No Domingo de Cristo-Rei, 26 de novembro, às 15 horas, nas instalações da Cúria Arquidiocesana, decorreu o tradicional Encontro dos Movimentos e Obras de Apostolado com o Arcebispo de Évora.
O Encontro contou com a apresentação dos representantes dos Movimentos e Obras, com um momento de diálogo sobre a importância da Eucaristia nas actividades de cada Movimento/Obra, tendo por base de reflexão o Relatório da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, e ainda com palavras de agradecimento e ânimo de D. Francisco Senra Coelho.
Pelas 17h00h, todos participaram na celebração da Eucaristia de Cristo-Rei, na Sé de Évora. Os representantes e membros dos Movimentos e Obras de Apostolado integraram o cortejo inicial e final da Eucaristia com os seus estandartes e insígnias (na foto).
A Eucaristia foi transmitida em direto nos canais digitais da Arquidiocese e na frequência de Rádio 97.5 FM, cuja programação a partir desta celebração passou a ser assegurada pela Rádio Maria Alentejo.
À homilia, o Prelado eborense alertou para um cenário global de violações à liberdade religiosa. “Unidos ao Papa Francisco, rezamos hoje, por todos os cristãos e pela liberdade religiosa, para que este reino de justiça, paz e amor, possa ajudar a que na humanidade fermentem critérios de humanização geradores de tolerância, conciliação e respeito, pilares da paz”, disse D. Francisco Senra Coelho, na homilia da celebração.
A intervenção citou o mais recente relatório da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), lançado em junho deste ano e apresentado no dia 24 de novembro, em Évora (ver notícia), segundo o qual 4,9 mil milhões de pessoas, 62% da população mundial, vivem em países onde a liberdade religiosa é fortemente restringida.
O Arcebispo de Évora questionou um “fundamentalismo laicista”, no mundo ocidental, que considera “capaz de calar a liberdade religiosa e igualdade de cultos”.
“A nível mundial, a manutenção e a consolidação do poder nas mãos de autocratas e de líderes de grupos fundamentalistas, conduziu a um aumento de violações de todos os direitos humanos, incluindo a liberdade religiosa”, acrescentou.
D. Francisco Senra Coelho falou em “tempos que continuam desafiantes e não fáceis para a missão evangelizadora da Igreja”.
“A realeza de Cristo, que há de fazer parte da nossa identidade cristã e que havemos de oferecer em testemunho a todas as pessoas, não é de poder nem de esplendor, mas de serviço e de caridade, na disponibilidade aos mais frágeis e na defesa da verdade em favor dos mais pobres”, declarou, na celebração que marca o final do ano litúrgico, no calendário católico.
Reveja aqui a transmissão: https://fb.watch/ozy_mJWU5V/
Foto-reportagem:
HOMILIA
SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO REI DO UNIVERSO
Basílica Metropolitana de Évora – 26/XI/2023
A Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo foi Instituida pelo Papa Pio XI, em 11 de dezembro de 1925, através da Carta Enciclica “Quas Primas”. Em tempos sombrios e turvos, devido às fortes nuvens que toldavam a esperança da humanidade povoada de ameaçadores totalitarismos, Pio XI fundara em 1922 a Ação Católica com o intuito de levar a Luz dos Evangelhos aos recandos adormecidos da fé desumanizados.
A Festa de Cristo Rei, então celebrada no último Domingo de Outubro, surgiu com o intuito de ajudar a promover e a solidificar a militância católica ao serviço da promoção dos valores cristãos na sociedade.
A reorganização da Liturgia Pós-Concilio Vaticano II elevou a festa a Solenidade e passou-a para o último Domingo do Ano Litúrgico. É esta Solenidade que hoje celebramos, em tempos que continuam desafiantes e não fáceis para a missão evangelizadora da Igreja.
Na conclusão do sermão escatológico, Mateus descreve com imagens grandiosas a vinda de Jesus, rei-Messias, que faz os seus eleitos passarem do seu Reino para o do Pai. A imagem fundamental é tirada do Livro de Ezequiel, o rei-pastor a julgar dissídios entre ovelhas e ovelhas ou entre ovelhas e bodes. O seu juízo não levará em consideração obras excepcionais, porém, obras de misericórdia, aqui enumeradas no estilo de Isaías. Assim, esta grandiosa cena de julgamento também nos impede de fantasiar sobre aquele dia e nos obriga a controlar, momento por momento, a nossa vida na perspetiva do encontro com Cristo, que agora se nos apresenta nos pobres.
Encontramo-nos diante de uma síntese da doutrina e das exigências de todo o Evangelho: Jesus, o Juiz, é o Salvador de todos os homens; os homens serão julgados sobre a Caridade. Mesmo os não cristãos, se forem homens de boa vontade, participam na redenção de Cristo. A fidelidade no cumprimento do dever das suas vidas, a vontade de servir até ao fim, fiz deles batizados. Neste caso é costume falar-se em“ batismo de desejo”. Quem possuiu e viveu um amor verdadeiramente autêntico para com os outros, viveu e possuiu algo do próprio Deus. Porque onde está o amor, a bondade, aí está Deus. Nos pequeninos da terra que eles amaram, foi, de facto, Deus que encontraram.
A imposição, a coersão, a sedução, a manipulação da liberdade e outros meios que prescidem da liberdade, subjetividade e responsabilidade do Homem não fazem parte dos critérios do Reino de Deus. A Realeza de Cristo, que há-de fazer parte da nossa identidade cristã e que havemos de oferecer em testemunho a todas as pessoas, não é de poder nem de esplendor, mas de serviço e de caridade, na disponibilidade aos mais frágeis e na defesa da verdade em favor dos mais pobres.
Bento XVI, na sua Encíclica sobre o desenvolvimento humano integral na verdade e na caridade, “Caritas in veritate” (nº1), afirma que a «caridade na verdade que Jesus testemunhou com a Sua vida terrena e sobretudo com a Sua Morte e Ressurreição é a força propulsora principal para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e da Humanidade inteira… É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e verdade absoluta». Percebemos, então, que os dois polos da Realeza de Cristo são a Caridade e a Verdade.
Ser da Verdade é uma atitude que provém de uma opção fundamental de vida assumida em todas as partes e em todos os momentos, geradora de transparência e coerência. Segundo o Evangelho, são da verdade os que escutam no coração a voz de Deus, os que se esforçam por viver as Obras de Misericórdia e as Bem-aventuranças; os que acolhem no Espírito Santo, os que celebram com todos os dons da vida, a caridade, e, por isso, se tornam «semeadores de esperança».
Segundo as principais conclusões do Relatório da Liberdade Religiosa no Mundo, no contexto de um clima global tenso, afetado pelas consequências da pandemia COVID 19, pelas consequências da guerra na Ucrânia e no Médio Oriente e pelas preocupações militares e económicas em torno do Mar do Sul da China, bem como, pelo rápido aumento do custo de vida a nível mundial, a liberdade foi violada em países onde vivem mais de 4,9 mil milhões de pessoas. Consideramos 61 países onde os cidadãos enfrentaram graves violações da liberdade religiosa.
A nível mundial, a manutensão e a consolidação do poder nas mãos de autocratas e de lideres de grupos fundamentalistas, conduziu a um aumento de violações de todos os direitos humanos, incluindo a liberdade religiosa. Uma combinação de ataques terroristas, destruição do património e simbolos religiosos (Turquia e Síria), manipulação do sistema eleritoral (Nigéria, Iraque), vigilância em massa (China), proliferação de leis anti-conversão e restrições financeiras (Sudeste Asiático e Médio Oriente) aumentou a opressão de todas as comunidades religiosas.
Um reação cada vez mais silenciosa da comunidade internacional às atrocidades cometidas por regimes autocráticos “estratégicamente importantes” (China, Índia) demonstrou uma cultura crescente de impunidade. Países importantes (Nigéria, Paquistão) escaparam a sansões internacionais e a outros castigos na sequência de revelações de violações da liberdade religiosa contra os seus próprios cidadãos.
No Ocidente, a “cultura do cancelamento” incluindo a “linguagem forçada”, evoluiu do assédio (verbal) de indivíduos que, por razões religiosas, têm opiniões diferentes, para incluir ameaças legais e perda de oportunidades de emprego. Os indivíduos que devido à sua fé, não conseguiram expressar posições que apoiassem especificamente pontos de vista em conformidade com as exigências ideológicas prevalecentes (“cultura do cancelamento”) foram ameaçados com sansões legais. As redes sociais foram um fator importante de impulso a esta tendência. Soma-se a isto o fundamentalismo laicista, capaz de calar a liberdade religiosa e igualdade de cultos. Em todo o Ocidente este fundamentalismo encontra expressão icónica na França, Bélgica e Países Baixos, bem como nos países latinos: assume o cristianismo a expressão religiosa mais ostratizada.
Durante o período em análise, a perseguição intensa tornou-se ainda mais aguda e concentrada e a impunidade aumentou. Esta perseguição inclui violações extremas do artº 18 da Declaração Universal dos Direitos do Homem das nações Unidas, o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião.
Caros Cristãos, dedicados Movimentos Eclesiais, Associações de fiéis e Obras Apostólicas, quando no Rito do Batismo se diz que somos «membros de Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei» pretende vincar-se esta realidade, que somos pontes (sacerdotes), anunciadores (profetas) e testemunhas (reis) da Verdade e da Caridade, sabendo que sempre com o martírio da coerência e a diaconia do serviço.
Para todos os cristãos comprometidos e empenhados, Discípulos Missionários, o nosso amado Papa Francisco propõe três verbos para traduzirmos no nosso quotidiano, este compromisso com a Verdade e a Caridade: Obedecer, Servir e Permanecer.
Obedecer a Deus, pois «um verdadeiro cristão não pode viver de modo autorreferêncial, desvinculado d’Aquele que lhe garante a vida e o caminho seguro da Santidade».
Servir: «Assim como Jesus não veio para ser servido, mas para servir», também os cristãos devem procurar servir com as suas obras e palavras vivas, tornando presente o próprio Senhor na História da Humanidade.
Permanecer e não fugir do mundo. «O meu Reino não é deste mundo», de facto, não tem raiz neste mundo mas existe em função deste mundo, pelo que cada crente deve procurar cristificar-se e cristificar os ambientes sem cair na tentação de se esconder dos problemas e dificuldades que este mundo apresenta (David Palatino).
Unidos ao Papa Francisco, rezamos hoje, por todos os cristãos e pela Liberdade Religiosa, para que este Reino de Justiça, Paz e Amor, possa ajudar a que na humanidade fermentem critérios de Humanização geradores de tolerância, conciliação e respeito, pilares da Paz.
+ Francisco José Senra Coelho
Arcebispo de Évora