Celebrando o Jubileu Diocesano das Vocações, desejo agradecer a Deus Pai por nos ter dado o Papa Francisco. Numa perspectiva vocacional, gostaria de ler os ensinamentos deste homem que, dócil ao Espírito Santo, nos convidou com o seu testemunho e dedicação a viver com os sentimentos e o coração do Filho.
O Papa Francisco foi um homem de grande intimidade com o Senhor e com Maria. Estava sempre disposto a ir “a casa de Isabel”, às muitas “Isabeis” que precisam de nós; foi esta a vida do Papa Francisco. Francisco é um desses homens que ousou cavalgar o Evangelho sem sela, sem arreios, sem selas pesadas, sem amaciadores, e por isso mesmo ele desmascara os nossos pretextos, desmascara a nossa mediocridade.
O pontificado de Francisco foi um pontificado de gestos. Com as suas palavras e, sobretudo, com as suas ações, Francisco fez-nos compreender com ênfase que um outro mundo é possível: que o sistema económico baseado na idolatria do dinheiro é injusto, porque enriquece poucos e transforma a grande maioria em massa excedente. A atitude dos países ricos em relação aos migrantes, muitos dos quais morrem a tentar chegar às costas europeias, é vergonhosa. Vivemos numa bolha consumista, muitas vezes com os corações insensíveis ao sofrimento humano.
Pensando nos sacerdotes, nos homens da Igreja, disse-nos que: “o ambiente cortesão é a lepra da Igreja”. Que os pastores devem cheirar a ovelhas e não se devem tornar clérigos de escritório ou colecionadores de antiguidades, nem cair no carreirismo. Que a confissão, o sacramento da confissão, não pode ser um suplício, mas um lugar de misericórdia. Que o autoritarismo no governo da Igreja deve ser evitado. Que não devemos teorizar a partir do laboratório, mas sim compreender e vivenciar a realidade das pessoas. Francisco convidou-nos a respeitar a diversidade e a recordar que a Igreja não é uma ONG piedosa, mas a casa de Deus, que se deve despojar de toda a mundanidade para a todos acolher. Que as guerras são miseráveis e a morte de crianças e de pessoas inocentes nelas é miserável. Que as confissões religiosas do mundo se devem unir para resolver o problema da fome e da falta de educação.
Crentes e não crentes registaram os gestos do Papa Francisco: beijar uma criança deficiente, lavar os pés a uma jovem muçulmana na Quinta-feira Santa e estar em Lampedusa, a ilha que foi palco da primeira viagem apostólica, onde chegaram nos seus pequenos barcos aqueles que vinham do Norte e de África. Usar os seus sapatos velhos, aqueles de antes de ser Papa, os seus sapatos de sempre. Não viver nos palácios apostólicos. Viajar por Roma num carro pequeno e simples. Conceder entrevistas a jornalistas não crentes. Enterrar um sem-abrigo que morreu na colunata de São Pedro, no cemitério do Vaticano. Telefonar para o pároco em Gaza, que também é argentino e toma conta de uma multidão de refugiados, todos os dias às 19h00n durante meses. E há apenas alguns dias, enviou quatro ambulâncias de última geração para a Ucrânia, sendo que poderia continuar com uma longa lista de gestos.
Francisco não inaugurou estes gestos com o seu pontificado; herdou-os de Jorge Mario Bergoglio, e eu sou testemunha que a sua pobreza pessoal não é oportunista nem motivada pelos media. Todos sabemos que foi sempre austero e consistente na sua escolha sincera de uma vida de pobreza, com uma simplicidade evangélica que muitas vezes contrariava as práticas e os costumes do Vaticano. Simples não só no vestir e na linguagem, longe dos discursos abstratos, mas também nos costumes, rejeitando as expressões palacianas, rejeitando ritos e formalidades que não refletem a simplicidade do Evangelho de Jesus.
Francisco abraçou os velhod (dito com carinho), beijou os pobres, visitou todos, atendeu e chamou as pessoas mais simples, e mostrou uma Igreja despojada e em caminho. Cansou-se de pedir aos sacerdotes que estivessem disponíveis para o povo, que se mantivessem abertos à escuta e ao diálogo, que não fossem juízes implacáveis, que fossem às periferias, que cuidassem dos descartados da sociedade. Gritou aos jovens para voarem alto e sonharem em grande, para não negligenciarem a vida, mas sim para se intrometerem nela como Jesus, que façam confusão, e não tenham medo de questionar. Jesus não ficou à janela a olhar para fora, mas entrou na nossa história. Não tinha medo dos nossos problemas. Vocês valem muito, disse Francisco, nunca se esqueçam disto, jovens, não se vendam, não se aluguem, sois únicos e sois necessários, sois a hora de Deus, sois a Igreja, a Igreja precisa de vós, convosco há esperança, sede jovens com asas e com raízes.
Francisco alertou-nos contra a auto-referencialidade, contra o sermos uma Igreja que olha apenas para o seu próprio umbigo. Disse-nos: saiam das cavernas, saiam das sacristias, saiam das salas VIP. Prefiro uma Igreja ferida por sair do que doente por cuidar de si própria. Francisco foi ousado e nunca recuou, por mais tentativas que fossem feitas para o derrubar com calúnias e ataques. Aos governantes, lembrou que a sua missão é cuidar da fragilidade do povo e não usar o poder para ganho pessoal, mas sim cuidar do povo, apoiar e promover os mais fracos. Cuidar é uma palavra que definiu o Papa Francisco e que se encontra personificada sobretudo na figura de São José, por quem tinha uma especial devoção. Francisco repetia-nos sem parar: deixa-te “misericordear” (perdoar), um dos felizes neologismos com que convidava as pessoas cheias de culpa e de escrúpulos a deixarem-se perdoar, a deixarem-se envolver pela ternura de Deus.
Os mais frágeis encontraram sempre nele um pai, possuidor de uma magnanimidade com a fragilidade humana que marcaria o seu papado. Os pobres, os frágeis, são aqueles que melhor compreenderam, aqueles que mais gostaram da nomeação de Francisco e aqueles que hoje certamente mais o lamentam. Cabe-nos a nós, fiéis ao seu legado, criar um mundo mais justo e fraterno, uma igreja mais simples e comunitária, uma igreja mais nazarena, que cheire a Jesus e ao Evangelho.
No seu testamento, deixou claro o seu desejo, o que deseja que o Senhor lhe conceda: “Que o Senhor dê a merecida recompensa àqueles que me amaram e continuarão a rezar por mim. Ofereci ao Senhor o sofrimento que esteve presente na última parte da minha vida; ofereci-o pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos.” Que a Virgem, que é mãe, a quem ele sempre recorria, e em Santa Maria Maior, cada vez que ele ia de viagem e cada vez que regressava de viagem, passasse por ali e com amor de filho levasse as suas flores, nos ajudasse a viver a Boa Nova do Evangelho com alegria e simplicidade, tal como o nosso amado Papa Francisco a viveu e nos incentivou a vivê-la.
Autor: P. Gustavo Cuneo, Reitor do Seminário Maior de Évora, natural da Argentina.
Partilhamos o texto original, escrito em espanhol:
Celebrando el Jubileo Diocesano de las vocaciones deseo agradecerle a Dios Padre por habernos regalado al Papa Francisco y desde una perspectiva vocacional quiero leer el las enseñanzas de este hombre que dócil al Espíritu Santo y nos invitó con su testimonio y entrega a vivir con los sentimientos y el corazón del Hijo.
El Papa Francisco fue un hombre de una gran intimidad con el Señor, y con María. Estuvo siempre dispuesto a ir “a casa de Isabel”, de tantas Isabeles que nos necesitan, esa fue la vida del Papa Francisco. Francisco es uno de aquellos hombres que se animó a montar el Evangelio en pelo, sin aperos, sin grandes monturas, sin suavizantes y por eso mismo deja al descubierto nuestros pretextos, deja al descubierto nuestras mediocridades.
El pontificado de Francisco fue un pontificado gestual. Francisco con sus palabras y sobre todo con su gestos, nos hizo saber rotundamente que otro mundo es posible: Que el sistema económico basado en la idolatría del dinero es injusto, pues enriquece unos poco y convierte una gran mayoría en masa sobrantes. Que la actitud de los países ricos ante los migrantes, muchos de los cuales mueren en el intento de llegar a las costas europeas, es una vergüenza. Que vivimos en una burbuja de consumo y muchas veces con el corazón anestesiado ante el sufrimiento humano.
Pensando en los sacerdotes, en los hombres de la Iglesia nos decía que: “el ambiente cortesano es la lepra de la Iglesia”. Que los pastores han de oler a ovejas y no han de convertirse en clérigos de despacho o en coleccionistas de antigüedades, ni caer en el carrerismo. Que la confesión, el sacramento de la confesión, no puede ser una tortura, sino un lugar de misericordia. Que hay que evitar el autoritarismo en el gobierno de la Iglesia. Que no hay que teorizar desde el laboratorio, sino que hay que conocer y experimentar la realidad del pueblo. Francisco nos invitó a respetar la diversidad y a recordar que la Iglesia no es una ONG piadosa, sino la casa de Dios, que ha de despojarse de todo lo mundano para acoger a todos. Que son miserables la guerras y es miserable la muerte de los niños y de los inocentes en ellas. Que las confesiones religiosas del mundo deben aunarse para resolver el problema del hambre y de la falta de educación.
El pueblo creyente y no creyente ha captado los gestos del papa Francisco, besar un niño discapacitado, lavar los pies a una joven musulmana el jueves Jueves Santo, ser Lampedusa, la isla aquella el primer viaje apostólico donde llegaban los que venían del norte y África en sus barquitas. Usar sus zapatos viejos, los de antes de ser Papa, sus zapatos de siempre. No vivir en los palacios apostólicos. Viajar por Roma en un sencillo y pequeño coche. Conceder entrevista periodistas no creyentes. Enterrar en el cementerio del Vaticano a un hombre de la calle que falleció en la columnata de San Pedro. Llamar desde hace meses todos los días a las 19 horas al párroco de Gaza, que también es argentino y que cuida de una multitud de refugiados y en estos días hace muy poquitos días, el envío de cuatro ambulancias de última generación a Ucrania, y podría seguir haciendo una lista inmensa de gestos. Los gestos Francisco no los inauguró con su pontificado, los heredó de Jorge Mario Bergoglio y soy testigo que su pobreza personal no es oportunista ni es mediática, todos sabemos que fue siempre austero y ha sido coherente con su sentida opción por una vida pobre, con una sencillez evangélica que descolocó muchas veces las prácticas y las costumbres Vaticanas. Sencillo no solo en la ropa y en el lenguaje lejos de discursos abstractos, sino en las costumbres, rechazando modismos palaciegos, rechazando ritos y formalidades que no reflejan la simplicidad del Evangelio de Jesús.
Francisco abrazó a la viejas, (dicho cariñosamente) besó a los pobres, visitó a cualquiera, atendió y llamó a las personas más sencillas, mostró una Iglesia despojada y en salida. Se cansó de pedir a los curas que estuviéramos disponibles para el pueblo, que nos mantuviéramos abiertos a la escucha y al diálogo, que no fuéramos jueces implacables, que saliéramos a las periferias, que nos ocupáramos de los descartables de la sociedad. Le gritó a los jóvenes vuelen alto y sueñen en grande, no balconeen la vida, métanse en la vida como Jesús, hagan lío, no tengan miedo de cuestionar. Jesús no se quedó en la ventana mirando sino que se metió en nuestra historia. Él no tuvo miedo de nuestros líos. Ustedes valen mucho decía Francisco, no lo olviden nunca jóvenes, no se vendan, no se alquilen, son únicos y son necesarios, son el hora de Dios, son la Iglesia, la Iglesia los necesita, con ustedes hay esperanza, sean jóvenes con alas y con raíces.
Francisco nos previno de la autoreferencialidad, de ser una Iglesia que se mira el ombligo, nos decía: Salgan de las cuevas, salgan de la sacristías, salgan de los salones VIP, prefiero una Iglesia herida por salir que enferma por cuidarse. Francisco fue audaz y nunca se hecho atrás por más que intentaron voltearlo con calumnias y con ataques. A los hombres de gobierno, les recordó que su misión es cuidar la fragilidad del pueblo y no aprovechar el poder para obtener beneficios personales, sino para cuidar a la gente, para sostener y promover a los más débiles. Cuidar es una palabra que al papa Francisco lo definió y que él la encuentra plasmada sobre todo en la figura de San José, a quien le tenía una especial devoción. Francisco, nos repitió hasta el cansancio: déjate misericordear, uno de los felices neologismos con el cual invitaba a las personas que se llenan de culpa y de escrúpulos a dejarse perdonar, a dejarse envolver por la ternura de Dios.
Los más frágiles encontraron en él siempre un padre, poseedor de una magnanimidad con la fragilidad humana que va a marcar su papado, los pobres, los frágiles, son los que mejor entendieron, y los que mejor disfrutaron la designación de Francisco, y los que hoy seguramente más lo lloran. Nos toca, fieles a su legado gestar un mundo más justo y fraterno, una iglesia más sencilla y comunitaria, una iglesia más Nazarena, que huela a Jesús y que huela a Evangelio.
En su testamento dejó claro su deseo, lo que él desea que el Señor dé: “que el Señor dé la recompensa merecida quienes me han amado y seguirán orando por mí. Ofrecí al Señor el sufrimiento que se hizo presente en la última parte de mi vida, lo ofrecí por la paz en el mundo y por la fraternidad entre los pueblos”. Que la Virgen que es madre, a quien él acudía siempre y en Santa María Mayor, cada vez que salía de viaje y cada vez que volvía de viaje, pasaba por ahí y con un cariño de hijo le llevaba flores, nos ayude a vivir con alegría y simplicidad la Buena Nueva del Evangelio, así como lo vivió y nos animó a vivir nuestro querido Papa Francisco.