23 de junho: Bodas de ouro sacerdotais do Cónego Manuel Maria Madureira da Silva (com entrevista)
Sou natural de uma aldeia que pertence, religiosamente, à diocese de Lamego. Quando, em criança, me perguntavam o que queria ser quando fosse grande, nunca me passou pela cabeça vir a ser padre. Várias tentativas me provocaram para tal. O meu pároco de então passou, um dia, pela Escola e fez referência a isso, mas não me convenceu, até porque só tinha nove anos. Ao fazer dez, houve um acontecimento ímpar na aldeia: a missa nova do meu primo P. Manuel Madureira Dias (futuro bispo do Algarve) que, pouco tempo mais tarde, foi estudar para Roma e a quem – por indicação paterna – escrevi uma carta a dizer-lhe que “nas férias de verão, podíamos falar do assunto da vocação”, numa vinda para a diocese de Évora e não de Lamego, como seria mais natural. A coisa começou a desenhar-se, até porque tinham ido para o Seminário de Resende (diocese de Lamego) três colegas de escola, um pouco mais velhos e que, pouco depois, abandonaram os estudos. De facto, no dia 18 de setembro de 1962, desci até Vila Viçosa onde dei continuidade ao ensino primário. Tudo era novidade, estranheza, lonjura e saudades. Sobretudo saudades. Tinha onze anos. Todo o tempo de Seminário Menor e Maior foi ininterrupto. Resolviam-se os problemas e a vida continuou. Tudo se foi conseguindo a ponto de, com os anos que se consubstanciavam em curso liceal, de filosofia e, finalmente, de teologia, lá fui singrando. E, quando me apercebi (!), já tinha chegado ao fim do curso. A vocação foi um “sim contínuo” com alguns sobressaltos acompanhados de muita lisura.
O tempo e os colegas foram o alfobre que me serviu de estrutura vocacional. Se, enquanto criança e adolescente, o tempo passou sem sobressaltos, a juventude e as influências que lhe são próprias tanto criaram momentos de desilusão como de entusiamo. Sim, que isto de vocação sacerdotal não é diferente de todas as outras vocações. Os altos e os baixos, os encantos e desencantos, os bons e os maus conselhos, os sonhos e as realidades, eu sei lá, foram situações sempre presentes. Uma coisa é certa: o que mais contou foi a ação divina e a presença em mim de uma vontade que me fazia lutar constantemente pela prossecução do objetivo vocacional: ser padre. Uma curiosidade: em 1962, entrámos 56 miúdos em Vila Viçosa; a partir do terceiro ano de teologia, (em 1973) era eu único no curso, ainda que acompanhado de um colega dois anos mais velho que, tendo interrompido, regressou e passou a ser meu companheiro. Todos foram saindo nesse período de dez anos de vida nos Seminários. Razões variadas causaram o clima que levou ao abandono do Seminário. Foram tempos em que se viveram os conturbados anos do pós Concílio Vaticano II, as ideologias de uma juventude que encarou e viveu o maio de 68 e o espírito irrequieto que antecedeu o Abril de 74. Imaginemos como isso foi… Certo, certo, é que em 23 de junho de 1974, na Sé de Elvas (Paróquia de Assunção), houve festa rija de ordenação: eu e o Zé Branco como presbíteros e o Tavares (do Preciosíssimo Sangue, que acabara o seu curso em Espanha) como diácono. O P. Zé Branco morreu três anos depois num acidente rodoviário perto de Estremoz e o Tavares também morreu, por problemas de saúde, uns anos depois.
Quais as principais atividades que desenvolveu ao longo destes 50 anos?
À parte estes afazeres, fui pároco das Alcáçovas “um ano menos um dia” em 1988-89 e, desde então, pároco da Paróquia de Santo Antão em Évora e de N.ª S.ª da Graça do Divor e, desde 2001, Chanceler da Cúria Arquidiocesana de Évora. Também tenho estado ligado à Pastoral familiar em diversos grupos de casais. Fruto de muitas reflexões que o trabalho académico exige, publiquei várias obras de cariz ético-antropológico a que chamei “Prioridades” (3 volumes), “Reflexos” (5 volumes) e “Questões Fraturantes”; e também de cariz catequético (“Catorze obras de misericórdia”, e “Compreender as Bem-aventuranças”). São pequenas reflexões do tamanho A4 e que, no seu conjunto, constituem 830 temas.
Ao cumprir 50 anos de ordenação, que balanço faz?
Que votos faz para o futuro?