Entrevista aos diáconos Rui Faia e Jorge Palacios que serão ordenados presbíteros no dia 11 de junho (com Podcast e Texto)
No próximo domingo, dia 11 de junho, às 17h00, na Sé de Évora, D. Francisco José Senra Coelho vai presidir às ordenações presbiterais dos diáconos Rui Faia (Seminário Maior de Évora) e Jorge Palacios (Seminário Redemptoris Mater de Évora).
Oiça aqui os Podcast com as entrevistas aos diáconos Rui Faia e Jorge Palacios:
Leia aqui as entrevistas:
Ser Igreja – Desde a ordenação diaconal, em novembro passado, como tem sido esta caminhada rumo à ordenação presbiteral?
Diácono Rui – Desde a minha ordenação diaconal, em 27 de novembro, o caminho rumo à ordenação presbiteral tem sido intenso, na vivência dos diversos instantes, mesmo se vou trilhando num ritmo veloz, porque o tempo passa tão depressa, que não damos conta! Todavia, têm sido semanas extraordinárias… Enquanto Diácono tenho vivido tempos de alegria, saboreados com gosto e empenho, nas comunidades de Samora Correia, Porto Alto e dos Arados… Tempos para sentir, ouvir e acompanhar as “gentes” destas terras ribatejanas; tempos para estar com as pessoas, celebrando as alegrias, mas também escutando as dores e as saudades daqueles que viram partir os seus para o “Céu”… Tempos para estar atento, acudindo à solidão dos que estão sós ou mais afastados, mas também feliz e agradecido por ver o crescimento da Fé de “pequenos”, na Catequese juvenil, e “graúdos”, na (re)descoberta da Fé, enquanto se preparam para os Sacramentos (como o Batismo, a Eucaristia e/ou o Crisma)… E, ainda tempos para os que, aqui ou ali, vêm ter connosco à procura de respostas para as dúvidas sobre Jesus Cristo e a Igreja, e acerca de questões existenciais, o horizonte e o sentido da vida… Sem dúvida que têm sido tempos para amar e estar; tempos em que igualmente já partilho as exigências e os desafios da “vida paroquial”, dentro da equipa pastoral onde estou inserido… Uma experiência frutificante de convívio e comunhão, mesmo nos casos em que há opiniões diferentes, mas que fortalece as relações, isto se procurarmos viver com respeito, verdade e vontade de construir(mos) a harmonia e vivermos a unidade em Igreja…
Diácono Jorge – Tem sido uma bênção contínua, vejo que apesar de ter sido breve a passagem por este primeiro grau da ordem, o Senhor permitiu-me ver as graças próprias deste primeiro grau. Além disso, pude experimentar como, de facto, Deus capacita para a missão para qual te envia, nunca estás só, e isto é muito bom.
Poder preparar, vivenciar e dar os sacramentos às pessoas é, de facto, um dom que não tem valor.
Ser Igreja – Nas vésperas da Ordenação Presbiteral, que sentimentos o invadem?
Diácono Rui – Confesso que ainda não tive tempo para identificar bem todas as emoções que vou sentindo… Faltam alguns dias, é certo, mas ando tão absorvido em tanta coisa que o sossego tem sido pouco, isto apesar de procurar ter momentos de oração com mais tempo para o silêncio e a meditação da Palavra de Deus. Ainda assim, posso dizer que, à data, estou tranquilo e apaziguado com a escolha que fiz (lá atrás), quando decidi dar “espaço a Deus e deixá-Lo entrar na minha vida”… Naturalmente, a tranquilidade é abalada pela ansiedade que caracteriza a antecâmara de uma Ordenação Presbiteral… Mas, por ter vivido com profundidade e encanto a minha Ordenação Diaconal – onde assumi o meu “sim” a Deus e à Igreja, com o coração aberto e disponível, e onde fiz as promessas de obediência e fidelidade com consciência, liberdade e verdade -, experimento uma imensa alegria e gratidão! Estou reconhecido pelo “dom” que Deus me concedeu, na certeza de que “foi Ele que me escolheu”; aliás, como diz S. João: “não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi e destinei” (cf. Jo 15,16)… A nós somente cabe-nos responder-Lhe, cientes da nossa pequenez e fragilidade, pois nada somos sem a Sua graça! Por isso, cada vez mais observo e confirmo que se não fosse o Seu amor e auxílio, a oração e a presença da minha família e dos amigos, ou se não me tivesse cruzado com o Seminário e o Instituto Superior de Teologia em Évora, com os meus colegas, formadores e professores – muitos dos quais Presbíteros -, eu hoje não estaria aqui ou chegaria onde cheguei… Assim, mais do que sentir grandes emoções, o meu “estado de alma” faz-me ser grato e dar graças a Deus pelo bem que realiza na minha vida e na vida de todos os que se cruzaram comigo e me ajudaram (e ajudam) a ser melhor pessoa e “bom cristão”. Que eu possa continuar a sê-lo, enquanto Presbítero, “servindo” a Igreja na Arquidiocese de Évora.
Diácono Jorge – Neste momento, sinto que sou movido por uma série de sentimentos. O primeiro de todos, um profundo agradecimento ao Senhor e à Igreja por tão grande Dom. Vejo que nada fiz para merecer isto, tudo na minha vida tem sido uma dádiva divina, pelo que, da minha parte, a esta iniciativa do Senhor só posso responder: Seja feita a vossa vontade – “Fiat Voluntas Tua”. Neste sentido, peço ao Senhor que este meu Sim, seja expressão da minha entrega total à missão para a qual Ele me chama e me envia: “Eu vos escolhi do mundo, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça”.
O segundo, é uma enorme alegria. Diz o salmo 139: “Senhor, tu me perscrutas e conheces, Tu sabes quando me sento e quando me levanto, sondeias os meus pensamentos desde longe, são-Te familiares os meus caminhos. Ainda a palavra me não chegou a língua e já, Tu, Senhor a conheces toda. Envolves-me por trás e pela frente, e colocas sobre mim a tua mão” por isso, “para onde poderia eu ir, longe do teu espírito? Para onde poderia fugir, longe da tua presença?”
Esta palavra mostra-me, de facto, que apesar da minha pobreza e das minhas debilidades, é de Deus que vem toda a iniciativa, é o Senhor que quer fazer de mim participante de um mistério sublime; mistério este que, como diria o Santo Cura D`Ars, se tornará evidente quando, de joelhos diante do bispo e tendo consciência de que nada sou, me levantarei sacerdote para a vida eterna.
Ser Igreja – Depois desta ordenação, o que espera da vida como sacerdote na Arquidiocese de Évora?
Diácono Rui – Bem, esta pergunta é sempre difícil, sobretudo se criarmos expetativas… Ora, eu “ainda sou um aprendiz” e tenho muito que aprender com cada um dos Sacerdotes desta Arquidiocese… Eu tenho de ter “a cabeça no lugar, os pés bem assentes na Terra e o coração enraizado em Deus”, dado que Ele está sempre a surpreender-nos, ou não fosse Ele, O “Deus das surpresas”! Sei que o ministério sacerdotal é uma graça divina bela e profunda, mas que implica uma vida de constante doação, exigindo um equilíbrio de vida de oração e contemplação, compromisso e boa ação… O esforço humano é alimentado pela força espiritual que vem da Celebração e vivência da Eucaristia (diária), sem a qual tudo se desmorona, pois é aqui, na Celebração, comunhão e partilha do Corpo e Sangue de Cristo, com os irmãos, que vamos buscar o ânimo da fé, a alegria da esperança e o amor oblativo da caridade! Por isso, espera-me uma vida de “entrega”, com a exigência da verdade, integridade e fidelidade a Deus – e à Sua Palavra – e na missão que a Igreja me confiar; porque, se assim não for, a vida sacerdotal pode esvaziar-se numa “autorreferencialidade”, tornando-se um mero exercício funcional… E, se a época atual exige um olhar mais atento e amplo, implicando uma leitura mais prudente e cuidada dos “sinais dos tempos”, então não podemos ignorar que o mundo avança em “culturas de morte e desespero”, em vez de abrir “sementeiras de vida e esperança”! Por isso, a Igreja e todos nós, particularmente os Sacerdotes, somos chamados a fazer-nos um com todos, procurando ser um entre os demais – com os outros e para os outros -, dispondo-nos a acompanhar, amar e cuidar dos mais frágeis e daqueles que sofrem, mesmo se também nós tenhamos os nossos corações feridos. Aliás, como diz o Diretor Espiritual do Seminário Maior de Évora: “nós seremos sempre Pastores feridos”…, feridos com as lesões, fragilidades e falhas – nossas e dos outros -, mas, principalmente, por devermos procurar “suturar as feridas”, curar dores e tristezas, além de ter(mos) de carregar (e levar) a Cruz, tal como fez Simão – o “Cireneu” – no Calvário de Cristo!
Diácono Jorge – A minha vida como Sacerdote espero que seja toda ela uma contínua configuração com Nosso Senhor Jesus Cristo. Não quero que no meu ministério as pessoas vejam o P. Jorge, mas que possam ver Jesus Cristo – “É necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3, 30). Na Arquidiocese de Évora, espero servir com humildade, consciente de que tudo quanto sou devo-o, de facto, à Igreja e, particularmente, ao Carisma do qual recebi este Espírito Missionário, ao Caminho Neocatecumenal.
Ser Igreja – Em triénio vocacional, o que representa a sua ordenação sacerdotal na Arquidiocese de Évora?
Diácono Rui – A minha ordenação sacerdotal (dentro deste triénio vocacional) pode criar algumas interrogações numa altura em que a vida da Igreja tem sido abalada por muito… No entanto, a Igreja está firmada na graça de Deus, mesmo se, nesta era, a opção da definitividade dos compromissos e da consagração a Deus é árdua, pois vai-se vivendo sem aderência, com falta de discernimento e de maturidade. Tal como diz Zygmunt Bauman: “habitamos uma Sociedade (modernidade) líquida”, onde se torna tão difícil agarrar o percurso a seguir!?… E, nesta era tecnológica, fragmentada nas “redes sociais” e com a aclamação da “inteligência artificial”, o tempo para o silêncio e a escuta dos nossos corações e a descoberta de Deus torna-se muito difícil… Somos propensos a desviar-nos do “caminho certo”, mas há que reconhecer que o(s) caminho(s) errado(s) não pode(m) fazer-nos duvidar do Amor de Deus. Este “amor nunca desaparece”, na certeza de que o grande Mandamento de Deus é “amar-nos uns aos outros” (cf. Jo 15,17). Mas, os anseios, os medos e a perda de horizontes são uma tragédia, algo que também eu provei – numa fase passada da minha vida -, apesar de ver agora que tal foi necessário para me ajudar a perceber a minha vocação e a avançar com alegria e fé no “projeto de amor” que Deus designou! Por isso, se a minha ordenação sacerdotal (quase aos 50 anos) despertar junto de jovens ou menos jovens, buscadores de sentido existencial (vocação), e mostrar-lhes que “nunca é tarde” para amar e retornar à Casa do Pai – como na Parábola do filho pródigo -, então, o meu “sim” já se tornou fértil! Ora, eu e o Diácono Jorge (que é ordenado comigo), escolhemos uma frase que marcasse este momento de Ordenação (sacerdotal): “entregai-vos ao serviço do Senhor. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração” (cf. Rm 12,11-12). É sobre estes alicerces que sentimos a graça de Deus e (re)descobrimos a beleza do Seu amor e, pelos quais, podemos saborear a vida na Igreja, trazendo-nos a coragem para recomeçar e dizer “sim à vida”; mas, para isso, devemos ousar fazer silêncio e refletir acerca do que se passa à nossa volta ou o que nos desviou do caminho da Salvação! Logo, e “se nós não tivermos medo de acreditar, se não tivermos medo de viver e se não tivermos medo de amar”, encontraremos a vocação, o “sentido” e o caminho que Deus delineou para cada um de nós. Afinal, é nesta Igreja – tantas vezes ferida e curadora de feridas -, e na certeza do Amor de Deus e do Seu chamamento para anunciar a Fé, na esperança e na caridade, que nós avançamos no testemunho da alegria e na confiança de sermos resgatados; porque, como diz S. João da Cruz: “na tarde da vida seremos julgados sobre o amor”… Por isso, devemos amar, viver e procurar “agir bem”!
Diácono Jorge – Penso que a luz deste triénio vocacional na minha ordenação pode ser um sinal para aqueles que certamente já se puseram a questão da vocação, mas que ainda não tiveram a coragem suficiente de se lançar e arriscar no Senhor.
Quando Deus suscitou no meu coração este desejo profundo de estar com Ele, foi-me mostrando aos poucos o bom que é estar com Ele. E neste caminho fui descobrindo que na medida em que respondemos e correspondemos aos apelos que Deus nos faz, então a nossa alma repousa e encontra-se numa paz duradoira. Neste sentido, é como que começar a experimentar aqui e agora a felicidade eterna.
Assim sendo, lanço este desafio a todos quanto se encontram de alma inquieta, arrisquem, lancem-se, com Deus não têm nada a perder, mas tudo a ganhar. Há pressa no ar, a messe é grande e os operários são poucos.