O Cónego Silvestre Ourives Marques tem tido um papel destacado no campo da ação social, no contexto da Arquidiocese de Évora, ao longo de mais de quatro décadas. A Caritas Diocesana, de que foi fundador e rosto durante muitos anos promoveu-lhe, no passado Domingo, dia 6 de julho, uma justa homenagem, reunindo para isso muitos dos seus colaboradores e amigos.
Na sessão solene que se realizou no auditório dos Salesianos, presidida pelo Arcebispo de Évora, as intervenções enquadraram o papel da Igreja no campo social e os alicerces que a sustentam. A sessão solene, conduzida pelo P. Manuel Vieira, assistente espiritual da Cáritas Arquidiocesana, contou com a intervenção do Dr. Pedro Vaz Patto, do Dr. Eugénio da Fonseca e do Arcebispo de Évora.
O Dr. Pedro Vaz Patto, Juiz desembargador e presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, abordou o interessante tema sobre justiça e caridade. Na sua intervenção salientou que por justiça entende-se dar a cada um o que lhe é devido por pleno direito. Todavia, em muitas circunstâncias aquilo que é devido a cada um por pleno direito não é suficiente para as suas necessidades. Por isso, mais do que dar a cada um o que lhe é devido por direito, é necessário dar a cada um aquilo que é necessário para uma vida qualificada daquilo que são os direitos humanos e as próprias necessidades de cada pessoa.
A Caridade é a vivência suprema desta atitude, tendo citado o livro da Caridade do Apóstolo Paulo na sua Carta aos Coríntios. É neste contexto que se radica a Cáritas: a sua natureza, a sua missão e a sua realidade eclesial e social.
A importância da Cáritas exige a este organismo vivo uma constante autocrítica para que na competência e na qualidade dos seus serviços prestados seja um sinal de serviço à pessoa humana, na sua plena promoção e integração.
Após a sua brilhante conferência, o Dr. Pedro Vaz Patto apresentou alguns testemunhos de homem cristão em exercício profissional na magistratura: a relação entre a justiça e a equidade; a relação concreta entre magistrado e réu; a possível relação entre justiça e perdão.
Perante o nível e interesse da comunicação, várias vozes pediram a comunicação em formato escrito destes relevantes conteúdos.
De seguida, o P. Manuel Vieira deu a palavra ao Dr. Eugénio da Fonseca, durante muitos anos presidente da Caritas Portuguesa, que se debruçou sobre a Cáritas enquanto realidade viva no contexto eclesial das dioceses, das paróquias e da sua relação face à CEP – Conferência Episcopal Portuguesa. Partindo de uma longa experiência, o comunicador ilustrou com propostas concretas aquilo que há de ser um serviço orgânico no contexto da Igreja. Importa que a riqueza dos diversos serviços e carismas se saibam integrar na unidade da missão eclesial através da sua pastoral social, da qual a Cáritas pode e deve exercer a missão de comunhão e unidade entre toda a riqueza dos serviços sócio-caritativos.
Depois, o Arcebispo de Évora em nome da Arquidiocese salientou sete aspetos da vida e obra do cónego Silvestre Marques. Após ter pastoreado a margem sul do Sorraia, de 1971 a 1976, exerceu a sua missão no Seminário de S. José, em Vila Viçosa, de 1976 a 1979, altura em que foi enviado por D. David de Sousa para a Pontifícia Universidade Lateranense onde se veio a licenciar em Direito Canónico “In utroque jure”.
O Prelado Eborense destacou:
1 – A sua importante ação formativa em direito canónico e doutrina social da Igreja por dezenas de anos no ISTE, na formação dos presbíteros para as dioceses do Algarve, Beja e Évora, bem como do laicado diocesano;
2 – Colaboração com o saudoso Arcebispo D. Maurílio de Gouveia, na continuação da aplicação do Concílio Vaticano II na Arquidiocese de Évora, na continuação do trabalho já realizado pelo saudoso D. David de Sousa, e integrado no trabalho efetuado pelos diversos Departamentos da Pastoral arquidiocesana, na promoção da sinodalidade eclesial através da criação dos conselhos pastorais paroquiais e dos conselhos económicos paroquiais. Na qualidade de jurista foi o cónego Silvestre quem redigiu e preparou a aplicação da legislação destes conselhos na Arquidiocese;
3 – Estando a Cáritas em contexto embrionário, o cónego Silvestre Marques, acompanhado pela ação dinamizadora da D. Cristina Queiroga, constituíram um ousado e competente grupo de cristãos voluntários que fizeram renascer este embrião e elevá-lo por sucessivas etapas e com diferentes presidências, salientando-se a figura da saudosa D. Minervina Baptista e do Diácono Eng. Luís Oliveira Rodrigues até ao atual Diácono Doutor Bernardino Melgão. Salienta-se a ação multifacetada da Cáritas, incluindo dois núcleos de recuperação de pessoas toxicodependentes, na Quinta de Santa Maria em Évora (homens) e de Bombel, em Vendas Novas (mulheres), assim como com diversos apartamentos para a reinserção social destas pessoas na vida pública.
4 – Vasto trabalho empreendido para a promoção da Pastoral Social na Arquidiocese, como elemento incontornável da missão da Igreja: anunciar o Evangelho, celebrar a Fé e testemunhar a Caridade. Salientou neste trabalho as Jornadas Pastorais produzidas na Arquidiocese com grande adesão das comunidades, a criação de Grupos da Pastoral Social em várias Paróquias e a descentralização da Cáritas Arquidiocesana também por várias Paróquias no vasto território da Arquidiocese.
5 – A nível intelectual, o cónego Silvestre Marques apresenta uma notável obra, salientando-se o seu doutoramento em Direito Canónico na Pontifícia Universidade Urbaniana de Roma e a sua tese em Filosofia na Universidade Católica Portuguesa, da qual surgiu a sua obra “Não me matarás”. Neste livro, o autor abordou a recuperação como um processo antropológico da recuperação da pessoa no seu todo, recusando como solução definitiva para a recuperação a troca de aditivos como por exemplo a metadona. Trata-se de uma obra de referência para uma reflexão séria sobre a temática da recuperação de pessoas adictas no contexto da realidade da sua dignidade humana e à luz da Fé de Filhos de Deus. Não haverá recuperação de ninguém sem o ambiente natural do amor.
Nos últimos anos, o cónego Silvestre Marques exerceu a sua docência para além do ISTE – Instituto Superior de Teologia de Évora, na UCP – Universidade Católica Portuguesa, e no Instituto Sofia em Roma.
6 – O Movimento Obra de Maria (Focolares), a que pertence, encarregou o cónego Silvestre Marques da importante missão de Postulador da Causa de Beatificação e Canonização de Chiara Lubich, fundadora deste Movimento com implantação universal na Igreja. Missão a que o homenageado se tem dedicado com todo o ardor e competência.
7 – O Arcebispo de Évora conclui recordando que 7 é o número bíblico da plenitude e que neste momento da sua vida é convidado pelo Amor de Deus a ser o Seu Sorriso de Misericórdia para a Humanidade. O Prelado lembrou que a nossa Arquidiocese é rica em calvários que por todos nós devem ser espiritualmente visitados pela solidariedade da nossa oração. Para além de D. Manuel Madureira Dias, os cónegos José Henriques Freitas Guimarães e António Gata Simões, temos agora no nosso querido Cónego Silvestre Marques, uma Eucaristia viva de oblação e entrega, a habitar no lugar mais próprio para o efeito, o Convento do Calvário.
O Arcebispo mostrou-se convicto de um número suficiente de apóstolos para revitalizar a Arquidiocese na evangelização, exigindo-se, porém, maior vivência de comunhão e unidade.
Concluiu, assim, pedindo ao cónego Silvestre Marques a oferta da sua cruz pelo dom da unidade na Arquidiocese de Évora.
Encerrou a sessão o Cónego Silvestre Marques, que salientou três aspetos da sua vida:
1 – Tudo o que é o deve à sua família, à formação oferecida pela Arquidiocese e ao apoio de todos os que o ajudaram a construir-se como homem e como padre.
2 – Referiu a importância da sua vocação no contexto da sua juventude, no apoio dado pelo Seminário de Évora e à beleza encontrada no carisma de Chiara Lubich, que lhe abriu estradas de ideal e renovação para toda a sua vida. A chave da leitura da sua vida é o “ideal focolarino”.
3 – O cónego Silvestre Marques garantiu, apesar de todas as limitações provocadas pela sua doença degenerativa, que é um homem feliz. Que ama a sua cruz, que se identifica com a vontade de Deus e oferece a sua vida pela Igreja, muito concretamente pela Igreja de Évora que o viu nascer. Nada tem contra a Igreja, nada tem contra ninguém, o seu coração está repleto de paz, de luz e gratidão.
A todos agradeceu e por todos prometeu continuar a oferecer a sua vida.
Após esta sessão solene, foi celebrada a Eucaristia, na igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, onde, há 54 anos, o Cónego Silvestre celebrou a sua Missa Nova. Foi com emoção que referiu ter brincado muitas vezes como criança no Pátio da então chamada Escola dos Padres.
A Eucaristia, presidida pelo Arcebispo de Évora e concelebrada por cerca de duas dezenas de presbíteros e com a presença de vários diáconos, foi vivida como momento alto da Jornada Jubilar da Cáritas Arquidiocesana no Ano Santo de 2025. Assim se valorizou o momento penitencial, a recitação do Credo e a Oração pelas intenções do Papa Leão XIV. Proferiu a homilia o Cónego Silvestre Marques com a igreja repleta de fiéis.
Depois da Eucaristia, decorreu um jantar de confraternização numa das salas do Évora Hotel. Durante o jantar viveram-se momentos musicais, procedendo-se à leitura de mensagens de amigos ausentes, em nome de todos foi entregue ao homenageado um belo ramo de flores, ao qual o cónego Silvestre Marques reagiu com palavras de compromisso e sentido da fé, esperança e caridade, que através do mandamento novo do Amor nos poderão ajudar a construir um mundo melhor de paz e de concórdia entre todos os povos, nações, comunidades e famílias. A todos agradeceu e desejou o dom da Paz.
Nascida da boa vontade de um pequeno grupo de voluntários, a Caritas é hoje uma instituição que, na cidade de Évora, mantém a funcionar 8 Respostas Sociais, dando trabalho a mais de 100 funcionários. Dela fazem parte o Serviço de Apoio Social, Serviço de Apoio Domiciliário, ERPI (Lar), Refeitório Social, Creche, Apartamento de Reinserção, Equipa de Apoio Social Directo e NAV (Núcleo de Apoio a Vítimas de Violência). A isto, acrescem os Polos Caritas espalhados por toda a Diocese, em que os técnicos de Serviço Social da Caritas cooperam com as equipas paroquiais locais no apoio prestado à população mais carenciada.
