Arquidiocese de Évora em júbilo com dois novos presbíteros (com Homilia, vídeos e fotos)
No domingo, dia 11 de junho, foram ordenados presbíteros, na Sé de Évora, às 17 horas, os diáconos Rui Filipe Sardinha Faia e Jorge Andres Mosquera Palacios, na celebração da Eucaristia dominical, que foi presidida pelo Arcebispo de Évora, D. Francisco José Senra Coelho. Na Eucaristia, concelebrada pelo Arcebispo de Évora Emérito, D. José Alves, por várias dezenas de sacerdotes, e servida por vários diáconos, participaram muitos familiares, amigos, membros das Comunidades Neocatecumenais e de várias comunidades cristãs da Arquidioese, que encheram por completo a Catedral eborense. A celebração foi também transmitida pelos canais digitais da Arquidiocese, tendo sido acompanhada online por cerca de duas centenas de pessoas.
Recorde-se que no dia 27 de novembro de 2022, na igreja Matriz de Borba, o Prelado eborense presidira às ordenações diaconais dos seminaristas Rui Faia (Seminário Maior de Évora), de 49 anos de idade, e Jorge Palacios (Seminário Redemptoris Mater de Évora – Caminho Neocatecumenal), de 27 anos, natural de Medellin-Colômbia, na celebração da Eucaristia do primeiro Domingo do Advento.
O P. Rui Faia, que continuará o trabalho pastoral que está a realizar na Unidade Paroquial de Samora Correia, celebrará Missa Nova, no dia 18 de junho, pelas 17h30, na Igreja Matriz de Samora Correia.
Já o P. Jorge Palacios, que continuará o trabalho pastoral que está a realizar na Unidade Paroquial de Borba, celebrará Missa Nova, no dia 18 de junho, pelas 12 horas, na Igreja Matriz de Borba.
(Leia a reportagem na íntegra na edição de 14 de junho do Suplemento “Ser Igreja Évora”, que será publicado com o jornal “a defesa”)
HOMILIA
Ordenação Presbiteral Diáconos Rui Faia e Jorge Palácios
A Palavra de Deus deste 10º Domingo do Tempo Comum repete, com alguma insistência, que Deus prefere a misericórdia ao sacrifício. A expressão deve ser entendida no sentido de que, para Deus, o essencial não são os atos externos de culto ou as declarações de boas intenções, mas sim uma atitude de adesão verdadeira e coerente ao seu chamamento, à sua proposta de salvação.
Na primeira leitura, o profeta Oseias põe em causa a sinceridade de uma comunidade, que procura controlar e manipular Deus, mas não está verdadeiramente interessada em aderir, com um coração sincero e verdadeiro, à aliança. Os atos externos de culto – ainda que faustosos e magnificentes – não significam nada, se não houver amor (quer o amor a Deus quer, o amor ao próximo – que é a outra face do amor a Deus).
Na segunda leitura, Paulo apresenta aos cristãos (quer os que vêm do judaísmo e estão preocupados com o estrito cumprimento da Lei de Moisés, quer aos que vêm do paganismo) a única coisa essencial: a fé. A figura de Abraão é exemplar: aquilo que o tornou um modelo para todos não foram as obras que fez, mas a sua adesão total, incondicional e plena a Deus e aos seus projetos.
Este Domingo, a Palavra de Deus recorda-nos o momento em que Jesus Cristo chama Mateus para integrar o grupo dos discípulos.
Mateus era publicano, isto é, cobrador de impostos, uma profissão indigna para os judeus. Na verdade, em várias passagens dos evangelhos, ficamos com a sensação de que publicano e pecador são sinónimos. A profissão de Mateus não é, portanto, um detalhe insignificante. Aliás, o narrador acrescenta que Jesus Cristo se sentou à mesa com «muitos publicanos e pecadores». Àqueles que estranham tal atitude, o próprio mestre confirma o alcance da sua missão: «não vim chamar os justos, mas os pecadores».
A conversão de Mateus é fruto de um encontro e de um chamamento. Se olhasse apenas para si e para a sua condição, talvez ficasse exatamente no mesmo sítio e a fazer o mesmo de sempre. Ou então, se já soubesse alguma coisa sobre aquele Mestre, talvez pensasse que não era digno de ser seu discípulo. Mateus deixou-se seduzir pelo olhar de Jesus, abriu o coração e acolheu o convite, levantou-se, seguiu Jesus Cristo. Aconteceu uma grande festa: primeiro no coração de Mateus; depois à mesa com os amigos.
Para alguns é um escândalo ver Jesus chamar um cobrador de impostos.
Para piorar tal atitude, ainda se sentou à mesa com pecadores. O verdadeiro escândalo, porém, é não ser capaz de aceitar a bondade amorosa de Deus. O maior pecador é quem, de uma forma ou de outra, pretende condicionar a misericórdia divina.
A misericórdia é o nome de Deus, é o seu principal atributo. Ao comentar o episódio deste domingo, São Beda Venerável afirma que Jesus viu Mateus «não tanto com os olhos do corpo, mas com o olhar interior, cheio de misericórdia». É assim o nosso Deus! Ser cristão é a resposta ao olhar cheio de misericórdia. Precede-nos o olhar de Deus. «A fé é a nossa resposta à espantosa descoberta de que fomos escolhidos». (Timothy Radcliffe).
Precisamos de aprender a reconhecer o divino olhar misericordioso, que atravessa o nosso coração com a plenitude do seu amor.
«Jesus não procura em mim o justo, o homem justo que não sei se alguma vez conseguirei ser. Procura aquela debilidade que em mim é radical, original, frontal, fatal. Quer apoderar-se da minha debilidade profunda, daquela que está na origem de todos os meus pecados. E quer encarnar aí como fermento, como sol, como fogo, como espírito dentro da argila, como paz na tempestade» (Ermes Ronchi).
Quando percebemos que Deus nos vê com um olhar cheio de misericórdia, então a nossa vida pode mudar, atrevemo-nos a viver imersos na vida de Deus.
Abramos bem os ouvidos à Boa Nova deste Domingo: Jesus Cristo apresenta-se como médico que vem curar os doentes, não vem para os justos, mas para chamar os pecadores. Disponhamos o coração a tão magnífica misericórdia.
Os chamados não são “super-homens” seres perfeitos e santos ou em atitude covarde de fuga ao mundo. Todos somos chamados ao seguimento de Jesus. O verbo “Akolouthéô”, aqui utilizado na forma imperativa, traduz a ação de “ir atrás” e define a atitude de um discípulo que aceita ligar-se a um “mestre”, escutar as suas lições e imitar os seus exemplos de vida… É, portanto, isso que Jesus pede a Mateus. Mateus, sem objeções nem pedidos de esclarecimento, deixa tudo e aceita ser discípulo, numa adesão plena, total e radical a Jesus e às suas propostas de vida. Mateus define aqui o caminho do verdadeiro discípulo; é aquele que, na sua vida normal, se encontra com Jesus, escuta o seu convite, aceita-o sem discussão e segue Jesus de forma incondicional. A esta adesão ao chamamento de Deus chama-se “fé”.
Sabemos que os cobradores de impostos eram gente desclassificada, excluída da vida social e religiosa do Povo de Deus, catalogada como pecadora, e sem qualquer possibilidade de salvação e de relação com Deus. Ao chamar Mateus, Jesus demonstra que, na casa do “Reino”, há lugar para todos, mesmo aqueles que o mundo considera desclassificados e marginais. Deus tem uma proposta de salvação para apresentar a todos os homens, sem excepção.
Aprendei o que significa “Eu quero misericórdia e não sacrifícios”… Podemos saber muitas coisas, inclusive sobre cristianismo, ensiná-las aos outros. Enquanto não aprendermos a viver a misericórdia, devemos convencer-nos de que nada sabemos. Alguém é discípulo de Jesus convincente, quando consegue convencer que a vontade de Deus é misericórdia. Dito de outro modo, diante dos olhos de Deus somos néscios, se não aprendermos a ler, escrever, falar e atuar segundo a misericórdia do Pai do Céu.
Nesta descrição de Mateus, encontramo-nos com o modo de atuação de Jesus. Sentou-se com os que estavam dentro. Aceitou-os tal como são. Não teve em conta a sua (má) reputação, o seu ofício (considerado infame), a sua conduta (não irrepreensível). Ofereceu-lhes o seu rosto franco, o seu olhar sem prevenção, deu-lhes a mão sem reservas nem repugnância. Com a máxima naturalidade. Provavelmente não se deram conta – contudo lentamente terão sentido algo lá dentro – de que Ele apostava no melhor que havia em cada um.
Limitaram-se a comentar: Que homem! Jesus deixou algo de si próprio dentro daqueles indivíduos, irrecuperáveis, pouco recomendáveis, detestados por todos. Jesus semeia no terreno da humanidade comum. Necessita de pouco espaço. O tempo de uma refeição.
Estimados Diáconos Rui Faia e Jorge Palácios, permiti que partilhe agora convosco algumas ideias para a homilia dos Bispos, que constam do Pontifical Romano para a Ordenação dos Presbíteros:
«Vós, queridos filhos, que ides entrar na Ordem dos presbíteros, exercereis, no que vos compete, o sagrado múnus de ensinar em nome de Cristo, nosso Mestre. Distribuí a todos a palavra de Deus que vós mesmos recebestes com alegria. Meditando na lei do Senhor, procurai crer o que ledes, ensinar o que credes e viver o que ensinais.
Seja o vosso ensino alimento para o povo de Deus, e o vosso viver motivo de alegria para os fiéis de Cristo, para edificardes, pela palavra e pelo exemplo, a casa que é a Igreja de Deus.
Exercereis também, em Cristo, o múnus de santificar. Pelo vosso ministério se realiza plenamente o sacrifício espiritual dos fiéis, unido ao sacrifício de Cristo, que, juntamente com eles, é oferecido pelas vossas mãos sobre o altar, de modo sacramental, na celebração dos santos mistérios. Tomai, pois, consciência do que fazeis, imitai o que realizais. Celebrando o mistério da morte e da ressurreição do Senhor, esforçai-vos por fazer morrer em vós todo o mal e por caminhar na vida nova.
Ao fazer entrar os homens no povo de Deus pelo Baptismo, ao perdoar os pecados em nome de Cristo e da Igreja no sacramento da Penitência, ao aliviar os enfermos com o óleo santo, ao celebrar os ritos sagrados, ao oferecer, nas horas do dia, o louvor com acções de graças e súplicas, não só pelo povo de Deus mas também por todo o mundo, lembrai-vos de que fostes assumidos de entre os homens e postos ao serviço dos homens nas coisas que são de Deus. Realizai, pois, com verdadeira caridade e alegria constante, o ministério de Cristo Sacerdote, não procurando os vossos interesses, mas sim os de Jesus Cristo.
Finalmente, ao exercer, na parte que vos compete, o ministério de Cristo, Cabeça do Corpo da Igreja e Pastor do seu povo, procurai, filhos caríssimos, unidos e atentos ao Bispo, congregar os fiéis numa só família, a fim de poderdes conduzi-los a Deus Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Trazei sempre diante de vós o exemplo do Bom Pastor que veio não para ser servido, mas para servir e para buscar e salvar o que estava perdido».
+ Francisco José Senra Coelho
Arcebispo de Évora
Reveja aqui a transmissão da celebração: