Neste domingo, dia 9 de Junho às 18h00 na Sé de Évora, o FIOE – 1º Festival Internacional de Órgão de Évora apresentou o organista italiano Lorenzo Ghielmi, num concerto que inaugurou o órgão barroco da Catedral, recentemente restaurado.
Desde a segunda metade do século XVI que a escrita musical na Catedral de Évora é assente nas bases do “stile antico”, evoluindo para o novo estilo de infl uência italiana, composto pelos mestres da Sé a partir de meados do século XVIII. Contudo ambos os estilos coexistiam e eram prática comum na Sé durante todo o século XVIII.
Nesta perspetiva histórica Lorenzo Ghielmi, um dos mais importantes órgnistas da atualidade, apresenta um repertório baseado no estilo antigo instrumental, anterior ao órgão, e o novo estilo pós-barroco contemporâneo do órgão.
Apresenta-nos Frescobaldi, Zipoli Gonelli, Storacce e Sammartini, representantes da realidade “stile antico – nuovo stile” para órgão, juntamente com autores antigos da tradição ibérica, tais como Correa de Arauxo e Juan Cabanilles, numa simbiose entre passado e presente do repertório organístico barroco.
O órgão barroco, instalado em 1758, foi construído por Pascoal Caetano Oldovino tendo o entalhamento da caixa sido entregue a Luís João Botelho, resultando num dos mais importantes e esplendorosos trabalhados do pós-barroco português. Este órgão é um dos mais caros produzidos por Oldovino, tendo custado a quantia de um conto de reis.
Trata-se de um instrumento de notável qualidade do material sonoro, executado com o mais alto requinte e os mais luxuosos materiais, do que resulta um instrumento com sonoridade de grande contraste, entre o aveludado e o imponente.
A capela-mor da Sé de Évora, de gosto marcadamente italiano, é da autoria do arquiteto João Frederico Ludovice (Johann Friedrich Ludwig), aprovada por D. João V e completada em fevereiro de 1718.
Em julho de 1734 iniciaram-se os trabalhos da tribuna do órgão e a da tribuna real que se situa em frente. A cerimónia de sagração da capela ocorreu a 22 de maio de 1746, dia da dedicação da Catedral, tendo-se iniciado bem cedo, pelas sete horas da manhã.
PROGRAMA:
Girolamo Frescobaldi (1583 – 1643)
Toccata con il contrabbasso over pedale
Canzon dopo l’Epistola
Due Gagliarde
Francisco Correa de Arauxo (1576-1654)
Tres Glosas sobre el Canto Llano de la Immaculada Concepcion
Tiento XV de quarto tono
Bernardo Storace (1600-1664)
Battaglia
Balletto
Juan Cabanilles (1644-1712)
Tiento de falsas
Corrente italiana
Domenico Zipoli (1688-1726)
Sonata in re minore: Preludio, Allegro, Adagio, Allegro
Giovanni Battista Sammartini (1701-1775)
Sonata
Anónimo lombardo (XVIII secolo)
Sonata
Giuseppe Gonelli (1666-1740 ca.)
Sonata em fá maior
NOTA BIOGRÁFICA
Lorenzo Ghielmi tem dedicado anos ao estudo e à interpretação da música renascentista e barroca. É um dos grandes intérpretes das obras para órgão e cravo de Bach.
Realiza concertos por toda a Europa, Rússia, Japão, Coreia e Américas. Tem numerosas gravações radiofónicas e uma vasta discografi a (Passacaille, Winter & Winter, Harmonia mundi, Teldec).Publicou um livro sobre Nicolaus Bruhns, artigos e estudos sobre a construção de órgãos dos séculos XVI e XVII, sobre a interpretação das obras de Bach e de outros compositores do período barroco.
Leciona órgão, cravo e música de câmara na Civica Scuola di Musica di Milano. De 2006 a 2015, foi Professor de Órgão na Schola Cantorum em Basileia.
É o organista titular do órgão Ahrend da basílica de San Simpliciano em Milão, onde interpretou a obra completa para órgão de J.S. Bach.
Integra o júri de numerosos concursos internacionais de órgão e é responsável por palestras e masterclasses em importantes instituições musicais.
Supervisionou também a construção de vários órgãos novos, incluindo o grande instrumento da Catedral de Tóquio.
Em 1985, foi um dos fundadores do Giardino Armonico. Em 2005, iniciou o ensemble La Divina Armonia, com o qual tem realizado concertos em muitos festivais europeus e japoneses.
Neste dia 7 de Junho, na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e, como tem acontecido nos últimos anos, o Arcebispo de Évora, D. Francisco José Senra Coelho, presidiu à Eucaristia na Catedral eborense, pelas 17 horas, que foi concelebrada pelos sacerdotes presentes e participada por muitos fiéis e devotos do Coração de Jesus. Nesta celebração participaram representantes de vários Centros Paroquiais do Apostolado da Oração espalhados pela Arquidiocese, que trouxeram os seus estandartes e insígnias.
Em Dia Mundial de Oração pela Santificação dos Sacerdotes, na celebração, que foi transmitida em direto pelos canais digitais da Arquidiocese, foram também evocados de forma especial os sacerdotes que este ano celebram os seus jubileus sacerdotais.
“Damos graças pelo nosso presbitério, por cada sacerdote, conjuntamente com os diáconos, os seminaristas e o povo santo de Deus louvamos o Senhor neste dia em que o Papa nos convida a rezar de um modo especial pelos Sacerdotes”, começou por dizer o Prelado eborense na introdução da Eucaristia, acrescentando que “com o Apostolado de Oração – Rede Mundial de Oração pelo Papa pedimos ao Senhor em Bodas de Ouro Sacerdotais pelo senhor cónego Manuel da Silva Ferreira, ordenado no dia 21 de abril de 1974, em Évora, pelo Arcebispo D. David de Sousa; e também em Bodas de Ouro pelo Cónego Manuel Maria Madureira da Silva, ordenado em 23 de junho de 1974, em Elvas, pelo saudoso senhor D. David de Sousa. Pedimos ainda em Bodas de Prata sacerdotais pelo P. Joaquim Carlos Antunes Pinheiro e pelo P. Humberto César Gonçalves Coelho, ambos ordenados em Évora, a 5 de dezembro de 1999, pelo Arcebispo D. Maurílio de Gouveia; pelo P. José Gomes de Sousa, ordenado a 5 de junho de 1999, em Madrid, pelo Cardeal D. António Maria Roco Varela; e pelo sr. P. Sezinando Alberto, ordenado a 13 de junho de 1999, em Setúbal, por D. Gilberto dos Reis”.
“Damos graças ao Senhor pelas suas vidas, pela sua vocação e ministério. Invocamos a Deus o dom da saúde, da fidelidade, da alegria e da paz espiritual. E pedimos ao Senhor da messe que envie mais operários para a sua messe, santas famílias cristãs, missionários, religiosos, sacerdotes, e vocações monásticas e contemplativas”, pediu o Prelado eborense.
À homilia, o Arcebispo de Évora começou por saudar o Cabido da Catedral e os sacerdotes que celebram as bodas jubilares. “Unidos a cada um deles na gratidão pela dádiva da sua vida, pelo seu amor à Igreja, ao serviço das paróquias e dos seminários”, saudou o Prelado eborense, cumprimentando todos, em especial aos núcleos do Apostolado da Oração na Arquidiocese de Évora.
Contextualizando a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, D. Francisco Senra Coelho recordou que na nossa Arquidiocese foi incrementada de modo intenso pelo servo P. Mateo, no pontificado de D. Manuel Mendes da Conceição Santos.
“Esta relação com o amor de Deus é muito mais do que uma devoção”, sublinhou.
“O Discípulo Amado penetra a dimensão mais profunda d’ Aquele coração que antes de ser ferido pela lança já estava aberto e comunicava vida em abundância”, explicou o Prelado, acrescentando que “o seu coração aberto assume toda a vida de Jesus, no amor agápico, que se torna forte perante todas as dificuldades. Um amor que ultrapassa a agonia”, disse.
“Na cruz, o novo Adão adormece para do seu lado nascer a sua esposa, a Igreja, a nova Eva”, referiu. “A Igreja não é um grupo de pessoas que fazem algumas atividades, mas a Igreja nasce do coração do seu Senhor, banhada na água do Baptismo, e revigorada no sangue da Eucaristia. Muito mais do que uma ONG, do que um serviço social, a Igreja é a esposa de Cristo”, afiançou.
“A nossa relação com o coração de Jesus não nos leva apenas à contemplação de um coração ferido e trespassado, para nos favorecer sentimentos de piedade e devoção, mas empenha-nos num testemunho. Aquele que viu dá testemunho. Portanto, o testemunho é uma característica fundamental da relação com o coração de Cristo. Não uma devoção paralisante, que nos torna anestesiados. O coração de Cristo aberto para amar, perdoar, acolher e solidarizar-se é a inspiração para que o nosso coração de discípulos seja semelhante ao d’Ele. Coração em diaconia, em serviço, em testemunho, em comunhão e em caridade”, apelou.
“Peçamos ao Senhor que no Seu coração nos renovemos todos os dias, que saibamos que Ele atua em nós e através de nós. Que através de nós Ele esteja presente nos contextos, nos ambientes, do nosso quotidiano. Que possamos dizer na nossa fraqueza e debilidade que tudo posso n’Aquele que me conforte”, apontou.
“Peçamos ao Senhor que através de nós Ele passe, Ele esteja, Ele seja!”, concluiu o Prelado.
No final da celebração, o Arcebispo de Évora, de joelhos diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus, consagrou a Arquidiocese de Évora ao Santíssimo Coração de Jesus.
Na tarde desta quinta-feira, solenidade do Corpo de Deus, o Arcebispo de Évora presidiu à Eucaristia na Catedral eborense.
Antes da Eucaristia, houve um momento de Exposição do Santíssimo Sacramento para adoração dos fiéis.
À homilia, o Prelado eborense começou por dizer que “a igreja celebra o aniversário litúrgico da instituição da Sagrada Eucaristia em Quinta-feira Santa, como acabámos de ouvir no Evangelho proclamado”, explicando que “em Quinta-feira Santa, porém, ao celebrarmos o Tríduo Pascal, a sombra da cruz projeta-se já na liturgia de Sexta-feira Santa. E a Igreja não pôde, por isso, manifestar o seu júbilo por este dom inefável.”
“Deste modo a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo apareceu na liturgia no século XIII para responder a uma necessidade íntima da esposa de Cristo, a sua Igreja, da exultação, alegria e devoção do povo santo de Deus. Esta festa começou a celebrar-se em Liège, na Bélgica, no ano de 1246. O Papa Urbano IV, em 1264, interpretando o sentir do povo de Deus estendeu-a a toda a igreja”, contextualizou o Prelado eborense.
“Celebrar esta Solenidade é proclamar a atualidade de Jesus, realmente vivo e ressuscitado na Eucaristia”, sublinhou o Arcebispo de Évora, acrescentando que “Cristo é muito mais que um ilustre personagem histórico, que dividiu o mundo em dois, antes e depois de Cristo. Que viveu há 21 séculos com uma indelével marca na história das civilizações. Cristo está hoje connosco, é nosso contemporâneo, vive e atua nas comunidades cristãs alimentadas pela Eucaristia”.
“É que Eucaristia não tem apenas a presença de Cristo. A Eucaristia é o próprio Cristo ressuscitado, sob as espécies do pão e do vinho, o seu Corpo glorioso. O Emmanuel, Deus connosco, assume na Eucaristia a sua máxima e atualizada expressão”, explicou o Prelado eborense.
“Encarnação, redenção e Eucaristia são três aspectos inseparáveis do mistério de Jesus”, sublinhou o Arcebispo de Évora, acrescentando que “a celebração da Eucaristia põe assim o cristão em direta e misteriosa comunhão com o corpo e sangue de Cristo. Esta comunhão faz com que os cristãos, embora sendo muitos, formem em si um só corpo. A unidade da Igreja alimenta-se na Eucaristia, no mesmo altar, daí a importância que celebremos conforme acreditamos e que a reforma litúrgica seja um garante da unidade da Igreja”.
“Comungar o Corpo de Cristo, meus irmãos e minhas irmãs, quer dizer aceitar e identificar-se com Ele. Significa oferecer-lhe a nossa pessoa toda, o nosso ser, como Ele se ofereceu por nós na sua pessoa toda”, prosseguiu o Prelado, sublinhando que “ninguém pode comungar Jesus e Eucaristia sem a predisposição à conversão”.
Depois, o Arcebispo de Évora apelou a que não se viva uma “Eucaristia anestesiante”. “Viver a Eucaristia não de uma forma de vivermos de modo confortável, instalado, mas sempre na busca, Igreja em saída, mostrando a partir da Eucaristia e da unidade que ela gera em nós, o desafio deste ano pastoral, revelar um novo rosto de uma comunidade que serve, que acolhe, uma comunidade que exprime a beleza de uma mãe do coração aberto”.
“É perante este contemplar, este rezar a Eucaristia, que não vivemos um analgésico, mas vivemos sim um despertador para a nossa vida. Considerando todos os nossos problemas, os problemas dos irmãos, os problemas da comunidade, os problemas do mundo, à luz daquele pão que se deixa comer e dá a vida, que se parte e reparte por todos numa fraterna dedicação”, sublinhou.
“Para que seja autêntica a adoração a Jesus Eucaristia, deve em seguida, de algum modo, estar relacionada com alimentar-se do corpo de Cristo, que acontece na celebração comunitária e nos faz ser Igreja. Adorar a Eucaristia nunca nos leva a uma oração privatizada, mas à abertura à comunidade, fazendo da nossa adoração a presença da Igreja toda em nós, porque por toda a Igreja estamos em oração”, apelou o Prelado.
“Que a igreja seja a transparência da luz de Cristo. Pelas ruas desta cidade levámos o Senhor connosco. O Senhor que é o nosso segredo. O Senhor que nos faz, o Senhor que nos une. Levámo-Lo connosco para dizermos ao mundo que só Ele é capaz de ser a chave do segredo que o mundo procura, sentido da vida, a sementeira da paz, a construção da Casa Comum, numa autêntica capacidade de construirmos essa Casa a partir de uma doação e de uma dádiva, de uma ecologia global”, concluiu o Prelado, unindo ainda toda a Arquidiocese em oração ao Congresso Nacional Eucarístico que se realiza por estes dias em Braga.
Após a Eucaristia, pelas ruas do centro histórico de Évora decorreu a tradicional Procissão, que terminou com Bênção do Santíssimo Sacramento.
Na quarta-feira, dia 22 de maio, pelas 17h00, com a celebração de Vésperas Solenes, o Cabido de Évora celebrou os 716 anos da Dedicação da Catedral de Évora.
Aos Cónegos do Cabido eborense juntaram-se os Seminaristas dos Seminários da Arquidiocese assim como alguns fiéis
O Cabido da Catedral de Évora assinalou assim a sagração ou dedicação da Catedral de Évora a Nossa Senhora da Assunção que aconteceu a 22 de Maio de 1308, quando ocupava a cadeira episcopal D. Fernando Martins.
É a maior catedral medieval de Portugal e não tem paralelo no resto do país, ocupando o coração do Centro Histórico da Cidade de Évora, classificado Património Mundial da UNESCO desde 1986.
Na tarde deste domingo, 19 de Maio, na Catedral de Évora, o Prelado eborense presidiu à Eucaristia da Solenidade de Pentecostes na qual 5 jovens foram baptizados e receberam os Sacramentos da Iniciação Cristã e cerca de 50 jovens e adultos das Paróquias do Centro Histórico de Évora, da Pastoral Universitária e da Paróquia de Arraiolos receberam o Sacramento da Confirmação.
(Fotos: Pedro Miguel Conceição/a Semanário A Defesa)
Como fruto da Semana de Oração pelas Vocações a decorrer de 14 a 21 do corrente mês, o Senhor Arcebispo em comunhão com o Cabido da Sé Metropolitana de Évora convidam todos os cristãos às Quintas-feiras, dia da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, a participarem na Adoração Eucarística a decorrer, na Sé, das 15h às 17h, com o acompanhamento de um sacerdote da Canção Nova disponível para atendimento pessoal.
São três as intenções propostas para este tempo de oração: a pessoa e as intenções do Papa; a Paz no mundo; as Vocações na Igreja.
A primeira Adoração Eucarística está agendada para quinta-feira, dia 25 de abril.
A Semana Santa 2024 foi vivida em pleno na Catedral de Évora, assim como por toda a Arquidiocese.
Neste Sábado Santo, dia 31 de março, pelas 21h30, na Catedral, D. Francisco José Senra Coelho presidiu à Solene Vigília Pascal, que foi concelebrada pelo Arcebispo de Évora emérito, D. José Alves, por alguns cónegos do Cabido da Catedral eborense, por vários presbíteros, servida por alguns diáconos e contou com a presença de consagrados e consagradas da Arquidiocese, e com os seminaristas dos Seminários da Arquidiocese.
A Solene Vigília Pascal, animada liturgicamente pelo coro Stella Matutina e transmitida em direto pelos canais digitais da Arquidiocese de Évora, numa produção do Departamento de Comunicação com o apoio da Comunidade Canção Nova de Évora, contou com a presença de muitos fiéis que encheram a Catedral eborense.
A Vigília das vigílias começou na escadaria da Catedral, com a bênção do lume novo.
À homilia (ler abaixo na íntegra), o Prelado eborense começou por dizer que “a morte foi vencida. Hoje, começa uma nova criação. Hoje, recebemos um novo sopro de vida, a ressurreição de Jesus Cristo é sempre dita no presente, é sempre actual, ultrapassa as limitações do espaço e do tempo, é meta-histórica, enche a História Universal de um novo significado, uma experiência pascal que designamos de salvação (eterna).”
“Importa que nos deixemos surpreender pelo anúncio pascal. Contemplemo-lo como se fosse a primeira vez”, apelou o Arcebispo de Évora.
“Jesus Cristo foi ressuscitado pelo poder do Pai e pelo Espírito Santo. O baptismo e a eucaristia tornam-nos participantes da Vida Nova da Páscoa. Somos homens e mulheres ressuscitados, vivendo com todos, porém com critérios e valores diferentes face a muitos aspectos da vida, afinal fruto da Vida Nova recebido na fonte baptismal e mantido na Eucaristia”, explicou o Prelado.
“A fé é pascal, ou seja, propõe-nos a inteira unificação de todas as dimensões da vida. A nossa meta, desde agora, é a plenitude da vida, a vida eterna, de modo que, desde o Batismo nos é proposto viver como homens e mulheres ressuscitados por dentro, com este gérmen de vida nova. Para os Cristãos a morte, todas as mortes e renúncias ou sacrifícios de vida, valem pela força do Amor que venceu a morte. Por isso, vale sempre dar a vida e amar sempre porque a vida e o Amor são as palavras finais da História!”, sublinhou D. Francisco Senra Coelho.
“A experiência pascal é uma experiência comunitária, nunca uma experiência apenas individual. O anúncio pascal faz de nós Igreja em saída, que mostra o rosto novo de uma mãe com o coração aberto para todos”, sublinhou o Arcebispo de Évora.
“Vem, Senhor Jesus, permanece connosco, para que Te mostremos na Tua beleza ao mundo que afinal Te procura”, concluiu a homilia D. Francisco Senra Coelho.
HOMILIA DA VIGILIA PASCAL
30 – III – 2024
1. A morte foi vencida. Hoje, começa uma nova criação. Hoje, recebemos um novo sopro de vida, a ressurreição de Jesus Cristo é sempre dita no presente, é sempre actual, ultrapassa as limitações do espaço e do tempo, é meta-histórica, enche a História Universal de um novo significado, uma experiência pascal que designamos de salvação (eterna).
Jesus não viveu uma ressuscitação como Lázaro, que ressuscitou para o tempo e para o espaço, na contingência do tempo que envelhece e do espaço que limita. Ele ressuscita para uma vida nova, uma vida diferente, uma vida no Espírito, a vida do corpo glorioso. Essa vida que chegou até nós pelo baptismo em gérmen e fonte de ressurreição que em nós permanece. Fonte de ressurreição capaz de nos fermentar, levedar e transformar.
O mistério cristão de salvação possui, como acreditamos e sabemos, uma ligação umbilical com o acontecimento pascal. Esta constatação, que, entre nós, até pode parecer óbvia, precisa de ser recordada com frequência, geração após geração, para não fazermos do cristianismo somente uma ideia filosófica, uma ideologia, mais ou menos ajustada às coisas da terra, mas experimentemos o Dom da Vida Nova através do encontro íntimo com o Ressuscitado. Porque o mistério pascal é a base e a coroa da nossa salvação, é nele que nos refazemos interiormente, renascendo na nossa liberdade interior, pois o Seu Amor por cada um de nós é sem limites. Amor que não nos permite ter medo. Amor e liberdade é isso mesmo, não ter medo.
Importa que nos deixemos surpreender pelo anúncio pascal. Contemplemo-lo como se fosse a primeira vez. Contemplemo-lo com espanto, com capacidade de contemplação. Olhemos para ele com essa capacidade que só nós temos de olhar para longe, muito longe, sem nada que nos tolha a liberdade e vermos o sol que nasce na festa crepuscular da madrugada, na festa das luzes do céu. Contemplemo-lo na beleza da pureza da verdade cristalina.
2. O Evangelho não narra a Ressurreição como um momento cronológico, uma vez que apresenta apenas os sinais do túmulo vazio e da explicação angélica para o que aconteceu, bem como a missão que isso acarreta para a vida dos cristãos que se encontram com esta nova realidade. Lucas pretende levar os seus leitores a fazer precisamente o mesmo caminho das mulheres; a cruz e a sepultura de Jesus conduzem necessariamente ao lugar onde Ele ficou depositado; é verdade que, várias vezes, Jesus tinha falado em ressurreição, mas os discípulos não compreendiam o significado de tais palavras (cf Lc, 18-34). Lucas identifica os mensageiros como «dois homens com vestes resplandecentes» (Lc 24, 4; cf 9, 29). Esta característica leva-nos à transfiguração no Tabor, serve ao evangelista para demonstrar a origem divina da mensagem: só Deus pode dar resposta à perplexidade humana diante da morte. À ressurreição de Jesus chega-se pelo anúncio e não pelo exercício dedutivo da razão humana. Assim acontecerá com Pedro e com os discípulos de Emaús que reconhecerão Jesus pelo anúncio e pelos sinais da sua presença (cf. Lc 24,13-35.36-49).
Jesus Cristo foi ressuscitado pelo poder do Pai e pelo Espírito Santo. O baptismo e a eucaristia tornam-nos participantes da Vida Nova da Páscoa. Somos homens e mulheres ressuscitados, vivendo com todos, porém com critérios e valores diferentes face a muitos aspectos da vida, afinal fruto da Vida Nova recebido na fonte baptismal e mantido na Eucaristia. Deste modo, podemos dirigir o coração para os Céus: “aspirai às coisas do alto (…) Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra”. Ao aceitarmos esta realidade essencial da nossa fé baptismal – que hoje dentro de momentos iremos renovar – tornamo-nos aspirantes às coisas do alto, às realidades espirituais e divinas; aos critérios de Deus, às bem-aventuranças, ao mandamento novo, a uma outra dimensão da vida mas que dá sentido a esta nossa vida aqui no tempo e neste mundo. A linguagem pode ser equivoca, pois não estamos a separar em modo dualista as coisas da terra e as coisas do alto. Não são mundos opostos ou mutuamente excluídos. A fé é pascal, ou seja, propõe-nos a inteira unificação de todas as dimensões da vida. A nossa meta, desde agora, é a plenitude da vida, a vida eterna, de modo que, desde o Batismo nos é proposto viver como homens e mulheres ressuscitados por dentro, com este gérmen de vida nova. Para os Cristãos a morte, todas as mortes e renúncias ou sacrifícios de vida, valem pela força do Amor que venceu a morte. Por isso, vale sempre dar a vida e amar sempre porque a vida e o Amor são as palavras finais da História!
Assim, somos frutos da Páscoa, porque fomos mergulhados nas águas do baptismo, porque estamos confirmados pelo dom espiritual mais sublime, e temos acesso a todos os demais Sacramentos, sobretudo porque somos alimentados pela Eucaristia, o pão para um mundo novo que construiremos na nossa coerência, dedicação e sinal profético na mensagem da nossa vida. A presença viva do Ressuscitado está no mundo connosco e por meio de nós. A experiência sacramental é sempre uma realidade pascal. Como diz S. Leão Magno: “O que no nosso Redentor era visível, passou para os seus sacramentos” a sua corporeidade permanece no mistério de cada sacramento, permanecendo os seus efeitos invisíveis. É a nossa participação no absolutamente outro da Vida Nova, que nos faze encontrar Cristo, alimentar-nos de Cristo, vivermos do mundo sem ser do mundo, sendo, porém, do tempo.
Por isso, celebramos o núcleo da nossa fé: Cristo vive; e quer-nos vivos! Assumidamente vivos na nossa cidadania com uma vida que brilha, transparece e testemunha. Nele se fazem novas todas as coisas: a luz, a água, o pão, o vinho, a mesa compartilhada, a alegria renovada e a esperança presente em todos os corações. Afinal em cada um dos sacramentos, na Eucaristia a plenitude aonde nos encontramos com o Senhor ressuscitado de modo pleno. Há de ser esta transformação através de cada um de nós, pedras vivas da Igreja sacramento do mundo que há de também transformar o mundo.
A experiência pascal é, porém, uma experiência que transcende o privativo, o íntimo. Se o é transcende-o pela experiência comunitária. Nunca uma experiência quando atinge a profundidade do coração humano permanece apenas individual. Perante a beleza, perante o fascínio, perante o encanto não cabemos em nós, anunciamos, compartilhamos, dizemos a quem amamos a descoberta que fizemos, eis a força do encontro com a beleza. Eis porque a beleza salvará o mundo.
O anúncio pascal faz de nós Igreja em saída, que mostra o rosto novo de uma mãe com o coração aberto para todos. O “nós” sinodal, proposto pelo Papa, impele-nos a festejar a fé a partir da comunicação do “nós” eclesial. Esta espiritualidade do “nós” remete-nos para a caminhada sinodal em curso na Igreja Católica e para a dinâmica pós-JMJ com os nossos jovens. É com esta alegria que na perene juventude do Cristo Ressuscitado, caminhamos na Páscoa, pois “Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura; as coisas antigas passaram e tudo foi renovado” (2Cor 5, 17). Somos nós a novas criaturas. Somos nós a presença da Páscoa do mundo. Somos nós testemunhos da esperança. Somos nós em quem Cristo deposita a sua esperança. É em nós que Ele acredita.
Senhora Nossa e Mãe do Ressuscitado, permanece connosco em Cenáculo e ensina-nos a confiar, para que certos das promessas do mestre, tenhamos a alegria de viver contigo a manhã de Pentecostes que chegará aí daqui a 50 dias.
Vem, Senhor Jesus, permanece connosco, para que Te mostremos na Tua beleza ao mundo que afinal Te procura.
A Semana Santa 2024 está a ser vivida em pleno na Catedral de Évora, assim como por toda a Arquidiocese.
Neste Sábado Santo, dia 30 de março, pelas 10h, foram celebradas Laudes, na Catedral de Évora.
Na reflexão às leituras escutadas, o Arcebispo de Évora disse “neste Sábado de silêncio, em que vemos o túmulo fechado, nós assumimos esta esperança que é o Senhor que há de trazer de novo a Vida”.
“Connosco Maria, a Senhora do Sábado, a Senhora do túmulo vazio na alegria da ressurreição. A Senhora também do túmulo fechado neste dia de silêncio, silêncio de Deus”, explicou o Prelado, acrescentando que, “ela é Pentecostes desde o primeiro momento. É Pentecostes na sua concepção, no momento da encarnação do Verbo pela anunciação do Anjo”.
“Ela é neste momento Pentecostes com os discípulos que restam. Ela é presença do Espírito Santo, esse Espírito Santo que habita nela e que fará, pela vontade do Pai, acontecer a ressurreição, o 8.º dia”, sublinhou.
“Ficamos, Irmãos e Irmãs, com João discípulo e com Maria mãe nesta certeza de que aquela porta será removida, que da morte brotará a vida. Viveremos o 8º dia. Somos o 8º dia. Somos Pentecostes no Ressuscitado”, concluiu D. Francisco Senra Coelho.
A Semana Santa 2024 está a ser vivida em pleno na Catedral de Évora, assim como por toda a Arquidiocese.
Nesta Sexta-feira Santa, dia 29 de março, pelas 15h00, na Catedral, o Prelado Eborense presidiu à celebração da Paixão do Senhor.
A Eucaristia, animada liturgicamente pelo coro Stella Matutina e transmitida em direto pelos canais digitais da Arquidiocese de Évora, numa produção do Departamento de Comunicação com o apoio da Comunidade Canção Nova de Évora, contou com a presença de muitos fiéis que encheram a Catedral eborense.
À homilia (ler abaixo na íntegra), o Prelado eborense começou por dizer que “Jesus consumou a Sua missão e consumiu a Sua vida: consumiu a Sua vida ao consumar a Sua missão. Estará tudo terminado?”, questionou, respondendo de seguida: “É óbvio que Jesus morreu. Mas os primeiros cristãos não entenderam a Sua morte como o fim de tudo, mas o início de uma Vida Nova. A Liturgia Pascal, como expressão da Fé da Igreja, garante que Jesus «destruiu a morte».”
“Desde sempre, a Igreja acredita ter nascido não «do lado morto», mas do «lado adormecido» de Cristo. Também nós, adormecendo em Cristo, com Ele ressuscitaremos”, sublinhou o Arcebispo de Évora.
“Acresce que a «entrega do Espírito» não tem de ser um indicador de morte. «Entregar o Espírito» (a Deus e aos homens) é uma poderosa demonstração de vida, é dar a vida no gesto maior do Amor: “Não há maior prova de amor do que dar a vida pelo irmão”(Jo 15, 13-15). Jesus consumiu a sua vida dando a vida, morrendo para si e dando a vida pelo irmão. Hoje Ele entrega a sua vida depositando-a nas mãos do Pai. Eis o sentido da morte cristã. Haja em vista que, na Bíblia, o Espírito é sinónimo de vida, pelo que entregar o Espírito, pneuma, é entregar a vida (cf. Jo 6, 63). Não foi o que Jesus sempre fez?”, questionou D. Francisco Senra Coelho, que acrescentou: “Eis-nos perante o desafio de revelar um novo rosto de Igreja, que como Mãe de coração aberto, acolhe e dá a vida. Eis o desafio de vivermos nesta Semana Santa de 2024, o mandato de Jesus, assumindo no nosso compromisso pastoral: “Por isso reconhecerão que sois meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros como eu vos amo” (Jo 13, 35).”
“Jesus é a «vida para os mortos» e também para todos nós quando estamos interiormente mortos pelo pecado, Ele é capaz de nos ressuscitar e oferecer a Vida Nova”, sublinhou o Prelado eborense.
“Jesus tem sede de nós: da nossa fidelidade, da nossa libertação e do nosso amor. Que nós, os seus Discípulos do Século XXI, tenhamos sede d’Ele como Ele tem sede de nós. Na Sua morte, disponhamo-nos a transformar a nossa vida e a sermos testemunhas missionárias da humanização e da redescoberta da autêntica caridade, pela dádiva da nossa vida”, apelou D. Francisco Senra Coelho, concluindo a homilia: “Ele que é a vida eterna. Ele que é o amor diz-te porque te amo nunca morrerás. Pela dádiva da nossa vida encontremos a Vida”.
A Celebração da Paixão do Senhor contou ainda com a Adoração da Cruz e a Comunhão. O Ofertório foi para os lugares santos da Palestina.
HOMILIA DA PAIXÃO DO SENHOR
29-III-2024
1. Tudo está consumado (cf. Jo 19, 30). E todo Ele está consumido. Jesus consumou a Sua missão e consumiu a Sua vida: consumiu a Sua vida ao consumar a Sua missão. Estará tudo terminado com o túmulo fechado? É óbvio que Jesus morreu. Mas os primeiros cristãos não entenderam a Sua morte como o fim de tudo, mas o início de uma Vida Nova, morreu para viver. A Liturgia Pascal, como expressão da Fé da Igreja, garante que Jesus «destruiu a morte». À Luz da mesma Fé, Santo Agostinho ensina que Jesus, com a Sua morte, matou a morte: «em Si, Ele matou a morte»!
Guiados por São João, que espelha a Fé das primeiras comunidades cristãs, no relato que ouvimos não é dito – explicitamente – que Jesus morreu. O que ouvimos, nesta Sexta-Feira Santa, é que, após ter dito que «tudo estava consumado», Jesus «inclinou a cabeça» e «entregou o Espírito» («parédôken tò Pneuma») [Jo 19, 30]. Sucede que inclinar a cabeça é próprio não só de quem morre, mas também de quem adormece para acordar e viver de novo. Desde sempre, a Igreja acredita ela mesma ter nascido não «do lado morto», mas do «lado adormecido» de Cristo. Também nós, adormecendo em Cristo, com Ele ressuscitaremos.
Acresce que a «entrega do Espírito» não tem de ser um indicador de morte. «Entregar o Espírito» (a Deus e aos homens) é uma poderosa demonstração de vida, é dar a vida no gesto maior do Amor: “Não há maior prova de amor do que dar a vida pelo irmão”(Jo 15, 13-15). Jesus consumiu a sua vida dando a vida, morrendo para si e dando a vida pelo irmão. Hoje Ele entrega a sua vida depositando-a nas mãos do Pai. Eis o sentido da morte cristã. Haja em vista que, na Bíblia, o Espírito é sinónimo de vida, pelo que entregar o Espírito, pneuma, é entregar a vida (cf. Jo 6, 63). Não foi o que Jesus sempre fez? Eis-nos perante o desafio de revelar um novo rosto de Igreja, que como Mãe de coração aberto, acolhe e dá a vida. Eis o desafio de vivermos nesta Semana Santa de 2024, o mandato de Jesus, assumindo no nosso compromisso pastoral: “Por isso reconhecerão que sois meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros como eu vos amo” (Jo 13, 35).
2. É verdade que Ele foi dado como morto (cf. Jo 19, 33) e sepultado (cf. Mc 15, 46). Espantoso é, todavia, o significado teológico atribuído a este facto biológico. É que Jesus — mesmo depois de tudo ter consumado e de todo Ele Se ter consumido — não parou de Se entregar. São João é o único evangelista que nos dá conta do soldado que «picou» o «lado» de Jesus com uma lança (cf. Jo 19, 34). Sim, «picou». Segundo os exegetas do Novo Testamento, a tradução mais fiel do que se encontra no texto: «ényxen» é o aoristo do verbo «nýssô», que quer dizer «picar» ou «perfurar». Seria uma espécie de certidão de óbito daquele tempo: de facto, está morto! Habitualmente, as traduções dizem que o soldado «trespassou» o lado de Jesus. E, no fundo, este acto de «picar» foi um autêntico «trespasse»: de um lado para o outro; João testemunha, atesta que do lado de dentro jorrou para o lado de fora, do lado de Deus para o lado do homem.
É do lado de dentro (isto é, do lado de Deus) que brotam as fontes da salvação: o «sangue e a água» (cf. Jo 19, 34). Mas como seria possível dar mais quem já tinha dado tudo? Acontece que Jesus é dádiva sem fim, é dádiva até para lá do fim. O «sangue e a água» que correm do Seu lado aberto continuam a escorrer pelo mundo inteiro: a água para lavar e o sangue para redimir. A água sempre foi vista como alusão ao sacramento do Baptismo e o sangue sempre foi acolhido como símbolo do sacramento da Eucaristia.
Admirável é que, uma vez mais, se faça sobressair uma luminosa afirmação de vida. A intenção de espetar a lança — e trespassar o corpo — era para testar a morte. Só que aquele coração estava repleto de vida: da vida que, pelo Seu Filho, Deus ofereceu à humanidade. Como recordou o Papa Pio XII foi «do coração ferido do Redentor que nasceu a Igreja». O coração sinaliza o imenso amor «que moveu o nosso Salvador a celebrar o Seu místico matrimónio com a Igreja».
É curioso notar como também Eva, a primeira mulher da humanidade, fora constituída a partir do lado (tselá) do primeiro homem adormecido (cf. Gen 2, 21-22). Não é, portanto, em vão que o Catecismo sufraga esta conexão: «Da mesma forma que Eva foi formada do lado de Adão adormecido, também a Igreja nasceu do coração trespassado de Cristo morto na Cruz».
3. Amanhã, Sábado Santo, com Maria, Mãe e Modelo de todos nós, Discípulos Missionários, iremos acompanhar Jesus na sepultura. Também esta é encarada não como um lugar de aniquilamento, mas de repouso. Os Cristãos chamaram na antiguidade e continuam a denominar aos campos onde são sepultados os mortos “cemitérios”, que significa “dormitórios”, consequência do sono de Cristo. Tal como Deus repousa após a obra da criação (cf. Gen 2, 2), também o Filho de Deus repousa após a obra da redenção. Viveremos para sempre o oitavo dia. Neste Seu repouso, Jesus está em plena actividade. Ele vai aos infernos, ou seja aos inferiores da criação, visitar os mortos. Como refere um conhecido texto do século IV, Jesus «faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte». Jesus é a «vida para os mortos» e também para todos nós quando estamos interiormente mortos pelo pecado, Ele é capaz de nos ressuscitar e oferecer a Vida Nova.
Vida Nova que consiste exatamente neste dar a vida, sabendo que é na morte para o nosso egoísmo, autossuficiência e orgulho que havemos de encontrar a chave da Vida Nova, a alegria que nos vem de dar a vida, de nos cruzarmos com os olhos brilhantes daqueles que beneficiam da nossa vida, de nos tornarmos úteis com a dádiva da nossa existência. Viver para nós, enrolados em nós é a experiência da solidão absoluta e da tristeza.
Santo Agostinho percebeu que Jesus, ao nascer para morrer, nasceu para viver a nossa morte. «Participando da nossa morte, torna-nos participantes da Sua vida». Jesus muda tudo: Ele vai ao ponto de nos «vitalizar» na própria morte!
A vida de Jesus não termina, mas é transfigurada pelo Espírito que nos entrega «da parte do Pai» (Jo 15, 26). É no Espírito que Jesus vive eternamente. É no Espírito que também nós viveremos para sempre. Percebemos, irmãos e irmãs, que a sede de Jesus antes do último suspiro (cf. Jo 19, 28) não é sede do fel e do vinagre que Lhe foram dados (cf. Jo 19, 29.30). Jesus tem sede de nós: da nossa fidelidade, da nossa libertação e do nosso amor. Que nós, os seus Discípulos do Século XXI, tenhamos sede d’Ele como Ele tem sede de nós. Na Sua morte, disponhamo-nos a transformar a nossa vida e a sermos testemunhas missionárias da humanização e da redescoberta da autêntica caridade, pela dádiva da nossa vida.
Ele que é a vida eterna. Ele que é o amor diz-te porque te amo nunca morrerás. Pela dádiva da nossa vida encontremos a Vida.