Solenidade do Sagrado Coração de Jesus celebrada na Sé de Évora. “Somos ovelhas pastoras. Havemos de ter esta dimensão de serviço ao irmão”, apelou o Arcebispo de Évora (com fotos e vídeo)

Na tarde desta sexta-feira, dia 27 de junho, o Arcebispo de Évora presidiu à Eucaristia da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que congregou muitos sacerdotes do presbitério eborense e muitos membros do Apostolado da Oração – Rede Mundial de Oração pelo Papa. Nesta celebração assinalou-se também o Dia Mundial de Oração pelos Sacerdotes.

À homilia, o Prelado eborense começou por dizer: “Na alegria de celebrarmos o Amor de Deus, de nos encontrarmos nesta Igreja Mãe, a Catedral, que representa o coração de Deus, a Casa Comum, a  Domus Ecclesiae, onde nos sentimos todos filhos e acolhidos, queremos repetir com o Salmista, “o Senhor é meu pastor, nada me faltará”.

“O profeta Ezequiel compara o Senhor Yahvé ao pastor. Uma imagem muito forte no contexto do sofrimento que o povo de Israel experimentava. Um pastor com uma relação pessoal, um pastor que conhece pelo nome, pelo olhar,  as suas ovelhas.  Eis o que diz o Senhor Deus, ‘eu próprio irei em busca das minhas ovelhas e hei de encontrá-las’. Esta expressão tão bela de vigia, aquele que guarda”, sublinhou.

“Para nós, pastores da Igreja, revemo-nos nesta imagem forte veterotestamentária. Assim eu cuidarei das minhas ovelhas, para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram num dia de nevoeiro e de trevas. Foi a falta da luz, foi a falta de clarividência e de discernimento. A falta de pastores que iluminassem, com profecia, que gerou este dia de nevoeiro e de trevas e que levou o rebanho do Senhor, o seu povo, a perder-se”, explicou.

“O Senhor insiste através de Ezequiel – eu apascentarei o meu rebanho, eu o farei repousar,  hei de procurar ovelha que anda perdida, tratarei a que estiver ferida, velarei pela gorda e vigorosa, hei de apascentar com justiça, todas as ovelhas, a perdida e a ferida e a que estiver vigorosa e gorda”, sublinhou, adiantando que “o Senhor Jesus quantas vezes não terá meditado este texto do profeta Ezequiel, ele que se apresenta como o bom pastor? Quantas vezes não terá nutrido a sua vocação messiânica ao contemplar esta missão? E encontramo-lo nas suas parábolas a apresentar a relação de todos os discípulos com o seu próximo naquela passagem tão forte do bom samaritano”.

“Este bom samaritano é o pastor que se encontra com a ovelha ferida e perdida. Este bom samaritano dá o melhor lugar à ovelha ferida na sua montada. Ele vai a pé à frente puxando a arreata e leva-o à estalagem. A estalagem recebe este homem ferido de uma outra raça, de outra cultura. É um samaritano que leva o judeu maltratado. E o Senhor vai dizer,  através do samaritano, trata dele que eu pagarei tudo quando regressar”, recorda, acrescentando que “os Padres da Igreja veem aqui uma aplicação, um ensinamento de que esta dimensão do bom pastor se a larga a todos os batizados”.

“Somos ovelhas pastoras. Havemos de ter esta dimensão de serviço ao irmão, já não apenas por funções específicas na organização do povo de Deus, mas todos, todos são pastores,  profetas,  sacerdotes, reis, os batizados”, afiançou.

“É interessante que este estalajadeiro é a Igreja, no dizer de vários padres da igreja.  E recorda o Papa Francisco, a Igreja há de ser esta casa em forma de hospital de campanha, que recebe todos os feridos sem uma barragem aduaneira, mas que acolhe de portas abertas e recebe, cuidando. Só depois aprofundará o conhecimento, a relação, mas o primeiro momento é o momento de portas abertas”, recordou.

“Jesus, no Evangelho, tem um detalhe, um detalhe fino de sensibilidade.  Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras 99 no deserto, para ir à procura da que anda perdida até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes, alegrei-vos comigo porque encontrei a minha ovelha perdida”, referiu, questionando a numerosa assembleia: “Esta descrição tão fina, neste detalhe de Jesus,  nas suas parábolas da misericórdia do evangelista São Lucas,  vem ao encontro da nossa vida? Será que a nossa contabilidade, a nossa matemática,  os nossos critérios são mesmo assim? Será que é tão óbvio e tão evidente que é assim que somos Igreja?  Quem de vós que possua 100 ovelhas e tenha perdido uma delas não deixa as outras 99 no deserto para ir procurar a que estava perdida até a encontrar?”

“Esta pedagogia catequética de Jesus aos primeiros discípulos coloca de facto a questão da delicadeza por cada ovelha única e repetível.  E, havemos de dar a vida por cada uma delas. Talvez a nossa contabilidade,  talvez os nossos critérios e estatísticas,  talvez a nossa eficácia e pragmatismo, esquecesse a ovelha perdida e nos contentássemos com as 99, mais ainda no deserto”, refere.

“Está aqui uma página da conversão do nosso coração àquilo que é cada pessoa, o cuidado que Deus tem por cada pessoa. Assim, haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende do que por 99 justos que não precisam de arrependimento. Está aqui um critério de uma pastoral massificada de cristandade por uma pastoral personalizada onde lidámos com pessoas concretas,  com rosto e nome,  por quem o Senhor se interessa, por quem o Senhor deu a vida”, sublinhou.

“Vai ser, como sabemos,  através das revelações que o Senhor concede a São João de Eudes, a Santa Margarida Maria Alacoque, com o seu diretor espiritual, o bem-aventurado Colombière, que se aproxima de novo este mistério do coração de Cristo. Este coração de Cristo aberto, a todos aqueles que andam sobrecarregados e fatigados. Uma presença onde nos encontramos com os estigmas nas suas mãos, nos seus pés e no seu coração, o seu coração aberto para a Humanidade. Ali nós percebemos quanto valemos para Deus. Ali nós percebemos até onde chega o amor de Deus”, explicou.

“A devoção ao Sagrado Coração de Jesus propagou-se pelo mundo e neste dia,  por acção de São João Paulo II,  quis-se ligar o amor de Deus ao sacerdócio num vínculo estreito de Quinta-feira Santa.  E no ano Santo de 2000,  São João Paulo II proclama este dia como o Dia Mundial de Oração pelos Sacerdotes, para que eles tenham esta capacidade, como o Dom e Carisma, de mostrar à Humanidade o Amor de Deus. Esse Amor de que a Humanidade tem fome e sede”, apontou.

“O  Papa Francisco renovando em forma de desafio este movimento secular,  dá-lhe uma nova roupagem em desafios também digitais através da rede mundial de oração do Papa. Este é  o movimento para todos. Rezarmos com o Papa na unidade da Igreja. Rezarmos com o Papa pelos grandes temas da Humanidade. Pelas grandes preocupações do pastoreio da Igreja, o sucessor de Pedro, o Bispo de Roma, o que preside à caridade universal das Igrejas. Por isso, está aqui um coração aberto que a Igreja oferece. Igreja como o sorriso de Deus à Humanidade”, afiançou.

Recordando o seu encontro na passada quarta-feira, 25 de junho, com o Papa Leão XIV, o Arcebispo de Évora recordou a catequese do Santo Padre que se dirigiu “aos que estão cansados de viver”.

“De um modo impressionante o Papa colocou como fonte de água-viva o coração de Cristo para aqueles que estão cansados de viver. O seu cansaço advém-lhe de um vazio profundo de amor, de uma solidão existencial, a mesma escuridão que fez com que se perdessem as ovelhas de Israel por falta de profetas e por falta de pastores, de reis fiéis à Aliança através da apostasia da Aliança, e foi buscar aquela passagem da mulher que sofria de frequentes hemorragias e que dizia se eu lhe tocar na borda do manto. E tocou. E recebeu do Senhor tudo aquilo que precisava. A libertação da sua doença, o sentido para a sua vida, a alegria e o louvor à ação de graças”, recordou.

“Por isso, São Paulo dizia aos romanos, o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado quando ainda éramos fracos. É este dom que precisamos de receber do Senhor.  Não reduzirmos a nossa relação com Ele apenas à ritualidade, mas a uma intimidade profunda onde a nossa oração passa pelo coração humano de cada um de nós e pelo coração divino de Deus. Precisamos de tocar no amor de Deus para que nenhum de nós viva cansado de viver. Mas tenhamos a exuberante alegria de sermos evangelizadores,  missionários de esperança,  peregrinos de esperança, proclamando com Jesus: Alegrai-vos comigo por que  encontrei a minha ovelha perdida”, apontou.

“Então, celebrar hoje o coração de Deus é celebrar o nosso encontro nesse coração.  Saborearmos esse amor que é dedicado a cada um de nós, de modo irrepetível e único. E amarmos com o amor com que somos amados. Sermos missionários de esperança”, concluiu.

Após a homilia, o seminarista Leandro Pacheco foi publicamente admitido entre os candidatos às ordens sacras.

No final da celebração, o Arcebispo de Évora, de joelhos diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus, consagrou a Arquidiocese de Évora ao Santíssimo Coração de Jesus.

Texto: Pedro Miguel Conceição

 

 

Veja aqui as fotos de @grazzycn

 

 

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