À conversa com o Arcebispo de Évora – IV: A revitalização das Congregações Religiosas na Arquidiocese (texto)
No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos, nomeadamente no canal de Youtube da Arquidiocese e no site www.diocesedeevora.pt.
Uma das questões abordadas nesta conversa de final do Ano Pastoral com o Prelado eborense foi sobre as Congregações religiosas e a sua revitalização nos últimos anos.
Há seis anos, quando chegou à Arquidiocese, D. Francisco José Senra Coelho teve como desafio tentar revitalizar a vida religiosa, pois algumas Congregações tinham, entretanto, saído do território diocesano.
“Este trabalho é fruto de todos. A oração e o trabalho apostólico de cada Paróquia e de cada Comunidade religiosa”, disse, sublinhando “a importância das Comunidades Contemplativas neste labor bem como o empenho de todos os Movimentos Eclesiais constitui o apelo para que o Senhor da vinha envie abundantes carismas à sua vinha”. Acrescentou ainda que “a oração dos doentes, dos idosos e dos sós são apelo ao coração de Deus para que envie trabalhadores para a sua vinha”.
“Encontro nas visitas pastorais pessoas que rezam imenso”, sublinha o Prelado, acrescentando que “muitas vezes percebemos que são pessoas que não vão à Igreja, ou porque já não podem ir pela idade ou pela doença, ou porque nunca se habituaram a ir. Porém, quando chego às suas casas, descubro o terço, livros de orações, pagelas, imagens. Perante esta realidade, percebo que as pessoas vivem intensamente a sua religiosidade popular, que não vão à comunidade, mas que fazem comunidade com a vizinhança, em alguns casos com belos testemunhos de entreajuda, solidariedade e apoio nas dificuldades”.
“Encontro-me com o Alentejo que não descobrimos, de facto, o que é quando olhamos para as estatísticas e o vemos apenas de longe. Para conhecer a alma alentejana importa permanecer, comprometer-se, servir, respeitar e saber escutar. Aprendi em 44 anos de permanência nesta Arquidiocese que a cultura alentejana tem as suas profundas raízes implantadas num húmus fortemente cristão e que na ótica da religiosidade natural é um dos povos mais expressivos no contexto nacional. Diria que o povo alentejano e o povo açoriano se encontram em várias expressões da mesma religiosidade natural, posteriormente, em alguns casos, cristianizada ao ponto das suas riquezas culturais e patrimoniais, tais como as expressões etnográficas, musicais, etc, exprimirem a espiritualidade cristã. É belo verificar o significativo número de patrimónios materiais e imateriais da Humanidade existentes no Alentejo, bem como candidaturas em desenvolvimento. Em todos estes valores estão presentes sinais de fé cristã”, explica.
“No ano que aqui cheguei, em setembro de 2018, quatro congregações estavam para partir. Os Cartuxos, as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias ao serviço da Casa Arquiepiscopal, as Irmãs Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora, em Portel, e as Beneditinas do Torrão”, refere, recordando “era uma situação muito dolorosa”.
“Os carismas são um sinal profundo da presença de Deus entre nós – ‘Estarei convosco até ao fim dos tempos’ (Mt 28,20). A Igreja ao longo do seu magistério e muito concretamente no último Concílio apresenta a riqueza dos carismas que o Espírito Santo suscita”, afiança o Prelado.
“Vejo toda esta riqueza e beleza em todas as comunidades que encontrei e que graças a Deus permanecem na Arquidiocese, tantas vezes com grande sentido de abnegação e mesmo heroicidade. Dou graças a Deus pelos dons que o Senhor nos concedeu nos últimos tempos, como a vinda até nós dos padres teatinos, ordem fundado por São Caetano em 1524, que estão em Vendas Novas e que vão agora estender o seu serviço pastoral também às Paróquias de Lavre, Cortiçadas de Lavre, Foros de Vale de Figueira e Santana do Mato; a comunidade Hesed, que está no Torrão; a comunidade Sementes do Verbo, que está em Vila Viçosa e se dedica ao nosso Seminário de S. José, acompanhando os sacerdotes mais idosos ou doentes e proporcionando naquele amplo espaço uma casa de acolhimento e oração; as Monjas de Belém que estão no Couço e que vieram no pontificado do meu antecessor, o Senhor D. José Alves; as Irmãs Servidoras do Senhor e da Virgem de Matará, que estão na Cartuxa de Évora; a Comunidade Canção Nova, cuja presença na Arquidiocese será agora ampliada e elevada a ‘Frente de Missão’, assumindo algumas Paróquias nos arredores de Évora, Boa-Fé, São Sebastião da Giesteira, Nossa Senhora da Tourega (Valverde e São Brás do Regedouro), Nossa Senhora de Guadalupe e Santa Sofia. Para além deste trabalho paroquial, exercerão o seu carisma de comunicação e trabalharão no Serviço Arquidiocesano de Évora da Pastoral das Migrações”, refere o Prelado.
“Continuamos a rezar e a trabalhar para que venha para Évora mais grupo da Comunidade nova de vida Sementes do Verbo”, adiantou D. Francisco Senra Coelho.
“Estamos também com muita esperança de ter uma comunidade das Irmãs do Coração Imaculado de Maria, oriundas de Cabo Verde, fundadas nos meados do século XIX, no Senegal. São cerca de 300 Irmãs constituídas em três províncias: Senegal, Cabo Verde e França. Estas Irmãs vão estender-se, com muita esperança o afirmamos, à Unidade Pastoral de Portel”, revela.
“Por fim, já reunimos várias vezes com as Irmãs da Fraternidade Missionária Pobres de Jesus Cristo, que têm o carisma específico da caridade. São franciscanas, bebem do carisma de Madre Teresa de Calcutá e têm a dimensão peculiar de se dedicar à missão, sobretudo com crianças, adolescentes, e idosos. Acreditamos, as Irmãs e eu, que durante o próximo Ano Pastoral virão apoiar as Comunidades de Avis, Benavila, Galveias, Aldeia Velha, Valongo e Santo António de Alcórrego. É uma área geográfica muito ampla que espera mais evangelizadores”, sublinha.
“Obrigado a todos os que rezam pelas vocações, a todos os que rezam pela Igreja, porque são Igreja e não vão apenas à Igreja. Misturam com a oração, a sua cruz, por vez mais caldeada pelo sofrimento moral do que pelo sofrimento físico, nomeadamente pela solidão, pelo esquecimento e pela ingratidão. Neste Alentejo longo, plano, livre, mas também, ao mesmo tempo, proporcionante da palavra só, apelo às comunidades cristãs que procurem estes e estas que muitas vezes juntam ao seu estado natural de idosos a experiência da solidão. Como não agradecer à Guarda Nacional Republicana e aos Bombeiros Voluntários pelo cuidado que têm com estes homens e mulheres! Uma possível missão para as Paróquias e todas as Comunidades cristãs, afinal um modo muito concreto e atual de responder ao desafio do Papa Francisco, Igreja em saída”, apela o Prelado eborense.