Etiqueta: Papa Leão XIV

19 Mai 2025

Leão XIV defende Igreja unida para enfrentar desigualdades e conflitos

O Papa Leão XIV disse, neste domingo, 18 de maio, desejar uma Igreja “unida” para responder aos desafios colocados pelas desigualdades e os conflitos que marcam a humanidade.

“No nosso tempo, ainda vemos demasiada discórdia, demasiadas feridas causadas pelo ódio, a violência, os preconceitos, o medo do diferente, por um paradigma económico que explora os recursos da terra e marginaliza os mais pobres” disse, na homilia da Missa que marca o início oficial do seu ministério petrino.

“Nós queremos ser, dentro desta massa, um pequeno fermento de unidade, comunhão e fraternidade”, acrescentou Leão XIV, eleito a 8 de maio.

O novo pontífice chegou à Praça de São Pedro em papamóvel, tendo passado durante largos minutos entre a multidão, que o saudou com aplausos e gritos de “Papa Leone”.

Após ter recebido o pálio papal e o anel do pescador, símbolos da autoridade do Bispo de Roma em toda a Igreja Católica, o primeiro Papa nascido nos Estados Unidos da América recordou os tempos “particularmente intensos” vividos pela Igreja Católica desde o falecimento do seu antecessor, Francisco, a 21 de abril.

“A morte do Papa Francisco encheu os nossos corações de tristeza”, assinalou, evocando também a última bênção do pontífice argentino, “precisamente no dia de Páscoa [20 de abril]”.

A intervenção abordou ainda o Conclave que decorreu entre 7 e 8 de maio, com cardeais dos cinco continentes, apontando a missão de “eleger o novo sucessor de Pedro, o bispo de Roma, um pastor capaz de guardar o rico património da fé cristã e, ao mesmo tempo, de olhar para longe, para ir ao encontro das interrogações, das inquietações e dos desafios de hoje”.

Fui escolhido sem qualquer mérito e, com temor e tremor, venho até vós como um irmão que deseja fazer-se servo da vossa fé e da vossa alegria, percorrendo convosco o caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa única família”.

Leão XIV declarou que a missão de Pedro, o primeiro Papa da Igreja Católica, teve como dimensões fundamentais “o amor e a unidade”, assumindo o desafio de “navegar no mar da vida para que todos se possam reencontrar no abraço de Deus”.

“Queremos dizer ao mundo, com humildade e alegria: Olhai para Cristo! Aproximai-vos dele! Acolhei a sua palavra que ilumina e consola! Escutai a sua proposta de amor para vos tornardes a sua única família. No único Cristo somos um”, acrescentou, citando o seu lema episcopal.

A Pedro é confiada a tarefa de amar mais e dar a sua vida pelo rebanho. O ministério de Pedro é marcado precisamente por este amor oblativo, porque a Igreja de Roma preside na caridade e a sua verdadeira autoridade é a caridade de Cristo. Não se trata nunca de capturar os outros com a prepotência, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder, mas trata-se sempre e apenas de amar como fez Jesus”.

Numa reflexão sobre a própria missão, Leão XIV sustentou que “Pedro [o Papa] deve apascentar o rebanho sem nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe colocado acima dos outros, tornando-se dominador das pessoas que lhe foram confiadas”.

Perante representações de várias Igrejas cristãs e outras religiões, o Papa assumiu a intenção de trabalhar em conjunto, também junto de “quem cultiva a inquietação da busca de Deus, com todas as mulheres e todos os homens de boa vontade – para construir um mundo novo onde reine a paz”, numa das passagens sublinhadas pelas palmas dos participantes.

“Somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo”, assinalou.

Leão XIV convidou as comunidades católicas a viver a “hora do amor”, para uma “Igreja fundada no amor de Deus e sinal de unidade, uma Igreja missionária, que abre os braços ao mundo, que anuncia a Palavra, que se deixa inquietar pela história e que se torna fermento de concórdia para a humanidade”.

“Juntos, como único povo, todos irmãos, caminhemos ao encontro de Deus e amemo-nos uns aos outros”, concluiu.

Após a recitação da oração do ‘Regina Coeli’, na Praça de São Pedro, Leão XIV regressa ao interior da Basílica, onde cumprimenta as mais de 150 delegações que representam Estados e organizações internacionais, além dos responsáveis cristãos e de outras religiões.

O cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos (Santa Sé), foi eleito como Papa, após pouco mais de 24 horas de Conclave, a 8 de maio, assumindo o nome de Leão XIV; o primeiro pontífice agostiniano foi prior geral da Ordem de Santo Agostinho, com sede em Roma, entre 2001 e 2013, após ter sido missionário no Peru e antes de ser nomeado bispo no mesmo país, por Francisco.

Octávio Carmo – Agência ECCLESIA

 

Antes da celebração eucarística, o Papa desceu, com os patriarcas católicos das Igrejas Orientais, ao túmulo de São Pedro, na Basílica do Vaticano, onde permaneceu em oração, antes da procissão com os cardeais concelebrantes, precedidos pelos diáconos que levavam o pálio pastoral, o anel do pescador e o livro dos Evangelhos.

Após a proclamação do Evangelho, em latim e grego, tiveram lugar os ritos específicos do início do pontificado: a imposição do pálio pelo cardeal italiano Mario Zenari, segundo na ordem dos diáconos no Colégio Cardinalício e atual núncio apostólico na Síria; uma oração recitada pelo cardeal Fridolin Ambongo Besungu, da República democrática do Congo, em representação da ordem dos presbíteros; e a entrega do anel do pescador pelo cardeal Luis Antonio Tagle, natural das Filipinas, em representação da ordem dos bispos no Colégio Cardinalício.

Cada cardeal é inserido na respetiva ordem (episcopal, presbiteral ou diaconal), uma tradição que remonta aos tempos das primeiras comunidades cristãs de Roma, em que os cardeais eram bispos das igrejas criadas à volta da cidade (suburbicárias) ou representavam os párocos e os diáconos das igrejas locais.

O Papa ficou visivelmente emocionado após estes ritos, ouviu as palmas da assembleia e agradeceu com um pequeno gesto, sobre o peito, enquanto  estava sentdo, como sinal da autoridade pontifícia, levantando-se ao som da antígona ‘Tu es Petrus’.

Em seguida, 12 pessoas, representando toda a Igreja Católica, prestaram obediência ao novo Papa: o cardeal Frank Leo (Canadá), o cardeal Jaime Spengler (Brasil) e o cardeal John Ribat (Papua-Nova Guiné).

O grupo inclui ainda o bispo Luis Alberto Barrera, do Peru; o padre Guillermo Inca Pereda, secretário-geral da Conferência Episcopal Peruana; o diácono Teodoro Mandato; a irmã Oonah O’Shea e o padre Arturo Sousa, em nome das Uniões Gerais de Superiores Gerais dos Institutos Religiosos femininos e masculinos; o casal Rafael Santa Maria e Ana María Olguín; e os jovens Josemaria Diaz e Sheyla Cruz.

Na porta central da Basílica do Vaticano foi colocada uma tapeçaria que evoca a pesca milagrosa, uma passagem dos Evangelhos que inspira vários elementos da celebração.

Ao lado do altar, estava a imagem Nossa Senhora do Bom Conselho, do Santuário de Genazzano, arredores de Roma, que o Papa visitou a 10 de maio.

Leão XIV usou uma ferula papal (correspondenete ao báculo dos outros bispos, mas encimado por uma cruz) do pontificado de Paulo VI, falecido em 1978, que Bento XVI e o Papa Francisco também usaram em várias ocasiões.

Segundo o Vaticano, a Missa deste domingo reuniu cerca de 150 mil pessoas na Praça de São Pedro e nas áreas circundantes.

Após a celebração, o Papa vai receber em audiência Volodymyr Zelenskyy, presidente da República da Ucrânia, adiantou a Santa Sé.

13 Mai 2025

Presidente da Conferência Episcopal consagrou pontificado de Leão XIV a Nossa Senhora de Fátima

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) consagrou, neste dia 13 de maio, em Fátima o pontificado do novo Papa à Virgem Maria, pedindo inspiração para os “caminhos da renovação da Igreja”.

“Dai-lhe o dom do discernimento para saber identificar e continuar os caminhos da renovação da Igreja; dai-lhe coragem para não hesitar em seguir os caminhos sugeridos pelo Espírito Santo; amparai-o nas horas duras de sofrimento, a vencer na caridade, as provações no caminho da renovação da Igreja”, disse D. José Ornelas, no final da peregrinação internacional aniversária do 13 de maio.

O responsável católico apresentou a oração em nome dos bispos de Portugal e da “multidão de peregrinos”, rezando por Leão XIV.

“Enchei o seu coração da ternura de Deus, que Vós experimentastes como ninguém, para que ele possa abraçar todos os homens e mulheres deste tempo com o amor do vosso filho Jesus Cristo. Estai sempre a seu lado”, disse.

A consagração do pontificado a Nossa Senhora de Fátima tinha acontecido também a 13 de maio de 2013, dois meses após a eleição de Francisco.

“Quatro dos últimos Papas fizeram-se peregrinos do Vosso Santuário. Está bem viva na nossa memória a presença do Papa Francisco que aqui nos recordou que ‘temos Mãe! e e que esta Capelinha com colunas e um teto, mas sem muros, é a imagem da Igreja’”, indicou D. José Ornelas.

Fátima recebeu, até hoje, sete visitas de um Papa: Paulo VI (1967), João Paulo II (1982, 1991 e 2000), Bento XVI (2010) e Francisco (2017, 2023).

Enquanto esperamos a presença do novo sucessor de Pedro, para orar connosco em Fátima, pedimos-vos que o acolhais e acompanheis com solicitude materna, para que inspirado pela vossa mensagem aos pastorinhos, possa continuar a lançar ao mundo o urgente grito da paz, com que se nos dirigiu no primeiro dia do seu ministério”.

 

A multidão evocou a celebração do Ano Santo 2025, um Jubileu dedicado à esperança, com a oração jubilar de consagração:

Salve, Mãe do Senhor,

Virgem Maria, Rainha do Rosário de Fátima!

Bendita entre todas as mulheres,

és a imagem da Igreja vestida da luz pascal,

és a honra do nosso povo,

és o triunfo sobre a marca do mal.

Profecia do amor misericordioso do Pai,

Mestra do anúncio da Boa Nova do Filho,

Sinal do Fogo ardente do Espírito Santo,

ensina-nos, neste vale de alegrias e dores,

as verdades eternas que o Pai revela aos pequeninos.

Mostra-nos a força do teu manto protetor.

No teu Imaculado Coração,

sê o refúgio dos pecadores

e o caminho que conduz até Deus.

Unido aos meus irmãos,

na fé, na esperança e no amor,

a ti me entrego.

Unido aos meus irmãos, por ti, a Deus me consagro,

ó Virgem do Rosário de Fátima.

E, enfim, envolvido na luz que das tuas mãos nos vem,

darei glória ao Senhor pelos séculos dos séculos.

Ámen.

 

O momento foi sublinhado com uma salva de palmas dos milhares peregrinos presentes na Cova da Iria.

“Viva o Papa Leão!”, disse D. José Ornelas, no final da Missa, desejando que seja “aquele que anuncia que vem o Senhor, aquele que luta e que faz caminho para que Ele chegue”.

“É esse desafio que ele nos dá: um homem nascido na América do Norte, vivido e missionário na América do Sul, peregrino por esta Europa e por tantos outros países. É este [Papa] que o Senhor nos dá, hoje, como sinal e como guia da nossa fé, da nossa unidade de Igreja e da nossa missão para transformar este mundo”, acrescentou o presidente da CEP.

O bispo de Leiria-Fátima agradeceu ao presidente da celebração, D. Jaime Spengler, pela sua “sensibilidade” e por insistir numa mensagem de “esperança”.

“Este mundo precisa sinais de esperança, precisa de sinais de fé, precisa de sinais de solidariedade, de bondade, de compaixão, de solidariedade. Maria é Mãede todos e de todas. O Papa Francisco repetiu-o tantas vezes: todos, todos, todos. Hoje é, por isso, um sinal de esperança”, observou D. José Ornelas.

O responsável convidou os peregrinos, dos cinco continentes, a “construir um mundo melhor”.

Octávio Carmo – Agência ECCLESIA

12 Mai 2025

Nota da Comissão Nacional Justiça e Paz sobre a eleição do Papa Leão XIV

 A Comissão Nacional Justiça e Paz vem exprimir o seu júbilo pela eleição do Papa Leão XIV, sinal da perene vitalidade da Igreja.

Nela vê também um sinal de continuidade em relação à preocupação com os desafios do nosso tempo.

A experiência pastoral do Papa eleito (de missionário ao serviço de um povo pobre) e as palavras que nos tem dirigido desde a sua eleição, fazem-nos estar certos de que o seu pontificado será marcado pelo forte empenho nas causas da Justiça e da Paz, à luz do Evangelho e da doutrina social da Igreja.

Queremos manifestar a nossa comunhão com o Papa Leão XIV nesse seu empenho, inseridos no caminho sinodal a que somos chamados.

Pedimos a Deus que lhe dê sabedoria, força e coragem, confiando que as ações do seu pontificado serão sempre inspiradas pelo Espírito Santo.

Lisboa, 12 de maio de 2025

A Comissão Nacional Justiça e Paz

10 Mai 2025

Leão XIV: Papa convida cardeais a «plena adesão» ao Concílio Vaticano II e indica «outra revolução industrial» na inspiração da escolha do nome (c/vídeo)

Novo Papa explica escolha do nome com o pensamento social promovido por Leão XIII e aponta a «desenvolvimentos da inteligência artificial» 

 

Cidade do Vaticano, 10 mai 2025 (Ecclesia) – O Papa Leão XIV convidou hoje os cardeais a caminhar na “plena adesão” ao caminho do Concílio Vaticano II e explicou ao Colégio Cardinalício a escolha do seu nome, apontando aos desafios da “inteligência artificial” e outra “revolução industrial”.

“São várias as razões, mas a principal é porque o Papa Leão XIII, com a histórica encíclica Rerum novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial; e, hoje, a Igreja oferece a todos a riqueza de sua doutrina social para responder a outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”, referiu no encontro que esta manhã manteve com os membros do Colégio Cardinalício.

O novo líder da Igreja católica convidou os cardeais a uma “plena adesão” ao Concílio Vaticano II e a “renovar juntos” esse caminho que a “Igreja universal percorre há décadas”.

O Papa Leão XIV quis recordar a exortação apostólica do Papa Francisco, ‘Evangelii gaudium’, assinalando a “atualização magistral” que o seu antecessor fez de “pontos fundamentais”, sublinhando serem “princípios do Evangelho que anima e inspiram a vida e o agir da família de Deus”.

Foto: Vatican Media

“O regresso ao primado de Cristo no anúncio; a conversão missionária de toda a comunidade cristã; o crescimento na colegialidade e na sinodalidade; a atenção ao sensus fidei, especialmente nas suas formas mais próprias e inclusivas, como a piedade popular; o cuidado amoroso com os marginalizados e os excluídos; o diálogo corajoso e confiante com o mundo contemporâneo nas suas várias componentes e realidades “, especificou.

Leão XIV quis recordar o testemunho do Papa Francisco e tornar presente “o seu estilo de total dedicação ao serviço e sobriedade essencial na vida, de abandono em Deus no tempo da missão e de serena confiança no momento da partida para a Casa do Pai”.

“Nos últimos dias, pudemos ver a beleza e sentir a força desta imensa comunidade, que com tanto carinho e devoção saudou e chorou o seu Pastor, acompanhando-o com a fé e a oração no momento do seu encontro definitivo com o Senhor”, recordou.

“Acolhamos esta preciosa herança e retomemos o caminho, animados pela mesma esperança que vem da fé”, acrescentou ainda.

Leão XIV afirmou que os cardeais são os “colaboradores mais próximos” e indicou que ser Papa é ser “um humilde servo de Deus e dos irmãos, nada mais do que isso”.

“Cabe a cada um de nós tornarmo-nos ouvintes dóceis da sua voz e ministros fiéis dos seus desígnios de salvação, recordando que Deus gosta de se comunicar, mais do que no estrondo do trovão e do terremoto, no «murmúrio de uma brisa suave» ou, como alguns traduzem, numa “leve voz de silêncio”. Este é o encontro importante, a que não se pode faltar, e para o qual devemos educar e acompanhar todo o santo Povo de Deus que nos está confiado”, deu conta.

No encontro, decorrido nesta manhã, onde Leão XIV quis ainda ouvir “os conselhos, sugestões, propostas” a partir do que os cardeais tinham já apontado nas congregações gerais, o novo Papa saudou ainda o decano do Colégio Cardinalício, o Cardeal Giovanni Battista Re: “Merece um aplauso! Pelo menos um, se não mais –, cuja sabedoria, fruto de uma longa vida e de muitos anos de fiel serviço à Sé Apostólica, nos ajudou muito neste tempo”.

Foto: Vatican Media

“Agradeço ao Camerlengo da Santa Igreja Romana, cardeal Kevin Joseph Farrell – acredito que ele está aqui presente –, pelo precioso e árduo papel que desempenhou durante o tempo da Sede Vacante e da Convocação do Conclave. Dirijo também o meu pensamento aos irmãos Cardeais que, por motivos de saúde, não puderam estar presentes e, convosco, uno-me a eles em comunhão de afeto e oração”, referiu.

As palavras finais do encontro quiseram ainda lembrar o Papa Paulo VI, e as palavras que o seu antecessor afirmou em 1963.

“«Passe pelo mundo inteiro, como uma grande chama de fé e de amor que inflame todos os homens de boa vontade, ilumine os caminhos da colaboração recíproca e atraia sobre a humanidade, agora e sempre, a abundância das divinas complacências, a própria força de Deus, sem a ajuda de quem nada é válido, nada é santo». Sejam esses também os nossos sentimentos, a serem traduzidos em oração e empenho, com a ajuda do Senhor”, finalizou.

Luís Santos – Agência ECCLESIA

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10 Mai 2025

Leão XIV assume preocupação com «ateísmo prático» e «perda do sentido da vida» para muitas pessoas

O Papa proferiu nesta sexta-feira, 9 de maio, a sua primeira homilia, na Missa que assinalou o final do Conclave, apelando ao anúncio da fé numa sociedade marcada pelo “ateísmo prático” e a “perda do sentido da vida” para muitas pessoas.

“Ainda hoje, não faltam contextos nos quais Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre os não crentes, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático”, referiu o novo pontífice, na Capela Sistina, junto dos cardeais que participaram na eleição que decorreu entre quarta e quinta-feira.

“Este é o mundo que nos está confiado e no qual, como tantas vezes nos ensinou o Papa Francisco, somos chamados a testemunhar a alegria da fé em Jesus Salvador”, acrescentou, numa intervenção lida em italiano.

Leão XIV assumiu que, na sociedade contemporânea, muitos olham para a fé cristã como “uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes” e se preferem “outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”.

“São ambientes onde não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho, e onde quem acredita se vê ridicularizado, contrastado, desprezado, ou, quando muito, suportado e digno de pena”, observou.

No entanto, precisamente por isso, são lugares onde a missão se torna urgente, porque a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação – sob as mais dramáticas formas – da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das quais a nossa sociedade sofre”.

 

O sucessor de Francisco e os seus eleitores celebraram a chamada missa ‘pro Ecclesia’ (pela Igreja), durante a qual foi ouvida a primeira homilia do pontificado.

Para o novo Papa, a Igreja Católica deve procurar chegar às pessoas “não tanto pela magnificência das suas estruturas ou pela grandiosidade dos seus edifícios”, mas pela “santidade dos seus membros”.

A intervenção, mais virada para o interior da Igreja, destacou a importância de conhecer a realidade, “com os seus limites e potencialidades, as suas interrogações e convicções”, convidando a refletir sobre a imagem que as pessoas têm de Jesus.

“Há um mundo que considera Jesus uma pessoa totalmente desprovida de importância, quando muito uma personagem curiosa, capaz de suscitar admiração com a sua maneira invulgar de falar e agir. Por isso, quando a sua presença se tornar incómoda, devido aos pedidos de honestidade e às exigências morais que invoca, este ‘mundo’ não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo”, referiu.

Leão XIV recordou ainda a atitude das “pessoas comuns” que acompanharam Cristo, como “um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas, como outros grandes profetas da história de Israel”.

“Seguem-no, pelo menos enquanto podem fazê-lo sem demasiados riscos ou inconvenientes. Porém, porque essas pessoas o consideram apenas um homem, no momento do perigo, durante a Paixão, também elas o abandonam e vão embora, desiludidas”, assinalou.

A celebração, vista como o primeiro momento em que o Papa apresenta linhas de força para o pontificado, contou em 2005 com uma homilia em latim de Bento XVI, mas Francisco optou por falar em italiano, em 2013.

A intervenção apresentou Jesus Cristo como “modelo de humanidade santa”, que todos pode imitar, juntamente com “a promessa de um destino eterno”.

Partindo da uma passagem do Evangelho segundo São Mateus, em que o apóstolo Pedro diz a Jesus “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”, Leão XIV falou do “dom de Deus e o caminho a percorrer para se deixar transformar, dimensões inseparáveis da salvação, confiadas à Igreja para que as anuncie a bem da humanidade”.

Deus, de modo particular, chamando-me através do vosso voto a suceder ao primeiro dos Apóstolos, confia-me este tesouro para que, com a sua ajuda, eu seja seu fiel administrador em benefício de todo o Corpo místico da Igreja; para que ela seja cada vez mais cidade colocada sobre o monte, arca de salvação que navega sobre as ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo”.

 

Na Eucaristia, transmitida pelo do Vaticano, o novo Papa falou do “tesouro” que a Igreja “aprofunda e transmite há dois mil anos”, através da sucessão dos apóstolos.

Leão XIV convidou todos a repetir ‘Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo’: “Digo isto, em primeiro lugar, para mim mesmo, como Sucessor de Pedro, ao iniciar a minha missão de Bispo da Igreja que está em Roma, chamada a presidir na caridade à Igreja universal, segundo a célebre expressão de Santo Inácio de Antioquia”.

A intervenção identificou um “compromisso irrenunciável” para quem, na Igreja, exerce um ministério de autoridade: “Desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado, gastar-se até ao limite para que a ninguém falte a oportunidade de o conhecer e amar”.

“Que Deus me dê esta graça, hoje e sempre, com a ajuda da terna intercessão de Maria, Mãe da Igreja”, concluiu.

No início da homilia, Leão XIV quis deixar uma palavra em inglês, citando o Salmo que foi proclamado na Missa, em que se agradeceu a Deus pelas suas “maravilhas”.

“Não apenas comigo, mas com todos nós, meus irmãos cardeais. ao celebramos esta manhã, convido-vos a reconhecer as maravilhas que o Senhor fez, as bênçãos que o Senhor continua a derramar sobre todos nós”, disse.

Chamaram-me ao ministério de Pedro, para carregar essa cruz e ser abençoado por essa missão e sei que posso confiar em cada um e em todos para caminhar comigo, ao prosseguirmos como Igreja, como comunidade de amigos de Jesus, de crentes, a anunciar a Boa Nova, a anunciar o Evangelho para continuar a evangelização”.

Como acontece desde 2022, por decisão de Francisco, o espaço contou com a colocação excecional de um altar alguns metros diante da representação do Juízo Final, de Michelangelo, em vez do antigo altar colocado sob a mesma – que levava o presidente a celebrar ‘versus Deum’ e não de frente para a assembleia.

A Missa, em latim, com momentos em inglês, italiano e inglês, teve duas mulheres a proclamar as leituras antes do Evangelho.

No final da celebração, Leão XIV passou entre os cardeias e foi aplaudido pelos participantes, até à saída da Capela Sistina.

O cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, foi eleito esta quinta-feira como Papa, após dois dias de Conclave, assumindo o nome de Leão XIV.

O primeiro pontífice norte-americano, de 69 anos de idade, foi missionário e bispo no Peru, tendo ainda sido superior geral da Ordem de Santo Agostinho.

Octávio Carmo – Agência ECCLESIA

09 Mai 2025

Habemus Papam: Papa Leão XIV – Entrevista ao P. Ricardo Cardoso a partir de Roma (com entrevista em vídeo)

O cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, foi neste dia 8 de maio de 2025 eleito como Papa, assumindo o nome de Leão XIV.

Em entrevista a Ser Igreja, o P. Ricardo Cardoso, do presbitério eborense, que atualmente está em Roma a estudar, dá o seu testemunho de como foi viver em plena Praça de São Pedro o momento histórico do anúncio do novo Papa Leão XIV.

09 Mai 2025

Papa Leão XIV: “O norte americano do lado de lá da fronteira, do lado daqueles que são marcados pela exclusão” – Arcebispo de Évora (com áudio)

“Habemus Papa” – A grande alegria, a grande notícia foi conhecida ao final da tarde desta quinta-feira, 8 de maio, e o cardeal Robert Francis Prevost foi eleito Papa, assumindo o nome de Leão XIV. Ainda ao final da tarde deste dia, 8 de maio, o Arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, em entrevista à Esperança Multimédia saúda com “grande alegria”, o novo Sumo Pontífice.

“A grande alegria foi anunciada. E queremos saudá-lo desde já com a fidelidade da Igreja Eborense, sentindo no sucessor de Pedro, o Bispo de Roma, aquelo que preside à comunhão da caridade entre as igrejas.  Eis-nos com Leão XIV em comunhão nesta estrada que percorremos juntos a Igreja de Évora e a Igreja de Roma”, saudou o Prelado eborense

“Leão XIV é um homem muito interessante no sentido daquilo que pode ser a sua contribuição para o momento histórico. O Papa preside à Igreja, podemos dizer que faz a união do cristianismo, cada vez mais aparece como uma referência que une todos os discípulos de Jesus, preside da igreja católica evidentemente e às igrejas orientais unidas ao Papa, e ao mesmo tempo é uma marca muito decisiva no mundo para a esperança da humanidade”, sublinha.

“O Papa Leão XIV é um homem dos Estados Unidos da América.  Sabemos como a América do Norte vive uma turbulência muito grande que afeta o próprio mundo. Mas é um homem com autoridade para, como norte-americano, falar da humanização e do sentido profundo que a pessoa humana reveste na dimensão antropológica e do modo muito vincado no cristianismo. É um missionário,  é alguém que é agente da promoção humana, alguém que vai em missão para o Peru, para um povo bem marcado pela pobreza e pelo sofrimento, pela discriminação, a precisar de libertação.  Há aqui, portanto, uma referência muito interessante que deve fazer pensar os Estados Unidos”, refere o Prelado eborense

O Prelado de Eborense aponta que o novo Papa é um norte-americano do lado de lá da fronteira, do lado daqueles que são marcados pela exclusão.  “Ele esteve com aqueles que hoje são migrantes. Quantos peruano vão para os Estados Unidos e quantos não serão rejeitados. Ele está do lado dos rejeitados, dos que sobram, na periferia da América do Norte. Ele é um americano com uma experiência do lado de lá da fronteira, ou seja, daqueles que são marcados pela exclusão, pelo resto, pela sobra, aquilo que se põe de lado no prato, que não serve”.

Sobre o nome, o prelado de eborense recorda o Papa Leão III para dizer que Leão XIV o Papa de uma nova época que está a nascer marcada pelo digital e pela inteligência artificial. “Leão XIII é o Papa da encíclica “Rerum Novarum”, da revolução industrial, da máquina a vapor. Leão XIV vive outra grande revolução tecnológica, digital, deste mundo novo que vem com a inteligência artificial. É o Leão XIV de uma nova época que está para nascer. “Rerum Novarum quer dizer acerca das coisas novas e a inteligência artificial é a grande novidade. Penso que este Papa, ao escolher o nome Leão, talvez tenha tido em conta o tempo novo que o espera”, conclui o Arcebispo de Évora.

Texto Pedro Miguel Conceição

09 Mai 2025

Leão XIV (texto do P. Manuel Vieira)

Robert Francis Prevost é, a partir de hoje, Leão XIV, Papa.
Americano, com forte experiência missionária, sobretudo na América Latina (Peru), com experiência na cúria romana e próximo de Francisco.

Escrevo sem informação além daquela que é pública.

Fixo-me naquilo que creio relevante. Necessariamente enviesado, por limitada informação e por cosmovisão pessoal.

1. O nome: a escolha do nome papal constitui um programa desejado… E, inevitavelmente, esta escolha leva-nos a Leão XIII (1878-1903). O Papa da “Rerum Novarum”, encíclica fundadora do que hoje conhecemos como Doutrina Social da Igreja. O Papa que reconciliou a Igreja com o mundo moderno após a Revolução Industrial, com doutrina sólida sobre o trabalho humano e a dignidade dos trabalhadores. Que fez esforços notáveis na conciliação entre fé e ciência. Esta escolha faz-nos esperar uma atitude de forte compromisso social.

2. Americano, “ma non troppo”: nascido americano, tem um percurso que faz dele um homem universal, longe de ficar refém de uma cosmovisão “imperialista”, quer do ponto de vista eclesial, como político, cultural ou económico. Peruano, por adopção; missionário por vocação.

3. Agostiniano: Agostinho de Hipona continua a dar cartas 1500 anos depois. “A medida do amor é amar sem medida”. “As confissões” voltarão a ler-se, ainda mais… E uma visão da Igreja e do mundo feita de muita substância e menos adjectivação.

4. Vindo das ciências exactas (matemática) talvez permita esperar uma atitude pastoral e um pensamento teológico assentes no rigor e na eficácia, aspecto importante num mundo de “percepções difusas”.

5. Homem de confiança de Francisco: Foi um dos mais próximos do anterior Papa, que lhe deu responsabilidades na Evangelização e na escolha dos Bispos, temas fulcrais na “gestão” eclesial.

Não sei quem vai ser Leão XIV, nem como vai ser o seu papado.

Mas tenho esperança. E alegro-me com a sua escolha.
P. Manuel Vieira, Diretor do Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Évora
08 Mai 2025

Habemus Papam: Papa Leão XIV – Entrevista ao P. Fernando Lopes a partir de Roma (com entrevista em vídeo)

O cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, foi neste dia 8 de maio de 2025 eleito como Papa, assumindo o nome de Leão XIV.

Em entrevista a Ser Igreja, o P. Fernando Lopes, do presbitério eborense, que atualmente está em Roma a estudar, dá o seu testemunho de como foi viver em plena Praça de São Pedro o momento histórico do anúncio do novo Papa Leão XIV.