Sínodo: Portugueses que integram Comissão da Comunicação sublinham percurso de escuta que precedeu encontro mundial
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 03 out 2023 (Ecclesia) – O padre Paulo Terroso, sacerdote da Arquidiocese de Braga que integra a Comissão de Comunicação do Sínodo 2021-2024, afirmou que a próxima assembleia sinodal vai “concretizar” o percurso de escuta promovido pela Igreja, nos últimos anos.
“Temos razões para estarmos felizes. Se o Sínodo não tivesse provocado esta escuta, de tantas vezes, de forma real, estando a acontecer, não teria provocado tensões. Elas são uma confirmação de que as pessoas foram escutadas”, disse à Agência ECCLESIA.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos tem como tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda sessão, em 2024.
Para o entrevistado, é compreensível que se fale em “dois blocos”, relativamente ao processo sinodal, mas sublinha que “a Igreja é muito mais plural do que isso”.
“O objetivo não é ver quem ganha, quem tem os melhores argumentos, as melhores ideias, é perceber o que é possível fazer em conjunto”, sustenta.
“Há na Igreja quem se sente confortável, do modo que está, e há outros que procuram a sua casa, o seu espaço dentro da própria Igreja”, acrescenta.
O sacerdote português fala da importância de “fazer caminho” e considera que a Igreja é hoje “mais sinodal” do que em 2021.
“A Jornada Mundial da Juventude foi um grande laboratório de sinodalidade”, observa, recordando o encontro de Lisboa, no qual se mostrou a importância da escuta recíproca.
O padre Paulo Terroso alerta para a tentação de “cristalizar” uma forma de Igreja, defendendo que “quem está dentro da tradição percebe que ela é dinâmica, é viva, que o Evangelho significa, ele próprio, mudança.
“Vi o imenso amor que as pessoas têm à Igreja”, sublinha, a respeito do trabalho desenvolvido nos últimos anos.
Leopoldina Reis Simões, profissional de assessoria de imprensa e membro da Comissão de Comunicação do Sínodo 2021-2024, recorda as dificuldades sentidas, desde o impacto da pandemia a questões técnicas, além do medo que levou a que “muitas pessoas não tivessem querido participar”.
A responsável portuguesa elogia o impacto do “Sínodo digital”, que teve “uma adesão muito grande, permitindo chegar a uma audiência inusitada”.
Ao longo destes anos, precisa a entrevistada, promoveram-se encontros no mundo inteiro e “houve grupos inesperados que participaram”.
Leopoldina Reis Simões admite que, nos trabalhos com início marcado para quarta-feira, vai haver “tensões do ponto de vista teológico, eclesiológico”, mas mostra-se confiante na capacidade de chegar a consensos, por parte dos participantes.
“Vemos que o ‘aggiornamento’ do Vaticano II pode, agora, acontecer de maneira efetiva. E depois vemos o Sínodo a acontecer, com 54 mulheres a votar”, exemplifica.
A entrevista conclui com a convicção de que se está a viver um “momento histórico”, para a Igreja.
O programa de três semanas da assembleia sinodal começa com a Missa presidida pelo Papa, a 4 de outubro, e inclui uma peregrinação (12 de outubro), uma oração pelos migrantes e refugiados (19 de outubro) e a recitação do Rosário nos jardins do Vaticano (25 de outubro).
Os trabalhos vão decorrer em volta de cinco pontos, sobre as quatro partes do instrumento de trabalho e o debate conclusivo.
As reflexões são desenvolvidas em 35 grupos de trabalho linguístico (círculos menores), constituídos por 11 pessoas e um “facilitador”, incluindo um grupo de língua portuguesa.
Aos 365 votantes somam-se, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.
Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.
O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.