À conversa com o Arcebispo de Évora – V: A Pastoral Vocacional na Arquidiocese (texto)
No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.
A Pastoral Vocacional foi outro dos assuntos abordados na conversa de balanço do Ano Pastoral com o Prelado eborense.
D. Francisco Senra Coelho começa por enquadrar historicamente esta questão: “A nossa Arquidiocese, depois de 1870 para cá, não tem tido vocações em número suficiente para sustentar as 156 paróquias que a compõem. Sabemos que as causas se enraízam no encerramento da Faculdade de Teologia da Universidade de Évora (1759), expulsão das Ordens religiosas masculinas com a confiscação dos seus bens; o encerramento dos noviciados das Ordens religiosas femininas com igual confiscação dos seus bens após a morte da última Irmã; a perseguição religiosa da primeira república, sobretudo de 1910 a 1920 com a confiscação de todos os bens móveis e imóveis da Igreja; mais recentemente a ampla difusão do marxismo comunista através de células clandestinamente implantadas a partir de 1933 no Alentejo latifundiário.”
“Lembro que por volta de 1870 veio de Bragança o primeiro seminarista do norte de Portugal para o nosso seminário. Como disse, até 1870 a Arquidiocese auto sustentava-se com as suas vocações. Os alfobres vocacionais da Arquidiocese encontravam-se concretamente em Campo Maior, em Elvas, em Estremoz, em Vila Viçosa, em Redondo e em Borba, juntamente com Samora Correia, Benavente e Coruche. Se o Seminário de Nossa Senhora da Purificação podia contar com vocações de toda a Arquidiocese, nomeadamente também da cidade de Évora, destas localidades procedia a maior parte dos seminaristas de Évora”, explica.
“Com a chegada de Dom Manuel Mendes da Conceição Santos estas vocações do Norte foram incrementadas, em primeiro lugar, a partir do Distrito de Aveiro. De lá, o bondoso Arcebispo trouxe um fiel colaborador, Mons. Fidalgo, que o acompanhou e o ajudou. Posteriormente, substituído por Mons. Pantaleão Costeira que, com um trabalho incansável, trouxe dezenas de jovens oriundos de Estarreja, de Ílhavo, da Murtosa e de Avanca. Os apelos do Arcebispo de Évora acabaram por chegar também às dioceses de Lamego, Guarda e à Beira Baixa”, recorda.
“Essa fonte terminou, ou é escassa, porque as dioceses do norte também têm muitas dificuldades vocacionais. Em suma, é algo que acontece em toda a Europa”, afiança.
“Embora ultimamente, graças a Deus e ao trabalho que se tem feito nas paróquias, com a ajuda da pastoral vocacional, apareçam em número significativo vocações alentejanas e ribatejanas, continuamos a precisar de vocações que venham para além do Ribatejo e do Alentejo, ou seja, fora da Arquidiocese”, afiança o Arcebispo de Évora.
“Assim, temos um conjunto de sacerdotes que vêm, nomeadamente, de Angola e de Moçambique, continuar os seus estudos no ensino superior português, muito concretamente na Universidade de Évora, no Politécnico de Portalegre e na Universidade Católica de Lisboa. Estes sacerdotes chegam com muito boa vontade, trazem consigo a esperança de servirem a Arquidiocese irmã de Évora e entregam-se geralmente de alma e coração ao estudo, tendo na maior parte dos casos, um assinalável desempenho académico. Com alegria, ajudámos vários sacerdotes a concluírem licenciaturas, mestrados e, em alguns casos, permanecem em fase de doutoramento em diversas ciências humanas.
Agradecemos a estes padres toda a colaboração prestada à Arquidiocese, assumindo Paróquias e construindo importantes partilhas de experiências eclesiais entre as suas Igrejas africanas e a Igreja alentejana e ribatejana de Évora. É muito gratificante para a nossa Igreja particular usufruir deste enriquecimento e contribuir para a valorização destes estimados padres que se vieram formar para regressar às suas dioceses, a fim de enriquecerem os seus presbitérios e melhor servirem os povos de que procedem”, aponta.
“Também há sacerdotes vindos de outros países que não vieram para estudar, mas para se dedicar plenamente à pastoral, recordo o caso o Padre Lelo já incardinado na nossa Arquidiocese, do Padre Rogério e do Padre Caetano Salvador Dallá, os dois últimos cedidos temporariamente pelos seus bispos”, acrescenta.
“Percorremos uma nova experiência ao recebermos de várias dioceses lusófonas seminaristas que nos são enviados para se prepararem para o ministério presbiteral”, explica, adiantando que “para o próximo ano teremos seminaristas da Diocese de Díli; pela primeira vez, seminaristas vindos da Diocese de Tete, em Moçambique; continuaremos a receber jovens vindos de Angola, dioceses de Ondjiva e Menong; da Diocese de Mindelo – Cabo Verde; e no caso especial de um país não lusófono, receberemos dois alunos originais de Cuba”.
“Estes jovens, se assim Deus permitir, e se for o discernimento da Igreja, serão ordenados presbíteros e ficarão ao serviço da Arquidiocese durante cinco anos ou mais”, revela o Prelado, explicando que “o contrato que estas dioceses têm com a Arquidiocese de Évora é que nos cabe proporcionar a formação no Seminário e no Instituto Superior de Teologia de Évora, permanecendo eles, posteriormente, 5 anos na nossa Arquidiocese, exceptuando a diocese de Menong cujos futuros sacerdotes poderão permanecer na nossa Arquidiocese apenas por 3 anos”.
“Acreditamos que ao fim de sete ou oito anos de permanência no nosso Seminário e no ISTE, estes jovens estarão já com uma experiência assinalável de enculturação ao contexto cultural e sócio-religioso da Arquidiocese. Acredito que será uma forma nova da Igreja de Évora caminhar com o apoio de vocações vindas de fora agora do próprio continente europeu e que sem substituir, completarão a insubstituível necessidade da Pastoral Vocacional nas Paróquias, Movimentos e Comunidades da Arquidiocese”, sublinha, acrescentando o Prelado que “não se pode substituir, mas temos que trabalhar todos. Acredito que as vocações na nossa Arquidiocese também vão continuar a brotar como fruto da beleza destes jovens que com tanta generosidade vêm até nós, a partir de terras missionárias que os nossos antepassados ajudaram a evangelizar”.
“Também se abre a possibilidade de alguns Institutos religiosos e novas Comunidades de Vida matricularem os seus alunos no Instituto Superior de Teologia de Évora. Contactaram-se para o efeito a Província Portuguesa dos Salesianos e a Comunidade de Vida Canção Nova”, aponta o Prelado.
“O trabalho que desde há muito acontece no Instituto Superior de Teologia de Évora exige de toda a Arquidiocese um voto de louvor e ação de graças. Ao falarmos da Pastoral vocacional com vista aos ministérios ordenados do diaconado e do presbiterado e da valorização do nosso laicado com vista a futuros ministérios instituídos e serviços eclesiais, é obrigatório reconhecer o papel indelével e decisivo que o ISTE exerce ao nível das qualificações e da excelência académica”, sublinha o Arcebispo de Évora.
“Na visita ad limina, responsáveis do Vaticano* apelavam para que fossemos buscar missionários onde há vocações. Diziam: ‘Vós sois um povo com experiência missionária que há-de saber receber nestes nossos tempos missionários vindos das novas Igrejas. Não envergueis pela desistência do anúncio da Fé cristã no velho continente europeu. Não fecheis igrejas, como em outros países, não vendais igrejas! Não encerreis capelanias e serviços de presença humanizadora. Procurai vocações sacerdotais e sacerdotes nas Igrejas onde os podeis encontrar’. Como sempre a odisseia missionária exige paciência, espera e tempo. Mas, quando acontece, redige e escreve nas mais belas páginas da História da Igreja. Enviar missionários é tão exigente como acolher missionários. Trabalhemos juntos!”, apela o Prelado. (*in Dicastério para a Evangelização – Seção para a primeira evangelização e as novas Igrejas particulares, Dom Fortunatus Nwachukwu, Secretário)
“Ressalvando as grandes diferenças culturais e continentais ainda que na pátria comum da mesma língua (Fernando Pessoa), parece-me poder dizer que aquilo que está a acontecer no nosso Seminário Maior de Évora e na nossa Arquidiocese surge no seguimento da sua história vocacional, agora os jovens seminaristas não vêm da Guarda nem de Aveiro, não têm origem em Braga, como eu, mas de mais longe. Claro que para além desta diferença nós viemos para ficar e eles virão para partir, porém o seu tempo de permanência entre nós estou certo que será um dom enquadrado nas grandes mudanças que se perspetivam numa sociedade em mobilidade e em crescente transformação pela globalização”, aponta.
“Desejo pôr-me nas mãos de Deus, que Ele ilumine o necessário discernimento, pensando que toda a Arquidiocese me acompanha e que aquilo que está a acontecer é um sinal dos tempos discernido, e que nunca seja, de modo algum, consequência da escolha pelos mais fácil e imediato, pela omissão e facilitismo”, aponta.
Referindo-se ao triénio vocacional vivido pela Província Eclesiástica de Évora (Évora, Beja e Algarve), o nosso Prelado referiu: “na minha modesta opinião o momento mais alto foi a Jornada de Formação Permanente para o Clero do Ano Pastoral 2022/2023 a que se juntaram também padres vindos da diocese irmã de Setúbal. A temática que preencheu as jornadas foi a Pastoral Vocacional. Sendo a mudança de mentalidades o desafio mais difícil para a pastoral, estas Jornadas permanecem como um marco indelével na pastoral vocacional das nossas Dioceses do Sul”, recorda.
“Agradeço a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Bom Pastor, o dom do Seminário Redemptoris Mater que fruto da experiência do Caminho Neocatecumenal permanece na nossa cidade e na nossa Arquidiocese como mais uma resposta da fidelidade de Deus: ‘Dar-vos-ei pastores!’ (Jeremias 3, 15). No contexto pós conciliar, a Igreja ajudou-nos a perceber que não podemos falar de iniciação cristã sem falar de vocação. Encontrar-se face a face com Cristo nas nossas estradas de Damasco, significa descobrir a beleza da Sua misericórdia, a qual não cabe dentro de nós e, por isso, proclamamos a libertação experimentada e no nosso louvor orante entoamos: ‘Não há amor como o Teu’. Porque a alegria do encontro com Cristo Ressuscitado não cabe em nós, levamo-la aos nossos Irmãos, testemunhando jubilosamente o querigma, a boa notícia do nosso encontro com Cristo e com aqueles que decidem perguntar ‘Mestre, onde moras?’ (Jo 1,35-42), iniciamos tempos de catequese em caminhadas catecumenais. É desta experiência que até nós chegou o Seminário Redemptoris Mater, Nossa Senhora de Fátima, de Évora. Dou graças a Deus, mais uma vez, pelo discernimento que o meu venerando antecessor, Dom José Alves, fez à luz do Espírito Santo e pretendo colocar os meus pés nas suas peugadas e continuar a perceber, cada vez mais melhor, a novidade e as exigências deste carisma. A sua peculiaridade consiste em ser um Seminário Arquidiocesano missionário ad gentes. A história da Igreja ensina que os novos carismas fazem caminho, caminhando. Com fidelidade ao Espírito Santo, expresso pela Sua Igreja, desejo uma sinodalidade de fazer caminho, caminhando com o nosso Seminário Redemptoris Mater. Convido toda a Arquidiocese a unirem-se ao Bispo, sucessor dos Apóstolos, nesta confiança do dom de Deus e a caminharmos juntos. Louvo o Senhor pelos três presbíteros ordenados a partir deste Seminário e que já há vários anos servem as Comunidades de Borba e Campo Maior”, sublinha o Arcebispo de Évora.
Interrogado ainda sobre a urgente necessidade da pastoral vocacional feminina, referiu o Prelado que “a valorização da mulher na Igreja também passa pela sua presença maternal na vida religiosa. Porque a Igreja é mãe e se revê em Maria, a vida religiosa feminina é um dom de enorme apreço na vida da nossa Arquidiocese. Rezo e convido a Arquidiocese a rezar para que entre nós surja uma primavera vocacional feminina: a maternidade espiritual e a fraternidade própria da vida consagrada. Sem esquecer que a vida contemplativa religiosa é a alma da Igreja, recordo que a dimensão missionária da vida religiosa é tão necessária nesta Arquidiocese e que ambos os carismas se fundem no grande sinal da presença de Deus no meio de nós. Nunca poderá haver pastoral vocacional sem integrar a vida religiosa e muito concretamente a vida religiosa feminina. Em nome da Arquidiocese um obrigado profundo às consagradas que são para nós sinal do Amor de Deus e da vida eterna”, agradece D. Francisco Senra Coelho.