Portugal: Encontro de Pastoral Social encerrou-se com convite à valorização do envelhecimento
O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana (CEPSMH) apelou, no dia 18 de outubro, em Fátima à valorização do envelhecimento, sublinhando que o avanço na idade também revela aspetos que “dão beleza à vida”.
“Ganhei com a idade mais capacidade contemplativa, mais valorização pela própria, mais gosto de andar devagar com o carro, de contemplar a paisagem, mais paciência”, referiu D. José Traquina, em Fátima, encerrando o 35.º Encontro da Pastoral Social.
O bispo de Santarém recordou que há muitas pessoas idosas como “voluntários” na Pastoral Social, disponíveis para “cuidar dos outros”.
“Quando se pensa nos outros, é muito mais fácil”, acrescentou.
O responsável quis destacar ainda o “esforço enorme” das instituições sociais no período da pandemia, para a proteção da população idosa.
A Igreja Católica em Portugal promoveu, desde segunda-feira, o seu encontro anual de Pastoral Social, que este ano abordou os desafios do envelhecimento.
Rita Valadas, presidente da Cáritas Portuguesa, foi responsável pela conferência de encerramento, destacando a capilaridade das instituições católicas, que lhes permite “chegar a qualquer momento a uma situação de risco ou vulnerabilidade”.
“Se a Igreja dá esse passo, é por causa do património que tem à sua guarda, que é a esperança”, sustentou.
A responsável apelou a um trabalho em rede, que vai da resposta de emergência à transformação das realidades e à construção do “futuro das pessoas”.
“Às vezes há mais assistencialismo fora da Igreja do que na Igreja”, apontou.
Rita Valadas começou por destacar os “sonhos” relativos à velhice, particularmente no que diz respeito à decisão de ficar em casa ou numa instituição.
“Quando penso no futuro de envelhecimento, vejo pouquíssimas pessoas que me dizem que querem ir para um lar” ou ERPI (estrutura residencial para pessoas idosas), apontou.
“A complexidade do envelhecimento vai muito para além das respostas sociais que temos disponíveis”, prosseguiu a responsável.
A presidente da Cáritas Portuguesa considerou que é necessário ser “criativos” para encontrar soluções e “respostas construídas”, como alternativas à institucionalização
O encontro foi organizado pelo Secretariado Nacional da Pastoral Social, em articulação com o setor da Pastoral da Saúde.
O programa incluiu várias conferências de investigadores académicos e testemunhos de movimentos e organizações católicas que acompanham a realidade da terceira idade, abordando áreas como a saúde mental ou os cuidados paliativos.
Mara de Sousa Freitas, diretora do Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa (UCP, falou aos participantes sobre cuidados paliativos, destacando que “uma resposta ética no ocaso da vida implica, também, a compreensão e o compromisso” com princípios como “o respeito pelas pessoas”, a necessidade, a proporcionalidade, a solidariedade, a solicitude e a cooperação.
“Uma sociedade que cuida é uma sociedade que conhece o valor da vida. Uma sociedade que conhece o valor da vida transforma o mundo”, declarou.
“Estamos cada vez mais sozinhos, mais isolados e mais doentes”, acrescentou a especialista.
A diretora do Instituto de Bioética da UCP, os cuidados paliativos foram consagrados como um direito, em Portugal, pela lei 52/2012, e são “uma resposta ética no ocaso da vida”.
“Precisamos de cuidados paliativos para responder eticamente ao sofrimento e promover a dignidade humana, sempre. Precisamos que os cuidados paliativos sejam um legado de todos e para todos, para o futuro”, apontou Mara de Sousa Freitas.
Manuel Luís Capelas, docente da UCP e diretor do Observatório Português dos Cuidados Paliativos, deixou votos, na sua intervenção, de que seja possível alargar estes cuidados a pessoas que “sofrem de forma intolerável”, cada vez mais, como resposta à nova realidade do envelhecimento.
“O sofrimento intenso relacionado com a saúde vai aumentar em todo o mundo”, alertou.
O especialista considerou que a prestação de cuidados paliativos é “responsabilidade de todos”, devendo envolver o setor social e a sociedade, em geral.
“É um dever ético” lutar por este cuidados, sustentou.
Manuel Luís Capelas refletiu sobre a evolução dos conceitos, nas últimas décadas, que levam a “superar uma visão centrada nos momentos finais da vida” e alargar estes cuidados a “doenças e situações clínicas crónicas progressivas”.
“Os cuidados paliativos chegam no tempo certo, ao doente certo, qualquer que seja o lugar”, sustentou.
Octávio Carmo – Agência Ecclesia