Viana do Alentejo: O Santuário de Nossa Senhora de Aires recupera todo o seu esplendor
O Santuário de Nossa Senhora de Aires, em Viana do Alentejo, foi alvo nos últimos anos de um ambicioso projeto de conservação, requalificação e musealização, com o objetivo de preservar e valorizar este importante monumento nacional, classificado em 2012.
O projeto nasceu da necessidade de intervenções urgentes identificadas por Raquel Seixas, historiadora da arte, durante o seu estudo de mestrado em História da Arte Moderna, que destacou a relevância do santuário como um exemplar significativo da arquitetura barroca no Alentejo e local de devoção popular.
A iniciativa foi liderada por membros da Fábrica Paroquial de Viana do Alentejo e contou com o apoio imprescindível da Arquidiocese de Évora, representada pelo Prelado eborense. Durante uma fase crucial do projeto, D. Francisco Senra Coelho criou a Comissão dos Altos Representantes do Senhor Arcebispo de Évora, presidida pelo Dr. Francisco Lopes Figueira, que desempenhou um papel determinante para a conclusão bem-sucedida do projeto. Este esforço foi realizado em colaboração com uma equipa multidisciplinar composta por historiadores de arte, arquitetos, engenheiros, arquitetos paisagistas e conservadores-restauradores, assegurando uma abordagem abrangente e integrada às intervenções necessárias.
As intervenções realizadas incluíram a conservação e restauro do património móvel e imóvel, a modernização das infraestruturas de acolhimento, e a requalificação paisagística da Alameda dos Romeiros. Foram também restaurados elementos artísticos como o baldaquino, os ex-votos, esculturas e pinturas murais, e desenvolvidas iniciativas de valorização turística e cultural, como a criação de conteúdos digitais, roteiros e equipamentos interativos.
O projeto de musealização foi organizado em dois núcleos expositivos: a Casa dos Romeiros, que aborda a história do culto à Nossa Senhora de Aires desde o período romano, e o primeiro piso da igreja, focado na temática dos ex-votos, refletindo a devoção popular e a ligação da comunidade ao santuário.
Núcleos expositivos inaugurados
No passado dia 12, foram inaugurados estes dois núcleos expositivos, que representam o culminar desta grande obra realizada. Este esforço conjunto entre entidades locais e financiamento europeu garante a continuidade do Santuário de Nossa Senhora de Aires como centro de espiritualidade e cultura, preservando o seu legado para as gerações vindouras e sublinhando a importância do património cultural como elemento fundamental da identidade regional.
A inauguração contou com a presença da Secretária de Estado da Cultura, Maria de Lurdes Craveiro, entre outras entidades locais e regionais.
Francisco Lopes Figueira, da comissão de altos representantes do Arcebispo de Évora no santuário, fez uma síntese de todo o trabalho realizado, destacando os números da obra.
O financiamento, aprovado no âmbito do programa Portugal 2020, cobriu 85% dos custos, sendo fundamental para a realização das diversas ações previstas. Os investimentos totais foram divididos em várias rúbricas importantes: Estudos e Projetos: 134.070,31€; Construção, Arranjos Exteriores e Equipamentos: 1.842.829,73€; Outras Despesas – Musealização: 258.352,49€; Total do Projeto: 2.235.252,53€.
O projeto contou ainda com um financiamento comunitário de 1.609.808,38€, além do apoio significativo da Câmara Municipal de Viana do Alentejo, que contribuiu com
311.500,00€.
“Mais do que preservar fisicamente o santuário, o projeto pretende também reforçar a sua atratividade como destino turístico e cultural, assegurando a sua sustentabilidade futura”, sublinhou Francisco Lopes Figueira.
Após o descerrar da placa que marca a inauguração, D. Francisco Senra Coelho dirigiu-se ao númeroso grupo entidades e individualidades que marcaram presença, sublinhando que “este projeto representa uma verdadeira luta de gigantes, um esforço contínuo para superar obstáculos e garantir a preservação deste espaço, que é um símbolo das raízes culturais e religiosas do nosso povo».
O Arcebispo de Évora elogiou também o papel desempenhado pelo Padre Manuel Manso e a Comissão Fabriqueira, que enfrentaram um caminho árduo para levar a cabo a revitalização do Santuário. D. Francisco Senra Coelho frisou as dificuldades superadas ao longo do processo, incluindo a necessidade de harmonizar as equipas técnicas envolvidas no projeto, e o impacto positivo que a união e dedicação de todos tiveram na conclusão bem-sucedida das obras.
O Prelado eborense sublinhou ainda a colaboração entre a paróquia, as autoridades locais e outras entidades, destacando a importância de parcerias para a sustentabilidade futura do Santuário.
O Santuário de Nossa Senhora d’Aires “reafirma-se como um ponto de encontro cultural e espiritual no Alentejo”
Com a inauguração dos novos núcleos expositivos, o Santuário de Nossa Senhora d’Aires “reafirma-se como um ponto de encontro cultural e espiritual no Alentejo, destacando-se como um exemplo de preservação patrimonial e de colaboração entre diferentes entidades em prol do bem comum”, afiançou D. Francisco Senra Coelho durante a cerimónia.
Por seu turno, já em declarações aos jornalistas, a Secretária de Estado da Cultura, Maria de Lurdes Craveiro, sublinhou a confiança nas entidades envolvidas no projeto, afirmando que “tenho a certeza absoluta de que haverá frutos muito importantes para o território a partir deste núcleo tão significativo. Este monumento mobiliza multidões que vêm cada vez de mais longe, reconhecendo aqui um espaço de tranquilidade e de esperança no futuro”.
A Secretária de Estado apresentou este projeto como um exemplo positivo de gestão de fundos públicos, afirmando que “é um bom exemplo do excelente uso dos dinheiros públicos. O Ministério da Cultura sente que vale a pena investir e confiar na capacidade de articulação entre as várias instâncias para desenvolver projetos que são cruciais não apenas para as pessoas, mas também para os territórios”.
A Secretária de Estado frisou ainda a importância de continuar a dar “condições de sobrevivência e de saúde” aos edifícios históricos, destacando que, apesar das limitações, o Ministério procura sempre apoiar os espaços que não estão sob a sua tutela direta.
“Um exemplo de revitalização patrimonial”
O Santuário de Nossa Senhora d’Aires torna-se, assim, “um exemplo de revitalização patrimonial, demonstrando o impacto positivo de intervenções bem-sucedidas para a preservação cultural e o desenvolvimento das comunidades locais”, afiançou Maria de Lurdes Craveiro.
Por fim, aos jornalistas, o Presidente da Câmara de Viana do Alentejo, Luís Miguel Duarte, destacou a importância do projeto para a dignidade do Santuário e do concelho, mas alertou para o desafio de garantir a sua sustentabilidade futura.
O Presidente da Câmara enfatizou que o desafio agora passa por manter o Santuário em bom estado e aberto ao público: “O problema não é comprar o carro, o problema é depois manter”, afirmou, comparando a manutenção do Santuário à gestão de um investimento de grande valor.
O Presidente destacou a necessidade de encontrar soluções que garantam a sustentabilidade do Santuário, envolvendo não apenas a paróquia e o município, mas também o setor do turismo e da cultura: “Temos que recorrer também ao turismo e à cultura sem dúvida nenhuma”.
Luís Miguel Duarte frisou que “é essencial manter as portas do Santuário abertas para que todos possam usufruir do espaço”, sublinhando “o papel crucial das colaborações futuras para o sucesso desta nova fase.”
Monumento Nacional desde 2012, o Santuário de Nossa Senhora d’Aires, de traça barroca com elementos rococó, situa-se a dois quilómetros da vila e é espaço de devoção e de romaria, conservando uma coleção de ex-votos.
\Os seus dois pontos altos de religiosidade acontecem em abril, por ocasião da Romaria a Cavalo entre a Moita e Viana do Alentejo, e em setembro, por altura da centenária Feira d’Aires.
Segundo a tradição, o culto a Nossa Senhora d’Aires começou em 1748, quando grassou em Évora uma epidemia. Os comerciantes da cidade prometeram uma festa em honra de Nossa Senhora d’Aires se a epidemia fosse debelada e, como tal aconteceu, a promessa foi cumprida e a festa decorreu durante três dias.
Reportagem de Pedro Miguel Conceição