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15 Out 2024

Justiça e Paz: Manifesto de organizações católicas denuncia precariedade e pobreza dos trabalhadores

Oito organizações católicas lançaram, no dia 12 de outubro, um apelo conjunto, denunciando a precariedade e pobreza dos trabalhadores, no final da conferência anual da Comissão Nacional Justiça e Paz, noticiou a Agência ECCLESIA.

“Em Portugal persiste o fenómeno dos ‘working poor’ (trabalhadores com rendimentos que não lhes permitem superar a pobreza), persiste o trabalho ilegal e/ou clandestino, persistem, ainda, elevados índices de precariedade, e não desapareceu a necessidade de combater as desigualdades no trabalho entre homens e mulheres”, refere o texto, divulgado no final dos trabalhos.

O manifesto é assinado pela ACR – Ação Católica Rural, ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores, Cáritas Portuguesa, CNJP – Comissão Nacional Justiça e Paz, Federação Solicitude, JOC – Juventude Operária Católica, LOC/MTC – Liga Operária Católica/Movimento dos Trabalhadores Cristãos e o Metanoia – Movimento Católico de Profissionais.

A conferência anual da CNJP decorreu esta manhã, no Centro Cultural Franciscano, em Lisboa, com o tema ‘O desafio do trabalho digno num mundo em mudança’.

O manifesto alerta para a precariedade que “atinge hoje grande número de trabalhadores e de modo particular os jovens, o que em muito dificulta a realização dos seus projetos pessoais, como o de constituir família”.

“Novas formas contratuais, como as relativas ao trabalho em plataformas digitais, acentuam essa precariedade e não protegem devidamente direitos laborais anteriormente consolidados”, acrescenta o texto.

As organizações católicas defendem o domingo como dia livre para trabalhadores e suas famílias, considerando que se impõe, “em muitas situações, a redução e reorganização dos horários de trabalho”.

O manifesto adverte ainda que a transição digital e a transição energética, bem como recurso à inteligência artificial, “contribuirão para a destruição de muitos empregos e a reconversão profissional dos trabalhadores afetados não será isenta de dificuldades”.

Os signatários entendem que “não se têm registado os desejáveis progressos no âmbito da segurança no trabalho”, apelando à defesa dos agricultores d e dos trabalhadores imigrantes.

“Um dos melhores caminhos para efetivar a justiça social e o trabalho digno é o de aumentar os níveis de autorregulação por parte dos parceiros sociais, isto é, aumentar e promover o diálogo social, nomeadamente através da negociação coletiva”, prossegue o documento.

“O caminho para uma sociedade mais justa só se alcança com melhor distribuição da riqueza, com melhores condições de trabalho que promovam a saúde e bem-estar dos trabalhadores, com formação profissional de qualidade e com o aumento da produtividade; por consequência, teremos empresas mais saudáveis e trabalhadores mais motivados”, lê-se.

As organizações católicas subscrevem o apelo do Papa em favor de um “salário básico universal”, lançado a 20 de setembro, na sessão comemorativa do 10.º aniversário do I Encontro Mundial dos Movimentos Populares.

“Em tempos de automatização e inteligência artificial, em tempos de informalidade e precarização laboral, que ninguém seja excluído dos bens básicos necessários para a subsistência”, disse Francisco, no Vaticano.

O manifesto é precedido por um elenco de princípios da Doutrina Social da Igreja, como a justa remuneração, a dimensão social do trabalho, o equilíbrio com a vida familiar, o combate à pobreza, os sindicatos e o objetivo do pleno emprego.

“Nas grandes decisões estratégicas e financeiras, os empresários não podem seguir apenas critérios de natureza financeira ou comercial, esquecendo a dignidade humana dos trabalhadores”, indicam os responsáveis.

05 Ago 2024

Nota das Comissões Justiça e Paz: A erradicação da Pobreza como desígnio nacional

De acordo com o Relatório “Portugal, Balanço Social 2023”, publicado em maio pela Nova School of Business and Economics, a taxa de risco de pobreza era em 2023 de 17%. Isto significa que há cerca de 1,8 milhões de pessoas em risco de pobreza em Portugal. Mais de metade das famílias pobres tem rendimentos abaixo de 50% do rendimento mediano nacional.

É sabido que a erradicação da pobreza é uma tarefa complexa e que deve ser feita por meio da intervenção coordenada de várias frentes (educação, saúde, habitação, políticas de emprego, formação profissional e proteção social), de forma a promover um desenvolvimento humano integral. Ainda assim, os autores deste estudo chamam a atenção para que em 2022 seriam necessários tão-só três mil milhões de euros para, em Portugal, retirar de imediato todas as famílias da pobreza (1,5 % da despesa estimada no Orçamento do Estado para 2024, para um termo de comparação).

Mas a erradicação da pobreza não é apenas uma questão de dinheiro. Não se avançará no sentido de uma erradicação plena da pobreza sem a mobilização de todos, tendo em vista a construção de uma sociedade assente no respeito pelo outro, na entreajuda e na intransigência contra tudo aquilo que coloque qualquer pessoa em situação indigna de vida.

O respeito pleno pela dignidade humana só é garantido se, a cada momento, todas as pessoas se encontrarem em condições de honrar a sua humanidade. Ou seja, só é garantido se, a cada momento, todos tiverem condições de gerir a sua vida sem condicionamentos ditados pela necessidade ou pela situação de extrema vulnerabilidade.

Perante estes números, ninguém deveria ficar indiferente. Na cena política, este deveria ser tomado nos próximos anos como “o” tema central, do qual depende a construção de uma sociedade mais humana, mais coesa e mais próspera. Só um consenso em relação ao bem comum pode gerar uma transformação dos paradigmas sociais, económicos e políticos.

Também os cristãos não podem ser indiferentes à pobreza. Seja com proatividade no combate a situações de desumanidade com que se deparam, seja contrariando sentimentos de desamor e distância em relação ao próximo, o empenho no amor ao outro deve ser assumido como central no processo de conversão pessoal e na vida das comunidades. Não há amor a Deus sem amor ao próximo.

As Comissões Justiça e Paz apelam a que a luta contra a pobreza seja assumida como o desígnio nacional nos próximos anos. Tem de haver um consenso em torno do respeito pelo igual valor e dignidade de todos e um consenso de que existem circunstâncias que nenhuma pessoa deveria suportar.

 

Lisboa, 5 agosto 2024

Comissão Nacional Justiça e Paz

Comissão Justiça, Paz e Ecologia da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP)

Comissão Diocesana de Aveiro

Comissão Arquidiocesana de Braga

Comissão Diocesana de Bragança–Miranda

Comissão Diocesana de Coimbra

Comissão Arquidiocesana de Évora

Comissão Diocesana de Lamego

Comissão Diocesana de Santarém

Comissão Diocesana de Setúbal

Comissão Diocesana de Viana do Castelo

Comissão Diocesana de Vila Real