À conversa com o Arcebispo de Évora – I: “O Ano Pastoral 2023/24 “foi extraordinariamente desafiante e belo” (texto)
No final de Ano Pastoral 2023-2024, a Esperança Multimédia apresenta uma nova série dos Podcast d’Esperança, intitulada “À conversa com o Arcebispo de Évora”, composta por 5 episódios em formato vídeo, que poderá conhecer todos os sábados, entre 10 de agosto e 7 de setembro, nos canais digitais diocesanos. No primeiro episódio, que estreou no sábado, dia 10 de agosto, no canal de Youtube da Arquidiocese, e que poderá assistir no site www.diocesedeevora.pt, o Prelado eborense faz um balanço do Ano Pastoral 2023/2024.
Num Ano Pastoral que foi vivido em pleno, já sem quaisquer constrangimentos, como foram os anteriores, marcados pela pandemia, muitas atividades foram desenvolvidas ao longo deste Ano pelos Departamentos da Pastoral, com a orientação da Coordenação Pastoral, assim como pelas Paróquias, pelos Institutos religiosos e pelos Movimentos.
Nos canais de comunicação da Arquidiocese demos conta das atividades desenvolvidas pela Pastoral Juvenil, com os seus encontros e iniciativas depois das Jornadas Mundiais da Juventude, pela Catequese com encontros e formações, pela Pastoral da Saúde, pela Pastoral Litúrgica, pela Pastoral Social, pela Pastoral das Pessoas com Deficiência, pela Pastoral dos Ciganos, assim como pela Pastoral Familiar que desenvolveu vários encontros e formações, com destaque para a Peregrinação Diocesana das Famílias a Vila Viçosa.
A Visita Pastoral Missionária e as ordenações diaconal de Carlos Corrales e presbiteral de Tomás Dias, foram outros dos pontos altos deste Ano Pastoral 2023/2024.
Como não nos determos na importância de momentos como as Jornadas de Atualização do Clero, decorridas este ano sobre o tema ‘Presbíteros, «à imagem e semelhança» do Bom Pastor’, nas iniciativas sobre a Segurança e Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis no contexto da Igreja, nas celebrações Jubilares das Bodas de Prata e de Ouro sacerdotais, ou na presença de D. Manuel Clemente na condução do retiro para o Clero da Arquidiocese. A oferta da Renúncia Quaresmal, num valor superior a 20 mil euros, às Igrejas do Médio Oriente, através das obras de caridade do Santo Padre, o forte empenho das Ordens e Congregações Religiosas masculinas e femininas e das novas Comunidades de Vida, bem como a vitalidade dos vários Movimentos e Comunidades Eclesiais são outros destaques deste Ano Pastoral. Sobressai ainda como sublinhado de esperança o eco das Jornadas Mundiais da Juventude, por todos nós sentido, nomeadamente a riqueza dos DnD – Dias na Diocese que nos continuaram a desafiar e a estimular ao longo deste Ano. Forte impulso nos vem da proclamação do Ano Santo por ocasião do Jubileu a viver já nos próximos Anos Pastorais 24/25 e 25/26, sem esquecer a celebração dos 1700 anos do Concílio de Niceia com a valorização do símbolo dos Apóstolos no Credo Niceno-Constantinopolitano.
“Na minha experiência ministerial do episcopado, este Ano Pastoral foi extraordinariamente desafiante e belo”, começa por afirmar D. Francisco Senra Coelho, sublinhando que “chegámos a um patamar em que já sentimos uma recuperação face à pandemia. Já no ano anterior, 2022/23, começou a restabelecer e agora, neste Ano Pastoral, já nos podemos dizer, em certa medida, restabelecidos”.
Porém, o Arcebispo de Évora sublinhou ter encontrado nas comunidades cristãs consequências dos tempos pandémicos, nomeadamente, na participação do Povo de Deus nas celebrações eucarísticas dominicais, nas reuniões de formação, nos convívios comunitários, em vários Movimentos Eclesiais e na Catequese da Infância e da Adolescência. “Percebe-se maior dificuldade em sair de casa com disponibilidade para participar em dinâmicas de encontro com os outros”, referiu o Prelado eborense, acrescentando que “ainda há caminho para andar na recuperação, na alegria e na participação”. “Em alguns casos”, referiu D. Francisco, “será necessário maior apoio psicológico e espiritual, esperando-se das entidades públicas maior atenção à saúde mental, pois não podemos esquecer o que continuam a significar lutos difíceis ou mesmo por fazer no momento devido, arrastando-se em traumas sempre limitativos”.
“O desafio de tentar acolher e acompanhar os cristãos, as pessoas de boa vontade, os jovens, afinal, “todos, todos, todos”, nos dinamismos de esperança que o pós-Jornada Mundial da Juventude nos pede, não permitindo que a labareda intensa e a festa imensa caíssem numa dimensão de redução ou de algum desalento ou apatia”, explica, destacando “o apelo dos jovens que nos quiseram propor uma Igreja diferente, uma Igreja que tenha uma dimensão de transparência, de família e de coerência, foi uma das prioridades que se impôs a todos os agentes da pastoral da Igreja Arquidiocesana, e que permanece sempre em aberto numa avaliação que nos interpela a prosseguir este caminho ainda com mais entusiasmo, criatividade e audácia”.
“Pedimos uma Igreja mãe, acolhedora, que seja família, transparente e coerente, disseram os jovens no recente Sínodo a eles dedicado. Talvez porque a nova geração sente necessidade deste espaço de acolhimento, quando em muitos casos lhe resta apenas o grupo de amigos da sua idade, porque talvez não tenham em casa esse ambiente”, refere, sublinhando “a solidão do jovem porque, muitas vezes devido às exigências laborais, a família não consegue ter tempo para escutar, para dialogar e para sentir o coração e o palpitar da vida dos seus jovens, os serviços diocesanos, as paróquias e todas as comunidades cristãs são interpeladas por este sinal dos tempos a tornarem-se casa para todos os jovens, proporcionando-lhes espaços e experiências que os façam perceber a beleza do amor libertador de Jesus Cristo e o encanto de com Ele construirmos comunidade”.
“Para além de muitas escolas que definharam até ao seu encerramento, encontramos outras que evoluíram, em vários casos, para mega agrupamentos, onde desde o mais pequenino, que entra no jardim de infância até ao secundário, se passa a ser um número no meio da multidão e não tanto uma pessoa”. Perante esta realidade interroga-se o Prelado: “Como concretizar na prática o tão desejado acompanhamento pessoal no contexto escolar? Como passar da informação à formação para os Valores, para a liberdade, para a tolerância, respeito e paz? Como não estar só no meio de tanta gente, quando a escola luta com tantas dificuldades na resposta docente e é tão ‘magra’ no acompanhamento psicológico de cada aluno por ventura dele necessitado?” Neste contexto, D. Francisco salientou a importância dos Professores de Educação Moral e Religiosa Católica, valorizando e agradecendo o contributo do seu trabalho que permite em muitos casos o acompanhamento personalizado de alunos que os interpelam e com as suas atitudes lhes solicitam escuta e apoio.
“Reconhecemos com realismo e com sentido de responsabilidade e de compromisso, que os jovens sentem também que a Igreja não tem tempo para eles. Que em muitos casos, não foram prioridade da sua ação pastoral e que com frequência não têm um lugar definido e protagonizado na vida comunitária. O desafio que nos fica é não só a nossa abertura a estes jovens mas a ‘Igreja em saída’ que os procura e abraça nas suas realidades”, disse.
“O Ano Pastoral 2023/24 colocou nas nossas mãos o desafio de prolongarmos o fogo das Jornadas Mundiais da Juventude, não só na pastoral juvenil, mas no compromisso que este grande encontro imprime em toda a Arquidiocese e em cada Paróquia”, sublinha, recordando os apelos do Papa, “uma Igreja em saída que parte ao encontro de todos, sobretudo daqueles que estão fora da Igreja”.
“Esta Igreja em Saída cruza-se com a dimensão do testemunho da comunhão profunda da Igreja Sinodal, revelando a toda a sociedade o seu rosto novo de comunidade que à maneira de Maria se apresenta como mãe de coração aberto, a todos acolhe, de todos cuida, integra e confia. Neste momento tão difícil da Humanidade e do país, quando se experimentam dolorosas divisões, violências, radicalizações extremistas e guerras, a Igreja sinodal ao testemunhar o valor da caminhada lado a lado, proclama o ideal icónico para a Igreja de sempre: ‘Vede como eles se amam'”, refere o Arcebispo de Évora.
“Foi este desafio que eu senti neste ano de retoma mais consistente e de solidificação pós-pandémica, sobretudo ao nível da Catequese das nossas crianças e dos nossos adolescentes, dos Movimentos desde o Escutismo, Convívios fraternos, Cursos de Cristandade, Casais de Santa Maria, Equipas de Nossa Senhora, Jovens das Equipas, Encontro Matrimonial, Legião de Maria, Apostolado da Oração, Fé e Luz, MTA, Caminho Neocatecumental, Pastoral Universitária, CVX, Movimentos Salesianos e outros, que retomámos de facto esta Igreja em Saída e simultaneamente interpelada a mostrar a esperança fundada na amizade que nasce de Cristo”, aponta.