valorizar o itinerário pelas nossas igrejas. Tenho uma esperança no que digo, que Évora 27 não vai deixar de ser excelente por parte da Igreja”, afiança.

“Que Évora Capital Europeia da Cultura 2027 seja uma sucessão de acontecimentos excelentes para os eborenses, que envolva todos os habitantes da cidade, e por consequência também a Igreja eborense. Que a beleza de Évora chegue ao mundo porque dela tem direito”, aponta.

“O primeiro bispo de Évora data do ano 300, Quinciano é o seu nome. Esta história não pode ser contornada. Faz parte da linfa, da seiva, daquilo que é o alimento desta árvore multissecular que se chama Évora. A sua raiz bebe e suga deste húmus onde também está a fé cristã”, conclui D. Francisco José Senra Coelho.

Texto de Pedro Miguel Conceição
30 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 4: As Migrações (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 31 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda o tema das Migrações.

26 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – V: A Pastoral Vocacional na Arquidiocese (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

A Pastoral Vocacional foi outro dos assuntos abordados na conversa de balanço do Ano Pastoral com o Prelado eborense.

D. Francisco Senra Coelho começa por enquadrar historicamente esta questão: “A nossa Arquidiocese, depois de 1870 para cá, não tem tido vocações em número suficiente para sustentar as 156  paróquias que a compõem. Sabemos que as causas se enraízam no encerramento da Faculdade de Teologia da Universidade de Évora (1759), expulsão das Ordens religiosas masculinas com a confiscação dos seus bens; o encerramento dos noviciados das Ordens religiosas femininas com igual confiscação dos seus bens após a morte da última Irmã; a perseguição religiosa da primeira república, sobretudo de 1910 a 1920 com a confiscação de todos os bens móveis e imóveis da Igreja; mais recentemente a ampla difusão do marxismo comunista através de células clandestinamente implantadas a partir de 1933 no Alentejo latifundiário.”

“Lembro que por volta de 1870 veio de Bragança o primeiro seminarista do norte de Portugal para o nosso seminário. Como disse, até 1870 a Arquidiocese auto sustentava-se com as suas vocações. Os alfobres vocacionais da Arquidiocese encontravam-se concretamente em Campo Maior, em Elvas, em Estremoz, em Vila Viçosa, em Redondo e em Borba, juntamente com Samora Correia, Benavente e Coruche. Se o Seminário de Nossa Senhora da Purificação podia contar com vocações de toda a Arquidiocese, nomeadamente também da cidade de Évora, destas localidades procedia a maior parte dos seminaristas de Évora”, explica.

“Com a chegada de Dom Manuel Mendes da Conceição Santos estas vocações do Norte foram incrementadas, em primeiro lugar, a partir do Distrito de Aveiro. De lá, o bondoso Arcebispo trouxe um fiel colaborador, Mons. Fidalgo, que o acompanhou e o ajudou. Posteriormente, substituído por Mons. Pantaleão Costeira que, com um trabalho incansável, trouxe dezenas de jovens oriundos de Estarreja, de Ílhavo, da Murtosa e de Avanca. Os apelos do Arcebispo de Évora acabaram por chegar também às dioceses de Lamego, Guarda e à Beira Baixa”, recorda.

“Essa fonte terminou, ou é escassa, porque as dioceses do norte também têm muitas dificuldades vocacionais. Em suma, é algo que acontece em toda a Europa”, afiança.

“Embora ultimamente, graças a Deus e ao trabalho que se tem feito nas paróquias, com a ajuda da pastoral vocacional, apareçam em número significativo vocações alentejanas e ribatejanas, continuamos a precisar de vocações que venham para além do Ribatejo e do Alentejo, ou seja, fora da Arquidiocese”, afiança o Arcebispo de Évora.

“Assim, temos um conjunto de sacerdotes que vêm, nomeadamente, de Angola e de Moçambique, continuar os seus estudos no ensino superior português, muito concretamente na Universidade de Évora, no Politécnico de Portalegre e na Universidade Católica de Lisboa. Estes sacerdotes chegam com muito boa vontade, trazem consigo a esperança de servirem a Arquidiocese irmã de Évora e entregam-se geralmente de alma e coração ao estudo, tendo na maior parte dos casos, um assinalável desempenho académico. Com alegria, ajudámos vários sacerdotes a concluírem licenciaturas, mestrados e, em alguns casos, permanecem em fase de doutoramento em diversas ciências humanas.
Agradecemos a estes padres toda a colaboração prestada à Arquidiocese, assumindo Paróquias e construindo importantes partilhas de experiências eclesiais entre as suas Igrejas africanas e a Igreja alentejana e ribatejana de Évora. É muito gratificante para a nossa Igreja particular usufruir deste enriquecimento e contribuir para a valorização destes estimados padres que se vieram formar para regressar às suas dioceses, a fim de enriquecerem os seus presbitérios e melhor servirem os povos de que procedem”, aponta.

“Também há sacerdotes vindos de outros países que não vieram para estudar, mas para se dedicar plenamente à pastoral, recordo o caso o Padre Lelo já incardinado na nossa Arquidiocese, do Padre Rogério e do Padre Caetano Salvador Dallá, os dois últimos cedidos temporariamente pelos seus bispos”, acrescenta.

“Percorremos uma nova experiência ao recebermos de várias dioceses lusófonas seminaristas que nos são enviados para se prepararem para o ministério presbiteral”, explica, adiantando que “para o próximo ano teremos seminaristas da Diocese de Díli; pela primeira vez, seminaristas vindos da Diocese de Tete, em Moçambique; continuaremos a receber jovens vindos de Angola, dioceses de Ondjiva e Menong; da Diocese de Mindelo – Cabo Verde; e no caso especial de um país não lusófono, receberemos dois alunos originais de Cuba”.

“Estes jovens, se assim Deus permitir, e se for o discernimento da Igreja, serão ordenados presbíteros e ficarão ao serviço da Arquidiocese durante cinco anos ou mais”, revela o Prelado, explicando que “o contrato que estas dioceses têm com a Arquidiocese de Évora é que nos cabe proporcionar a formação no Seminário e no Instituto Superior de Teologia de Évora, permanecendo eles, posteriormente, 5 anos na nossa Arquidiocese, exceptuando a diocese de Menong cujos futuros sacerdotes poderão permanecer na nossa Arquidiocese apenas por 3 anos”.

“Acreditamos que ao fim de sete ou oito anos de permanência no nosso Seminário e no ISTE, estes jovens estarão já com uma experiência assinalável de enculturação ao contexto cultural e sócio-religioso da Arquidiocese. Acredito que será uma forma nova da Igreja de Évora caminhar com o apoio de vocações vindas de fora agora do próprio continente europeu e que sem substituir, completarão a insubstituível necessidade da Pastoral Vocacional nas Paróquias, Movimentos e Comunidades da Arquidiocese”, sublinha, acrescentando o Prelado que “não se pode substituir, mas temos que trabalhar todos. Acredito que as vocações na nossa Arquidiocese também vão  continuar a brotar como fruto da beleza destes jovens que com tanta generosidade vêm até nós, a partir de terras missionárias que os nossos antepassados ajudaram a evangelizar”.

“Também se abre a possibilidade de alguns Institutos religiosos e novas Comunidades de Vida matricularem os seus alunos no Instituto Superior de Teologia de Évora. Contactaram-se para o efeito a Província Portuguesa dos Salesianos e a Comunidade de Vida Canção Nova”, aponta o Prelado.

“O trabalho que desde há muito acontece no Instituto Superior de Teologia de Évora exige de toda a Arquidiocese um voto de louvor e ação de graças. Ao falarmos da Pastoral vocacional com vista aos ministérios ordenados do diaconado e do presbiterado e da valorização do nosso laicado com vista a futuros ministérios instituídos e serviços eclesiais, é obrigatório reconhecer o papel indelével e decisivo que o ISTE exerce ao nível das qualificações e da excelência académica”, sublinha o Arcebispo de Évora.

“Na visita ad limina, responsáveis do Vaticano* apelavam para que fossemos buscar missionários onde há vocações. Diziam: ‘Vós sois um povo com experiência missionária que há-de saber receber nestes nossos tempos missionários vindos das novas Igrejas. Não envergueis pela desistência do anúncio da Fé cristã no velho continente europeu. Não fecheis igrejas, como em outros países, não vendais igrejas! Não encerreis capelanias e serviços de presença humanizadora. Procurai vocações sacerdotais e sacerdotes nas Igrejas onde os podeis encontrar’. Como sempre a odisseia missionária exige paciência, espera e tempo. Mas, quando acontece, redige e escreve nas mais belas páginas da História da Igreja. Enviar missionários é tão exigente como acolher missionários. Trabalhemos juntos!”, apela o Prelado. (*in Dicastério para a Evangelização – Seção para a primeira evangelização e as novas Igrejas particulares, Dom Fortunatus Nwachukwu, Secretário)

“Ressalvando as grandes diferenças culturais e continentais ainda que na pátria comum da mesma língua (Fernando Pessoa), parece-me poder dizer que aquilo que está a acontecer no nosso Seminário Maior de Évora e na nossa Arquidiocese surge no seguimento da sua história vocacional, agora os jovens seminaristas não vêm da Guarda nem de Aveiro, não têm origem em Braga, como eu, mas de mais longe. Claro que para além desta diferença nós viemos para ficar e eles virão para partir, porém o seu tempo de permanência entre nós estou certo que será um dom enquadrado nas grandes mudanças que se perspetivam numa sociedade em mobilidade e em crescente transformação pela globalização”, aponta.

“Desejo pôr-me nas mãos de Deus, que Ele ilumine o necessário discernimento, pensando que toda a Arquidiocese me acompanha e que aquilo que está a acontecer é um sinal dos tempos discernido, e que nunca seja, de modo algum, consequência da escolha pelos mais fácil e imediato, pela omissão e facilitismo”, aponta.

Referindo-se ao triénio vocacional vivido pela Província Eclesiástica de Évora (Évora, Beja e Algarve), o nosso Prelado referiu: “na minha modesta opinião o momento mais alto foi a Jornada de Formação Permanente para o Clero do Ano Pastoral 2022/2023 a que se juntaram também padres vindos da diocese irmã de Setúbal. A temática que preencheu as jornadas foi a Pastoral Vocacional. Sendo a mudança de mentalidades o desafio mais difícil para a pastoral, estas Jornadas permanecem como um marco indelével na pastoral vocacional das nossas Dioceses do Sul”, recorda.

“Agradeço a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Bom Pastor, o dom do Seminário Redemptoris Mater que fruto da experiência do Caminho Neocatecumenal permanece na nossa cidade e na nossa Arquidiocese como mais uma resposta da fidelidade de Deus: ‘Dar-vos-ei pastores!’ (Jeremias 3, 15). No contexto pós conciliar, a Igreja ajudou-nos a perceber que não podemos falar de iniciação cristã sem falar de vocação. Encontrar-se face a face com Cristo nas nossas estradas de Damasco, significa descobrir a beleza da Sua misericórdia, a qual não cabe dentro de nós e, por isso, proclamamos a libertação experimentada e no nosso louvor orante entoamos: ‘Não há amor como o Teu’. Porque a alegria do encontro com Cristo Ressuscitado não cabe em nós, levamo-la aos nossos Irmãos, testemunhando jubilosamente o querigma, a boa notícia do nosso encontro com Cristo e com aqueles que decidem perguntar ‘Mestre, onde moras?’ (Jo 1,35-42), iniciamos tempos de catequese em caminhadas catecumenais. É desta experiência que até nós chegou o Seminário Redemptoris Mater, Nossa Senhora de Fátima, de Évora. Dou graças a Deus, mais uma vez, pelo discernimento que o meu venerando antecessor, Dom José Alves, fez à luz do Espírito Santo e pretendo colocar os meus pés nas suas peugadas e continuar a perceber, cada vez mais melhor, a novidade e as exigências deste carisma. A sua peculiaridade consiste em ser um Seminário Arquidiocesano missionário ad gentes. A história da Igreja ensina que os novos carismas fazem caminho, caminhando. Com fidelidade ao Espírito Santo, expresso pela Sua Igreja, desejo uma sinodalidade de fazer caminho, caminhando com o nosso Seminário Redemptoris Mater. Convido toda a Arquidiocese a unirem-se ao Bispo, sucessor dos Apóstolos, nesta confiança do dom de Deus e a caminharmos juntos. Louvo o Senhor pelos três presbíteros ordenados a partir deste Seminário e que já há vários anos servem as Comunidades de Borba e Campo Maior”, sublinha o Arcebispo de Évora.

Interrogado ainda sobre a urgente necessidade da pastoral vocacional feminina, referiu o Prelado que “a valorização da mulher na Igreja também passa pela sua presença maternal na vida religiosa. Porque a Igreja é mãe e se revê em Maria, a vida religiosa feminina é um dom de enorme apreço na vida da nossa Arquidiocese. Rezo e convido a Arquidiocese a rezar para que entre nós surja uma primavera vocacional feminina: a maternidade espiritual e a fraternidade própria da vida consagrada. Sem esquecer que a vida contemplativa religiosa é a alma da Igreja, recordo que a dimensão missionária da vida religiosa é tão necessária nesta Arquidiocese e que ambos os carismas se fundem no grande sinal da presença de Deus no meio de nós. Nunca poderá haver pastoral vocacional sem integrar a vida religiosa e muito concretamente a vida religiosa feminina. Em nome da Arquidiocese um obrigado profundo às consagradas que são para nós sinal do Amor de Deus e da vida eterna”, agradece D. Francisco Senra Coelho.

Texto de Pedro Miguel Conceição
24 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 3: As Vocações (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 24 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda o tema das Vocações na Arquidiocese.

23 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – IV: A revitalização das Congregações Religiosas na Arquidiocese (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

Uma das questões abordadas nesta conversa de final do Ano Pastoral com o Prelado eborense foi sobre as Congregações religiosas e a sua revitalização nos últimos anos.

Há seis anos, quando chegou à Arquidiocese, D. Francisco José Senra Coelho teve como desafio tentar revitalizar a vida religiosa, pois algumas Congregações tinham, entretanto, saído do território diocesano.

“Este trabalho é fruto de todos. A oração e o trabalho apostólico de cada Paróquia e de cada Comunidade religiosa”, disse, sublinhando “a importância das Comunidades Contemplativas neste labor bem como o empenho de todos os Movimentos Eclesiais constitui o apelo para que o Senhor da vinha envie abundantes carismas à sua vinha”. Acrescentou ainda que “a oração dos doentes, dos idosos e dos sós são apelo ao coração de Deus para que envie trabalhadores para a sua vinha”.

“Encontro nas visitas pastorais pessoas que rezam imenso”, sublinha o Prelado, acrescentando que “muitas vezes percebemos que são pessoas que não vão à Igreja, ou porque já não podem ir pela idade ou pela doença, ou porque nunca se habituaram a ir. Porém, quando chego às suas casas, descubro o terço, livros de orações, pagelas, imagens. Perante esta realidade, percebo que as pessoas vivem intensamente a sua religiosidade popular, que não vão à comunidade, mas que fazem comunidade com a vizinhança, em alguns casos com belos testemunhos de entreajuda, solidariedade e apoio nas dificuldades”.

“Encontro-me com o Alentejo que não descobrimos, de facto, o que é quando olhamos para as estatísticas e o vemos apenas de longe. Para conhecer a alma alentejana importa permanecer, comprometer-se, servir, respeitar e saber escutar. Aprendi em 44 anos de permanência nesta Arquidiocese que a cultura alentejana tem as suas profundas raízes implantadas num húmus fortemente cristão e que na ótica da religiosidade natural é um dos povos mais expressivos no contexto nacional. Diria que o povo alentejano e o povo açoriano se encontram em várias expressões da mesma religiosidade natural, posteriormente, em alguns casos, cristianizada ao ponto das suas riquezas culturais e patrimoniais, tais como as expressões etnográficas, musicais, etc, exprimirem a espiritualidade cristã. É belo verificar o significativo número de patrimónios materiais e imateriais da Humanidade existentes no Alentejo, bem como candidaturas em desenvolvimento. Em todos estes valores estão presentes sinais de fé cristã”, explica.

“No ano que aqui cheguei, em setembro de 2018, quatro congregações estavam para partir. Os Cartuxos, as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias ao serviço da Casa Arquiepiscopal, as Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, em Portel, e as Beneditinas do Torrão”, refere, recordando “era uma situação muito dolorosa”.

“Os carismas são um sinal profundo da presença de Deus entre nós – ‘Estarei convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28,20). A Igreja ao longo do seu magistério e muito concretamente no último Concílio apresenta a riqueza dos carismas que o Espírito Santo suscita”, afiança o Prelado.

“Vejo toda esta riqueza e beleza em todas as comunidades que encontrei e que graças a Deus permanecem na Arquidiocese, tantas vezes com grande sentido de abnegação e mesmo heroicidade. Dou graças a Deus pelos dons que o Senhor nos concedeu nos últimos tempos, como a vinda até nós dos padres teatinos, ordem fundado por São Caetano em 1524, que estão em Vendas Novas e que vão agora estender o seu serviço pastoral também às Paróquias de Lavre, Cortiçadas de Lavre, Foros de Vale de Figueira e Santana do Mato; a comunidade Hesed, que está no Torrão; a comunidade Sementes do Verbo, que está em Vila Viçosa e se dedica ao nosso Seminário de S. José, acompanhando os sacerdotes mais idosos ou doentes e proporcionando naquele amplo espaço uma casa de acolhimento e oração; as Monjas de Belém que estão no Couço e que vieram no pontificado do meu antecessor, o Senhor D. José Alves; as Irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, que estão na Cartuxa de Évora; a Comunidade Canção Nova, cuja presença na Arquidiocese será agora ampliada e elevada a ‘Frente de Missão’, assumindo algumas Paróquias nos arredores de Évora, Boa-Fé, São Sebastião da Giesteira, Nossa Senhora da Tourega (Valverde e São Brás do Regedouro), Nossa Senhora de Guadalupe e Santa Sofia. Para além deste trabalho paroquial, exercerão o seu carisma de comunicação e trabalharão no Serviço Arquidiocesano de Évora da Pastoral das Migrações”, refere o Prelado.

“Continuamos a rezar e a trabalhar para que venha para Évora mais grupo da Comunidade nova de vida Sementes do Verbo”, adiantou D. Francisco Senra Coelho.

“Estamos também com muita esperança de ter uma comunidade das Irmãs do Coração Imaculado de Maria, oriundas de Cabo Verde, fundadas nos meados do século XIX, no Senegal. São cerca de 300 Irmãs constituídas em três províncias: Senegal, Cabo Verde e França. Estas Irmãs vão estender-se, com muita esperança o afirmamos, à Unidade Pastoral de Portel”, revela.

“Por fim, já reunimos várias vezes com as Irmãs da Fraternidade Missionária Pobres de Jesus Cristo, que têm o carisma específico da caridade. São franciscanas, bebem do carisma de Madre Teresa de Calcutá e têm a dimensão peculiar de se dedicar à missão, sobretudo com crianças, adolescentes, e idosos. Acreditamos, as Irmãs e eu, que durante o próximo Ano Pastoral virão apoiar as Comunidades de Avis, Benavila, Galveias, Aldeia Velha, Valongo e Santo António de Alcórrego. É uma área geográfica muito ampla que espera mais evangelizadores”, sublinha.

“Obrigado a todos os que rezam pelas vocações, a todos os que rezam pela Igreja, porque são Igreja e não vão apenas à Igreja. Misturam com a oração, a sua cruz, por vez mais caldeada pelo sofrimento moral do que pelo sofrimento físico, nomeadamente pela solidão, pelo esquecimento e pela ingratidão. Neste Alentejo longo, plano, livre, mas também, ao mesmo tempo, proporcionante da palavra só, apelo às comunidades cristãs que procurem estes e estas que muitas vezes juntam ao seu estado natural de idosos a experiência da solidão. Como não agradecer à Guarda Nacional Republicana e aos Bombeiros Voluntários pelo cuidado que têm com estes homens e mulheres! Uma possível missão para as Paróquias e todas as Comunidades cristãs, afinal um modo muito concreto e atual de responder ao desafio do Papa Francisco, Igreja em saída”, apela o Prelado eborense.

Texto de Pedro Miguel Conceição
21 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – III: A Renúncia Quaresmal 2024 recolheu até ao momento 20.700 euros para as Igrejas do Médio Oriente

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.

Na sua Mensagem Quaresmal 2024, o Arcebispo de Évora apelava a todos os Arquidiocesanos para que a Renúncia Quaresmal deste ano se destinasse “às Igrejas do Médio-Oriente, vítimas de guerra”, fazendo “chegar a essas Comunidades a nossa partilha através da Santa Sé, ao serviço da Caridade do Papa Francisco”.

Questionado sobre o valor já recolhido, D. Francisco Senra Coelho revela que “até este momento, temos a alegria de contar com 20.700 euros. Podemos dizer que é uma quantia modesta, pequenina, perante as necessidades. Não chega a ser, de facto, uma gota de água doce para aquele mar salgado. Porém, acreditamos que ainda vão chegar mais donativos e deixo aqui este apelo: se há comunidades ou se há pessoas, se há empresas que queiram juntar-se à Arquidiocese de Évora, para ajudar aquelas comunidades neste momento tão doloroso”, recordando que “em anos anteriores já ajudámos a Igreja da Ucrânia, para quem enviámos 25 mil euros, bem como as sofridas comunidades eclesiais vítimas do terrível terramoto da Síria e da Turquia”.

“Sentimos neste momento a necessidade de olhar para as comunidades cristãs do Médio Oriente”, aponta, revelando que “há um pormenor que eu gostava de referir e que pode passar despercebido. A pequenina comunidade paroquial de Gaza tem a sua subsistência espiritual e o seu acompanhamento garantido por um Pároco da mesma Família espiritual das Irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, congregação que está presente na Arquidiocese, nomeadamente na Cartuxa de Évora através de uma comunidade contemplativa. Em Gaza é uma comunidade de vida ativa destas mesmas Irmãs que está presente. Elas são valentes, estão em partes muito difíceis do mundo, como a Sibéria ou a Síria”.

“Portanto, a presença destas Irmãs é, de facto, para nós um estímulo a contribuirmos também, porque sabemos para quem contribuímos. Nós não falamos em questões étnicas, mas em pessoas, famílias, idosos e crianças, preocupamo-nos com as pequenas comunidades e iniciativas sócio-caritativas da Igreja na terra de Jesus, na Terra Santa”, refere, sublinhando que “vamos entregar a renúncia quaresmal ao Papa. O Santo Padre saberá o que fazer, pois sabemos que Francisco é muito rigoroso com os bens e tem um profundo sentido de equidade na distribuição das suas ajudas”.

“Todos nós desejamos enviar mais ajuda, porque nestes gestos de solidariedade, transpiram gotas de esperança e sinais de abraço a estas sofridas comunidades cristãs. Sabemos que há dificuldades em Portugal, somos uma Arquidiocese que conta com muitas pessoas idosas, que vivem de pequenas e magras reformas, que dão o seu contributo muito sentido e, por isso, este quantitativo pode não ser muito elevado em quantidade, mas em qualidade tem o sabor do óbolo da viúva. Se alguém se quiser juntar, nós abraçamos o abraço que nos queiram dar porque chegará com toda a certeza à Terra Santa, à Terra de Jesus, aos lugares que o Papa Francisco entender enviar”, apela o Prelado.

19 Ago 2024

À conversa com o Arcebispo de Évora – II: “Na Visita Pastoral Missionária 2024 encontrei uma Diocese viva” (texto)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos. No primeiro episódio, que estreou no sábado, dia 10 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense faz um balanço do Ano Pastoral 2023/2024.

“Na Visita Pastoral Missionária encontrei-me com dois concelhos, Sousel e Borba, repletos de uma grande vontade de solidificar a fé; de sentirem com aroma, sabor e odor a realidade da esperança feita festa, alegria, diálogo, visita, encontro com os doentes, com os sós e com as instituições… Em todas as comunidades houve simpáticos momentos de partilha e festa viva. Foi muito significativo”, sublinha o Arcebispo de Évora, que faz um balanço deveras positivo da Visita Pastoral Missionária 2024, acrescentando que “sou sempre enviado, em nome do Senhor, afim de confirmar os meus irmãos na fé, porém também recebo dos meus irmãos o abraço que confirma a minha fé e o meu ministério”.

“Uma das experiências riquíssimas foi a proximidade, o convívio e a partilha de experiência quotidiana com os Párocos. Vivemos cada dia sempre no acompanhamento mútuo, seguindo o mandato do Senhor ‘Ide dois a dois’ (Marcos 6,7), assim partilhámos encontros, reuniões, celebrações, refeições, enfim, a vida missionária de uma jornada à maneira dos discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Num caso concreto foi possível permanecer 12 dias a viver com o Pároco, o Diácono, e um professor de Religião e Moral na própria Casa Paroquial. A oração e o encontro com os doentes, os pobres e os sós foram sempre os momentos mais altos da nossa experiência, digo minha e dos Párocos que comigo partilharam”, explica.

À pergunta dirigida ao Arcebispo de Évora sobre o porquê da designação de Visita Pastoral Missionária, respondeu que as Visitas Pastorais da Arquidiocese têm uma especificidade missionária já com significativas raízes históricas. De facto, o Servo de Deus, D. Manuel Mendes da Conceição Santos, Arcebispo de Évora de 1920 a 1955, percorreu incansavelmente a Arquidiocese numa dinâmica missionária que aparece indelevelmente marcada nos genes da Igreja eborense dos séculos XX e XXI. D. Manuel Trindade Salgueiro, Arcebispo de 1955 a 1965, continuou este caminho com o apoio do seu bispo auxiliar, D. José Joaquim Ribeiro; D. David de Sousa (1965-1981), em contextos muito específicos da história do Alentejo, nunca deixou de percorrer toda a Arquidiocese, nomeadamente nos meses quentes de Verão para visitar, encorajar e agradecer o trabalho de cada Padre e de cada Comunidade religiosa; nos tempos novos, já após a Revolução dos Cravos, D. Maurílio de Gouveia (1981-2008), com o apoio do seu bispo auxiliar, D. Amândio Tomás (2001-2008), e D. José Alves (2008-2018) renovaram e aprofundaram as missões populares com a riqueza e os desafios do Concílio Vaticano II. Assim, a Missão enquadra a Visita Pastoral na opção preferencial pela evangelização, valorizando os encontro pessoais, as pequenas comunidades e o posterior acompanhamento.

Após um tempo de visita família a família, porta a porta, normalmente realizado por religiosas, religiosos e leigos, o que implica uma semana de missão, surge um segundo momento, no qual com a ajuda de um missionário, normalmente presbítero, se aprofundam estas visitas domiciliárias, dedicando maior atenção a casos específicos assinalados pela antecedente visita missionária, tais como a presença de doentes, pessoas com deficiência, cegos, casos dolorosos de luto, carências sociais, etc. O missionário dedica também tempo ao encontro com Instituições, nomeadamente de crianças e idosos, e procede ao anúncio querigmático através do aprofundamento com diálogo e trabalho de grupo de quatro temas – a paternidade de Deus; o encontro pessoal com Jesus, o Cristo; a descoberta da comunidade cristã no projecto de Deus; e o grande apelo à conversão. Este tempo missionário é acompanhado pela presença da Imagem Peregrina de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da Arquidiocese. E é neste contexto que decorre a visita do Arcebispo de Évora à Comunidade Paroquial, sempre em dinamismo missionário, inserida nas duas semanas anteriores de trabalho, e consumando na confirmação da fé da comunidade eclesial, frequentemente com a celebração do Sacramento da Confirmação.

O posterior acompanhamento destas Visitas Pastorais missionárias é feito pelo Departamento Arquidiocesano da Educação da Fé dos Adultos e do Apostolado dos Leigos, preparando e fornecendo 16 temas que ao longo do ano podem e devem ser aprofundados pelos chamados Grupos Paroquiais de Adultos.

“Não posso esquecer e agradecer a todos os que vieram ao encontro do Bispo e, sobretudo, levados pela mão de Nossa Senhora, a Padroeira da Arquidiocese, Senhora da Conceição, souberam ser Igreja, vir à comunidade, receber tão bem as Irmãs”, agradece, recordando que “foi maravilhoso ver grupos de crianças acompanhando as Irmãs pelas ruas. Houve momentos de ternura que diria mesmo comovente, a saudade que havia da parte do povo e sobretudo das crianças de encontrar as Irmãs que foram, de facto, um extraordinário bater à porta de muitos corações. O visitar os doentes e os pobres, o estar sentado numa grade de cerveja a falar com um pobre lá bem longe, descoberto e acolhido pelas Irmãs é para mim experiência inesquecível”.

17 Ago 2024

Podcast d’Esperança – À conversa com o Arcebispo de Évora – Episódio 2: A revitalização da vida religiosa (com vídeo)

No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos.

No segundo episódio, que estreará neste sábado, dia 17 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense aborda a revitalização da vida religiosa na Arquidiocese.